A C Ó R D Ã O 7ª TURMA VMF/gor/pcp/mmc RECURSO DE REVISTA COMPETÊNCIA TERRITORIAL LOCAL DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS FORO MAIS ACESSÍVEL AO EMPREGADO. Em regra, tem-se que a competência para o ajuizamento de reclamação trabalhista é da localidade em que o empregado presta os serviços, consoante o disposto no art. 651, caput, da CLT. Todavia, em observância às normas protetivas do empregado - princípio basilar do Direito do Trabalho deve-se privilegiar o juízo da localidade que seja mais acessível ao trabalhador, assegurando-lhe o amplo acesso aos órgãos judiciários, princípio estabelecido no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. Logo, as regras de competência em razão do lugar, no âmbito do processo trabalhista, devem beneficiar o hipossuficiente. Recurso de revista conhecido e provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n TST-RR-325-36.2012.5.05.0342, em que é Recorrente ROGÉRIO MATEUS DA SILVA e Recorrida EMPRESA GONTIJO DE TRANSPORTES LTDA. O 5º Tribunal Regional do Trabalho, pelo acórdão a fls. 351-354, deu parcial provimento ao recurso ordinário interposto pelo autor, entretanto, manteve a decisão da Vara do Trabalho quanto à procedência da exceção de incompetência relativa, e declinação do foro para uma das Varas do Trabalho de Crato, 7º Tribunal Regional do Trabalho. Inconformado, o reclamado interpõe recurso de revista, conforme petição e razões expendidas a fls. 359-373, no qual busca a reforma do julgado. seguimento ao recurso de revista. Pela decisão singular a fls. 379-381, foi dado
fls.2 Transcorrido in albis o prazo para apresentação de contrarrazões, conforme certidão a fls. 385. Os autos não foram remetidos ao Ministério Público, na forma do art. 83 do Regimento Interno do. É o relatório. V O T O 1 - CONHECIMENTO Presentes os pressupostos de admissibilidade, concernentes à tempestividade, conforme fls. 355 e 359, à representação processual, instrumento de mandato a fls. 23, e estando isento do preparo, passo ao exame dos pressupostos intrínsecos. 1.1 - COMPETÊNCIA TERRITORIAL LOCAL DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS FORO MAIS ACESSÍVEL AO EMPREGADO O Tribunal Regional manteve a decisão da Vara do Trabalho quanto à procedência da exceção de incompetência relativa, e declinação do foro para uma das Varas do Trabalho de Crato, 7º Tribunal Regional do Trabalho, consoante os seguintes fundamentos:... Contestando, às fls. 96/99, o excepto recorrente asseverou competente o juízo de Juazeiro, indicando a norma prevista do parágrafo terceiro do artigo 651 da CLT, uma vez que, durante o vínculo laboral, prestava serviços à reclamada fazendo a linhas PETROLINA-FEIRA DE SANTANA e vice-versa, efetuando embarque e desembarque de passageiros na cidade de Juazeiro. O juízo de origem, ao analisar a prova carreada aos autos, verificou que a prestação de serviço pelo autor na cidade de Juazeiro sequer ocorreu de maneira eventual, pois, do exame das fichas juntadas pelo excepto e excipiente identificam-se apenas duas viagens feitas em novembro de 2008, uma de Petrolina para Feira de Santana e o respectivo retorno; do mesmo modo, em outubro de 2011, constatam-se duas viagens, nos mesmos moldes.
fls.3 Em suas razões, o recorrente reitera os argumentos deduzidos na contestação à exceção, e alega a inexistência de critério quantitativo no texto do parágrafo terceiro do artigo 651 da CLT. Ademais, defende a não aplicação da regra do parágrafo primeiro do artigo 651 da CLT, uma vez que trabalhou como motorista de ônibus rodoviário interestadual e não agente ou representante comercial. Sem razão. Vejamos. Não houve na sentença recorrida a controvérsia acerca da aplicação do parágrafo terceiro do artigo 651 da CLT ao obreiro motorista intermunicipal ou interestadual. A questão gira em torno de identificar-se se, de fato, o obreiro também realizava serviços em municípios sujeitos à jurisdição das varas do trabalho de Juazeiro, de forma ao menos eventual. Com efeito, da análise da prova documental carreada aos autos pela Excipiente (fls. 54/93) verificou-se que não constam registros de viagens em que o excepto transitasse por quaisquer dos municípios relacionados na jurisdição das varas de Juazeiro. A maioria das viagens realizadas pelo excepto partia de Crato (CTO) em direção à Petrolina (PET), e vice-versa. Tão somente nos dois meses referidos pelo próprio demandante, conforme fez prova com as duas fichas acostadas aos autos às fls. 100 e verso, é que realizou o total de seis viagens transitando pelo município de Juazeiro. Observe-se que a alegação de inexistência de critério quantitativo no 3º do art. 651 da CLT encontra óbice na própria interpretação que deve ser conferida ao referido dispositivo, quando dispõe acerca da prestação dos serviços. É que, por se tratar de exceção à regra geral de competência, não basta que o obreiro realize de forma excepcionalíssima o serviço em determinada localidade. A prestação do serviço na localidade submetida à jurisdição da vara escolhida para ajuizamento da ação deve ser contínua, efetiva, e não simplesmente excepcional. Daí porque, com acerto concluiu o juízo a quo que as parcas viagens realizadas em trânsito pela cidade de Juazeiro, espaçadas entre si por cerca de quatro anos e efetuadas ao longo de uma relação de emprego de quatro anos e
fls.4 meio, configuram eventos de caráter excepcionalíssimo, não sendo aptas, portanto, a deslocar a competência para apreciar e julgar o feito para as varas trabalhistas de Juazeiro. Registre-se, ainda, que o processamento e julgamento do presente feito no município de Crato-CE não acarretará nenhum prejuízo ao reclamante, considerando ser este o local de sua residência, fato que vem a corroborar na ausência reparos da sentença recorrida. O reclamante, exceto, no seu recurso de revista, alega que, durante o vínculo laboral, prestava serviços à reclamada em várias localidades, inclusive no município de Juazeiro/BA. Afirma que quando trabalhava no trajeto Petrolina/PE-Feira de Santana/BA, havia obrigatoriamente passagem pelo município de Juazeiro. Argui ser fato público e notório que não era apenas uma passagem, mas que a reclamada mantinha terminal rodoviário na cidade de Juazeiro, sendo que, nesta cidade, fazia desembarque de passageiros na zona rural do referido município. Sustenta que não há critério quantitativo para definição da competência territorial, sendo que o art. 651, 3º, da CLT não faz nenhuma menção à quantidade de dias em que o empregado deve ter prestado serviços na localidade para tornar o juízo competente, de modo que, diferentemente do entendimento esposado no acórdão recorrido, um único evento já é o suficiente para caracterizar a prestação do serviço e atrair a competência territorial para a vara do trabalho do município respectivo. Invoca a aplicação do art. 651, 3º da CLT e traz dissenso interpretativo. Os arestos trazidos a fls. 371-372, provenientes do 3º e 5º Tribunais Regionais do Trabalho, contêm tese contrária àquela emitida no acórdão recorrido, no sentido de que o trabalhador viajante, hipótese de motorista interestadual, pode ajuizar a ação trabalhista em qualquer município integrante do itinerário por ele percorrido no exercício de suas atividades. Conheço por divergência jurisprudencial. 2 - MÉRITO
fls.5 2.1 - COMPETÊNCIA TERRITORIAL LOCAL DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS FORO MAIS ACESSÍVEL AO EMPREGADO Em regra, tem-se que a competência para o ajuizamento de reclamação trabalhista é da localidade em que o empregado presta os serviços, consoante o disposto no art. 651, caput, da CLT. Os parágrafos do art. 651 da CLT dispõem a respeito das exceções a essa regra e, entre elas, avulta a do 3º, que possibilita a apresentação da reclamação na localidade da celebração do contrato ou na da prestação dos serviços. Percebe-se que o legislador buscou atender ao interesse do economicamente mais frágil para demandar com maior comodidade e conveniência. Na legislação trabalhista, ao contrário do direito comum, que privilegia o domicílio do réu, concede-se preferência ao juízo da localidade que seja mais acessível ao trabalhador para realizar a prova de suas pretensões e assegurar-lhe o amplo acesso aos órgãos judiciários. Trata-se de critério que se inscreve entre as normas protetivas do empregado, princípio basilar do Direito do Trabalho. Assim sendo, pode o reclamante optar pelo ajuizamento da demanda tanto no local da contratação quanto em qualquer localidade onde tenha prestado serviço para a reclamada. Na realidade, a competência territorial na Justiça do Trabalho deve levar em consideração as peculiaridades do caso concreto. É imperativo assegurar ao reclamante hipossuficiente na demanda - o pleno e desimpedido acesso à Justiça, princípio estabelecido no art. 5º, XXV, da Carta Magna, mas sempre avaliando a ausência de prejuízo à defesa da reclamada. Ademais, por ser a competência territorial meramente relativa e tendo em vista o sistema de nulidades no processo do trabalho, é imprescindível que a parte demonstre o efetivo prejuízo a justificar a declaração de incompetência, o que não foi objeto de debate no caso. Por ser a competência territorial meramente relativa e tendo em vista o sistema de nulidades no processo do trabalho, é imprescindível que a parte demonstre o prejuízo a justificar a declaração
fls.6 de incompetência, o que não foi demonstrado na decisão proferida pela Corte Regional. Nessa exata linha é o entendimento do TST, conforme se verifica da observação dos seguintes precedentes: RECURSO DE REVISTA - EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL. Na legislação trabalhista, ao contrário do direito comum, que privilegia o domicílio do réu, concedeu-se preferência ao juízo da localidade que seja mais acessível ao trabalhador para realizar a prova de suas pretensões e assegurar-lhe o amplo acesso aos órgãos judiciários. Trata-se de critério que se inscreve entre as normas protetivas do empregado, princípio basilar do Direito do Trabalho. As regras de competência em razão do lugar, no âmbito do processo trabalhista, têm por escopo beneficiar o hipossuficiente, sob pena de negar-se o acesso à Justiça. Devem-se levar em conta, pois, os princípios protetores que norteiam o direito do trabalho, deixando a critério do reclamante a opção pelo ajuizamento da demanda trabalhista no lugar em que lhe será mais fácil exercitar o direito de ação. Assim, ausente o prejuízo essencial à declaração de nulidade, a alegação de incompetência relativa cede em face da garantia da razoável duração do processo. (...) (RR-312-90.2010.5.22.0000, 1ª Turma, Rel. Min. Vieira de Mello Filho, DJ de 23/9/2011) INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL. LOCAL DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. A regra geral da competência em razão do lugar, estabelecida em razão do local da prestação dos serviços, nos termos do caput do artigo 651da Consolidação das Leis do Trabalho, comporta exceções. Assim, não viola a literalidade do referido dispositivo decisão por meio da qual se confirma a competência da Vara do Trabalho, a despeito de a prestação laboral não ter ocorrido no âmbito de sua jurisdição, quando a controvérsia, de natureza estritamente jurídica, se estabelece em torno dos critérios aplicáveis à complementação de aposentadoria devida ao reclamante, instituída mediante regulamento da empresa, de alcance nacional. Hipótese em que se impõe tomar em conta a garantia de acesso ao Poder Judiciário, bem como o princípio tutelar ínsito ao Direito do Trabalho, valendo ressaltar que o Tribunal Regional consigna expressamente que o pleno exercício do
fls.7 direito de defesa pelo reclamado não restou afetado. Em se tratando de incompetência relativa, e não restando evidenciado qualquer prejuízo para os litigantes, deve-se prestigiar a economia processual, prevenindo o desperdício de recursos humanos e materiais que por certo haveria caso se determinasse a nulidade do processado e a consequente repetição de todos os atos processuais praticados até o presente momento. Tal medida se impõe até por força do disposto no artigo 5º, LXXVIII, da Constituição da República, por meio do qual se positivou no ordenamento jurídico pátrio o princípio da celeridade, a assegurar a todos o direito à duração razoável do processo. Recurso de revista conhecido e não provido. (RR-744914-62.2001.5.22.5555, 1ª Turma, Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, DJ de 11/12/2009) RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR. ART. 651, 3º DA CLT. PROVIMENTO INÚTIL. INCOMPETÊNCIA NÃO DECLARADA. A dicção do art. 651, 3º, da CLT, é de que a competência da Vara é determinada pelo local em que o empregado prestar serviços ao empregador. O ajuizamento de ação fora do local da jurisdição em que o reclamante presta serviços, não possibilita que se declare a nulidade de todos os atos processuais, e o envio para a correta jurisdição, quando a prestação jurisdicional foi amplamente declinada às partes, com o respeito aos princípios constitucionais relativos à ampla defesa e contraditório, o que não é negado pela reclamada. Cabe aplicar, portanto, o princípio da razoável duração do processo. Inviável, no processo do trabalho, se declarar a nulidade quando não demonstrado manifesto prejuízo à parte e quando há inutilidade no provimento buscado. Aplicação do art. 794 da CLT. Recurso de revista não conhecido. (RR-50800-80.2006.5.23.0026, 6ª Turma, Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, DJ de 7/3/2008) INCOMPETÊNCIA EX RATIONE LOCI - PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO - NULIDADE NÃO DECRETADA - Não há que se falar em violação do art. 651, 3º da CLT, visto que a matéria foi razoavelmente interpretada pela decisão impugnada, ao entender que em se tratando de incompetência relativa, e não tendo sido demonstrada a existência de qualquer prejuízo ao Reclamado, impõe-se a manutenção do julgado
fls.8 recorrido, evitando-se, assim, o desperdício de recursos materiais e humanos para a repetição desnecessária de atos processuais que a declaração de nulidade da sentença ocasionaria e que embora seja no local da prestação do serviço que estão reunidas, em tese, as provas orais que poderiam ser colhidas para a instrução do feito, facilitando a sua apresentação em juízo, no presente caso houve a produção de prova por meio de carta precatória, o que não acarretou prejuízo para as partes na instrução do processo. Pertinência do Enunciado nº 221 do TST. Recurso de Embargos não conhecido. (RR-655792-57.2000.5.01.5555, SBDI-1, Rel. Min. Carlos Alberto Reis de Paula, DJ de 6/9/2001) Por todo o exposto, dou provimento ao recurso de revista para, reformando o acórdão regional, determinar o retorno dos autos à Vara do Trabalho de origem, para que prossiga na tramitação processual, como entender de direito. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros da 7ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso de revista, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, dar-lhe provimento para determinar o retorno dos autos à Vara do Trabalho de origem, para que prossiga na tramitação processual, como entender de direito. Brasília, 5 de Junho de 2013. Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº 11.419/2006) MINISTRO VIEIRA DE MELLO FILHO Relator