II WORKSHOP INTERNACIONAL HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA IBÉRICA: VELHOS MAPAS, NOVAS ABORDAGENS

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Transcrição:

II WORKSHOP INTERNACIONAL HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA IBÉRICA: VELHOS MAPAS, NOVAS ABORDAGENS A CAPITANIA DO ESPÍRITO SANTO NOS MAPAS PORTUGUESES DO SÉCULO XVII Fabio Paiva Reis Doutorando em História pela Universidade do Minho RESUMO Com o trabalho apresentado terei como objetivo analisar as representações cartográficas da Capitania do Espírito Santo durante o século XVII. É a partir dessas representações que Portugal enxerga o território da Capitania, o tamanho de suas vilas, sua riqueza de rios, madeiras e pedras preciosas. Complementados com a documentação textual do período, esses mapas poderão ser analisados e compreendidos de maneira a apresentar, na medida do possível, como eles passavam para a Europa as informações pertinentes sobre a América portuguesa: apesar do interesse em manter alguns dos mapas em segredo de Estado português, eles acabaram sendo as fontes que levaram para outras nações europeias, de maneira ainda mais rápida, as informações das conquistas portuguesas. Acredito que um estudo profundo da cartografia seiscentista, completada e articulada com documentos textuais do período é de extrema importância para compreender a Capitania do Espírito Santo nesse espaço de tempo, já que os mapas compunham grande parte do conhecimento que se tinha das colônias. Como a partir de meados do século XVI grande parte dos mapas produzidos em Portugal foi organizada em atlas, Acredito que futuras análises mais profundas dos mapas do Espírito Santo poderão ser utilizadas como base para outras regiões do litoral brasileiro.

1. INTRODUÇÃO Esbarrei poucos anos atrás, pela primeira vez, com um mapa da Capitania do Espírito Santo. Era uma péssima fotocópia de um mapa de João Teixeira Albernaz, da Razão do Estado do Brasil. Naquela época o que me interessava era a lendária Serra das Esmeraldas, que aparecia ali no canto superior direito, mas com o andar das pesquisas e a descoberta de novos mapas do século XVII, comecei a me interessar pela maneira que as informações sobre a capitania eram passadas adiante e, com os anos, incorporadas a esses mapas. Só que aí, como saber por que algumas informações entram na cartografia e outras não? Quais os interesses do cosmógrafo na feitura de seu mapa? E qual o interesse de seu patrono? Ao unir essas perguntas à descoberta do fato de não haver quaisquer análises profundas da cartografia do Espírito Santo muito menos do século XVII, tão abandonado pela historiografia local decidi me candidatar ao doutoramento. Aqui, entretanto, falarei apenas (e brevemente) sobre a evolução do espaço cartografado na região que hoje pertence ao estado do Espírito Santo. 2. OS MAPAS DO ESPÍRITO SANTO O mapa mais antigo que há é o de Luís Teixeira, do famoso Roteiro de todos os sinaes... 1, datado das últimas duas décadas do século XVI. Ele é, dos mapas estudados, um dos poucos a identificar as principais ilhas ao redor da então Ilha de Duarte de Lemos. Poucos dos topônimos aí presentes sobreviverão na cartografia dos Teixeira. A área demonstrada vai entre o Monte de João Moreno e o Rio das Barreiras. Para o sul, fica a indicação do caminho para Cabo Frio e ignora a existência da Capitania de São Tomé 1 [Ilha de Duarte de Lemos]. [Escala ca 1:225 000]. 1 mapa: manuscrito, color.; 10,30x16,50 cm. In: Roteiro de todos os sinaes, conhecim[en]tos, fundos, alturas, e derrotas, que ha na costa do Brasil, desdo cabo de Sa[n]to Agostinho até o estreito de Fernão de Magalhães. [Ca 1585-1590]. - F.12. - Luís Teixeira. Pert.: Biblioteca da Ajuda, Portugal.

ou da Paraíba do Sul, abandonada por Pero de Góis devido às dificuldades de colonização 2. Figure 1 Luís Teixeira, 158- / 159-. Uma das grandes curiosidades do mapa é que o autor faz confusão entre os nomes das duas vilas. Na ilha principal deveria estar a Vila de Vitória, enquanto no continente deveria estar a Vila do Espírito Santo, ou Vila Velha. Ao invés disso, temos Vila do Espírito Santo e Vila Velha de Nossa Senhora da Vitória, respectivamente. Outra grande curiosidade é a nomeação da ilha como de Duarte de Lemos, sendo que pesquisas mostram 3 que após anos de desavenças entre o fidalgo português e o donatário Vasco Fernandes Coutinho, Lemos voltou para a Bahia em 1550. No ano 2 OLIVEIRA, José Teixeira. História do Estado do Espírito Santo. 3ª ed. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. 2008, p.61-62. 3 DAEMON, Basilio Carvalho. Província do Espírito Santo: sua descoberta, história cronológica, sinopse e estatística. 2ª ed. Coleção Canaã. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. 2010, p.116-118.

seguinte, Coutinho fundou a Vila Nova, ou Vila de Vitória, na mesma ilha, o que me leva à constatação do conflito cronológico. Sabemos que Luís Teixeira esteve na América na década de 1570, mas não há confirmação de tenha obtido pessoalmente as informações desta região. Supostamente uma cópia de um protótipo mais antigo 4, o mapa traz, na verdade, os mesmos topônimos descritos por Gabriel Soares de Sousa: A primeira ilha, que está nesta barra, se chama de D. Jorge, e mais para dentro está outra, que se diz de Valentim Nunes. Desta ilha para a Vila Velha estão quatro penedos grandes descobertos; e mais para cima está a ilha de Ana Vaz; mais avante está o ilhéu da Viúva; e no cabo desta baía fica a ilha de Duarte de Lemos, onde está assentada a vila do Espírito Santo, a qual se edificou no tempo da guerra pelos goitacases, que apertaram muito com os povoadores da Vila Velha. Defronte da vila do Espírito Santo, da banda da Vila Velha, está um penedo mui alto a pique sobre o rio, ao pé do qual se não acha fundo; é capaz este penedo para se edificar sobre ele uma fortaleza, o que se pode fazer com pouca despesa, da qual se pode defender este rio ao poder do mundo todo. Este rio do Espírito Santo está em altura de vinte graus e um terço 5. O mesmo erro dos nomes das vilas se repete, décadas depois, em Frei Vicente de Salvador, que sem dúvidas buscou informações no texto anterior: onde logo á entrada do rio, da banda do Sul, começou a edificar a villa da Victoria, que agora se chama a villa velha em respeito da outra villa do Espirito Santo que depois se edificou uma légua mais dentro do rio, em a ilha de Duarte de Lemos, por temor do gentio 6. Estes erros são corrigidos nos mapas posteriores, quando as escalas permitem uma boa visualização da baía de Vitória. O mais importante é que no século XVII o território cartografado aumenta consideravelmente. Neste primeiro grande esforço em cartografar o litoral brasileiro, Luís Teixeira chegou a dez por cento do trabalho, segundo Armando 4 CORTESÃO, Armando; MOTA, Avelino Teixeira da. Portugaliae monumenta cartographica Vol. 5. Reprodução fac-similar da edição de 1960. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987. p.74. 5 SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil. 1587. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf>. Acesso em: 20/03/2013. p.90.-91 6 SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil (1627). Nova edição revista por Capistrano de Abreu. São Paulo e Rio: Weiszflog Irmãos. 1918. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000038.pdf >. Acesso em: 20/03/2013. p.94.

Cortesão 7. Trabalho que seria aos poucos completado por seus descendentes ainda durante a União Ibérica. Os três mapas seguintes são apógrafos de um mesmo original, que se chama Rezão do Estado do Brasil no Guoverno do Norte, sóme[n]te asi como o teve Dõ Dioguo de Meneses até o anno de 1612. As três edições se encontram hoje na Biblioteca Pública do Porto (datado de 1616), no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1626) e na Biblioteca Nacional de França (1627). O atlas é de autoria de João Teixeira Albernás, filho de Luís Teixeira, e acompanham o texto considerado de Diogo de Campos Moreno sob ordens de Dom Diogo de Menezes, governador da repartição do Norte. As legendas dos três mapas são muito semelhantes, e apresento abaixo o texto do mapa do Porto: Mostraçe a Aldea dos Reys Maguos q[ue] admenistrão os padres da cõpanhia e do dito Rio Doçe para o norte. Corre a costa como se vee ate o Rio das Caravellas, tudo despovoado cõ bõns portos pera navíos da Costa e cõ muitas matas de pao brasil. Mostraçe pello dito Rio Doçe, o caminho q[ue] se faz p.a a Serra das Esmeraldas, pasando o Rio Guasisí e mais avante das cachoeiras o Rio Guasisimiri, e mais avante, como se entra no Rio Una, e delle caminhando pouca terra se entra na Lagoa do Ponto, e da qual desembarcão e sobem a Serra das Esmeraldas, tudo co[n]forme ha jornada q[ue] fez Marcos dazevedo É interessante reparar que, segundo a legenda, a Capitania do Espírito Santo acaba no Rio Doce, mas o próprio texto de Moreno apresenta possibilidades diferentes, como o rio Cricaré, ou São Mateus: A capitania de Porto Seguro parte com o Espírito Santo pelo rio Doce, em dezenove graus, ou segundo outros querem pelo rio Cricaré, mais ao Norte, que foi o ponto por onde se dividiu este Estado entre D. Francisco de Sousa e D. Diogo de Menezes 8. 7 CORTESÃO, Armando; MOTA, Avelino Teixeira da. Portugaliae monumenta cartographica Vol. 5. Reprodução fac-similar da edição de 1960. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987. p.75. 8 Vem-se, por estas referências, como já estava esclarecido, à época, o acesso ao atual território de Minas Gerais, pelos rios Doce ou Cricaré, quando os do Espírito Santo fazem a jornada às esmeraldas. Tratase, provavelmente, do descobrimento dessas minas, por Marcos de Azevedo, em 1611 ou 1612. MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá Razão do Estado do Brasil 1612.Edição crítica, com introdução e notas de Helio Vianna. Arquivo Público Estadual. Recife, 1955. p.123-124.

Figure 2 - João Teixeira Albernás, o Velho, 1616. Apesar do autor propor que tal fronteira no rio Doce era a estabelecida antes da divisão da América portuguesa em duas repartições, isso também não tem fundamento 9. O que podemos perceber é que a divisão do território brasileiro entre as repartições do Norte e do Sul, dada em 1608 e que durou até 1612, colocava as terras ao Sul do rio Cricaré sob a administração de D. Francisco de Sousa, enquanto Moreno escreveu a Razão do Estado do Brasil por orientação de D. Diogo de Menezes. Sabemos também que Menezes queixou-se ao Rei sobre a criação da repartição do Sul, por acreditar que tais interesses políticos pela região dos desejados metais e das pedras preciosas não tinham validade 10. O importante é ressaltar que esses mapas seguem o litoral até o rio Mucuripe (hoje apenas Mucuri), muito mais próximo da fronteira atual, mas não evolui em direção ao sul. Aqui, ainda, não aparece mais a Vila Velha, nas proximidades do Monte de João Moreno, apenas algumas filas de casas simbolizando a Vila de Vitória na ilha principal sob a 9 O Cricaré nunca deixará de ser considerado em território desta capitania. Assim se referiu Mem de Sá na carta em que comunicou, ao rei, a morte do filho. FREIRE, Mário Aristides. A Capitania do Espírito Santo: Crônicas da Vida Capixaba no tempo dos Capitães-mores. Vitória: Flor & Cultura Editores. 2006, p.107. 10 FREIRE, Mário Aristides. A Capitania do Espírito Santo: Crônicas da Vida Capixaba no tempo dos Capitães-mores. Vitória: Flor & Cultura Editores. 2006, p.109.

legenda Spiritu Santo. Fora esse topônimo, os mapas se limitariam a nomear os rios que desaguam no Oceano Atlântico, se não fosse o roteiro para a Serra das Esmeraldas, destacada na parte superior direita, e talvez o principal motivo para a demonstração desta região, que não traz mais nenhuma informação relevante. Figure 3 - João Teixeira Albernás, o Velho, 1626. A lendária proximidade entre o Potosi e o sertão brasileiro levou à crença no Sabarabuçu, inicialmente uma lendária serra de prata no interior da América, à espera dos portugueses. A prata perderá seu posto para a esmeralda durante o século XVII, com o Sabarabuçu se tornando a Serra das Esmeraldas, mito formado a partir de relatos de nativos e viajantes sobre pedras preciosas de muitas cores no interior na colônia principalmente verdes. As disputas pelas riquezas do interior levarão, ainda no século estudado, a novas disputas de fronteiras entre as repartições do Norte e do Sul da colônia. Porém, preciso ressaltar no momento o aparecimento de uma construção religiosa nas proximidades do Rio dos Reis Magos. A estrutura, sempre quadrada com um pátio central ocupado por uma cruz, simboliza uma aldeia da Companhia de Jesus. Ela foi fundada ainda antes de 1570, mas é posterior à aldeia de Santa Cruz e do Colégio de Santiago, cuja fundação se confunde com a da Vila de Vitória, em 1551.

Figure 4 - João Teixeira Albernás, o Velho, 1627. É muito interessante que a missão de Reis Magos tenha ganhado tamanho destaque em mapas que ignoram Vila Velha e as outras aldeias e Colégio citado, sendo ainda visualmente maior que Vitória, a própria sede da Capitania 11. O que conseguimos perceber através da documentação é que em 1610 o donatário Francisco de Aguiar Coutinho faz a doação de uma sesmaria aos índios da aldeia, que, fazendo pião no Yapara, tem seis léguas de terra para o Norte, seis para o Sul, seis para o Sertão e para o Mar, que será o que achar assim consta desta Sesmaria (...) 12, onde cinco anos depois já havia igreja. Se tal fato não for suficiente para o destaque, os padres desta aldeia ficaram conhecidos, antes e depois da doação da sesmaria, por entrarem em acordo com os aimorés, ou botocudos, como cita o padre Jacome Monteiro 13 em 1610 e também 11 Daemon comenta sobre o mapa de Albernás: nesta carta são demonstrados todos os lugares povoados, havendo, no entanto, faltas, pois que só dá como povoações a Vitória e Reis Magos, quando já existia a vila do Espírito Santo, havendo grandes povoações em Guarapari, Benevente e São Mateus, não falando em Santa Cruz, Serra e Piúma, então Orobó. DAEMON, Basilio Carvalho. Província do Espírito Santo: sua descoberta, história cronológica, sinopse e estatística. 2ª ed. Coleção Canaã. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. 2010, p.162. 12 A carta toda pode ser vista em: LIVRO Tombo da Vila de Nova Almeida. Arquivos do Estado do Espírito Santo. Vitória: Imprensa Oficial do Espírito Santo. 1945, p.43-45 13 MONTEIRO, Jacome. Relação da Província do Brasil, 1610. apud OLIVEIRA, José Teixeira de. História do Estado do Espírito Santo. Ed. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo: Secretaria de Estado da Cultura, 2008. p.147.

o padre Domingo Monteiro 14, em 1619. Os aimorés ficaram conhecidos neste período por dificultarem a expansão portuguesa em alguns territórios, nomeadamente sul da Bahia e norte do Espírito Santo, e atrapalharem muitas das jornadas para o interior da colônia. Por isso, o suposto apaziguamento desse grupo indígena naquela região é relevante e é nesse período que acontecem as principais entradas pelo rio Doce em direção às lendárias esmeraldas. Figure 5 - João Teixeira Albernás, o Velho, 1631. A Aldeia dos Reis Magos continua em destaque, e com representação idêntica, no atlas de 1631 15, chamado Estado do Brasil. Porém, este novo conjunto de mapas traz novas 14 Ao R.do P. Symão Pinheiro da Companhia de IESU Provincial do brasil. Em ausência ao R.do P. Manuel Fernandes no Collegio da Bahia Da Cap.a do Spirito Sancto. In LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Vol. VI. Instituto Nacional do Livro: Rio de Janeiro; livraria Portugália: Lisboa. 1945. p.161. 15 Capitania de Porto Seguro, com parte da do Espírito Santo, desde o Morro de João Moreno até ao R. Macuripe [Escala ca 1:300 000]. [Ca 1631]. 1 mapa em 1 bifólio : ms., color., papel ; 44,5x67,5cm. In: Estado do Brasil coligido das mais sertas noticias q[ue] pode aivntar dõ Ieronimo de Ataide. Por Ioão

curiosidades. O grande destaque fica para o painel encimado pelo brasão português, apoiado na nova legenda que acompanha o nome do rio Doce: Aqui começa a capitania de Porto Seguro. Ainda não consegui definir um motivo específico para a tomada de posse provavelmente os conflitos por aquela região entre o rio Doce e o rio Mucuri continuava acesa, mas parece haver o interesse na região por parte de D. Jerônimo de Ataíde, donatário de Ilhéus e patrono de Albernás neste atlas. A grande novidade do Estado do Brasil é que a região da Capitania do Espírito Santo se divide, pela primeira vez, em três mapas. Além do já citado, que acompanha os atlas anteriores, há agora um mapa que vai do Cabo de São Tomé ao Monte de João Moreno, representação que se tornará padrão pelo resto do século XVII. Entretanto, ele parece não apresentar qualquer aldeia, quando sabemos já da existência de uma aldeia em Reritiba, onde atuou o padre Anchieta, e outra em Guarapari, iniciada também pelos jesuítas. Tal mapa parece mesmo um convite para a ocupação do território, supostamente abandonado pelos portugueses. Figure 6 - João Teixeira Albernás, o Velho, 1631. Teixeira Albernas, cosmographo de Sya Ma[gest]ade. Anno: 1631. 1631. Cart. 16. - João Teixeira Albernas, o Velho. - Pert.: Ministério das Relações Exteriores, Rio de Janeiro.

É interessante também notar o limite da capitania em São Tomé. Nos primeiros anos de Vasco Fernandes Coutinho no Espírito Santo, ele estabeleceu com Pero de Góis o limite entre sua capitania e a de São Tomé. Esse limite era o rio Itapemirim, atualmente no sul do Espírito Santo. Entretanto, no governo de Francisco Gil de Araújo, em fins do século XVII, essa fronteira passou a ser contestada 16, o que pode significar que ela não era tão fixa assim. Vale lembrar que o abandono da Capitania de São Tomé e retorno dela para a Coroa em 1619 17 pode ter levado à alteração de suas fronteiras. Figure 7 - João Teixeria Albernás, o Velho, 1631. 16 LAMEGO, Alberto. A Capitania do Espírito Santo sob o Domínio dos Donatários, In Revista do Instituto Histórico e Geografico do Espirito Santo. Vol. 11. Vitória: Off. Da Vida Capichaba. 1938, p.111-112. 17 SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Ser Nobre na Colônia. São Paulo: Editora UNESP. 2005, p.51.

O terceiro mapa é dos arredores da Vila de Vitória. Ele é, por isso, semelhante ao mapa de Luís Teixeira e também ao mapa publicado nas Taboas geraes de toda a navegação (1630) 18, do mesmo cosmógrafo e do mesmo patrono. Para começar com as novidades, a ilha já apresenta um formato muito mais próximo do real e as duas vilas mostram agora seus nomes corretos. Além disso, ambos os mapas trazem os fortes de São Marcos, no continente, e de São Miguel, na ilha, um de cada lado do canal para o porto de Vitória. É aqui que aparece, pela primeira vez, a ermida de Nossa Senhora da Penha (iniciada ainda em 1558, hoje Convento). Ela teria sofrido uma invasão holandesa durante as infrutíferas tentativas da primeira metade do século XVII 19. A imagem da padroeira recebeu em sua coroa, poucos anos antes, algumas das esmeraldas que Marcos de Azeredo trouxe de sua jornada ao interior da capitania 20. É também a primeira vez que surgem um trapiche 21 e três engenhos, com os nomes: de Azeredo, de Fr[ancis]co de Aguiar, e de Leonardo Froes. Os Azeredo eram família conhecida: Miguel de Azeredo foi um dos primeiros capitães-mores e Marcos de Azeredo surge nas legendas dos mapas da Razão do Estado do Brasil como autor do roteiro para a Serra das Esmeraldas e recebeu hábito da Ordem de Cristo. Francisco de Aguiar Coutinho foi donatário da capitania entre 1605 e 1627, ficando algum tempo fora após uma denúncia de Leonardo Froes afirmando que ele havia permitido uma embarcação inglesa no porto de Vitória 22. 18 Taboas geraes de toda a navegacãoo / divididas e emendadas por Dom Ieronimo de Attayde com todos os portos principaes das conquistas de Portugal delineadas por Ioão Teixeira cosmographo de Sua Magestade, anno de 1630. 1630. Fol. 4. - João Teixeira Albernás, o Velho. - Pert.: Library of Congress Geography and Map Division Washington, USA. 19 REIS, Fabio Paiva. As Imagens de Nossa Senhora da Penha do Convento da Santa no Espírito Santo. Disponível em: <http://pt.scribd.com/fullscreen/21766933?access_key=key-201n75j408dc0q6mr8wq>. Acesso em 01/03/2013. 20 BOXER, Charles Ralph. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola, 1602-1686. São Paulo: Editora Nacional. 1973, p.310. 21 Armazém e moinho de açúcar de tração animal. 22 Sobre a naveta inglesa que foy a capitania do Spirito Sancto e denunciação que deu Leonardo Froes de Francisco de Aguiar e os Teixeiras. Cartas para Álvaro de Sousa e Gaspar de Sousa (1540-1627). Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses: Centro de História e Documentação Diplomática, 2001. p.151

Figure 8 - João Teixeira Albernás, o Velho, 1640 e 1642. Esses mesmos engenhos voltam a aparecer nos mapas dos atlas de 1640 23 e 1642 24. Os topônimos das ilhas menores ressurgem e a ilha principal volta a ser chamada de Ilha de Duarte de Lemos, em um verdadeiro retorno das informações presentes no mapa de Luís Teixeira. No mais recente, a ilha parece ter topônimos a mais. É possível ler, por exemplo, o que parece ser o nome das igrejas ali construídas (mas não foi possível a leitura) e também a palavra Vigia, próximo à uma torre sobre um morro. Há relatos que o maciço central da ilha foi sim usado no período colonial como vigia, pois é possível enxergar todos os ângulos ao redor da ilha. A nova divisão do território nos mapas é: um mapa entre o Cabo de São Tomé e o Morro de João Moreno (como em 1631), depois da Ilha de Duarte de Lemos até a Ponta do rio Doce, agora finalmente separando o Espírito Santo da capitania de Porto Seguro, pois o mapa seguinte segue do Rio Doce até a Ponta de Agasuipe, ao norte do Rio Caravelas. Aqui, o cosmógrafo faz confusão com os nomes de alguns rios: o Doce aparece onde antes havia o Riacho e, o dos Reys aparece no lugar do Doce. Este erro continua nos mapas seguintes. 23 Descripção de todo o maritimo da terra de S. Crvz. Chamado vvlgarmente o brazil. Feito por João Teixeira cosmographo de Sua Magestade. Anno de 1640. João Teixeira Albernás, o Velho. - Pert.: Torre do Tombo, Lisboa. 24 Descripção de toda a costa da Provinsia de santa Cruz a que vulgarmente chamão Brasil. 1642. João Teixeira Albernás, o Velho. Pert.: Biblioteca da Ajuda, Portugal.

Figure 9 - João Teixeira Albernás, o Velho, 1640 e 1642. No primeiro mapa agora vemos a definição de que a capitania de Pero de Góis acaba no Cabo de São Tomé, mas já vimos que tal informação é questionável. Temos também destaque para os rios com fundura o suficiente para as embarcações portuguesas, o Monte Agá e as Serras de Goropary, que não apareciam em 1631, e que atuam como ponto de reconhecimento a partir da costa. No litoral, temos uma Caza da Fruta (hoje Ponta da Fruta) que teria ganhado destaque por José de Anchieta ter ali se hospedado nas viagens que fazia entre o colégio jesuíta em Vitória e a aldeia de Reritiba, onde morreu. Figure 10 - João Teixeira Albernás, o Velho, 1640 e 1642.

Há uma interessante menção ao engenho de Marcos Fernandes Monsanto que merece ser comentada. Monsanto era espanhol e tinha pelo menos três engenhos em Guarapari 25, mas ficou realmente conhecido após ter suas propriedades confiscadas logo após a Restauração portuguesa, acusado de se manter fiel à coroa castelhana 26. Segundo documentação, ele era proprietário dos engenhos desde os últimos anos do século XVI e no tempo do confisco já morava em Castela e os mantinha sociedade com o filho. Mais para o interior há a aldeia de Goropary (hoje Guarapari), mantida então pelos padres da Companhia de Jesus. A aldeia existia pelo menos desde meados do século XVI, tendo sua origem ligada aos conflitos com os franceses no Rio de Janeiro, quando os portugueses teriam conseguido grande apoio indígena para a expulsão dos inimigos 27. Guarapari provavelmente veio a se tornar uma das maiores aldeias do Espírito Santo, após deixar de ser residência dos padres, pois Francisco Gil de Araújo a elevou a vila em 1679 28, a terceira do Espírito Santo. A última dupla de mapas a ser apresentada aqui é datada de 1666, conhecida como Livro de Toda a Costa da Provincia Canta Crvz. São de autoria de João Teixeira 25 RIBEIRO, Luís Cláudio M. O Comércio e a navegação na Capitania Portuguesa do Espírito Santo (Séc. XVI-XVII). XXX Encontro da Associação Portuguesa de História Econômica e Social: Crises ecoômicas, crises sociais. Lisboa, 2010, p.15. 26 CARTA do [Provedor-Mor da Fazenda], Manuel Correia de Figueiredo, ao Rei [D. João IV] a informar do seqüestro dos bens de Marcos Monsanto e de Dom Diogo Ximenes de Vargas residentes em Castela. Arquivo Histórico Ultramarino. Documentação do Espírito Santo, Caixa 1, Documento 17A. 27 Daemon comenta sobre o mapa de Albernás: nesta carta são demonstrados todos os lugares povoados, havendo, no entanto, faltas, pois que só dá como povoações a Vitória e Reis Magos, quando já existia a vila do Espírito Santo, havendo grandes povoações em Guarapari, Benevente e São Mateus, não falando em Santa Cruz, Serra e Piúma, então Orobó. DAEMON, Basilio Carvalho. Província do Espírito Santo: sua descoberta, história cronológica, sinopse e estatística. 2ª ed. Coleção Canaã. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. 2010, p.162. 28 ALMEIDA, Eduardo de Castro e (org.). Inventário dos documentos relativos ao Brasil existentes no Arquivo de Marinha e Ultramar de Lisboa. Vol. 4. Rio de Janeiro, 1913-36. p.181.

Albernás, o Novo, neto homônimo do cosmógrafo já falado. Um está na Biblioteca Nacional 29, e o outro no Ministério das Relações Exteriores 30, ambos do Brasil. Figure 11 - João Teixeira Albernás, o Novo, 1666. Figure 12 - João Teixeira Albernás, o Novo, 1666. Nestes mapas, a principal diferença nos topônimos em relação aos de 1640 e 1642 está nos arredores da vila de Vitória. Aqui, apenas duas ilhas recebem nome: Ilha de Dom Jorge e Ilha Escalvada. Já no continente, ao sul, temos novamente o Convento de Nossa Senhora da Penha (visto antes apenas em 1631), e a Igreja de Nossa Senhora do 29 [Atlas do Brasil]. - [Ca 1666] - Autoria Atribuída a João Teixeira Albernaz, o Novo. Pert.: Códice de Diogo Barbosa Machado com o título Mappas do Reino de Portugal. Bibioteca Nacional do Rio de Janeiro. 30 Livro de toda a Cos ta da provincia santa crvz feito por ioão teixeira Albernas anno d. 1666. [Ca 1666]. João Teixeira Albernás, o Novo. - Pert.: Ministério das Relações Exteriores, Brasil.

Rosário. Esta é igreja que foi fundada ainda em 1535 com a chegada dos portugueses e fundação de Vila Velha, mas foi refeita em 1551 pelos jesuítas que desembarcaram na capitania para a construção do Colégio em Vitória 31. Figure 13 - João Teixeira Albernás, o Novo, 1666. É importante destacar que a impressão inicial é que estes mapas tem aparentemente um visual mais sóbrio e talvez mais padronizado que seus antecessores. Nos mapas de Albernás, o Velho, segundo Márcia Maria dos Santos, as representações encontram-se desenhadas com a técnica denominada perspectiva aérea, a partir de uma visão oblíqua, orientadas como se aquele território fosse observado de fora para dentro 32, utilizandose da profundidade e da continuidade criada pelo horizonte. Já nos mapas de Albernás, o Novo, não há esta perspectiva, pois o cosmógrafo não se utiliza da visão oblíqua ou do horizonte. 31 DAEMON, Basilio Carvalho. Província do Espírito Santo: sua descoberta, história cronológica, sinopse e estatística. 2ª ed. Coleção Canaã. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. 2010, p.119. 32 SANTOS, Márcia Maria Duarte dos. Técnicas e Elementos da Cartografia da América Portuguesa e do Brasil Império. In Roteiro Prático de cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Organização Antônio Gilberto Costa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007, p.52.

Agora, enquanto a vegetação e até alguns cursos de rios nunca tiveram o objetivo real de acompanhar a realidade do território, mas sim de passar a informação básica, é possível dizer que os mapas anteriores a 1666 tentavam trazer uma sensação de realidade às serras do interior da capitania. Já nos mapas analisados no momento, as elevações perdem toda a individualidade e assumem um modelo específico, padrão, que informam o leitor da existência daquelas serras, sem tentar retrata-las devidamente. CONCLUSÃO Como podemos ver, houve grande evolução do espaço cartografado na região da Capitania do Espírito Santo. Esta evolução com certeza não se limita apenas à extensão, mas também às escalas dos mapas, dos elementos figurativos e dos progressos feitos pelo povoamento, presentes nas legendas 33. Mesmo assim, o capítulo Portuguese Cartography in the Renaissance do volume 3 do The History of Cartography apresenta um gráfico bastante esclarecedor sobre a expansão, com o passar dos anos (e dos atlas) do território mapeado pela família Teixeira 34. Por fim, este é obviamente um estudo em construção. Apresento aqui apenas informações e percepções desse conjunto cartográfico. Acredito que uma análise histórico-geográfica permitirá a criação de uma nova imagem da Capitania do Espírito Santo no período estudado, unindo informações diversas para alcançar um resultado único na historiografia da América portuguesa. 33 ALEGRIA, Maria Fernanda; DAVEAU, Suzanne; GARCIA, João Carlos; RELAÑO, Francesc. Portuguese Cartography in the Renaissance. In WOODWARD, David. (Ed) The History of Cartography Vol. 3: Cartography in the European Renaissance Part 1. Chicago: The University of Chicago Press. 2007, p.1032. 34 ALEGRIA, Maria Fernanda; DAVEAU, Suzanne; GARCIA, João Carlos; RELAÑO, Francesc. Portuguese Cartography in the Renaissance. In WOODWARD, David. (Ed) The History of Cartography Vol. 3: Cartography in the European Renaissance Part 1. Chicago: The University of Chicago Press. 2007, p.1033.

3. BIBLIOGRAFIA a. CARTOGRAFIA (POR DATA) [Ilha de Duarte de Lemos]. [Escala ca 1:225 000]. 1 mapa: manuscrito, color.; 10,30x16,50 cm. In: Roteiro de todos os sinaes, conhecim[en]tos, fundos, alturas, e derrotas, que ha na costa do Brasil, desdo cabo de Sa[n]to Agostinho até o estreito de Fernão de Magalhães. [Ca 1585-1590]. - F.12. - Luís Teixeira. Pert.: Biblioteca da Ajuda, Portugal. Demostração da Capitania do Spirito Santo atte a ponta da barra do Rio Doçe no qual parte cõ Porto Seguro.... [Escala ca 1:420 000]. 5 legoas = [7,6cm]. [Ca 1616]. 1 mapa em 1 bifólio : ms., color., pergaminho ; 41x56 cm, em folha de 43x57 cm. In: Rezão do Estado do Brasil no Guoverno do Norte, sóme[n]te asi como o teve Dõ Dioguo de Meneses até o anno de 1612. [Ca 1616]. Fol. 17. - Autoria atribuída a Diogo de Campos Moreno. - Pert.: A El Conde Marq.z de Eliches, Livraria do 1º Visconde de Balsemão. Demostração da Capitania do Espirito Santo até aponta da Barra do Rio doçe no qual parte cõ Porto Seguro... [Escala ca 1:420 000]. [Ca 1626]. - 1 mapa em bifólio : ms., color.; pergaminho; 42x56,3cm. In: Livro qve da rezaõ do Estado do Brasil. [Ca 1626]. Cart. 5. - Autoria atribuída a Diogo de Campos Moreno. - Pert.: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro. Geographica demõstração da Capitania do Espirito Ssantoa té a ponta da Barra do Rio doçe no qual parte cõ Porto Seguro... [Escala ca 1:420 000]. [Ca 1626]. - 1 mapa em bifólio : ms., color.; pergaminho; 41,3x58,7cm. In: Livro em q[ue] se mostra a descripção de toda a costa do Estado do Brasil e sevs portos barras e sondas delas. Feito Por Ioão teixeira Albernas, moõ da camara de Sua Mag[esta]de e seu cosmographo. Em lixboa, Anno de 1627. - 1627. Fol. 18. - Autoria atribuída a Diogo de Campos Moreno. - Pert.: Bibliothèque Nationale de Paris. Porto do Spirito Santo, no estado do Brasil. Em altura de 20 Gra[us] e 1/4. In Quarto mapa de los puertos mas principales de españa y delas de las canarias y terceras y delos dela Costa del Brasil y rio dela plata. [Escala ca 1:90 000]. 1630. 1 mapa em 1 bifólio : ms., color., papel ; 11,4x10cm. In: Taboas geraes de toda a navegacãoo / divididas e emendadas por Dom Ieronimo de Attayde com todos os portos principaes das conquistas de Portugal delineadas por Ioão Teixeira cosmographo de Sua Magestade,