Page 1 of 7 ma-schamba " cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho doulhe o meu silêncio " (R. Nassar) Arte Lusófona nos CFM? 08/07/2011, 1:52 3 O Instituto Camões e o Instituto de Investigação Científica e Tropical apresentaram há pouco uma exposição em Maputo, na estação dos caminhosde-ferro. Caras e Citações: uma interpelação estética sobre Universidade, Cultura e Desenvolvimento de Ana de Macedo. A nota que acompanhava o convite definia-a como um trabalho de design conceptual impresso em telas de grandes dimensões, que nos propõe um diálogo entre as Letras, a História e alguns caminhos da Arte Contemporânea.. Fui ver. Entre o desconfiado ( Desenvolvimento na arte?) e o curioso (é raro o Camões organizar coisas fora do seu Centro Cultural, alguma especificidade haveria). E acima de tudo pelo local, que é privilegiado. Espaço amplo e coberto, edifício simbólico. E local popular, milhares de pessoas passando. E burguês, com sua loja, galeria e restaurante-bar. Confluência de públicos, algo muito interessante. Em particular pela promessa de uma intervenção (que vozes amigas me anunciavam de grande dimensão física) de arte contemporânea, expressão aqui ainda problemática e até rara. Que tipo de intervenção seria, e como seria a reacção dos públicos a algo que se presume diferente ao aqui habitual?
Page 2 of 7 O átrio da estação estava assim completado, impossível não comunicar, interagir com os passantes. Depois isto:
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Page 6 of 7 Não vou discutir da estética da apresentação. Nem das suas características técnicas (Trata-se de painéis com congregação de imagens, fotos de intelectuais, alguns populares e um conjunto de citações e alguns slogans.) Pois não é disso, assumidamente, que se trata quando se invoca a arte contemporânea. Assim de repente fico-me apenas pela consideração do conteúdo, do projecto, (do conceito se se quiser regressar à malfadada moda terminológica) que é o realmente significante. Estamos diante de uma peça de arte que quer discutir Desenvolvimento, e Cultura e Universidade, mesclada com uma crítica a jeito às instituições públicas (CPLP) em versão Ong. Não me parece que a arte tenha que ser revolucionária, nem mesmo que tenha que obrigatoriamente fazer rupturas (ou pelo menos que tenha que fazer rupturas com as rupturas, num incessante processo que é já tradição, o pérfido paradoxo). A grande questão é o que quer dizer. Ora esta arte, que o Camões e o Instituto de Investigação Científica e Tropical trouxeram inusitadamente ao local popular de Maputo, é a arte que nos vem dizer a lusofonia pode ser aplicada a qualquer parte do mundo. Ou (tres) citando Orlando Ribeiro [um grande intelectual e homem do seu tempo] Português não é assim um conceito de raça mas antes, mas antes uma unidade de sentimento e de cultura que aproximou homens de várias origens. Se esta exposição tivesse sido trazido por estas instituições públicas nacionais para ser apresentada na Escola Portuguesa de Moçambique, também ela pública, eu poderia invectivar a paupérrima arte oficial (para facilitar). Como perversora do que poderemos entender como arte, descurada na sua profundidade analítica, facilitadora (técnica e conceptualmente). E como meramente reprodutora da mais básica versão de uma concepção retrógada, ignorante, aplainadora, da história e da actualidade, aquilo a que dantes (?) se chamaria uma ideologia oficial. Um projecto? Nem tanto, nesse hipotético caso seria uma acção prejudicial à visão do mundo, pois dela empobrecedora, dos hipotéticos alunos que com ela contactariam. Mas isto foi para o centro da cidade. Com um conteúdo destes trata-se de uma mera acção de propaganda, completamente fora da placa. E como tal nem se discutem os eventuais méritos ou deméritos da sua dimensão artística. Pois é algo político, mera e incompetentemente político. Apenas dá para perguntar o que é que se passa na cabeça de quem aprova estes projectos. Em que mundo gostariam de viver? Isto, na mediocridade que transparece, não é inacreditável. É inaceitável. [Alguns dirão que estou a dar uma pancada nos responsáveis aqui vizinhos. Não estou. Estou mesmo crente, sem que tenha sabido de nada, que da sábia Lisboa lhes impingiram isto. E que nessas alturas não há nada a fazer. Apenas suportar. E esperar que passe. Já passou. Até à próxima coisa jeitosa.]
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