A INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA E A SUA EVOLUÇÃO
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- Ana Sá Martini
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1 A INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA E A SUA EVOLUÇÃO Alexandre Homem de Cristo A ciência política cresceu e afirmou-se enquanto disciplina científica em Portugal, desde os anos 1990, sendo a face mais evidente dessa evolução o desenvolvimento e diversificação da oferta educativa no ensino superior. Menos evidente e estudado é a afirmação da disciplina no contexto da investigação científica em Portugal. Qual é o ponto de situação do financiamento científico à ciência política? Como evoluiu esse financiamento? Como se distribui e se distribuiu? E como se posiciona comparativamente à sociologia no âmbito das ciências sociais? São estas as perguntas que aqui se propõe responder, recorrendo aos dados do financiamento público à investigação científica na ciência política, através da Fundação Ciência e Tecnologia (FCT), tanto a nível de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento (pós-doc) como em relação aos projectos de investigação. 1. BOLSAS Entre , a FCT financiou 278 bolsas de doutoramento e 68 de pósdoutoramento, num total de 346 bolsas financiadas. A evolução anual no financiamento destas bolsas é irregular, embora seja possível verificar alguma simetria entre as bolsas de doutoramento e pós-doutoramento um pico em 2006 (muito acentuado no caso das bolsas de doutoramento), uma queda em 2007, algum crescimento irregular até 2011/2012 e, por fim, uma diminuição significativa nos últimos dois anos. O período contido entre 2006 e 2012 corresponde, em ambos os casos, àquele que obteve maior financiamento. No caso específico das bolsas de doutoramento, após várias oscilações, a situação actual (2012) é muito semelhante à de 2005 (gráfico 1). 1
2 Entre os bolseiros financiados, a grande maioria é de nacionalidade portuguesa, sendo que, apesar disso, a presença de estrangeiros entre os bolseiros pós-doc é significativa: 22 dos bolseiros de doutoramento são estrangeiros (8%), tal como 23 dos de pósdoutoramento (34%). De resto, importa assinalar que, desde 2006, todos os anos foram financiados bolseiros pós-doc estrangeiros, revelando que o contexto da investigação em ciência política em Portugal se tornou mais atractiva. Entre as bolsas de doutoramento, 137 financiaram um plano de estudo cujo grau foi conferido por uma instituição de ensino superior estrangeira, enquanto em 141 casos as instituições eram nacionais. Assim, em 50,7% dos casos, os graus obtidos no âmbito de uma bolsa de doutoramento foram conferidos por instituições portuguesas. Este dado global esconde a relevante evolução das tendências institucionais relativamente às bolsas de doutoramento. De facto, a evolução temporal revela como as bolsas de doutoramento se destinavam inicialmente a financiar estudos em universidades estrangeiras e que, desde 2008, existe consistentemente uma maior percentagem de bolseiros cujo grau será conferido em instituições portuguesas (gráfico 2). 2
3 São 13 as instituições de ensino superior portuguesas que, entre 1994 e 2014, conferiram grau de doutoramento a bolseiros, sendo que, agrupadas estas instituições à universidade de origem, estão representadas 8 universidades portuguesas Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Coimbra, Universidade Católica Portuguesa, Universidade de Lisboa, Instituto Universitário de Lisboa, Universidade do Minho, Universidade de Aveiro e Universidade de Évora em 5 cidades do país Lisboa, Coimbra, Braga, Évora e Aveiro. 3
4 A instituição com mais bolseiros de doutoramento em ciência política é a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (31 bolseiros), seguida pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (26), pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (19) e pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (16). Estas quatro instituições receberam 65% dos bolseiros de doutoramento em ciência política em Portugal, desde 1994 (gráfico 3). 2. PROJECTOS DE INVESTIGAÇÃO Os projectos são um dos pilares da investigação científica e o seu financiamento é determinante para capacitar as instituições no desenvolvimento da investigação nas várias áreas científicas, não sendo a ciência política excepção. Desde 2004, foram escolhidos para financiamento 37 projectos na área da ciência política, com um total de financiamento a ascender aos 2,77 milhões de euros e com um financiamento médio por projecto de cerca de 75 mil euros (quadro 1). Quadro 1 Projectos de investigação e financiamento, por ano ( ) Fonte: FCT Ano Número de Financiamento Financiamento projectos total médio , , , , , , , ,33 4
5 , , , ,00 Total , ,41 Os dados do quadro 1 permitem, também, constatar que há uma diminuição acentuada, desde 2009, no número de projectos seleccionados para financiamento. No entanto, apesar dessa diminuição, o financiamento por ano não oscila significativamente. Como tal, observa-se que a essa diminuição do número de projectos corresponde a um aumento do financiamento médio por projecto por exemplo, 2012 é o ano com menos projectos seleccionados mas também aquele cujo financiamento por projecto é o mais elevado. São 8 as unidades de investigação que, desde 2004, tiveram projectos seus financiados ICS-UL (9 projectos); CIES/ISCTE-IUL (8); Universidade do Minho (6); ISCSP (6); CES-UC (4); FCSH-UNL (2); IEP-UCP (1); Universidade de Aveiro (1). Como revela o gráfico 4, e no seguimento do que já se constatou sobre o financiamento médio por projecto, o financiamento de um maior número de projectos nem sempre implica um financiamento superior: o CIES/ISCTE é a unidade de investigação com maior financiamento, seguida pelo ICS-UL e, mais longe, pelo ISCSP. Estas três unidades estão integradas em universidades da capital portuguesa e, no seu conjunto, representam 70% do financiamento total no período
6 Uma adequada compreensão destes dados e, sobretudo, da sua evolução entre 2004 e 2012 impõe uma análise comparativa, tendo não somente em conta o peso relativo da ciência política no âmbito das ciências sociais (quanto ao número de projectos e ao volume de financiamento), como comparando a sua evolução nesses parâmetros face à sociologia (gráfico 5). Assim, em primeiro lugar, essa análise permite-nos constatar que a investigação em ciência política, em termos de peso dentro das ciências sociais, tem uma simetria entre as variações anuais do número de projectos aprovados e o volume de financiamento, exceptuando o ano de Ora, essa mesma simetria não se observa no caso da sociologia, onde se verifica uma diminuição acentuada do peso relativo de projectos financiados e, por outro lado, um financiamento que, depois de atingir o mínimo em 2008, retomou para valores próximos de Em segundo lugar, comparando o peso das duas disciplinas no quadro das ciências sociais em relação ao número de projectos, destaca-se o facto de as suas evoluções serem muito similares, com uma queda até 6
7 2009, um aumento significativo em 2010 e uma nova queda em Em terceiro lugar, aplicando esse mesmo exercício de análise à questão do financiamento, distingue-se uma principal diferença, que está na queda abrupta da ciência política entre 2010 e 2012, que nesse ano tem o seu pior ano desta série, o que no caso da sociologia acontece muito mais suavemente e resulta num ano cujo financiamento foi o terceiro mais elevado desde
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