Planejamento de uso do solo em propriedades rurais



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Transcrição:

1 Planejamento de uso do solo em propriedades rurais Álvaro Luiz Mafra 1, Everton Schons 2, Eraldo Cruz Mota 2, Ivo Eduardo Pacheco de Andrade 3, Vinícius Brown 4 Resumo: O projeto envolveu o planejamento de uso do solo em áreas agrícolas na região de São José do Cerrito, SC, caracterizada pela produção diversificada, predominando as culturas de feijão, milho e soja. Em relação à produção animal está sendo incentiva a produção de bovinos de leite com base em pastagens de melhor qualidade. Durante o projeto foi possível acompanhar e aprimorar aspectos ligados ao uso das terras, que muitas vezes se dá em condições de relevo acidentado e sem preocupação com aspectos conservacionistas. Durante o trabalho foram sistematizados resultados referentes à composição química e disponibilidade de nutrientes, com base em análises de solo, bem como identificadas as classes texturais predominantes nos solos do município, oriundos do banco de dados do laboratório de Análise do Solo do CAV/UDESC. Os aspectos ligados ao manejo do solo discutidos abrangeram as formas de preparo do solo, seqüências de culturas, formas de manutenção de fertilidade e níveis de erosão. A produtividade das culturas é limitada por diversos aspectos edáficos e culturais. As recomendações de manejo devem considerar tipos de solo, fatores climáticos regionais, variedades plantadas, rotação de culturas e preparo de solo adotado. Foi possível também um acompanhamento de atividades junto ao Projeto Microbacias, que abrangeu 12 das 19 microbacias do município. As atividades de extensão como essa permitem aos acadêmicos ampliar seus conhecimentos, realizar estágios, e informar à comunidade sobre projetos realizados para maior benefício da comunidade local. Palavras-chave: Extensão Universitária; Análise de solo; Desenvolvimento rural. 1 Professor do Departamento de Solos e Recursos Naturais, Centro de Ciências Agroveterinárias, Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV/UDESC); Lages, SC; a2alm@cav.udesc.br 2 Acadêmico de Agronomia, Bolsista de Extensão, CAV/UDESC; anderson_felk@hotmail.com, a6ecm@cav.udesc.br 3 Engenheiro Agrônomo, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) São José do Cerrito, SC; ivoeduardo@epagri.sc.gov.br 4 Engenheiro Agrônomo, Projeto Microbacias; São José do Cerrito, SC; vinicius131@hotmail.com

2 Introdução O uso intensivo do solo com preparo inadequado e ausência de práticas conservacionista tem resultado num processo de diminuição da fertilidade, degradação das características físicas, químicas e biológicas, acelerando a erosão, com queda na produtividade dos solos agrícolas. Neste contexto o planejamento de uso do solo surge como uma forma para que os agricultores viabilizem a produção sem a perda na capacidade produtiva dos solos, reduzindo também os impactos ambientais negativos das atividades agrícolas. O projeto teve o objetivo de avaliar e aprimorar práticas de manejo, relacionadas ao planejamento e uso conservacionista do solo na agricultura, inseridas no contexto de um município do planalto catarinense, cuja economia é baseada na produção agropecuária. Busca conhecer o potencial produtivo das terras, suas principais limitações ao uso e propor formas de utilização em conformidade com sua capacidade produtiva. Justificativa Muitas formas de uso do solo em atividades agropecuárias podem levar à degradação desse recurso natural, além de gerar gastos muitas vezes desnecessários, como adubações incorretas, fazendo com que a lucratividade decresça (MANZATTO et al., 2002). Uma agricultura moderna exige o uso de práticas de manejo apropriadas, como preparo do solo, sistemas de cultivo diversificados, emprego de fertilizantes e corretivos em quantidades adequadas, de forma a atender a critérios econômicos e, ao mesmo tempo, conservar a fertilidade do solo para manter ou elevar a produtividade das culturas (PRIMAVESI, 2003). Isto tudo não pode ser conseguido ignorando as condições edáficas e usando indicações genéricas de manejo, que desconsiderem as potencialidades e limitações de cada solo. É preciso identificar fatores limitantes e avaliar a disponibilidade dos nutrientes existentes no solo e, assim fazendo, adaptar as práticas de calagem e adubação a cada caso (RAIJ, 1981). Em geral, muitos dos trabalhos de extensão rural visando desenvolvimento das comunidades locais e baseados no uso apropriado dos recursos naturais, se deparam com a carência dos produtores quanto à orientação técnica, para que se tenha uma agricultura mais sustentável (ALMEIDA et al., 2000). Neste sentido, justifica-se a presente ação de extensão, visando avaliar as condições de uso do solo nas áreas

3 agrícolas. Outro aspecto importante desse projeto foi a possibilidade da participação dos estudantes conhecendo a realidade regional, o que colabora na formação acadêmica, em sintonia com os anseios e necessidades da comunidade rural, servindo como um meio de ligação entre a universidade e comunidade. Revisão bibliográfica O solo é a parte superficial intemperizada da crosta terrestre, não consolidada, contendo matéria orgânica e seres vivos. Nele se desenvolvem os vegetais, obtendo pelas raízes, a água e os nutrientes, que dão suporte à atividade produtiva na agricultura, asseguram funções essenciais, para a vida em geral e para a vida humana (RUELLAN, 2009). O solo ocupa uma posição peculiar ligada às várias esferas que afetam a vida humana. É, além disso, o substrato principal da produção de alimentos e uma das principais fontes de nutrientes e sedimentos que vão para os rios, lagos e mares (RESENDE et al., 1995). O uso racional do solo deve ser baseado em atividades produtivas que considerem o potencial de terras para diferentes formas de uso, fundamentado no conhecimento das potencialidades e fragilidade dos ambientes, de forma a garantir a produção e reduzir os processos geradores de desequilíbrio ambiental, com base em tecnologias técnica e ambientalmente apropriadas (GEBLER e PALHARES, 2007). As proposições relacionadas ao uso agrícola das terras e sua relação com o desenvolvimento rural devem ser tomadas de forma consciente e fundamentadas no conhecimento da oferta ambiental. Para isso, são necessários o levantamento e o cruzamento de dados biofísicos, técnicos e socioeconômicos regionalizados (BENEZ, 2002). Os sistemas técnicos que avaliam o potencial produtivo das terras, como o de capacidade de uso ou da aptidão agrícola são fundamentados na classificação técnicointerpretativa de solos, agrupados em classes homogêneas quanto à sua máxima capacidade de uso sem risco de degradação (LEPSCH et al., 1991; RAMALHO FILHO et al., 1999). A determinação do potencial de uso da terra é uma poderosa ferramenta utilizável ao seu planejamento e uso, pois identifica para parcela de terra sua capacidade de sustentação e produtividade econômica, mantendo os recursos naturais à disposição do homem para seu melhor uso e benefício (DEMATTÊ, 2007).

4 Material e Métodos O estudo foi desenvolvido em São José do Cerrito, SC, no Planalto Catarinense. O clima regional é do tipo mesotérmico úmido com verão ameno, Cfb, segundo Köppen. A temperatura média anual na região varia de 15,8 a 17,9 o C, com precipitação pluviométrica total anual de 1.460 a 1.820 mm (EPAGRI, 1999). A vegetação faz parte do bioma Mata Atlântica, caracterizada como Floresta Ombrófila Mista ou Subtropical Perenifólia, já intensamente substituída pelos diferentes usos agropecuários. Os solos predominantes na região são Nitossolos Háplicos e Cambissolos Húmicos, sendo desenvolvido a partir de rochas basálticas (EMBRAPA, 2004). As atividades do projeto foram realizadas de março a dezembro de 2010, onde num primeiro momento conversou-se com a equipe técnica da Secretaria de Agricultura e EPAGRI do município, para apresentação dos objetivos do projeto. Após, foram avaliados aspectos de fertilidade do solo, identificando a composição e disponibilidade de nutrientes, bem como as classes texturais predominantes no solo, coletados a partir do banco de dados do laboratório de Análise do Solo do CAV/UDESC. Os aspectos ligados ao manejo do solo foram identificados a campo, com acompanhamento de atividades junto ao Projeto Microbacias, que abrangeu 12 das 19 microbacias do município. Foram discutidas práticas como formas de preparo do solo, seqüências de culturas, formas de manutenção de fertilidade e práticas conservacionistas para controle de erosão. Os atributos avaliados pela análise de solo foram: ph em água, ph em SMP, argila, matéria orgânica, Al, P, K,Ca, Mg, analisados segundo as metodologias padrões para fertilidade do solo (TEDESCO et al., 1995). As análises físicas do solo para identificação da textura do solo foram feitas de acordo com o previsto no Zoneamento Agrícola de Risco Climático adotado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2008). Resultados Nesta região predominam agricultores familiares, em pequenas e médias propriedades, totalizando 2.154 propriedades rurais, com uma área total de 83.396 ha, conforme dados do Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2007). As principais atividades agrícolas desenvolvidas na região são relacionadas ao cultivo do feijão, milho, soja, frutas de clima temperado e olericultura, conjuntamente com produção de bovino de corte e leite, além de reflorestamentos com plantio de pinus (Tabela 1).

5 Tabela 1. Aspectos produtivos das principais culturas anuais desenvolvidas no município de São José do Cerrito, comparativamente à produção média estadual e nacional. Local Área plantada (ha) Quantidade produzida (t) Feijão Rendimento médio (kg/ha) São José do Cerrito 6.000 7.200 1.200 Santa Catarina 129.685 214.924 1.657 Média nacional -- -- 846 Milho São José do Cerrito 8.000 38.400 4.800 Santa Catarina 694.393 3.793.364 5.462 Média nacional -- -- 3.751 Soja São José do Cerrito 500 1.200 2.400 Santa Catarina 385.496 1.111.456 1.657 Média nacional -- -- 2.815 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2007) Entre as culturas de verão, o município se destaca como um importante pólo na produção do feijão, como evidenciado pela realização em 2010 da VII Festa do Feijão, evento que apresenta o potencial agropecuário da região. Apesar da importância sócioeconômica desta cultura, a produtividade do município, embora situada acima da média nacional, está abaixo do rendimento médio observado em Santa Catarina, evidenciando a possibilidade de ajustes no sistema de produção para obtenção de melhores índices de produção nesta cultura. Para a cultura do milho, o rendimento médio de grãos observado em São José do Cerrito é superior à média nacional, porém, abaixo da média estadual (Tabela 1). Durante o inverno muitas áreas são utilizadas com pastagens anuais de inverno, predominando a aveia preta (Avena strigosa) e o azevém (Lolium multiflorum), implantados no sistema de preparo convencional ou em semeadura direta. Entre as atividades acompanhadas visando a melhoria na produção leiteira, destacou-se a implantação de pastagens de pastagens perenes de inverno, entre as quais se destacam festuca (Festuca arundinacea), dátilo (Dactylis glomerata), cornichão (Lotus corniculatus), trevo branco (Trifolium repens), capim-lanudo (Holcus lanatus), e trevo vermelho (Trifolium pratense). Foram destacados os aspectos de implantação, adubação

6 e manejo da pastagem e dos animais, visando maior aproveitamento da produção das forrageiras e melhoria na produção animal. Para caracterização física do solo foram identificadas 55 amostras de solo provenientes do município de São José do Cerrito, no banco de dados do laboratório de Análise Física do Solo do CAV/UDESC, referentes ao período de setembro de 2008 até dezembro de 2010. Os resultados da análise física são a seguir apresentados: - 10 amostras (18%) com agrupamento textural Tipo 2 (15 a 35% de argila) e; - 45 amostras (82%) Tipo 3 (mais de 35 % de argila). As classes texturais predominantes foram Argila (21 amostras; 38%) e Muito Argilosa (14 amostras; 25%). Os resultados analíticos obtidos referentes a cada uma das classes texturais foram (médias acompanhadas de desvios padrões entre parêntesis): Areia (%): 17(15); Silte (%): 34(10); Argila (%): 49(14) Para análise química do solo foram obtidas informações de 313 amostras do município, cadastradas no banco de dados do Laboratório de Análise do Solo da UDESC/CAV, no período de março a setembro de 2010, identificando aspectos relacionados ao comportamento da acidez do solo e disponibilidade de nutrientes (Tabela 2). Tabela 2. Resultados analíticos referentes à avaliação de fertilidade do solo, proveniente de 313 amostras de solos do município de São José do Cerrito, 2010. M.O. ph água SMP Al Ca Mg P K % cmol c dm -3 mg dm -3 Média 3,55 5,40 5,76 0,87 6,96 3,69 16,9 127 Desvpad 1,2 0,6 0,7 1,5 4,0 2,1 25,0 85 Os solos analisados são ácidos, com ph médio de 5,4 e necessidades de calcário relativamente pequenas com composição química variável. Na média, os solos são bem supridos em P, K, Ca e Mg, indicando áreas já corrigidas e adubadas ao longo do tempo. Discussão O conhecimento do solo e dos fatores limitantes e favoráveis ao crescimento vegetal é fundamental para o planejamento de uso, visando aperfeiçoar o aproveitamento desse recurso natural nas atividades agropecuárias. O trabalho de

7 extensão rural buscou sensibilizar os produtores quanto à importância do solo para a atividade agrícola. Em levantamento das condições de fertilidade de solo feita anteriormente em parte do município de São José do Cerrito (MAFRA et al., 2007), considerando 57 amostras de solo, observou-se comparativamente aos resultados ora apresentados, teores ligeiramente maiores de matéria orgânica, valores menores de P e teores semelhantes de Al, Ca, K e Mg. Quanto ao potencial produtivo das terras, a aptidão apresentada para a zona agroecológica da qual o município de São José do Cerrito está incluído evidencia a declividade e fertilidade como as principais limitações aos usos mais intensivos, especialmente para cultivos anuais e fruticultura (EPAGRI, 1999). Os solos predominantes na região identificados no levantamento de reconhecimento feito na região são os cambissolos e nitossolos. Os cambissolos são mais rasos, que predominam em relevos forte ondulados, ondulados e suave ondulados. Tais solos apresentam restrições relacionadas à baixa fertilidade natural, além do relevo e pedregosidade que restringem a motomecanização e favorecem a erosão. Os nitossolos, anteriormente denominados como terras estruturadas, ocupam as partes mais suaves do relevo, quase sempre associados com os solos mais rasos. São bem drenados, profundos ou muito profundos, moderadamente ácidos ou praticamente neutros, com alta saturação por bases e com teores variáveis de carbono orgânico. A baixa fertilidade natural e os altos teores de alumínio trocável podem restringir o aproveitamento desses solos, embora, boa parte das amostras analisadas apresenta médios valores de alumínio e satisfatórios teores de nutrientes (Tabela 2). Tais solos reúnem condições favoráveis à fruticultura, ao reflorestamento e ao uso com pastagens (BENEZ, 2002). Considerações finais Os solos analisados apresentam textura argilosa a muito argilosa, com teores médios de 49 % de argila. Quimicamente os solos considerados no banco de dados do laboratório de Análise de Solos do CAV/UDESC, referentes ao município de São José do Cerrito, são ligeiramente ácidos, com teores satisfatórios de nutrientes, indicando uso anterior de corretivos da acidez e adubação. O projeto permitiu conhecimento da realidade produtiva na agricultura da região, envolvendo aspectos de fertilidade e planejamento de uso do solo. Foram identificadas as principais atividades agropecuárias da região, sendo acompanhadas atividades de

8 incentivo à implantação de pastagens perenes de inverno, visando maior desenvolvimento da pecuária leiteira. Durante o projeto foi possível identificar fatores edáficos relacionados à produção agropecuária, buscando uso racional dos recursos naturais. Referências bibliográficas ALMEIDA, L.; LIMA, L.R.; PREVEDELLO, B.M.S. Diagnóstico da fertilidade e manejo dos solos sob enfoque sistêmico da produção rural. Expressa Extensão, v.5, p.69-80, 2000. BENEZ, M.C. (Coord.) Dados e informações biofísicas da Unidade de Planejamento Regional Planalto Sul Catarinense. Florianópolis: EPAGRI, 2002. 76p. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº 2, Diário Oficial da União, n.198, p.5, 09 de outubro de 2008. DEMATTE, J.A.M. Caracterização e espacialização do meio físico como base para o planejamento do uso da terra. Piracicaba: ESALQ, 2007. 64p. GEBLER, L.; PALHARES, J.C.P. (Eds.) Gestão ambiental na agropecuária. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica. 2007. 310p. EPAGRI. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Zoneamento agroecológico e socioeconômico do estado de Santa Catarina. [CD- ROM]. Florianópolis, 1999. EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Solos do Estado de Santa Catarina. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2004. 726p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 46) IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário 1996. Rio de Janeiro: IBGE, 1996. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. MAFRA, A.L.; ROSA, E.F.F.; MOTA, E.C. Agricultura familiar e produção agroecológica na região de Lages, SC: Aspectos de fertilidade do solo. Udesc em Ação, v.1, p.1-14, 2007. MANZATTO, C.V.; FREITAS JÚNIOR, E.; PERES, J.R.R. Uso agrícola dos solos brasileiros. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2002. 174p. LEPSCH, I.F.; BELLINAZZI JR., R.; BERTOLINI, D.; ESPÍNDOLA, C.R. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1991. 175 p. PRIMAVESI, O. Integração dos sistemas de manejo do solo à ecologia regional e qualidade de vida. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 29. Anais. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, UNESP, 2003. p.1-14.

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