Determinação Experimental do Coeficiente de Distribuição (Kd) de Chumbo e Bário em Solos da Região Semiárida do Estado da Bahia



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2013 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2013 Recife, PE, Brazil, November 24-29, 2013 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA NUCLEAR - ABEN ISBN: 978-85-99141-05-2 Determinação Experimental do Coeficiente de Distribuição (Kd) de Chumbo e Bário em Solos da Região Semiárida do Estado da Bahia Mariana M. Santos 1, Heloísa H. F. Fernandes 2, Elizabeth M. Pontedeiro 3 e Jian Su 4 1 Laboratório de Simulação e Métodos em Engenharia Programa de Engenharia Nuclear - COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro 21941-972, Rio de Janeiro, RJ mariana@lasme.coppe.ufrj.br 2 Laboratório de Simulação e Métodos em Engenharia Programa de Engenharia Nuclear - COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro 21941-972, Rio de Janeiro, RJ heloisa@lasme.coppe.ufrj.br 3 Laboratório de Simulação e Métodos em Engenharia Programa de Engenharia Nuclear - COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro 21941-972, Rio de Janeiro, RJ bettinadulley@hotmail.com 4 Laboratório de Simulação e Métodos em Engenharia Programa de Engenharia Nuclear - COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro 21941-972, Rio de Janeiro, RJ sujian@lasme.coppe.ufrj.br RESUMO Para determinar a concentração de metais pesados e outros contaminantes em solos, visando uma avaliação de impacto ambiental, é necessária a utilização do coeficiente de distribuição (Kd) definido como a relação entre as concentrações adsorvidas e em solução. O objetivo deste trabalho é medir este coeficiente para os metais Chumbo e Bário em um solo coletado em Caetité, interior do Estado da Bahia, em duas profundidades diferentes. A importância da determinação do coeficiente de distribuição reside no fato de isso estar sendo realizado utilizando-se um solo tropical. Para obter as isotermas do Kd foi usado o método de ensaio de batelada por adsorção para obtenção das concentrações finais. Na primeira etapa foi determinada a melhor razão solo:solução, em seguida obtido o tempo de equilíbrio e por fim a concentração de equilíbrio do contaminante. Também foram calculadas as porcentagens de metal adsorvido pelo solo e a quantidade de soluto pelo adsorvente. Com os valores obtidos nos experimentos e utilizando o software Mathematica 8.0, foram feitos gráficos de concentração de equilíbrio versus quantidade adsorvida (C vs S). Foi possível também traçar isotermas para diferentes modelos de Kd: linear, Freundlich e Langmuir, a fim de definir qual modelo de adsorção melhor se adaptaria aos dados medidos, e assim determinar o coeficiente de distribuição do metal nos solos analisados. A isoterma de Freundlich foi a que melhor se adaptou aos pontos dos dois metais em ambos os solos.

1. INTRODUÇÃO A fim de se realizar uma avaliação de impacto ambiental em áreas com possível contaminação por metais pesados ou outro tipo de contaminante no solo, faz-se necessário a caracterização da fonte poluidora e a medição/predição do deslocamento dos poluentes no meio ambiente, a partir desse ponto. Quando se deseja predizer a extensão que uma pluma de contaminação pode atingir e os respectivos valores de concentração, deve-se utilizar programas computacionais que permitam fazer essa avaliação, baseada em medidas experimentais de laboratório e/ou de campo. A determinação da distribuição e mobilidade dos poluentes, principalmente dos metais pesados no sistema solo-água, é feita através da medida do Kd, denominado coeficiente de distribuição ou coeficiente de partição solo-água. O Kd pode ser definido como a relação entre a concentração do contaminante associado com o sólido e a concentração do contaminante na solução aquosa, quando o sistema está em equilíbrio. Tal coeficiente permite a comparação do comportamento de elementos em diferentes sistemas e a determinação da quantidade de metal adsorvido pelo solo originalmente na solução. Baixos valores de Kd indicam que a maior parte do metal presente no sistema permanece em solução. Por outro lado, altos valores de Kd refletem grande afinidade dos componentes sólidos do solo com o elemento (capacidade de retenção). O Kd, no entanto, apresenta uma grande variabilidade de valores para um determinado metal em diferentes locais, devido a sua dependência com as características do solo, modificando o seu valor com o aumento da profundidade do solo, entre outros fatores [1], [2]. 2.1. Fundamentação Teórica 2. METODOLOGIA O termo adsorção foi introduzido para denominar o fenômeno de condensação de gases em superfícies e salientar sua diferença com o fenômeno de absorção, onde as moléculas do gás penetram no interior do sólido. O fenômeno de adsorção é atualmente definido como o enriquecimento de um ou mais componentes em uma região interfacial devido a um não balanceamento de forças [3]. Os principais elementos da adsorção são o fluido, a superfície e os componentes retidos pela superfície. O adsorvente é o sólido no qual se dará o fenômeno de adsorção, o fluido em contato com o adsorvente é chamado de adsortivo, e chama-se adsorbato a fase constituída pelos componentes retidos pelo adsorvente. O efeito do ph da solução é extremamente importante quando as espécies a serem adsorvidas são capazes de sofrer ionização no ph prevalecente, o que dificulta o processo de adsorção. A composição mineralógica, teor de matéria orgânica e ph são fatores determinantes na adsorção dos metais pelo solo. Logo, há uma variação de Kd em um mesmo solo à medida que varia-se a profundidade, pois há variações das características deste. Normalmente, adsorção/dessorção e dissolução/precipitação são os processos mais importantes afetando a interação do contaminante com o solo. Quando há desequilíbrio

químico, dissolução/precipitação são provavelmente os processos mais relevantes, como por exemplo, no caso de uma fonte pontual com alta concentração ou então quando existem fortes gradientes de ph ou oxidação-redução. Adsorção/dessorção são importantes no controle do processo de migração de contaminantes inorgânicos em áreas onde os constituintes naturais já estão em equilíbrio com o meio ambiente e somente fontes antropogênicas (contaminantes) estão em desequilíbrio. Metais pesados presentes em baixas concentrações tendem a ser retidos no solo via adsorção, principalmente na forma não-trocável [4]. Podem estar adsorvidos eletrostaticamente nos sítios de troca, adsorção não-específica, incorporados na superfície da fase inorgânica através de ligações covalentes ou semicovalentes, adsorção específica, participando de reações de precipitação e dissolução, ligados a compostos orgânicos e na solução do solo. As reações de adsorção entre íons metálicos e superfícies envolvem tanto a formação de complexos de esfera externa, através de troca de cátions, cujas ligações são relativamente fracas, quanto à formação de complexos de esfera interna, através de troca de ligantes ou ligações covalentes, com ligações extremamente fortes [5]. O entendimento dos processos de adsorção e dessorção de metais é fundamental na remediação de áreas contaminadas, bem como na prevenção de futuras contaminações. Quando não ocorre uma interação estável do poluente com o solo, pode haver a migração do poluente, o que culmina com a contaminação da água, subterrânea ou de superfície. As duas formas mais comuns para a efetiva avaliação da capacidade de adsorção de íons pelos solos são: a que contempla as curvas ou isotermas de adsorção; e a determinação de propriedades do solo que apresentam íntima e consistente correlação com o fenômeno [6]. As correlações assim obtidas não implicam, obrigatoriamente, uma relação causa-efeito, mas fornecem informações valiosas, que devam ser consideradas como referências ou como tendências. O parâmetro Kd é muito importante na estimativa do potencial para a adsorção do contaminante dissolvido em contato com o solo, usualmente sendo definido como a relação entre a concentração do contaminante associado com o sólido e a concentração do contaminante na solução aquosa, quando o sistema está em equilíbrio. O método mais simples e comumente usado na estimativa de retardamento do contaminante é baseado no valor de Kd. Trata-se de um coeficiente que leva em consideração vários mecanismos físicos e químicos que influenciam nesse retardamento. Uma das vantagens primárias do Kd é que este é facilmente inserido em códigos computacionais que modelam o transporte de contaminantes, para se quantificar esse transporte em meio saturado e não saturado. Assim, para predizer os impactos da migração de um contaminante em determinado sítio, é importante a obtenção de valores de Kd medidos no solo e água subterrânea local. O método de laboratório mais usado na determinação desse parâmetro é o de batelada. O teste é realizado agitando-se a solução contendo o soluto em estudo, em contato com um sólido por um período de tempo especificado, e depois fazendo a separação da solução e do sólido e medindo a concentração do soluto que permanece na solução. A concentração de contaminante associado com o sólido é determinada pela diferença entre a concentração inicial e a final. A vantagem desse método é que os experimentos podem ser realizados de forma rápida para diversos elementos e ambientes químicos. A desvantagem reside no fato que o método não reproduz necessariamente as condições de reação química do ambiente

real, e consequentemente os valores de Kd obtidos por esse método são usualmente diferentes de um sistema real. Pela maior rapidez na realização e medição, neste trabalho foi escolhido utilizar o método de batelada para determinação do coeficiente de partição. 2.1.1. Coeficiente de partição (Kd) do chumbo Metais pesados como chumbo (Pb), mercúrio (Hg), cádmio (Cd) e o arsênio (As) são altamente tóxicos aos seres humanos, mesmo quando presentes em baixas concentrações no meio ambiente, e respondem pela maioria dos problemas de saúde devido à poluição ambiental [7]. O chumbo é um metal pesado potencialmente tóxico para homens e animais, logo é essencial que se tomem medidas de forma a minimizar os riscos decorrentes do seu acúmulo em solos, águas e ar [8], [9]. No Brasil, teores de chumbo superiores aos reportados na literatura mundial têm sido observados em alguns fertilizantes e calcários, biossólidos [10] e compostos de lixo urbano [11]. O aumento da concentração de Pb no ambiente pode ser atribuído ao aumento da atividades industriais, deposição de resíduos contaminados e insumos agrícolas, entre outros [12]. Em solo brasileiro, alta concentração desse elemento tem sido relatada, principalmente em áreas de depósito de resíduos de mineração [13]. Embora existam normas regulamentadoras relativas à concentração máxima permitida de Pb para que um resíduo ou corretivo possa ser adicionado aos solos, elas são muito genéricas, uma vez que não levam em conta os atributos dos solos. Horizontes superficiais dos solos têm grande afinidade para acumular Pb proveniente de deposições atmosféricas ou de fontes industriais e agrícolas [9], [14] devido, principalmente, à baixa solubilidade do elemento e à forte adsorção no solo [15]. A grande capacidade dos solos em adsorver Pb, avaliada por meio de isotermas de Langmuir, tem sido bem documentada em solos de clima temperado. Em solos tropicais, mais intemperizados, a maior ênfase sempre foi dada para a capacidade máxima de adsorção de ânions, como o fosfato [16], [17]. 2.1.2 Coeficiente de partição (Kd) do bário No caso do Bário, diferentemente do chumbo, o número de pesquisas a respeito do Kd desse elemento são bem reduzidas. Bário e Rádio são adjacentes no grupo alcalino-terroso, e a similaridade dos seus raios iônicos torna seus comportamentos químicos muito semelhantes. O Rádio [Ra, número atômico (Z) = 88] é um elemento alcalino-terroso, que existe na natureza apenas em estado de oxidação +2 [18]. Em [19] foi determinado um valor apropriado do coeficiente de adsorção Kd de Bário em subsolo para usar no desenvolvimento de diretrizes de qualidade do solo, protegendo as água subterrâneas para o uso. Nesse estudo foi determinado o Kd para o Bário em quatro subsolos incluindo solos argilosos, usando uma ampla gama de concentrações de Ba. Em ensaio para determinação do coeficiente de particionamento com concentrações muito baixas de Bário (0,1 mg/l), os resultados foram confundidos pela proximidade com o

limite de detecção, e portanto não podem ser interpretados como valores de Kd significativos. Já com concentrações de Bário intermediárias (cerca de 10 a 1000 mg/l), essencialmente todo o Bário dissolvido foi removido da solução, presumivelmente por precipitação do Sulfato de Bário e/ou troca de cátions com argila. Isso resulta em um Kd elevado, indicando uma forte afinidade pela argila. No caso dos ensaios com concentrações elevadas de Bário (50.000 a 100.000 mg/l), a capacidade de troca de cátions do solo foi saturada pelo Bário, e o excesso de Ba permanece em solução, resultando em um baixo Kd efetivo. Entre estes dois extremos, haverá uma faixa de concentração em que o Sulfato no solo é esgotado, mas continua disponível a capacidade de troca de cátions. Este é o intervalo alvo de concentração para determinação do Kd em solos em geral. 2.2 Procedimento Experimental O procedimento descrito abaixo foi realizado de acordo com a Environmental Protection Agency - EPA/US - Batch-Type Procedures for Estimating Soil Adsorption of Chemicals (EPA, 1992). Todos os experimentos foram feitos em duplicata. 2.2.1 Preparação do solo Para o solo ficar apto para o experimento, as amostras de solo coletadas foram secadas na sombra e ao ar livre, por uma semana, e após isso foi feita sua desaglomeração em peneira. 2.2.2 Determinação da melhor razão solo:contaminante Com o intuito de se encontrar a melhor razão solo:contaminante, dois conjuntos de amostras dos solos S4 e S6 foram pesados na balança analítica, com seis diferentes razões solo:contaminante, e distribuídos em 24 tubos Falcon de 50 ml (experimento em duplicata). Ou seja, em cada conjunto de 6 tubos foram colocadas quantidades de solo diferentes, e depois adicionada a solução com o contaminante. Para cada conjunto usou-se uma solução de 500 mg/l de Bário e no outro conjunto uma solução de 250 mg/l de Chumbo. Em cada tubo adicionou-se 40 ml da solução de contaminante e separou-se dois brancos de cada solução (tubo contendo somente a solução com contaminante, sem o solo). Os tubos foram colocados no agitador rotativo por 24h, e após serem retirados foram centrifugados por 5 minutos a uma velocidade de rotação de 2.000 rpm. O sobrenadante foi transferido para novos tubos e o solo descartado. Mediu-se o ph e a condutividade elétrica, e todas as amostras foram filtradas e determinou-se as concentrações de equilíbrio do contaminante por meio do Espectrômetro de Absorção Atômica. 2.2.3 Determinação do tempo de equilíbrio Para determinar o tempo de equilíbrio foram pesadas na balança analítica seis amostras iguais na melhor proporção solo:contaminante para cada solo amostrado (determinada no passo anterior). Essas amostras foram colocadas em 24 tubos Falcon de 50 ml (experimento em duplicata), e às amostras adicionou-se 40 ml da solução do contaminante e separou-se o branco de cada solução. Os tubos foram colocados no agitador rotativo por diferentes tempos: 1, 4, 8, 24, 48 e 72 horas. Ao completar cada tempo, retirou-se os respectivos 4 tubos e brancos e centrifugou-os por 5 minutos a uma velocidade de rotação de 2.000 rpm. O sobrenadante foi novamente transferido para novos tubos e o solo descartado. As amostras

foram filtradas e suas concentrações de equilíbrio foram medidas pelo Espectrômetro de Absorção Atômica. 2.2.4 Construção da isoterma e determinação do Kd No experimento para determinação do coeficiente de particionamento foram utilizados 40 tubos Falcon de 50 ml, onde foi colocada a quantidade de solo determinada anteriormente como melhor razão solo:contaminante para cada amostra de solo (S4 e S6), pesado na balança analítica. Foram preparadas soluções de chumbo contendo 5, 15, 30, 50, 70, 85, 100, 125, 175, 200 e 225 ppm (mg/l) de nitrato de chumbo. Em cada tubo adicionou-se 40 ml da solução de chumbo e separou-se um branco de cada solução. Os tubos foram colocados no agitador rotativo e mantidos agitando pelo tempo de equilíbrio determinado no passo anterior. Ao completar cada tempo, foram retirados os respectivos 4 tubos e brancos. Estes foram centrifugados durante 5 minutos a uma velocidade de rotação de 2.000 rpm. Transferiu-se o sobrenadante para novos tubos e descartou-se o solo. Foi medido o ph e a condutividade elétrica e todas as amostras foram filtradas. As concentrações de contaminante em cada tubo foram determinadas por meio do Espectrômetro de Absorção Atômica. Para o Bário, repetiuse o mesmo procedimento utilizando solução de cloreto de bário. Os experimentos para determinação do Kd do Pb e do Ba foram feitos em duplicata. 3.1 Melhor Razão Solo:Contaminante 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Para determinar a melhor razão solo:contaminante foi utilizada a equação (1) que fornece a quantidade de metal que o solo adsorveu. Tal razão é aquela que, de acordo com a EPA, possui %A entre 10 e 30%. onde, C0 C eq % A.100 (1) C 0 %A = porcentagem de metal adsorvido pelo solo C 0 = Concentração inicial C eq = Concentração de equilíbrio Seguindo a norma da EPA, definiu-se a melhor razão solo:contaminante como sendo a de 1:20 para o solo S4 e 1:100 para o solo S6 contaminados com Chumbo e 1:20 para ambos os solos contaminados com Bário. 3.2 Tempo de Equilíbrio O tempo de equilíbrio é aquele em que a concentração de equilíbrio tende a estabilizar à medida que o equilíbrio é atingido. Neste procedimento foram determinados o ph e a condutividade elétrica da solução de Chumbo e de Bário em tempos diferentes e a variação da concentração do Chumbo e do Bário com o tempo.

Analisando os dados obtidos nos experimentos para determinação de tempo de equilíbrio, foi escolhido 48h como o tempo de equilíbrio para os solos contaminados com Chumbo e 24h para os solos contaminados com Bário. 3.3 Construção das Isotermas e Determinação do Kd Para construir as isotermas e determinar o coeficiente de distribuição Kd é necessário fazer várias diluições da solução original para adsorver no solo, obtendo assim os vários pontos do gráfico de concentração de equilíbrio versus quantidade adsorvida. Os cálculos de diluição são feitos a partir da equação 2: C1V1 = C2V2 (2) Para determinar a abscissa do gráfico, quantidade de soluto sobre o adsorvente em mg/kg (S), utilizou-se a equação 3: V ( C0 C eq ) S (3) W onde, V = volume da solução C 0 = concentração inicial C eq = concentração de equilíbrio W = massa do solo Nesta etapa, foram plotados nos gráficos os dados obtidos em cada duplicata. Após a determinação das concentrações de equilíbrio, as equações 1 e 2 foram resolvidas e a partir delas pôde-se encontrar a massa de soluto adsorvida (A) e a quantidade de metal adsorvido (S), respectivamente. Com os valores obtidos nos experimentos e utilizando o programa Mathematica 8.0, foram obtidos os gráficos de concentração de equilíbrio versus quantidade adsorvida (Ceq x S). Também foi possível obter os coeficientes para os diferentes modelos de Kd: Linear, Freundlich e Langmuir utilizando a função best fit do Mathematica, a fim de definir qual modelo de adsorção que se adaptaria melhor aos dados medidos, e assim determinar o coeficiente de distribuição do metal nos solos [20]. A série de gráficos obtidos é mostrada a seguir e as diferentes funções são comparadas com os valores experimentais. 3.3.1 Gráficos As figuras 1 e 2 apresentam os dados experimentais obtidos com os experimentos realizados com o Chumbo no solo S4.

Figura 1 - Dados Experimentais do Pb para o solo S4 Figura 2 - Isotermas do Pb para o solo S4 Ao analisar as curvas plotadas e os pontos experimentais obtidos, observou-se que a isoterma de Freundlich descreveu melhor a distribuição do Chumbo no solo S4. As seguintes isotermas foram calculadas: Linear: 10,53C Freundlich: 358,731C 0,2838

Langmuir: 95,4886C/1+0,0597C Já para o Pb no solo S6 obtivemos as Figuras 3 e 4: Figura 3 - Dados Experimentais do Pb para o solo S6 Figura 4 - Isotermas do Pb para o solo S6 No solo S6 o modelo de adsorção de Freundlich também foi o que melhor representou a distribuição das concentrações obtidas no experimento para o chumbo, com as seguintes isotermas tendo sido calculadas: Linear: 17,359 C

Freundlich: 958,094 C 0,212 Langmuir: 153,11 C/1+0,048 C Para os pontos experimentais obtidos no procedimento com o Bário foram plotadas curvas para o solo S4 nas Figuras 5 e 6: Figura 5 - Dados Experimentais do Ba para o solo S4 Figura 6 - Isotermas do Ba para o solo S4 Para este solo (S4) a isoterma que melhor descreveu os pontos experimentais foi a de Freundlich, e as isotermas calculadas foram:

Linear: 7,20 C Freundlich: 3,037 C 0,3804 Langmuir: 27,174 C/1+10,875 C Já para o solo S6 os gráficos são ilustrados nas Figuras 7 e 8: Figura 7 - Dados Experimentais do Ba para o solo S6 Figura 8 - Isotermas do Ba para o solo S6

Neste caso a isoterma de Langmuir teve uma adaptação melhor aos dados experimentais, e as isotermas calculadas foram: Linear: 9,065C Freundlich: 2,963 C 0,307 Langmuir: 77,66 C/1+38,6 C 4. CONCLUSÕES Como dito anteriormente, o coeficiente de partição solo-água não apresenta um valor padrão para cada elemento químico devido a sua forte dependência com as características do solo, o que impossibilita uma possível comparação com dados da literatura. Assim, foi feita apenas uma análise em relação aos nossos próprios resultados obtidos nos experimentos. A relevância deste trabalho reside no fato de ter-se medido os coeficientes de particionamento para dois tipos de solo tropical e não de clima temperado, uma vez que existe uma carência de dados utilizando oxissolos. Também existe a possiblidade do Kd do Bário poder ser utilizado como coeficiente de particionamento para o Rádio, sendo que na literatura existe muito pouca informação sobre o Kd desses dois elementos. Uma vez que o coeficiente de distribuição é diretamente proporcional à capacidade de retenção do solo, ou seja, quanto maior for o Kd mais o solo reterá determinado elemento, analisou-se os resultados obtidos em nosso experimento e verificamos que tanto o solo S4 quanto o S6 retiveram mais o Chumbo do que o Bário. É interessante notar que os valores de Kd reportados na literatura para Pb e Ra em solos temperados, seja para argila, areia, material orgânico ou silte, apresentam comportamento exatamente inverso ao observado nos experimentos realizados [21]. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Laboratório de Geotecnia do PEC/COPPE/UFRJ pelo apoio técnico e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS 1. Borba, R. P.; Camargo,O. A., Variação de Valores de Kd de Metais Pesados ao Longo do Perfil do Solo, I International Congress on Subsurface Environment, número 19, pp.19, (2009). 2. EPA, Understanding Variation in Partition Coefficient, Kd, Values. Volume I, The Kd Methods of Measurement and Application of Chemical Reaction Codes, EPA 402-R- 99-004A, Office of Air and Radiation, U.S. Environmental Protection Agency, Washington, DC, (1999).

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