AVALIAÇÃO DO TRANSPORTE DO REBANHO BOVINO E SEUS REFLEXOS NA QUALIDADE DA CARNE E DO COURO BRASILEIRO Antonio Carlos de Oliveira e Silva Universidade Paulista UNIP/SP - R. Bacelar 1212, São Paulo SP Brasil. Fone: (011) 5586-4120; Fax: (011) 5586-4145 e-mail: acosz@terra.com.br. Silvana Aparecida Bragatto Universidade Paulista UNIP/SP - R. Bacelar 1212, São Paulo SP Brasil. Fone: (011) 5586-4120; Fax: (011) 5586-4145 e-mail: silbragatto@uol.com.br. Cesar Augusto Campos Claro Universidade Paulista UNIP/SP - R. Bacelar 1212, São Paulo SP Brasil. Fone: (011) 5586-4120; Fax: (011) 5586-4145 e-mail: cacc@osite.com.br. Anísio A Andrade Universidade Paulista UNIP/SP - R. Bacelar 1212, São Paulo SP Brasil Fone: (011) 5586-4120; Fax: (011) 5586-4145- e-mail:tri_ax.comercial@terra.com.br ABSTRACT Nowadays Brazil possesses the largest herd of oxen cut of the word. The productive chain of herd of oxen cut in Brazil is one of those that has shown the highest rates of growth in the last few years. Despite all the development shown by that productive chain, there are diagnoses developed within their different links which show that one still loses or doesn t profit, mostly because of lack of information and view of productive chain and lack of integration among the segments that build it. The main objective of this work is to evaluate from which way Brazilian transport of the herd of oxen influences the quality of leather, identifying what is abnormal concerning the quality observed on the transport from the cattle raising farm to the cold storage plant. Key words: Quality, leather, meat and transport 1. Introdução O objetivo central do trabalho é avaliar de que forma o transporte do rebanho bovino brasileiro influencia na qualidade da carne e do couro, identificando as anormalidades qualitativas observadas no transporte da pecuária ao frigorífico. Segundo VENDRAMETTO, BRUNSTEIN e GIANNETTI (2001:33-35), a cadeia produtiva carne, couro e calçados (incluindo a fase pecuária) é a que mais emprega hoje, no País, com cerca de 8 milhões de trabalhadores. Ela é de extrema importância na economia brasileira, não só pela geração de empregos, mas também pelo volume de exportações. Atualmente o Brasil, possui o maior rebanho bovino de corte do mundo, detém aproximadamente 12% do mercado mundial de couro, que é da ordem de 270 milhões de ENEGEP 2002 ABEPRO 1
peles ao ano. A produção brasileira de couro em 2000 foi de aproximadamente 32,5 milhões de peles (BNDES; 2001). Com respeito à carne, o Brasil detém 13% do mercado mundial, que é de 49.000.000 de toneladas ao ano. A produção brasileira de carne em 2000 foi de 7.000.000 toneladas ( FNP Consultoria e Comércio USDA). A cadeia produtiva da bovinocultura de corte no Brasil apresentou uma das maiores taxas de crescimento nos últimos anos. Seus indicadores possibilitam projetar um crescimento continuado para os próximos 10 anos. Apesar de todo o desenvolvimento apresentado por essa cadeia produtiva, existem diagnósticos desenvolvidos nos seus diferentes elos que mostram que ainda se perde ou se deixa de ganhar, em grande parte, pela falta de informação e de visão de cadeia produtiva e pela ausência de sinergia entre os segmentos que a compõem. 2. Transporte Segundo Rodrigues: Antigamente o transporte de bovinos era feito por meio das boiadas, que eram tocadas pelas estradas pelos boiadeiros com seus berrantes, durante dias ou semanas. Mais tarde, porém, os bois passaram a ser transportados em trens e caminhões. Hoje em dia, apesar da boiada ainda ser utilizada, o meio de transporte mais empregado para bovinos é o rodoviário, sendo utilizados caminhões e carretas para esses serviços. Pode-se afirmar que o transporte rodoviário do Brasil começou com a construção, em 1926, da Rodovia Rio - São Paulo, única pavimentada até 1940. O governo Juscelino criou o slogan 50 anos em 5. Construiu Brasília, trouxe a indústria automobilística para o país e rasgou estradas ao longo do território nacional, fomentando a demanda pelo transporte rodoviário. A partir de então a rodovia passou a ser encarada como fator de modernidade, enquanto a ferrovia virou símbolo do passado. A rápida ampliação da infra-estrutura rodoviária explica-se pelo menor custo de implantação por quilômetro e menor prazo de maturação do que o correspondente na malha ferroviária. Quando o país dispuser de um sistema ferroviário eficaz, o nível de tráfego rodoviário pesado poderá ser reduzido, baixando consideravelmente o custo de manutenção das estradas e passando a atender melhor o fluxo turístico. O transporte rodoviário é um dos mais simples e eficientes dentre seus pares. Sua única exigência é que existam rodovias, porém, esse modal apresenta um elevado consumo de combustível. Inúmeros estudos comprovam matematicamente que, em distâncias superiores a um raio máximo de 500 km, o transporte rodoviário torna-se antieconômico pelo elevado custo de consumo energético. Por sua elevada flexibilidade, este modal é indicado para a distribuição urbana, cujas transferências são de pequenas distâncias, além das inevitáveis conexões com os demais modais (RODRIGUES, 2000:33-35). Os modos de transportes disponíveis são: Rodovia, Ferrovia, Hidrovia, Via aérea, Duto.Conforme demonstrado na figura 1 (SLACK et. alli, 1997). ENEGEP 2002 ABEPRO 2
FIGURA 1 Volume e valor como determinantes do modo de transporte. Alto Via aérea Rodovia V A L O R Ferrovia Hidrovia Duto Baixo Baixo VOLUME Alto Fonte: SLACK, Nigel; et alli. Administração da Produção São Paulo: Atlas, 1997. De acordo com Rodrigues, Existem algumas vantagens pela utilização do Transporte Rodoviário (Rodrigues, 2000:39): Vantagens: Maior disponibilidade de vias de acesso; Possibilita o serviço porta a porta; Embarques e partidas mais rápidos; Favorece o embarque de pequenos lotes; Maior rapidez de entrega; Facilidade de substituir o veículo em caso de quebra ou acidente. ENEGEP 2002 ABEPRO 3
Desvantagens: Maior custo operacional; Menos capacidade de carga; Nas épocas de safra, provoca engarrafamentos; Desgasta prematuramente a infra-estrutura da malha rodoviária. 3. Cuidados com o veículo para o transporte As condições gerais das caixas de carga não devem possuir pontas aguçadas voltadas para o interior do compartimento, os parafusos de fixação devem ter as cabeças arredondadas e fixadas de dentro para fora, de modo a não permitir riscos ou arranhões nas peles dos animais. Os revestimentos internos devem ser de material flexível e lavável, para permitir o amortecimento dos eventuais impactos, mantendo a integridade física dos animais. Os pisos devem ser de assoalho longitudinal, com estrados resistentes. O piso deverá ser firme para que o gado não escorregue quando o caminhão estiver em movimento. Tipos de caixas de carga para transporte bovino: Carrocerias: São caixas de carga construídas total ou parcialmente em madeira de lei, dotadas de portas elevadiças ou não, para permitir o acesso aos compartimentos. Semi-Reboque: São caixas de carga construídas com perfis de aço, com reforços transversais, revestidas internamente com reforços de madeira, travessas intercaladas e dotadas de portas elevadiças, permitindo o acesso aos compartimentos. Vagões (gaiolas ou gradeado): São caixas de carga construídas em madeira ou perfis de aço, dotadas de porta de acesso com dispositivos para passagens internas a outros vagões de comboio. 4. Preparação do gado para o transporte Observar sempre o transporte em lotes padronizados por espécie, sexo e peso dos animais; A cada animal transportado caberá uma área de 1,10 m 2 (densidade), em média de espaço útil de gado gordo e adulto para abate. Durante o transporte, os animais são prensados o máximo possível para minimizar os custos. Conforme COSTA; ZUIN E PIOVESAN: foi observado que tentativas para reduzir os custos de transportes, vem aumentando a densidade, e geralmente são seguida de redução no peso da carcaça, diminuição da qualidade da carcaça, aumento do risco de injúrias e até mortes. Eles vivem nos excrementos uns dos outros e são expostos a condições severas de temperatura em caminhões abertos. A febre do embarque, que pode ser fatal, é comum em gado transportado a longas distâncias. Baixas densidades melhoram tais condições, desde que o veículo ENEGEP 2002 ABEPRO 4
seja bem conduzido, evitando paradas bruscas e brecadas, curvas em alta velocidade, etc. (COSTA; ZUIN E PIOVESAN). ELDRIGGE E WINFIELD, 1998:9). Os autores descrevem que: Em jornadas de 6 horas transportando novilhos de 400 kg com alta (0,86 metros quadrados / animal), média (1,16 metros quadrados / animal) e baixa densidade (1,39 metros quadrados / animal), os escores de hematomas foram 4 e 2 vezes maiores em alta e baixa densidades do que em média (8,2: 4,6: 1,9: respectivamente), indicando que a densidade ideal de transporte foi à média (COSTA; ZUIN E PIOVESAN, 1998:9). Os animais a serem transportados devem ter seus chifres aparados em suas pontas (ou deve ser feita a descorna). A descorna é uma das condições importantes que deve ser realizada nos animais, pois evita que eles se firam, tanto no campo, como no transporte. A inutilização dos botões córneos dos recém nascidos e a retirada dos chifres dos animais adultos colabora com a diminuição de riscos e ferimentos nas peles. A descorna pode ser realizada para animais de 7 a 15 dias de idade, com ferros em brasa. Para animais maiores, a pasta cáustica pode ser utilizada, dependendo, contudo da quantidade de animais. Nos animais adultos, recomenda-se à retirada cirúrgica, que deve ser feita por um veterinário. Após a descorna, os animais devem ser acompanhados, evitando e prevenindo infecções, bicheiras e ferimentos; A ponta do aguilhão (vara com ferrão na ponta e que serve para picar e conduzir os bois) utilizado no manejo do gado deverá ser esférica, com diâmetro mínimo de 10mm, para se evitar ferimentos no animal. Outras alternativas são os bastões de choque elétrico, o gado obedece logo, e nunca se fere; No embarque e desembarque de animais, evitar condições que deixem estes agitados para prevenir traumatismos pela movimentação dos mesmos. 5. Transportando o gado Para o transporte do gado vivo é necessários obedecer aos aspectos da (chamada) Lei da Balança do Código Nacional de Trânsito nos seus artigos, 79, 80, 81, 82, 83, e 190, a qual visa a proteção da pavimentação da estrada. Para transporte em caminhões, observar as paradas com freqüência de 3 horas para estradas pavimentadas e 2 horas para vias não pavimentadas. Os boiadeiros devem receber instruções adequadas da importância de obedecer as normas de transporte, contribuindo para a melhoria da qualidade do couro. Deve se trabalhar somente com motorista com prática em caminhão boiadeiro. Ele deve ser muito bem instruído a respeito da carga que está transportando. O veiculo deve ser mantido constantemente em movimento para melhorar a ventilação no interior da gaiola, principalmente porque se o caminhão ficar parado muito tempo, há um aumento da temperatura, com conseqüente estresse do animal. A intensidade de vibração decorrente do tipo de suspensão do caminhão e a pressão de ar dos pneus têm impacto direto quanto aos animais escorregarem. A perda de equilíbrio do animal em transporte está sob controle direto do motorista. Todavia estradas com muitos cruzamentos, curvas e obstáculos também aumentam a freqüência com que os animais perdem o equilíbrio. Segundo COSTA; ZUIN E PIOVESAN: Os seguintes fatores determinam a freqüência de quedas de animais durante o transporte : Tipo de caixa de carga utilizada; ENEGEP 2002 ABEPRO 5
Densidade com que os animais são transportados; Padrões de movimento dos caminhões; Qualidade das rodovias; Ventilação. As quedas em transporte com alta densidade, geralmente resultam em pisoteio, pois fica impossível o animal levantar, já o espaço que ele ocupava será ocupado por outro. Um animal deitado pode causar a queda dos outros, pois eles podem perder o equilíbrio quando pisoteiam o animal deitado. Um aumento significativo de hematomas nas carcaças são explicados por tais situações (COSTA; ZUIN E PIOVESAN, 1998). Deve-se confirmar com a empresa transportadora, se ela responde pelos danos causados aos animais durante o transporte. Os veículos que transportam animais, quando descarregados, deverão ser lavados e desinfetados com produtos oficialmente aprovados conforme normas especificas. Sob o ponto de vista biológico, a observação de alguns aspectos após o transporte dos animais podem contribuir com a diminuição de defeitos nas peles. O animal deve permanecer em descanso após o transporte, por cerca de 12 a 15 horas antes do abate. No descanso, o fornecimento de água ajuda a evitar o veiamento, gerador de perdas consideráveis nas peles processadas, permitindo que o animal descanse e se diminua o estresse gerado no transporte. 6. Considerações finais Do exposto observa-se que as perdas existentes decorrentes do transporte bovino irregular podem ser minimizadas através da mudança comportamental dos setores envolvidos. No Brasil não temos prestado muita atenção a esta etapa da produção, mesmos os produtores, transportadores e frigoríficos, que estão diretamente envolvidos, pouco sabem sobre as conseqüências de um manejo pré abate inadequado, que certamente traz reflexos negativos na rentabilidade do pecuarista e do frigorífico. Apesar da busca pelo imediatismo de resultados expressivos, que possam caracterizar este segmento, acredita-se que a principal causa da existência dos problemas (perdas) ainda é o grau de conhecimento entre os diferentes elos que compõem esta cadeia produtiva. Assim, a qualidade da carne e do couro pode gerar a valorização de fonte de divisas da ordem de bilhões de dólares, devendo ser avaliada na sua base de produção, a começar pelo campo, passando pelo frigorífico, indo até o curtume. Cabe observar finalmente, a importância do acompanhamento pelo proprietário, do transporte do gado através dos caminhões, uma vez que a tecnologia nos permite um controle on-line através de rastreamento, por satélite de toda a operação. Isto é muito interessante, pois assim seria possível acompanhar os caminhões a distância sabendo onde estão, se estão dentro dos horários programados e, ainda garantir a segurança da carga, pois este sistema permite localiza-la e detectar quaisquer problemas com a mesma durante o percurso. ENEGEP 2002 ABEPRO 6
BIBLIOGRAFIA COSTA, Mateus J. R. Paranhos; ZUIN, Luiz Fernando Soares; PIOVEZAN, Ubiratan. Avaliação preliminar do manejo pré abate de bovinos no programa de qualidade de carne bovina. Jaboticabal: FUNDEPEC, 1998. HOINACKI, Eugênio. Peles e couros: origens, defeitos e industrialização. Porto Alegre: SENAI,1989. ; MOREIRA, Marina Vergílio; KIEFER, Carlos Guilherme. Manual básico de processamento do couro. Porto Alegre: SENAI, 1994. RODRIGUES, Paulo Roberto Ambrosio. Introdução aos sistemas de transporte no Brasil e à Logística internacional. São Paulo: Aduaneiras, 2000. SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; HARLAND, Christine; HARRISON, Alan; JOHNSTON, Robert. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1997. VENDRAMETO, Oduvaldo; BRUNSTEIN, Israel; GIANNETI, F. B. Avaliação dos pontos críticos da cadeia produtiva carne, couro e calçados. Bahia: ABEPRO/ENEGEP, 2001. CD-ROM. VOGELLAR, Adriana. Como melhorar a qualidade do couro bovino. Brasília: SEBRAE, 1994. http://www.saudeanimal.com.br/transportando_animais.htm.,2002 http://www.ruralnews.terra.com.br/pecuária/bovinos/transporte_bovinos_para_abate.htm http://www.verganoutreach.org/whyvegan/por/prwvan3.html Courobusiness. Ir. Arnaldo Frizzo. Projeto melhoria da qualidade do couro cru. Capturado em 15 de fevereiro de 2002. Online. Disponível na internet http://www.courobusiness.com.br/cicbapex-melhoriacourocru.htm ENEGEP 2002 ABEPRO 7