TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL MINUTA DE JULGAMENTO FLS. *** SÉTIMA TURMA *** ANOTAÇÕES: JUST.GRAT. 2009.03.99.014734-5 1418626 AC-MS PAUTA: 22/06/2009 JULGADO: 22/06/2009 NUM. PAUTA: 00178 RELATOR: DES.FED. WALTER DO AMARAL PRESIDENTE DO ÓRGÃO JULGADOR: DES.FED. ANTONIO CEDENHO PRESIDENTE DA SESSÃO: DES.FED. ANTONIO CEDENHO PROCURADOR(A) DA REPÚBLICA: Dr(a). PAULO EDUARDO BUENO AUTUAÇÃO ADVOGADO(S) ADVG : JOSE DOMINGOS RODRIGUES LOPES CERTIDÃO Certifico que a Egrégia SÉTIMA TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Sétima Turma, por unanimidade, deu provimento à apelação da parte autora e negou provimento à apelação do INSS, nos termos do voto do(a) Relator(a). Votaram os(as) DES.FED. ANTONIO CEDENHO e DES.FED. LEIDE POLO. SANDRA UMEOKA HIGUTI Secretário(a) Página 1
R E L A T Ó R I O O Exmo. Des. Federal Walter do Amaral (Relator): Trata-se de ação ajuizada em 05-10-2007 em face do INSS, citado em 06-11-2007, pleiteando o benefício de aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença, previstos nos artigos 42 e 59 da Lei nº 8.213/91, desde a data do requerimento administrativo (20-12-2005). A r. sentença proferida em 24-10-2008 julgou procedente o pedido, condenando a autarquia a conceder à parte autora o benefício de aposentadoria por invalidez, desde a data do ajuizamento da ação, sendo os valores em atraso corrigidos monetariamente, nos termos do Provimento nº 20/2001 da Egrégia Corregedoria Geral da Justiça Federal da 3ª Região e da Súmula nº 148 do STJ, acrescidos de juros de mora de 01% (um por cento) ao mês, a partir da data da citação. Condenou o INSS, ainda, ao pagamento dos honorários advocatícios, fixados em 10% (dez por cento) do valor das parcelas vencidas, excluídas as parcelas vincendas (Súm. nº 111 do STJ), bem como dos honorários periciais, fixados em R$ 200,00 (duzentos reais). Foi concedida a antecipação dos efeitos da tutela. Irresignado, apela o INSS, pleiteando a reforma da r. sentença, sustentando que a parte autora não preenche os requisitos necessários à concessão do benefício por não ter comprovado o exercício de atividade rural e por não ser admissível prova exclusivamente testemunhal. Requer, ainda, em caso de manutenção do decisum, a fixação do termo inicial do benefício na data da juntada do laudo pericial em juízo. Apela, também, a parte autora, requerendo a fixação do termo inicial na data do requerimento administrativo (20-12-2005). Com contrarrazões da parte autora, subiram os autos a esta Corte Regional. É o relatório. Página 2
V O T O O Exmo. Des. Federal Walter do Amaral (Relator): A r. sentença recorrida julgou procedente o pedido, concedendo o benefício da aposentadoria por invalidez, por entender que a parte autora demonstrou preencher os requisitos legais à concessão do benefício, tendo comprovado a sua condição de segurado, bem como sua incapacidade permanente para o labor. Irresignado, apela o INSS, pleiteando a reforma da r. sentença, sustentando que a parte autora não preenche os requisitos necessários à concessão do benefício por não ter comprovado o exercício de atividade rural e por não ser admissível prova exclusivamente testemunhal. Requer, ainda, em caso de manutenção do decisum, a fixação do termo inicial do benefício na data da juntada do laudo pericial em juízo. Apela, também, a parte autora, requerendo a fixação do termo incial na data do requerimento administrativo (20-12-2005). Passo à análise do mérito propriamente dito. A aposentadoria por invalidez é devida ao segurado que, após cumprida a carência exigida em lei, estando ou não em gozo do auxílio-doença, for considerado incapaz e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade laborativa que lhe garanta a própria subsistência. Existem nos autos documentos que podem ser considerados como início razoável de prova material demonstrando que a parte autora realmente trabalhou como rurícola, especialmente o cadastro da autora no INSS como contribuinte individual segurada especial (fl. 10), a certidão de casamento, realizado em 28-05-1994, e as certidões de nascimento de suas duas filhas, em 27-12-1995 e 08-12-1998, em que a autora é qualificada como agricultora (fls. 14/19 e 20), contratos de arrendamento agrícola, declarações de produtor rural e notas fiscais em nome do marido da autora (fls. 21/45), declaração de exercício de atividade rural pela autora, emitida pelo sindicato de trabalhadores rurais de Ivinhema (fl. 46) e extrato do benefício de auxílio-doença, NB 515.456.576-9, requerido em 20-12-2005, concedido à autora na qualidade de segurada especial em virtude do exercício de atividade rural (fl. 47), contrato de concessão de uso à autora e ao seu marido de um lote de 8 (oito) hectares, sob condição resolutiva, firmado com o INCRA em 26-04-2007 (fl. 126). Quanto à realização de atividade urbana por parte de seu marido, conforme consta do CNIS (fl. 158), tal fato não descaracteriza a qualidade de rurícola da requerente, visto que o vínculo de seu marido com a empresa Apagão Transportes LTDA ME iniciou-se somente em 01-01-2009, ou seja, em momento posterior ao tratado nos autos. Ademais, todas as testemunhas ouvidas no curso da instrução processual, sob o crivo do contraditório, afirmaram que a parte autora sempre trabalhou nas lides rurais, durante o período de carência exigido pela legislação previdenciária, conforme se verifica nos depoimentos das fls. 123/125. Assim, os documentos apresentados, em conjunto com a prova testemunhal, confirmam que a autora foi efetivamente trabalhadora rural, sendo essas provas idôneas à comprovação de tempo de serviço trabalhado por rurícola. No que tange à carência, não há que se falar em necessidade de recolhimento das contribuições, uma vez que a própria legislação previdenciária exige apenas a comprovação do exercício de atividade, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício (artigo 26, III c/c 39, I, da Lei 8.213/91), fato este efetivamente comprovado nos autos. Em relação à manutenção da qualidade de segurada, as testemunhas ouvidas no curso da instrução processual sob o crivo do contraditório foram unânimes em afirmar que a requerente sempre trabalhou em atividade rural, deixando de exercê-la em decorrência do seu quadro clínico (fls. 123/125), nesse sentido, a jurisprudência entende que: PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE DEVIDA À MÃE DE TRABALHADOR FALECIDO. CONDIÇÃO DE SEGURADO MANTIDA APÓS O SEU AFASTAMENTO DO TRABALHO. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA COMPROVADA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. 1. Comprovado nos autos que o filho falecido da recorrida era portador de moléstia grave - síndrome da imuno-deficiência adquirida, e que somente deixou de trabalhar por estar totalmente incapacitado para o trabalho, deveria o INSS conceder-lhe a aposentadoria por invalidez, independentemente de carência, e não renda mensal vitalícia. 2. A jurisprudência deste STJ pacificou o entendimento de que não perde a qualidade de segurado, o trabalhador que deixa de contribuir para a Previdência Social por período superior a 12 (doze) meses, se tal interrupção decorreu de enfermidade. Página 3
3. Sendo, dessa forma, considerado segurado obrigatório da Previdência, e demonstrado ser arrimo de família, é de ser concedida a pensão por morte à sua mãe, na ausência das pessoas enumeradas na Lei 8.213/91, Art. 16, I. 4. Recurso não conhecido. (STJ, 5ª Turma, Rel. Min. Edson Vidigal, Proc. nº 1999.00.349060-7, j. 28-09-1999, DJ 18-10-1999, p. 266) PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. REMESSA OFICIAL. AGRAVO RETIDO. CARÊNCIA. CONDIÇÃO DE SEGURADO MANTIDA. ABANDONO DO TRABALHO POR FORÇA DOS MALES INCAPACITANTES. INCAPACIDADE PARA O TRABALHO. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. TUTELA ANTECIPADA. (...) 4- A Autora comprovou vínculo previdenciário, na condição de empregada com registro em carteira de trabalho, cumprindo o período de carência. 5- Não há que se falar em perda do direito ao benefício se o beneficiário comprovar que não deixou de trabalhar voluntariamente, e sim em razão de doença incapacitante. 6- Incapacidade atestada em laudo pericial. (...) 11- Agravo retido e remessa oficial não conhecidos. Apelação do INSS e da parte Autora parcialmente providas." (TRF3, 9ª Turma, Rel. Des. Fed. Santos Neves, Proc. nº 2000.61.19023726-1, j. 03-09-2007, DJU 27-09-2007, p. 580) Com relação à incapacidade laborativa, o laudo pericial das fls. 97/99 é conclusivo no sentido de que a autora é portadora de melanoma maligno com infiltração metastática, estando incapacitada de forma total e permanente. Por tais razões, a parte autora faz jus ao benefício de aposentadoria por invalidez, desde a data do requerimento administrativo (20-12-2005), uma vez que a parte autora demonstrou que já havia preenchido os requisitos necessários à concessão do benefício desde então (fls. 15/17), descontando-se eventuais parcelas já pagas administrativamente a título de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez. Ademais, oportuno esclarecer que o laudo pericial elaborado nos autos apenas serve para comprovar de forma contundente a incapacidade laborativa alegada pela parte autora na exordial, razão pela qual não se justifica que o termo a quo deva ser fixado de forma incontestável na data do laudo quando, da análise dos autos, verifica-se que a incapacidade advém anteriormente à propositura da ação. Isto posto, dou provimento à apelação da parte autora, para fixar o termo inicial do benefício na data do requerimento administrativo (20-12-2005), descontando-se eventuais parcelas já pagas administrativamente a título de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, e nego provimento à apelação do INSS, mantendo, no mais, a douta decisão recorrida. É como voto. WALTER DO AMARAL DESEMBARGADOR FEDERAL RELATOR Página 4
E M E N T A PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. TRABALHADOR RURAL. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. PROCEDÊNCIA. TERMO INICIAL. I. Comprovado através de perícia médica que a parte autora está incapacitada de forma total e permanente para o trabalho, o que gera o direito a aposentadoria por invalidez, uma vez implementados os requisitos legais necessários. II. O benefício de aposentadoria por invalidez deve ser concedido ao segurado especial, não se lhe aplicando a exigência do período de carência de contribuições, ex vi do disposto no art. 26, III, da Lei nº 8.213/91. III. O termo inicial do benefício deve ser fixado desde a data do requerimento administrativo, uma vez que a parte autora demonstrou que já havia preenchido os requisitos necessários à concessão do benefício desde então. IV. Apelação da parte autora provida. Apelação do INSS improvida. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, ACORDAM os integrantes da 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, em dar provimento à apelação da parte autora e negar provimento à apelação do INSS, na conformidade da Ata de Julgamento e nos termos do voto do Desembargador Federal Relator. São Paulo, 22 de junho de 2009. (data do julgamento) WALTER DO AMARAL DESEMBARGADOR FEDERAL RELATOR Página 5