Newton Barros Serviço de Dor e Cuidados Paliativos Hosp. N. Sra. da Conceição- Hosp. Mãe de Deus Porto Alegre - RS



Documentos relacionados
CUIDADO PALIATIVO: INTERFACES SOBRE MORTE, MORRER E COMUNICAÇÃO. Sandra Regina Gonzaga Mazutti

Transmissão de Más Notícias

Cuidados com o cuidador

PAR. Torne-se um PAR para que sua vida seja ÍMPAR ACELBRA-RJ

Doenças Graves Doenças Terminais

Opções de tratamento. Desintoxicação e acompanhamento no Posto de Saúde; Desintoxicação no Domicílio;

COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

Conheça suas opções:

QUALIDADE DE VIDA UMA QUESTÃO DE ESCOLHA

Amadora, 17 de Maio de 2012 Catarina Klut Miguel Palma

Lidando com o paciente oncológico C A M I L A M A N O S S O F U N E S J É S S I C A D E O L I V E I R A S T O R R E R

CUIDAR DE CUIDADORES: PROGRAMA DE TREINAMENTO PARA CUIDADORES DE IDOSOS DEPENDENTES

Como encontrar informações de qualidade sobre saúde na Internet

Grupos de Trabalho de Humanização (GTH) INCA (espaços coletivos, de autonomia e protagonismo dos profissionais de saúde)

Adolescentes e jovens preparados para tomar suas próprias decisões reprodutivas

REVELAÇÃO DIAGNÓSTICA. Eliana Galano Psicóloga Ambulatório de Pediatria CEADIPE - CRT-DST/AIDS - SP

Comunicação Empresarial e Processo Decisório. Prof. Ana Claudia Araujo Coelho

Relação Médico Paciente: Segurança e risco

Oficina 2 Os trabalhos foram iniciados com a discussão do relato de caso apresentado. O grupo conversou sobre quais as medidas a serem adotadas pela

Negociação: conceitos e aplicações práticas. Dante Pinheiro Martinelli Flávia Angeli Ghisi Nielsen Talita Mauad Martins (Organizadores)

Cavalcanti DR.* * Desiree R. Cavalcanti (Doutoranda do Departamento de Estomatologia FOUSP - dcavalcanti@usp.br)

Isso marca o início de uma nova e importante era para os pacientes, cuidadores e seus familiares.

Avaliação. Formulação de Caso BETANIA MARQUES DUTRA. MSc. Psicologia. Esp. Neusopsicologia. Esp.Psicopedagogia. Terapeuta Cognitivo-Comportamental

6. Considerações Finais

INTERVENÇÃO JOGO SEXUALIDADE PLANO DA INTERVENÇÃO

Palestra tudo O QUE VOCE. precisa entender. Abundância & Poder Pessoal. sobre EXERCICIOS: DESCUBRA SEUS BLOQUEIOS

O QUE É? O NEUROBLASTOMA. Coluna Vertebral. Glândula supra-renal

Marketing Pessoal. Uma visão de si mesmo

Instrumentos de Triagem para consumo de Bebidas Alcoólicas e Outras Drogas

Dra. Fabiana Hauser Fisiatra e Acupunturista Serviço de Dor e Cuidados Paliativos Hospital Nossa Senhora da Conceição Porto Alegre

Resiliência. Capacidade para superar os desafios da vida

ANÁLISE PSICOLÓGICA DO PERFIL DE CRIANÇAS E PAIS BRASILEIROS NO JAPÃO. Juliana F. de Barros - Psicóloga

VAMOS FALAR SOBRE. AIDS + DSTs

na sala de aula e na vida

CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO

Cuidados paliativos e a assistência ao luto

A INTERNET COMPLETOU 20 ANOS DE BRASIL EM 2015.

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE ITAPETININGA CURSO CBMAE ARTIGO DE NEGOCIAÇÃO. A importância da comunicação na negociação. Aluna: Bruna Graziela Alves Cleto

FALANDO DE CORAÇÃO PARA CORAÇÃO


Trabalho voluntário na Casa Ronald McDonald

Estruturas das Sessões em TCC

care XIII meeting Dra. Adriana Vidal Schmidt Médica Alergista - Mestre pela UFPR Professora do Ambulatório de Cosmiatria SBME - Regional Paraná

TE200 Engenharia Elétrica e Sociedade I. Ewaldo Luiz de Mattos Mehl Universidade Federal do Paraná Departamento de Engenharia Elétrica mehl@ufpr.

A importância da comunicação em projetos de

ÍNDICE PRIMEIRA PARTE A ARTE DA COMUNICAÇÃO

COMO AJUDAR QUEM PERDEU PESSOAS QUERIDAS

FADIGA EM PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA EM RADIOTERAPIA CONVENCIONAL.

O QUE É? O HEPATOBLASTOMA

Abordagem familiar e instrumentos para profissionais da Atenção Primária à Saúde

O que é e como tratar a codependência?

Atendimento Domiciliar

Transição para a parentalidade após um diagnóstico de anomalia congénita no bebé: Resultados do estudo

Habilidades e competências no Cuidado à pessoa idosa. Karla Giacomin, MD, PhD

Como desenvolver a resiliência no ambiente de Recursos Humanos

Fazendo a diferença nos Serviços de Saúde: Visão do Técnico Especialista

Projeto Atenção ao Vínculo e Comunicação de Notícias Difíceis

Revelação Diagnóstica do HIV A arte de comunicar más notícias Tânia Regina C. de Souza, Karina Wolffenbuttel, Márcia T. F.

Marketing & Comunicação

MEDIA TRANNING. Giovana Cunha. Coordenadora de Rádio e TV - TST giovana.cunha@tst.jus.br

Sobre a Dor e a Gestão da Dor. Encontre mais informações no site Department of Health and Ageing

DILMA MARIA DE ANDRADE. Título: A Família, seus valores e Counseling

Recursos Humanos. Recursos Humanos -1-

Avaliação de Interfaces Humano- Computador

ADOLESCÊNCIA SEXUALIDADE

A Saúde Mental dos Trabalhadores da Saúde

QUAL O NOSSO DESAFIO: O QUE VOCÊS ESPERAM DESTE CURSO?

Doença de Alzheimer: uma visão epidemiológica quanto ao processo de saúde-doença.

~ 2 ~ Do Susto ao Sucesso. HERPES GENITAL & Relacionamentos Por Eduardo Rosadarco. 1ª Edição Agosto, 2011

Coach membro da SBCoaching Comunicólogo Ufam Especialista Empreendedorismo IEL /UEA MBA Gerenciamento de Projetos Ufam MBA Coaching FAPPES/SBCoaching

Transmissão de más notícias

A mulher e o consumo de bebidas alcoólicas Clarissa Mendonça Corradi-Webster Larissa Horta Esper Ana Maria Pimenta Carvalho

FAZENDO SEXO APÓS O CÂNCER DE PRÓSTATA. Alícia Flores Jardim

II OFICINA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TUTORES EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA O AUTOCUIDADO EM DIABETES

DEPRESSÃO. O que você precisa saber. Fênix Associação Pró-Saúde Mental

A Saúde mental é componente chave de uma vida saudável.

Módulo5. Módulo 5. Planejamento e realização de projeto de mapeamento e modelagem de processos, Responsabilidades, Atividades-chaves, Exercício

COMPETÊNCIAS E SABERES EM ENFERMAGEM

Iniciar com qualidade

Transtorno Bipolar UHN. Bipolar Disorder - Portuguese. Informação para pacientes e seus familiares

Indice. Livro LIDERANÇA COM INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Área temática: Enfermagem CÂNCER NA ADOLESCÊNCIA: SENTIMENTOS DOS PORTADORES E PAPEIS DE FAMILIARES E ENFERMEIROS

ENTREVISTA FAMILIAR. Milene Gonçalves Cobianchi. Enfermeira CNCDO/GO. A Família / Tarsila do Amaral

MANUAL PARA PAIS E RESPONSÁVEIS SOBRE COMO LIDAR COM O "BULLYING/IJIME"

Passos para recrutar voluntários

MANUAL DE CONDUTA NAS MÍDIAS SOCIAIS

A pessoa dependente do álcool, além de prejudicar a sua própria vida, acaba afetando a sua família, amigos e colegas de trabalho.

O QUE É? O LINFOMA DE HODGKIN

XP extreme Programming, uma metodologia ágil para desenvolvimento de software. Equipe WEB Cercomp

Antonio Silvio da Costa Junior

O Câncer de Próstata. O que é a Próstata

7 A Entrevista Psiquiátrica

PRA VIDA PROGRAMA DE APOIO A VIDA

Estimativas Profissionais Plano de Carreira Empregabilidade Gestão de Pessoas

7 7 E8BOOK7CURSO7DE7 ORATÓRIA7

Manutenção de Ambientes de Saúde

Entenda o que é o câncer de mama e os métodos de prevenção. Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)

Transcrição:

Newton Barros Serviço de Dor e Cuidados Paliativos Hosp. N. Sra. da Conceição- Hosp. Mãe de Deus Porto Alegre - RS

COMUNICAR Transmitir, passar (conhecimento, informação, ordem, opinião, mensagem) a alguém COMUNICAÇÃO Processo que envolve a transmissão e a recepção de mensagens entre uma fonte emissora e um destinatário receptor, no qual as informações são codificadas na fonte e decodificadas no destino com o uso de sistemas convencionados.

INFORMAÇÃO EMISSOR RECEPTOR RUÍDOS

Definição de más notícias Qualquer notícia que modifica drástica e negativamente a visão do paciente sobre o seu futuro O impacto da má notícia depende da diferença entre as expectativas futuras do paciente (ambições e planos) e o seu real estado de saúde

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento Morte VIDA

COHEN PLANO DE VIDA Circulation, v. 66, p 29-38, 1982, Suppl. 3 Nascimento Morte VIDA Estudar

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento Morte VIDA Estudar Profissão

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento Morte VIDA Estudar Profissão Família

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento Morte VIDA Estudar Profissão Família Progredir

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento Morte VIDA Estudar Profissão Família Progredir Viajar

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento Morte VIDA Estudar Profissão Família Progredir Viajar Boa velhice

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento DOENÇA Morte VIDA VIDA Estudar Profissão Família Progredir Viajar Boa velhice

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento DOENÇA VIDA MORTE Estudar Profissão Família Progredir Viajar Boa velhice

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento DOENÇA Morte VIDA VIDA Estudar Profissão Família Progredir Viajar Boa velhice

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento DOENÇA Morte VIDA VIDA Estudar Profissão Família Progredir Viajar Boa velhice

COHEN PLANO DE VIDA Nascimento DOENÇA Morte VIDA VIDA Estudar Profissão Família Progredir Viajar Boa velhice

COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS Exemplos Contar ao paciente que ele é HIV positivo Dizer ao marido que a esposa tem D. Alzheimer Contar ao paciente que está com câncer Falar ao casal que não podem ter filhos Diagnóstico de diabetes no adolescente

COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS Exemplos Recidiva/ disseminação de doença Progressão da doença por falha no tratamento Efeitos colaterais irreversíveis Resultado de testes genéticos

A vida de uma pessoa doente pode ser abreviada não somente pelos atos, mas também pelas palavras ou conduta do médico. É portanto um dever sagrado proteger o paciente evitando tudo o que puder desencorajá-lo e deprimir o seu espírito 1847 1º Código de Ética Americano

COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS Evidências Os médicos falham ao informar o diagnóstico de câncer aos pacientes. Mosconi P et all (1991) Disclosure of Breast Cancer Diagnosis, Patients and Physicians Reports. Ann Oncol 2: 273-280 Pacientes com câncer desejam saber o diagnóstico e mais detalhes sobre sua doença do que os médicos imaginam. Meredith C, et all (1996) Information needs of cancer patients in West Scottland: cross sectional survey of Patients views. BMJ 313:724-726 Gautam S, Nijhawm M. (1987) Communicating With Cancer Patients. Br J Psychiatry 150: 760-764.

COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS Evidências Pacientes desejam informações sobre diagnóstico, chances de cura, efeitos colaterais da terapia e estimativa do tempo de sobrevida. Sutherland HJ et all. (1989) Cancer Patients; Their Desire for Information and Participation in Treatment Decisions. Journal Royal Society of Medicine 82: 260-263 Pacientes querem uma conversa com o médico em ambiente privado, com tempo disponível e a presença de alguém que para lhe dar suporte. Peteet J et all (1991) Presenting a Diagnosis of Cancer patients Views. Journal of Family Practice. 32: 577-581

Impactos no profissional Tesser A et all (1971) On the Reluctance to Communicate Undesirable Messages (The MUM effect) A field study. Psychol Rep. 29:651-654 Maguire P (1985) Barriers of Psychological Care of the Dying. British Medical Journal 291:1711-1713 Pode ser causa de intenso stress Ansiedade, carga de responsabilidade, medo da reação negativa do paciente Prejudicam a comunicação da má notícia Podem transmitir otimismo ao paciente e predispor à depressão

COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS O impacto no profissional é pior quando O médico é inexperiente O paciente é jovem As opções de tratamento são limitadas Placek JT, Eberhardt TL (1996). Breaking Bad News. A review of Literature. JAMA 276:496-502

COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS Processos contra médicos costumam ter como uma das causas a dificuldade de comunicação Uma boa comunicação melhora a satisfação profissional Aprender a boa comunicação reduz o stress no trabalho (burn-out) Buckman R How to Break Bad News A Guide for Health Care Professionals The Johns Hopkins University Press, 1992

CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA Capítulo V RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES É vedado ao médico Art. 34 Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação ao seu representante legal.

ETAPA 1 Planeje a entrevista e o ambiente Rever resultados de exames, tratamentos anteriores, literatura médica e informações gerais sobre o paciente. Buscar ambiente com privacidade; desligar o celular. Envolver outras pessoas, se for necessário e desejo do paciente. Sentar-se e ficar disponível para o paciente. Como Comunicar Situações Difíceis no Tratamento - Roteiro baseado no Protocolo SPIKES

ETAPA 2 Descubra o quanto o paciente sabe: Antes de contar, pergunte. Procurar saber como o paciente percebe sua situação médica. Perceber se o paciente está negando a doença: pensamento mágico; ou expectativas não realistas do tratamento. Moldar a má notícia para a compreensão e a capacidade de absorção do paciente

ETAPA 3 Descubra o quanto o paciente deseja ETAPA 3 Descubra o quanto o paciente deseja saber Procurar saber, desde o início do tratamento, se o paciente deseja informações detalhadas sobre o diagnóstico, o prognóstico e os pormenores dos tratamentos. Oferecer-se para responder a qualquer pergunta ou para falar com familiares ou amigos.

ETAPA 4 Como transmitir as informações ao paciente Anuncie com delicadeza que más notícias estão por vir; dar tempo ao paciente para se dispor a escutá-las. Evite termos técnicos; use vocabulário ao nível de compreensão do paciente. Informe aos poucos. Evite transmitir desesperança, valorizando os cuidados paliativos, o alívio dos sintomas e o acompanhamento solidário.

ETAPA 5 Responda afetivamente às emoções dos pacientes (e familiares) Favorecer a expressão dos pacientes e familiares sobre o impacto da má noticia. Acolher a expressão de sentimentos de ansiedade, raiva, tristeza ou inconformismo de pacientes e familiares.

ETAPA 6 Como resumir e traçar estratégias para o futuro Resumir as principais questões abordadas e traçar uma estratégia ou um plano de tratamento. Compartilhar responsabilidades na tomada de decisão com o paciente (o que pode também reduzir qualquer sensação de fracasso da parte do médico). Ser honesto sem destruir a esperança ou a vontade de viver dos pacientes.

A comunicação de más notícias não é uma habilidade opcional; é uma parte essencial da prática profissional Breaking Bad News...Regional Guidelines National Council for Hospice and Specialist Palliative Care Services Belfast, Feb 2003

newbarros74@gmail.com