PROVA DE REDAÇÃO - 2º TRIMESTRE DE 2011 PROFa. DEBORAH NOME N o 8 0 ANO Leia atentamente os enunciados, capriche na letra e procure dar respostas amplas. A compreensão do enunciado faz parte da questão. Não faça perguntas ao examinador. A prova deve ser feita com caneta azul ou preta. É terminantemente proibido o uso de corretor. Respostas com corretor serão anuladas. LEIA OS TEXTOS COM ATENÇÃO E CARINHO... Texto 1: Notícia (site do Senado Federal -Brasil- publicada em 28/07/2011 e acessada em01/08/2011) Restrições à propaganda de alimentos para crianças na pauta da CMA A propaganda de alimentos e bebidas - principalmente a dirigida a crianças e adolescentes - poderá ser alvo de restrições, com o intuito de reprimir hábitos de consumo nocivos à saúde. Regras mais rigorosas para a publicidade desses produtos deverão ser analisadas, na terça-feira (02/08/11), pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA). A medida é recomendada em projeto de lei (PLS 150/09), apresentado pela ex- senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) e altera o Decreto-Lei nº 986/69, que instituiu normas básicas sobre alimentos. O primeiro passo nessa nova regulamentação é caracterizar os produtos com quantidade elevada de açúcar, gordura saturada e trans, sódio e com baixo teor nutricional. A partir dessa definição, a proposta detalha as limitações à publicidade de gêneros alimentícios com esse tipo de composição. Além de não poder sugerir que esses alimentos são saudáveis ou benéficos à saúde, os anunciantes ficariam impedidos de usar imagens ou personagens relacionados ao universo infanto-juvenil por meio de sua vinculação a brindes, brinquedos, filmes e jogos eletrônicos. Também ficaria proibida a veiculação desse material publicitário em emissoras de rádio e televisão no horário das 21h às 6h. O projeto exige que estejam claros não só o caráter comercial da mensagem publicitária, mas também a informação sobre o valor energético dos produtos. Veda também propaganda que induza ao consumo exagerado e a erro quanto à origem, natureza, composição e a propriedades do produto. "Notamos que essas regras concorrem para aprimorar a proteção das crianças e dos adolescentes contra a publicidade abusiva", realçou o relator, senador João Alberto Souza (PMDB-MA), no voto favorável ao PLS 150/09. Simone Franco / Agência Senado Texto 2. Entrevista (adaptada) - publicada em 02/06/2009 e acessada em 01/08/2011 http://www.alana.org.br/criancaconsumo/noticiaintegra.aspx?id=6105&origem=23 Entrevistado: José Augusto Taddei TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE INFANTIL José Augusto Taddei é livre-docente em Nutrologia Pediátrica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde orienta os programas de mestrado e doutorado na área. Qual é o cenário da obesidade infantil no Brasil e no mundo? Se o ritmo se mantiver, as projeções para 2016 indicam que a obesidade atingirá 8,3% das crianças não estou falando de sobrepeso, o que representará 1,5 milhão de crianças menores de cinco anos obesas. O que sabemos é que nas classes A e B já não há tanta obesidade porque as pessoas são mais esclarecidas. É difícil ver um jovem esclarecido que não vá à academia e que não faça restrição alimentar. É necessário fazer restrição alimentar tão cedo? Hoje o mercado oferece muitas opções de alimento e o jovem passou a ser consumidor mais precocemente. As indústrias de alimentos focam nas crianças e nos adolescentes porque são pessoas que estão formando seus padrões de consumo, seus estilos de vida e seus hábitos alimentares. Eles são extremamente influenciáveis, também pelo processo de formação da individualidade. E o alimento vem sendo progressivamente algo que o adolescente tem de lidar constantemente. 1
Por que são oferecidos produtos com grande quantidade de gordura, sal e açúcar? A quantidade de alimentos em termos de número de itens, é altamente competitiva. Só a Nestlé tem mais de 150 mil itens de alimentos comercializados nos Estados Unidos. Nas prateleiras dos supermercados, não cabe mais do que 90 mil itens. É uma luta para conseguir colocar um produto nas prateleiras. Nessa luta existe uma campanha forte de marketing pensando em divulgação e em toda a parte de sedução do consumidor. Além disso, a indústria tenta desenvolver produtos palatáveis. E qual a alternativa para fazer um produto palatável? Aumentar açúcar, aumentar gordura, aumentar sal, diminuir fibra porque ele fica mais fácil de mastigar e dissolve na boca. Então é verdade que o alimento mais gostoso é aquele menos saudável? O mais gostoso provoca apenas o prazer imediato. Ele não dá prazer depois de três horas. Pelo contrário, ele pode até causar problemas na função intestinal, cansaço e sensação de desânimo. O excesso de carboidrato dá apatia, mas no momento em que você está comendo é o que mais agrada, especialmente aos humanos. Isso tem explicação na nossa evolução. Quando nós éramos catadores e tínhamos de pegar frutos, flores e raízes do chão, aqueles que tinham aversão pelo amargo, pelo azedo e pelo ácido cuspiam o alimento e, por consequência, o veneno. Na natureza, em geral, esses sabores são associados aos venenos. Quem gostava do doce, do gorduroso, sobreviveu e nós somos filhos daqueles que sobreviveram. A forma que nós temos de superar o que já foi uma vantagem há milênios e que hoje é uma grande desvantagem na sociedade moderna é criar situações prazerosas, gratificantes, emocionalmente de troca e de acolhimento junto com o consumo de alimentos amargos, azedos, com pouco sal. Com isso, a criança começa a se condicionar. Isso tem de ser trabalhado com uma criança pequena? Sim. Você oferece uma laranja doce, depois uma menos doce e progressivamente, até que ela vai comer uma laranja azeda e gostar, principalmente se for no colo da mãe, fazendo cocequinha, dando risada. Esse é um processo de formação de hábitos. Alimento não é só nutriente. Alimento é afeto, cultura, humanidade e é disso que a gente vive. Qual é a importância de uma criança fazer as refeições com os pais? Quem não tem essa experiência perde muito? Perde muito. Mas não quero ser saudosista, nem voltar ao tempo em que a mãe não trabalhava fora de casa. A mulher hoje é geradora de renda. Não dá mais para fazer como era. O problema é que a gente observa o extremo oposto, a família que nunca se reúne em volta da mesa, nem em situações de festa, de comemoração. Tudo chega em casa pronto e as pessoas não preparam mais, não dividem esse processo de doação, de troca. Por que essa mudança? Os alimentos preparados são economicamente mais vantajosos? Os alimentos que já vêm pré-preparados e próprios para o consumo imediato são, em média, três vezes mais caros que a cesta básica. Logicamente não é por causa do preço do alimento, e sim por causa da embalagem e do valor agregado. Por exemplo, um refrigerante tem o mesmo preço de um litro de leite. O leite é nutritivo, enquanto o refrigerante é água com açúcar. Então porque há um aumento cada vez mais significativo de obesos entre a população menos favorecida? A população urbana de mais baixa renda, tanto no Brasil como nos EUA, é a que mais sofre com a obesidade. Hoje, você consegue consumir alimentos com alta densidade energética, muito açúcar e muita gordura a preços acessíveis. Mas essas pessoas não sabem dos efeitos deletérios desse alimento e, ao mesmo tempo, são suscetíveis aos apelos de prazer como todo o mundo. Comem gordura e doce achando que aquilo é uma forma de ser feliz. Acabam confundindo consumo excessivo com a receita da felicidade. Mas essa é a receita da vida curta. Por outro lado, são pessoas que estão sendo privadas de dignidade, que não têm opções de lazer além de assistir à televisão. A única forma de ter identidade e se sentir alguém é comendo, bebendo, participando de uma igreja ou vendo TV. 2
NOME N o 8 0 ANO O que já se sabe sobre o consumo constante de produtos industrializados? Existem pesquisas com animais que demonstram que existem níveis seguros de consumo desses alimentos, mas não existem pesquisas com seres humanos a longo ou longuíssimo prazo. E em cima disso, os naturalistas dizem que estamos expondo a humanidade a situações de complicação. Nós não sabemos, por exemplo, se acontece um efeito inter-geracional. Dizem que esse é o preço que nós temos de pagar pelo progresso. O que não quer dizer que não tenha efeito nenhum, mas estamos dentro da lei e do que a comunidade científica achou que era razoável para viabilizar a produção e o consumo em massa nos grandes centros urbanos. O problema é quando essas normas não são respeitadas. E, mesmo respeitando as normas, nós temos alguns riscos. Pensando na realidade das famílias hoje, como deve ser o momento da refeição para as crianças? A alimentação não pode ser o único momento de prazer, nem deve dominar a vida das crianças. Quando isso acontece, a criança começa a substituir as coisas que são mais trabalhosas por algo que está ali. E quando se associa à televisão, a situação piora. A pessoa começa a querer ficar sedentária, isolada, vendo televisão e comendo. Aí vira um ciclo vicioso porque, junto com isso, vem a culpa. Torna-se uma pessoa cujo nível de gratificação, de compreensão da vida é muito limitado. Pode ter a função intestinal dificultada, ter mais cáries por causa do açúcar, problemas articulares por causa do peso excessivo. Nas dobras, começa a ter coceira, micose, passa a ter um cheiro típico, e, com isso, começa a se inibir e não querer se socializar. Como resolver o problema da obesidade? Não é fácil. O mais sério é que muitas escolas não ensinam e os próprios funcionários de saúde, de uma forma geral, não estão preparados para lidar com essa questão. Se você pegar um pediatra, um nutricionista e perguntar o que acha de dar macarrão instantâneo até um ano de idade eles vão dizer que não pode. Mas depois dessa idade alguns desses profissionais não sabem mais o que dizer porque isso não está normatizado. Parece que os modelos de educação e assistência à saúde e à nutrição continuam nos anos 80, mas nós estamos quase na segunda década do século XXI. Nós estamos perdidos nesse mundo de alimentos e eu acho que alguém está se beneficiando disso. De que forma o Estado pode gerar políticas públicas para amenizar esse problema? Acho que o Estado fica no limite do que a sociedade é capaz de aceitar. Se a sociedade não estiver conscientizada, não adianta querer impor. Tem de ter um processo de educação, de evolução, de compreensão para que se consiga fazer a regulamentação da propaganda dos alimentos infantis, por exemplo. A sociedade está percebendo, e está ficando vergonhoso fazer esse tipo de publicidade. As indústrias já estão diminuindo, independentemente da lei ter sido aprovada. Acontece que, em uma sociedade capitalista, existe a tendência de que as questões do dinheiro sobrepujem o bem-estar das pessoas. É necessário dar liberdade para escolha, mas isso não acontece porque existe um processo de condicionamento pesadíssimo, com bilhões de dólares sendo investidos. O Estado pode propor impostos diferentes para determinados tipos de alimentos. Pode regulamentar a propaganda, propor a desaceleração da incorporação de novos alimentos obesogênicos. 3
Texto 3- Artigo de lei- retirado do site da Câmara de vereadores de Jundiaí. 4
NOME N o 8 0 ANO PARTE 1 Interpretação de Texto (valor: 6,0) 01. Sobre o texto 1: a) Explique duas das medidas de restrição das propagandas de alimentos para crianças do projeto de lei que está sendo analisado e será votado pelo Senado. b) O senador João Alberto de Souza do PMDB, do Estado do Maranhão, disse que tais medidas servem para aprimorar a proteção das crianças e dos adolescentes contra a publicidade abusiva. Você concorda com a opinião dele? Por quê? 02. No texto 2, o entrevistado José Augusto Taddei, especialista da Unifesp, afirmou que "(...) as projeções para 2016, no mundo, indicam que a obesidade atingirá 8,3% das crianças (...) o que representará 1,5 milhão de crianças menores de cinco anos obesas",. Ele também afirmou que por isso muitas crianças estão fazendo dietas de restrição alimentar, nas classes mais altas e que são mais esclarecidas. a) Segundo ele, quais os fatores são responsáveis pelo aumento da obesidade das crianças? Explique com suas palavras. b) A partir da leitura da entrevista, é possível dizer que ele é favorável ao projeto de lei que fará a restrição das propagandas de alimentos dirigidas às crianças? Justifique sua resposta. 5
03. No texto 1, lemos sobre o projeto de lei que será votado pelo Senado sobre a regulamentação das propagandas de alimentos para crianças; já no texto 2, lemos uma entrevista de um especialista sobre o aumento da obesidade infantil. Em ambos os textos, percebemos uma preocupação com a questão da exposição das crianças e adolescentes a alimentos e hábitos não- saudáveis, que levam à obesidade infantil. a) Para você qual é a relação entre as duas leis: a da lei da regulamentação das propagandas de alimentos (texto 1) e a da lei da proibição dos alimentos não-saudáveis das cantinas das escolas de Jundiaí (texto 3)? Justifique sua resposta. b) Qual é a sua opinião sobre a lei aprovada em sua cidade?justifique-a. PARTE 2 Produção de texto (valor: 4,0) No 2º trimestre, discutimos sobre os nossos direitos de liberdade de expressão, que são garantidos não só pela Constituição Brasileira, mas também pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Pensando nisso, agora, aproveite e exercite esse direito como cidadão(ã), e escreva um abaixoassinado destinado às autoridades. Você poderá escolher uma dentre as opções abaixo para escrever seu abaixo-assinado: a) Se você estiver insatisfeito com a lei aprovada em Jundiaí, que proíbe a venda de alimentos nãosaudáveis nas escolas, escreva um abaixo-assinado pedindo a anulação da lei. OU b) Se você for favorável à lei aprovada em Jundiaí, que proíbe a venda de alimentos não-saudáveis nas escolas, suponha que você more em outra cidade e queira reivindicar a criação desta lei em sua cidade. Assim sendo, sua tarefa será a de fazer um abaixo-assinado solicitando que a lei seja criada em sua cidade. ATENÇÃO: você poderá ampliar a discussão sobre a lei que atinge diretamente vocês, adolescentes e jovens. É obrigatório o uso de duas justificativas para sua opinião. Lembre-se também da estrutura do abaixo-assinado. Boa Prova! 6
NOME N o 8 0 ANO FOLHA DE RASCUNHO 7