ÍSfPÍ TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N I imii mil IIIII mil mu um um um mi mi "02961415* Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n 994.09.289743-1, da Comarca de Presidente Epitãcio, em que é apelante JOSÉ FERNANDO PINTO DA COSTA sendo apelado BEIRA RIO FM DE PRESIDENTE EPITÃCIO S S LTDA. ACORDAM, em 4 a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores ENIO ZULIANI (Presidente) e FÁBIO QUADROS. São Paulo,22 de abril de 2010. FRANCISCO LOUREIRO RELATOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÀO PAULO APELAÇÃO: 994.09.289743-1 COMARCA: PRESIDENTE EPITÁCIO APTE: APDO: JOSÉ FERNANDO PINTO DA COSTA BEIRA RIO F M DE PRESDIENTE EPITÁCIO S S LTDA. VOTO N e 9.810 SOCIEDADE LIMITADA - Assembléia que deliberou sobre aumento de capital, nomeação de administrador, adaptação do contrato social ao novo Código Civil e alteração da sede social - Decisões tomadas as duas primeiras por unanimidade, e, a última, por maioria de votos - Exigência de unanimidade prevista nos arts. 997 e 999 do CC apenas em relação às sociedades simples - Sociedade em exame por quotas de responsabilidade limitada, à qual se aplicam as regras especiais dos arts. 1.071 e seguintes do Código Civil - Ação improcedente - Recurso improvido. Cuida-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 122/124 dos autos, que julgou improcedente a ação de anulação de assembléia com pedido de antecipação de tutela movida por JOSÉ FERNANDO PINTO COSTA contra BEIRA RIO FM DE PRESIDENTE EPITÁCIO S/S LTDA. Fê-lo a r. sentença, sob o argumento de que não ficou constatada irregularidade de convocação da assembléia que se pretende anular, bem como de que esta não padece de outros vícios. Apelação Cível n 2 994.09.289743-1 - PRESIDENTE EPITÁCIO - Voto n fi 9.810 - fl. 1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apela o autor, alegando que a alteração da sede social foi feita sem aprovação unânime dos sócios, em afronta ao disposto no art. 999, combinado com o art. 997 do Código Civil. Afirma, ainda, que as demais alterações realizadas não são válidas, porque feitas sem prévia autorização do Ministério das Comunicações, contrariando o Decreto 52.975 e a Cláusula XXVIII do contrato social. O recurso foi contrariado (fls. 158/170). É o relatório. 1. O recurso, frágil, não comporta provimento, embora por razões diametralmente opostas àquelas adotadas na sentença. Em 27 de outubro de 2.007, foi realizada assembléia da BEIRA RIO FM DE PRESIDENTE EPITACIO S/C LTDA, na qual se deliberou, com aprovação de 75% do capital social, pela alteração do seu endereço e pela eleição de Roberto Bergamo como administrador; e, por unanimidade, pela fixação de prazo de 30 dias para a integralização do capital social e pelo adiamento, para futura assembléia, de alterações no contrato social necessárias a adaptá-lo ao Novo Código Civil. Inconformado, o sócio minoritário JOSÉ FERNANDO PINTO DA COSTA, titular de 25% do capital social, postula a invalidade das deliberações da assembléia. 2. Apesar do nome dado à ação, o que pretende o autor não é propriamente anular a assembléia, mas, sim, anular as suas deliberações. Apelação Cível n 2 994.09.289743-1 - PRESIDENTE EPITACIO - Voto n fi 9.810 - fl. 2
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Irrelevante, por isso, os argumentos postos na sentença, no sentido de que não ocorreram irregularidades formais na convocação do ato. Não é isso o que se discute, mas sim se as deliberações foram tomadas ao arrepio de disposições do Código Civil, de lei especial, ou mesmo do próprio contrato social. 3. Muda-se, por conseqüência, o enfoque da sentença e passa-se à análise da licitude das deliberações tomadas em assembléia. Note-se que em relação a duas delas - prazo para adaptação do contrato social ao novo Código Civil e aumento de capital - a deliberação foi unânime, razão pela qual falece ao autor interesse em impugná-las. No que se refere à mudança da sede da pessoa jurídica, não tem razão o autor, que invoca a proteção dos artigos 997 e 999 do Código Civil, que regulam a sociedade simples. Isso porque a sociedade em questão adotou a forma de quotas de responsabilidade limitada, regida por regras especiais nos artigos 1.071 e seguintes do Código Civil. As regras dos artigos 999 e 997 do Código Civil receberam severa crítica da doutrina, pois engessam as atividades sociais, colocando o interesse da maioria ao alvedrio e ao capricho dos sócios minoritários, não encontrando paralelo nem na legislação estrangeira que as inspirou (cfr. Alfredo de Assis Gonçalves Neto, Direito de Empresa, 2 a. Edição RT, ps. 173 e seguintes). Apelação Civel n a 994.09.289743-1 - PRESIDENTE EPITÁCIO - Voto n a 9.810 - fl. 3
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÀO PAULO O inconveniente das normas citadas é atenuado por diversos mecanismos, como pactos societários, ou mesmo a adoção de outros tipos de sociedades empresárias, reguladas por normas diversas, como, por exemplo, a limitada. Explica o citado autor que "se a opção foi por uma sociedade limitada, ela continuará sendo sociedade simples, mas o seu regime jurídico comportará maiorias diferenciadas (art. 1.071/1.076 CC)" (Alfredo de Assis Gonçalves Neto, ob. cit., p. 175). É o que ocorre no caso concreto. Mais do que sociedade simples, é ela também limitada, de modo que se rege pelas regras dos artigos 1.071 e seguintes do Código Civil. O art. 1.076, por seu turno, dispõe sobre os quoruns de deliberação dos mais variados temas, entre os quais se enquadra a alteração do local da sede da empresa. Não se cogita de unanimidade, mas sim de maioria simples, atingida com folga pelos % dos votos favoráveis à alteração (cfr. a respeito José Waldecy Lucena, Das sociedades limitadas, 6 a. Edição atualizada, Renovar, p. 538). 4. Não me impressiona também a alegada irregularidade da deliberação que adia a adaptação do contrato social ao Novo Código Civil, com a qual, aliás, aquiesceu o próprio autor. É certo que em seu art. 2.031, o NCC dispõe claramente que as associações, sociedades e fundações devem se adaptar a ele até 11 de janeiro de 2.007. A assembléia foi realizada em outubro de 2.007, quando o contrato social já devia estar adaptado ao NCC. Resta saber quais os efeitos da postergação da adaptação. Remanesce na doutrina rumoroso debate acerca da natureza jurídica do contrato Apelação Civel n a 994.09.289743-1 - PRESIDENTE EPITÁCIO - Voto n a 9.810 - fl. 4
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÂO PAULO social, e se geraria ele ato jurídico perfeito e direito adquirido, incólume às alterações supervenientes de lei (cfr. Nelson Rosenvald, Código Civil Comentado, diversos autores coordenados por Antônio Cezar Peluso, 3 a. Edição Manole. p. 2.217). De qualquer modo, a lei não compele os sócios à adaptação. Caso não o façam, apenas haverá a equiparação da sociedade civil a uma sociedade irregular. 5. Os demais argumentos do recorrente também não se sustentam. Insiste o recorrente que as demais alterações sociais, inclusive aumento de capital e nomeação de sócio administrador, dependeriam de prévia autorização do Ministério das Comunicações. O artigo 98 do Decreto n 2 52.795 exige aprovação do Ministério para alteração do contrato social e, não, para qualquer deliberação tomada em Assembléia. Nem a fixação do prazo de 30 dias para integralização das cotas, nem a eleição do novo administrador configuram alteração do contrato social, não se exigindo, pois, aprovação do Ministério das Comunicações. Além disso, vale frisar que referido artigo 98 aplica-se somente a concessionárias e permissionárias de serviços de radiodifusão, o que não é o caso da sociedade-apelada (ou pelo menos, não o era na data de realização da Assembléia). Isso porque, em 27 de outubro de 2.007, data da realização da assembléia, ainda não fora editado o Decreto- Legislativo que lhe outorgaria a permissão. Tudo o que a sociedade Apelação Cível n a 994.09.289743-1 - PRESIDENTE EPITÁCIO - Voto n a 9.810 - fl. 5
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÀO PAULO tinha, à época da realização da Assembléia, era uma Portaria do Ministro das Comunicações, expressa em afirmar que só produzirá efeitos após deliberação do Congresso Nacional. 6. Assim, devem ser consideradas válidas todas as decisões tomadas na assembléia, sendo vistosa a improcedência da ação. Apenas para que não pairem dúvidas, a integralização do capital social, suspensa por força de liminar judicial, deve ser feita no prazo remanescente de dois dias, contados da intimação deste Acórdão. As verbas de sucumbência foram bem fixadas e não comportam reparo. provimento ao recurso. Diante do exposto, pelo meu voto, nego : RANCISCO LOUREIRO Relator Apelação Cível n e 994.09.289743-1 - PRESIDENTE EPITÁCIO - Voto n e 9.810 - fl. 6