ASSIMILAÇÃO E RESTRIÇÃO: CONDICIONAMENTO DE CODA E ONSET COMPLEXO EM XAVANTE



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APOIO: Este artigo está disponível para download no seguinte endereço: http://www.etnolinguistica.org/site:abralin2009 Todos os direitos reservados: ABRALIN EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Magno Nicolau REALIZAÇÃO: ABRALIN ISBN 978-85-7539-446-5 A534 Anais - VI Congresso Internacional da Abralin / Dermeval da Hora (org.). - João Pessoa: Ideia, 2009. 4604p. VOLUME 2 1. Lingüística 2. Hora, Dermeval da. CDU 801 EDITORA LTDA. (83) 3222 5986 www.ideiaeditora.com.br ideiaeditora@uol.com.br Foi feito o depósito legal Impresso no Brasil

3084 ASSIMILAÇÃO E RESTRIÇÃO: CONDICIONAMENTO DE CODA E ONSET COMPLEXO EM XAVANTE Wellington Pedrosa Quintino UNEMAT / UFRJ De acordo com o estabelecido por Clements & Keyser (1983) e Clements & Hume (1985) dentre outros autores, a sílaba é uma estrutura constituída hierarquicamente por um elemento opcional, o Onset e por outro obrigatório, a Rima. Este pode ser subdividido em núcleo, que também é obrigatório, e em Coda, que por sua vez é opcional. Segundo Clements e Hume (1985), os constituintes da sílaba não estão diretamente ligados à melodia segmental, ou seja há entre eles uma camada chamada esqueleto. Esta é constituída por unidades de tempo X s (ou posições) (ou consoantes e vogais) de forma que oegmentos associados às unidades de tempo (ou posições) X s são estruturados em termos de traços. Sobre os mecanismos formais que atuam na especificação da estrutura da sílaba, Harris (1985:4) descreve a organização intra-silábica como sendo "(a) um conjunto de regras que se aplicam às correntes de fonemas fornecidas pelo léico, formando grupos de segmentos dentro de um constituinte rotulado e (b) um conjunto de filtros que marcam constituintes como desvianteob condições especiais". Tomaremos para nossa análise dos constituintes internos da sílaba em Xavante os aportes teóricos da fonologia de Geometria de Traços, mais especificamente Clements and Hume (op. cit) e por questões de simplificação usaremos a teoria da sílaba assim como descrita por Clements and Keyser (op. cit). No que diz respeito à constituição interna dos tipoilábicos, qualquer um dos fonemas vocálicos orais ou nasais da língua Xavante pode ocupar a posição de Núcleo. Postulamos assim uma primeira regra de silabificação para o Xavante. Conforme Harris, (op. cit), o núcleo será projetado a partir de cada vogal. Quanto ao Onset, todos os fonemas consonantais da língua podem ocupar essa posição eceto o glide palatal que só ocorrerá nessa posição quando funcionar como alofone de [z] na fala rápida. Como segunda regra de silabificação, postulamos que a primeira consoante à esquerda da vogal será incorporada ao ataque. Já a ocupação da posição Coda se restringe às labiais [p], [b], [m]. Também pode ocupar posição de Coda o glide palatal [j]. Em Xavante o Onset é projetado obrigatoriamente em início de palavra sendo que a consoante epentética default, ou seja, o preenchimento default de posições esqueletais vazias é sempre o ///. Em início de sílaba ocorrem os fonemas p, b, m, t, d, n, ø, N, Ä, R, s, z, w e?, portanto segmentados no Onset. Ocorrem também em posição de Onset oegmentos [S], [ts], como alofones de [s], [dz] e [j] como alofones de [z]. Também ocorrem, em posição inicial de sílaba, os clusters [pr] [br], [mr] [?w]e [?R], sendo que em início de palavra [br] não ocorre. Em meio de palavra ocorrem todos os clusters eistentes na língua e em final de palavra todos ocorrem com eceção de [?R]. Observando a realização desseegmentos compleos nas posições acima registradas e sabendose que a realização do cluster em início de palavra evidencia uma posição forte na sílaba, podemos dizer que em Xavante eistem de fato três possibilidades de combinação de segmentos, sendo que pr e mr ocorrem em sílabas do tipo C 1 (R)VC 2, onde C 1 será sempre p ou m e C 2 será sempre j ou b, como em: a) [pra)j.re] mais ou menos b) [mra)b.di] faminto Esse tipo silábico ocorrerá sempre em início de palavra. Já aílabas do tipo C(R)V, poderão ocorrer em início, meio e final de palavra como em: a) [?R.mRa.di] escuro b) [da.za.daj.pr ] saliva c) [o)äa#)sirena)# )tetemro)] 'ele está contando os ovos d) /o)äa #) sire - na) #) te - temro/

3085 pron3pess pássaro 3sing contar Podemos dizer também a partir dos dados acima que [br] se realiza como uma variação de [mr] em posição inicial de palavra, visto que início de sílaba marca sempre uma posição forte na língua. Ocorrem em posição final de sílaba, portanto em posição de Coda apenas as labiais /p/, /b/ e /m/ e a palatal /j/. Esseegmentos podem ser interpretados como incompletamente especificados para os traços (+- Voz) e (+-Nas) visto que sua especificação quanto a esses traços depende da consoante seguinte. Dessa forma a língua só admite Coda interna, como será analisado mais adiante. Quanto ao segmento [?], ocorre sempre em posição de Onset, sendo que em posição inicial de palavra ele é previsível, ocorrerá sempre antes de vogal e formando cluster com glide labial [w] ou tepe [R] e em posição medial de palavra ele pode ocorrer ou não. Dito de outra forma em início de palavra ele é fonético enquanto que em meio de palavra ele é fonológico. Como demonstraremos mais à frente. Regras particulares e condições universais: Para eplicitar a formação da sílaba em Xavante, ou seja, como uma seqüência de segmentos se estrutura em sílabas, ou ainda como a sílaba é gerada no curso da derivação, basearemos nossa análise na proposta de Clements e Keyser (op.cit). Estes autores consideram que a silabificação de uma seqüência de segmentos é feita por meio de regras de criação de estruturailábicas, ou seja, regra de formação de núcleo, regra de formação de Onset e regra de formação de Coda. Regras de formação de Onset em Xavante: Regra 1: todo segmento consonantal pode constituir um Onset em Xavante; Regra 2: uma labial seguida por um tepe pode ocupar posição de Onset; Regra 3: uma oclusiva glotal seguida do glide labial pode ocupar essa posição; Regra 4: o preenchimento default de Onset vazio é a oclusiva glotal Regras de formação de Coda em Xavante: Regra 1: em Xavante, as consoantes labiais podem ocupar essa posição; Regra 2: em Xavante a palatal j pode ocupar essa posição. Regras de formação de núcleo: Em Xavante todas as vogais orais ou nasais podem ocupar essa posição. Assimilação é uma das regras fonológicas mais recorrentes nas línguas. A fonologia gerativa padrão caracteriza assimilação em termos de cópia de traços, de forma que um segmento copia as especificações de traço de um segmento vizinho. Para Geometria de Traços, segundo Clements & Hume (op.cit.), regras de assimilação são caracterizadas como associações ou espalhamento de traços ou nós F de um segmento A para um segmento vizinho B, como em: A B ou B A F F O que pretendemos aqui é, a partir da descrição doegmentos ditos marginais em Xavante, evidenciar a ocorrência de regras de assimilação ou espalhamento como caracterizados pela Geometria de Traços. As línguas naturaião translingüisticamente mais ou por vezes menos marcadas no que diz respeito às restrições estruturais que se referem ao tipo de sílaba (Onset, No-Coda, *Onset Compleo, *Coda Complea). Analisaremos agora as restrições estruturais da sílaba em Xavante. Em Xavante, no domínio da Coda eiste uma restrição que proíbe que ocorra qualquer estrutura que não seja um doegmentos: /p/, /b/ ou /m/ que se encontram em distribuição complementar neste ambiente e a palatal /j/. De acordo com Cagliari (1998:31) "a fonologia estruturalista interpreta como arquifonemas os fonemas neutralizados, ou porque acabam em distribuição complementar em um determinado conteto ou porque um dos pares da oposição não ocorre em um ambiente ou em casos de overlapping quando se desfaz uma oposição". Na verdade as fonologias de geometria de traços não operam com a noção de arquifonema, nem mesmo com a noção

3086 de fonema no sentido estruturalista embora este apresente um status fonológico diferenciado ou seja segmentoubespecificados. A restrição que proíbe que ocorra na coda qualquer estrutura que não seja oegmentos [p], [b], [m] e [j] pode ser representada como *Coda Coronal, *Coda Dorsal. Como em: s O R N Co [p, b, m, j] Como observado acima as estruturas CVC e CCVC só serão possíveis em posição inicial ou medial de palavra ou seja não é possível Coda final em Xavante, apenas Coda interna. Pois como esta não é especificada quanto ao traço sonorante, necessita de um outro segmento, vogal ou consoante para tanto. Registramos a seguir como se dá a formação da Coda em Xavante a partir doeus possíveis ambientes de ocorrência baseando nossa análise na proposta de Clements & Keyser (1983) e conforme as regras de silabificação sobre citadas. Tomamos como eemplo: [zom.èto)] castanha grande [wap.sœ)] cachorro [R b.èze] agradável (a) (b) (c) C V C C V C V C C V C V C C V R b z E z o m t o) w a p s Œ) Elementos V são pré-associados à silaba. (a) (b) (c) C V C C V C V C C V C V C C V R b z E z o m t o) w a p s Œ) Elementos C imediatamente anteriores à vogal serão associados ao ataque. (a) (b) (c) C V C C V C V C C V C V C C V R b z E z o m t o) w a p s Œ) Os elementos /p b m/ inicialmente desligados, associam-se à Rima anterior, tornando-se assim Coda da primeira sílaba, satisfazendo as condições de boa formação de Coda na língua. Observamos que nos dados acima, antes de Onset plosivas e fricativas o traço de vozeamento é assimilado pela Coda que o precede. Propomos a seguinte representação para descrever a derivação / formação da Coda em Xavante levando-se em consideração as regras de silabificação propostas anteriormente:

3087? R p Èz E Representação fonológica? R p Èz E Associação a Rima anterior N Co N =>? R p Èz E Inserção do glotal; assimilação do traço [Voz]. N Co N? R b Èz E Representação Fonética Essa assimilação pode ser representada como segue: Co O Co O /p/ / z/ => /b/ / z/ Lar Lar Lar Lar = [-voz] [+voz] [+voz] [+voz]

3088 Analisaremos agora o condicionamento de Coda em Xavante a partir de seus ambientes específicos: 1. V_.N [NŒ)m.NŒ)] pássaro [wam.ènœ) Ri] [R m.èno).mri)] sacrifício advinhar [um.øi).èœ)] arma Quando o Onset é uma nasal, os traços de vozeamento e nasalidade são assimilados pela coda. Propomos a seguinte representação para descrição de assimilação de Coda antes de Nasal: s / \ O R N X? u b ø i)? a) Representação Fonológica; s / \ O R N X? u b ø i)? a) Preenchimento da posição Onset; s / \ O R N X? u b ø i)? a) A consoante /b/ inicialmente desligada, associa-se à Rima anterior, tornado-se assim Coda da primeira sílaba. s / \ O R N Co? u b ø i)? a) Assimilação do traço [Nasal] do Onset seguinte.

3089 s / \ O R N Co N N X? u m ø i)? a) Representação Fonética arma A assimilação da nasal acima mencionada, pode ser representada como em: b r 1 n r 2 Lar SL Lar SL [-voz] Ponto 2. V_.Ä [i)^.r m.èä«] [R m.èäu.ri] [zom.èäu.rœ)] [zom.èäi] [nas] Ponto longe trabalho formiga preta castanha fina Quando o Onset é uma fricativa velar, nesse caso a Coda reage assimilando o traço de vozeamento e se realiza como nasal, assim temos: z o p ÈÄ i Representação fonológica; z o p ÈÄ i A consoante [ p] inicialmente desligada associa-se à Rima anterior;

3090 N Co N => z o p ÈÄ i Assimilação do traço [Voz] do Onset seguinte N Co N z o m ÈÄ i Representação fonética castanha fina A assimilação do traço nasal ainda precisa ser melhor analisado, ou seja porque não poderia ser [zob.èäi] mas apenas [zom.èäi]. 3. V_.?v [sib.è/e.ze] faca Antes de glotal a coda parece assimilar o traço +Voz da vogal que segue, entretanto não dispomos (até agora) de dadouficiente para confirmar ou refutar esse hipótese. A princípio tentamos representar essa assimilação de Coda como segue: s / \ O R N X s i p È/ E z E Representação fonológica s / \ O R N X s i p È/ E z E Associação à Rima anterior s

3091 / \ O R N Co X s i p È/ E z E Assimilação do traço [Voz] do núcleo seguinte s / \ O R N Co s i b È/ E z E Associação do glotal ao Onset s / \ O R N Co N N s i b È/ E z E Representação fonética faca Levantamos a hipótese de que talvez a assimilação ocorra ao nível da sílaba e não do segmento, dessa forma não haveria cruzamento de linhas. 5. V_.?R [Na)m.È?Re] [Na)m.È?Ri] [R b.è?re] [R b.?rœ).èsu.tu] fazer esteira trançar seca matar gente A mesma restrição que faz com que ocorra na coda apenas oegmento p, b, m e j também não admite que ocorra como ataque qualquer estrutura que não seja, pr, br, mr e?r. Um problema

3092 ocorre então quando o Onset seguinte for um tepe, como em CVC.R ou (?)VC.R. Nesse caso, por vezes a consoante que antecede assimila o traço [+Voz], funcionando normalmente como coda [b] [p] e [m] e por vezes, pode-se observar a preferência pela formação de Onset compleo, como nos dados que seguem: [*R b.èr ] / [R.bR ] agosto [*i.wab.r e] / [i.wa.bre] [*R m.ra.di] / [*R m.bra.di] / [R.mRa.di] escuro Assim propomos a seguinte representação para a assimilação da Coda nesse ambiente: R m R Representação fonológica R m R Assimilação do traço [Voz] do Onset seguinte. R b R Associação ao Onset seguinte

3093 N N R b R Representação fonológica seca O traço + ou - vozeado do onset seguinte de qualquer forma é determinante na especificação da coda, independentemente da posibilidade de formação de Onset compleo nessa língua. Postulamos que em Xavante ao nível do segmento eiste cluster tautosilábico, entretanto ao nível silábico é proibido Onset Compleo na língua. De forma que a língua ressilabifica para manter o padrão CV, que em Xavante é o padrão default. Há também uma outra possibilidade de formação de coda que ocorre em Xavante conforme o eemplo (14e), podemos observar a ocorrência de uma forma que no Xavante da aldeia Pimentel Barbosa ocorre na fala normal wa.se.te.re.di, enquanto na fala rápida o Xavante resilabifica como em *was.te.re.di, dando assim preferência a formação de Coda. Entretanto contraria uma regra que havíamos proposto anteobre as possibilidades de Coda em Xavante. ò a) [wa.se.te.ère.di] [*was.te.re.di] mau s / \ O R N N N N N w a s E t E R e d i Representação fonológica s / \ O R N = N N N N w a s E t E R e d i Associação do Onset à Rima Anterior s / \ O R

3094 N Co N N N N = X w a s E t E R e d i Desligamento do segmento núcleo N Co N N N w a s t E R e d i Representação fonética mau A partir dos dados acima analisados propomos inicialmente a seguinte interpretação para o condicionamento dos traços [voz] e [nasal] na especificação da Coda em Xavante: quanto ao gatilho para a sub-especificação da coda em avante, este é sempre o Onset da sílaba seguinte, seja ele nasal, obstruinte, tepe, vibrante ou glotal; quanto ao domínio; Esse condicionamento aplica-se a coda de todas aílabas, tônicas ou átonas, iniciais ou mediais no domínio prosódico da palavra fonológica e quanto às característica esse condicionamento é visto como uma assimilação,chamada espraiamento, na Fonologia de Geometria de Traços (FGT), do traço Voz. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CLEMENTS, G.N. & HUME, Elizabeth V. The internal organization of speech sounds. In J. Goldsmith (org.) The Handbook of Phonological Theory. Cambridge, Mass.: Blackwell, p.245-306. 1995. CLEMENTS, G.N. & KEYSER, S. Jay. CV Phonology: a generative theory of the syllable.cambridge, Mass.: MIT Press. 1983. HARRIS, J. Syllable Structure and Stress in Spanish, Cambridge, Mass.: MIT Press. 1995. QUINTINO, Wellington Pedrosa. Aspectos preliminares da fonologia Xavante. Dissertação, 2000, UNICAMP. STERIADE, Donca. Underspecification and markedness. In J. Goldsmith (org.) The Handbook of Phonological Theory. Cambridge, Mass.: Blackwell, p.114-174. 1995.