UMA INCLUSÃO POSSÍVEL: UMA CLASSE HOSPITALAR

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Transcrição:

UMA INCLUSÃO POSSÍVEL: UMA CLASSE HOSPITALAR Emerson Nunes de Almeida UFRN nunespedagogo@yahoo.com.br RESUMO Objetivo do trabalho é apresentar a alfabetização em um espaço hospitalar como prática libertadora para os alunos que encontram-se hospitalizados. Para a realização desse trabalho se faz necessário à realização de uma pesquisa bibliográfica que permitisse compreender as relações existentes entre a educação e o ambiente hospitalar. Uma vez que um estudo dessa natureza requer uma análise da totalidade dos elementos constitutivos desse cenário. A pesquisa foi realizada na clínica de hemodiálise (Natal-RN), como metodologia foi adotada a triangulação dos dados a partir dos seguintes instrumentos: um questionário; a intervenção pedagógica; a observação de campo durante oito meses de pesquisa; análise do prontuário dos pacientes partindo do diário de bordo da professora, conversas informais com os alunos. As análises revelam que os alunos concebem hospital como um ambiente doloroso onde sofrem procedimentos invasivos e o evento hospitalização é percebido como acarretador de rupturas com a sua vida cotidiana. Apesar da maioria não se sentir bem nesse contexto de transtornos e enfrentamentos, de modo geral, os participantes mostraram que o evento hospitalização não impede que novos saberes possam ser adquiridos e expõem seus desejos de realizar atividades escolares como uma forma de ajudar a enfrentar momentos dolorosos da sua vida. Palavras Chaves: Aprendizagem; hospital; Saúde; Educação e Classe hospitalar. INTRODUÇÃO O atendimento pedagógico em ambiente hospitalar é reconhecido pela legislação brasileira como direito da continuidade de escolarização daqueles que se encontram hospitalizados (CNDCA 1995). O atendimento Pedagógico Hospitalar teve seu inicio no Brasil, segundo Fonseca (1999), na década de 1950, na Cidade do Rio de Janeiro no Hospital Jesus, serviço esse que se mantêm até a atualidade; servindo como um resgate do paciente, fazendo um elo entre sua realidade atual, como interno, e a vida cotidiana. Para o paciente essa situação de encontrar-se hospitalizado implica mudanças radicais em seu cotidiano, e essa adaptação ao ambiente hospitalar é dificultada quando existe a falta de esclarecimentos dos pais e dos próprios pacientes sobre o que está

acontecendo, qual é a sua patologia, o que isso significa, e como funciona a rotina do hospital. Nesse sentido a pedagogia hospitalar pretende integrar o paciente no seu novo modo de vida tão rápido quanto possível dentro de um ambiente acolhedor e humanizado, mantendo contatos com o meio exterior privilegiando as suas relações sociais e reforçando os laços familiares. Podemos entender pedagogia hospitalar como uma proposta diferenciada da pedagogia tradicional. Uma vez que, se dá no âmbito hospitalar e que busca construir conhecimentos sobre esse novo contexto de aprendizagem que possam contribuir para o bem estar do aluno enfermo. Assim a função do pedagogo/professor necessita ser de ressignificação do espaço hospitalar. Porém, nada impedirá que este seja, simultaneamente, um espaço educativo, e mais tarde, um espaço escolar, para aqueles que permanecerem mais tempo internados. Dessa forma, percebe-se nesse contexto intersubjetivo do hospital, em que se interpenetram os conceitos de educação e saúde, uma nova perspectiva de educação que fertilize a vida, pois o desejo de aprender e conhecer engendra o desejo no ser humano. A prática pedagógica nesse espaço exige dos profissionais envolvidos maior flexibilidade, por tratar-se de uma clientela que se encontra em constante modificação, tanto em relação ao número de pacientes que irão ser atendidos pelos professores, bem como, no que diz respeito ao tempo que cada uma delas permanecerá internada e ainda o fato de serem pacientes com diferentes patologias, requisitando diferentes intervenções. A INCLUSÃO DO SUJEITO POR MEIO DO ATENDIMENTO PEDAGÓGICO A participação ativa do sujeito na sociedade na qual estar inserido é uma prática e um exercício democrático. Para isso, a sociedade civil manifesta essa prática por meio das suas próprias escolhas. Chegando a manter ou até substituir indivíduos no

exercício do poder. Para Demo (1998), a participação, ou seja, quando o individuo toma consciência do processo democrático, ele estar participando. Nesse sentido, a cidadania é vista como qualidade de desenvolvimento social e consequentemente de equidade. Sendo assim, um produto organizado sob a forma do usufruto de direitos e deveres que serão efetivamente reconhecidos. Dessa forma, faz- se necessário aplicar e promover a todos os indivíduos da sociedade um conjunto de direitos e de deveres comuns, para que a cidadania passe a ser vista e vivenciada em sua totalidade por todos que integram a sociedade. E, assim, seria efetivado as questões de autonomia, democracia e, com o avanço dessa prática social, teríamos o desenvolvimento individual, social, econômico e político. Com essa explanação pode-se afirmar categoricamente que o processo de libertação e de resgate da cidadania se dá primeiramente pelo processo educativo. E, considerando a importância e a necessidade da educação para que os sujeitos possam participar ativamente das decisões democráticas e, assim, vivenciar ativamente a democracia. Segundo Freire (2001), educar é construir e libertar o ser humano do determinismo do sistema vigente. Entretanto, ensinar requer aceitar os riscos de desafiar o novo, rejeitando quaisquer formas de preconceito que separem as pessoas em raças, classes ou credos, situações sociais, culturais ou políticas. Assim, a proposta de alfabetizar e ensinar pacientes em tratamento de hemodiálise mostra-se como uma proposta que, justamente, aceita mudanças e busca a inclusão de todos os participantes, independentemente de sua posição. Dessa forma, o individuo hospitalizado não deixa de ser individuo por se torna paciente. Ela caracteriza-se por intensa atividade emocional, movimento e curiosidade. A educação no hospital precisa garantir para o aluno a cidadania, ainda que associado à doença. Assim, o trabalho pedagógico em hospital não possui uma única forma de acontecer. O professor tem de se reconhecer como pesquisador do seu fazer, buscando

novas respostas para eternas perguntas. Por meio das atividades desenvolvidas junto aos alunos podem-se observar as diversas formas de atuação que o professor pode assumir em uma enfermaria. Como ouvinte, o professor trabalha com a emoção e a linguagem, buscando resgatar a autoestima do aluno hospitalizado. Muitas vezes o paciente tem a necessidade de falar sobre suas doenças e precisam de alguém que os escute. A linguagem permite, assim, ao ser humano, ultrapassar o concreto e o imediato, fornecendo conteúdos para a reflexão consciente, mesmo que posterior à ocorrência dos fatos. Assim, o papel da educação no hospital e, com ela, o do professor, é proporcionar o aluno o conhecimento e a compreensão daquele espaço, ressignifcando-o não somente a ele, como o próprio indivíduo, sua doença e suas relações nessa nova situação de vida. Desse modo, a pedagogia hospitalar deve valorizar o espaço de expressão coletiva ou individual. E como professores, temos que respeitar a tristeza e o silêncio do aluno hospitalizado. Daí a concepção e a prática de uma escuta pedagógica e de uma educação da emoção, ampliando o conceito de educação atualmente defendido. Com professores no hospital, os alunos hospitalizados por um longo tempo, ou que desejarem, podem ter ainda a oportunidade de trabalhar seus conhecimentos escolares quase que individualmente. Uma vez que, o número é reduzido. Mas não só os conhecimentos escolares devem ser privilegiados. Há nossas classes um saber procedimental, que somente o aluno que possui uma seringa com medicação intravenosa injetada na superfície de sua mão conhece. Esse conhecimento permite ao aluno a realização de atividades manuais gráficas, próprias de um acompanhamento pedagógico, sem deixar que aquela saia de sua veia, ou que um movimento brusco rompa a veia, causando dores e hematomas. Criando dessa forma, estratégias de sobrevivências a partir dos desafios impostos pela hospitalização. Assim, no decorrer do acompanhamento pedagógico constatou-se, com gestos, palavras e comportamentos, sensíveis na forma como os alunos reagem a hospitalização e a doença. Os resultados que esta pesquisa aponta levam-nos a compreender que o papel da educação junto ao individuo hospitalizado é resgatar sua subjetividade,

ressignificando o espaço hospitalar por meio da linguagem, do afeto e das interações sociais que o professor pode propiciar. Portanto, é de fato possível pensar o hospital como um espaço de educação para internados. Mais do que isso, é possível pensá-lo como lugar de encontro e transformações, tornando-o um ambiente propicio ao desenvolvimento integral do aluno. O COTIDIANO NA CLASSE HOSPITALAR A análise que será apresentada é resultado de informações oriundas das observações registradas em diário de bordo, dos diálogos e das produções gráficas dos sujeitos em estudo. O objetivo do uso desses recursos metodológicos era acompanhar as pequenas mudanças no comportamento dos alunos hospitalizados. O é algo tão comum nas enfermarias, quanto as lamentações e choros. A opção de Zacarias, um dos sujeitos da pesquisa, foi o silêncio. Mas sua expressão facial falava. Os estados afetivos encontram no tônus e na plástica gestual seu canal mais transparente de expressão. A essa linguagem silenciosa do corpo, Wallon (1975) chamou de motricidade expressiva. No trabalho pedagógico em hospital, o professor devido à sua espontaneidade, como um de seus canais mais importantes de comunicação. O tema escola aparece, para aqueles eu estão hospitalizados, como referências à vida normal e saudável e à identidade daqueles que são normais e saudáveis e, portanto, está fora do hospital. Ou seja, não era o conteúdo didático que Zacarias estava buscando quando me pediu um livro de escola, mas sim o reconhecimento de sua autoestima presente na figura daquele que é capaz de estudar. Esse desejo e a possibilidade de aprender, ainda que doente, já havia sido acenado por ele quando fez menção ao jogo de xadrez. O papel da escuta pedagógica aparece como oportunidade do aluno se expressar verbalmente, e também, como a possibilidade da troca de informações, dentro de um diálogo pedagógico contínuo e afetuoso. A relação pedagógica é sempre dialógica, e a escuta pedagógica fez-se presente quando Zacarias quis com contar aos

professores marcas de sua dor, ao contar como ficou doente, quase morreu e foi para ali. Mesmo diante das mais inesperadas situações, o bom humor é uma forma de manter aberto o canal de comunicação. Ao relaxar a contração muscular, o riso alimenta emoções propiciadoras de bem-estar físico e emocional. A escuta pedagógica parece ser o caminho trilhado, pois marca o diálogo não somente como a forma do aluno expressar seus sentimentos, mas também organizar pensamentos idéias a partir da linguagem. Além disso, o diálogo pressupõe uma outra relação, que pode trazer informações ou esclarecimentos relevantes que auxiliem o individuo a compreender melhor a realidade que o cerca. Negar-se a desenhar o hospital, como fez a Sra. Maria de Lurdes, não é uma atitude rara na enfermaria. Embora o desenho seja uma das atividades mais requisitadas em sala. A maioria deles prefere desenhar qualquer coisa. Pode-se então interpretar essa rejeição ao desenho do espaço hospitalar, pelo fato não prazeroso, em que vive momentos tristes e dolorosos de sua vida. Por meio do desenho exprimem seus sentimentos, cria fantasias e recria realidades. Assim, o desenho deve ser analisado, como uma atividade ideológica na qual o individuo trabalha ludicamente sua imaginação e seus desejos. Segundo Wallon (1941) o desenho, que é uma forma de expressão, é revelador de pensamentos, por que também é uma forma de linguagem. Pelo desenho o aluno demonstra o conhecimento conceitual que tem da realidade e quais os aspectos mais significativos de sua experiência juntamente com o brincar, o desenho é a forma de expressão privilegiada. Os momentos de interação com o grupo propiciam os alunos oportunidades de desenvolver plenamente sua inteligência (Wallon, 1975) alerta-nos que o desenvolvimento da inteligência não se dá isoladamente no interior de organismos individuais, mas está vinculado no desenvolvimento global do ser humano, seja social, biológico e afetivo, em todas as épocas de suas vidas.

REFERÊNCIAS: BARROS. Alessandra Santana Soares e. Contribuições da educação profissional em saúde à formação para o trabalho em classes hospitalares. Educação da criança hospitalizada: As várias faces da pedagogia no contexto hospitalar. São Paulo. CEDES, 2007, (p.257-278). BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais da Secretaria de Educação. Brasília, 1997. CECCIM, R. B. & Fonseca, E. S. Atendimento pedagógico-educacional hospitalar: promoção do desenvolvimento psíquico e cognitivo da criança hospitalizada. In: Temas sobre Desenvolvimento, v.8, n.44, p. 117, 1999. CECCIM, Ricardo Burg; FONSECA, Eneide Simões da. Classe hospitalar: buscando padrões referenciais de atendimento pedagógico-educacional à criança e ao adolescente hospitalizados. Integração, v.21, (p. 31-40). 1999. DEMO, P. 2001a. Saber Pensar. Cortez, São Paulo, 2a ed. FONSECA, Eneide Simões da. A Situação Brasileira do Atendimento Pedagógicoeducacional à Criança e ao Adolescente Hospitalizado. Disponível em: < http ://www2.uerj.br/escolahospitalar >. Acesso em: 10 de Nov.2011. FREIRE, Paulo. Direitos humanos e educação libertadora. In: FREIRE, Ana Maria Araújo (Org.) Pedagogia dos sonhos possíveis/ Paulo Freire. São Paulo: Editora UNESP, 2001.