NOVAS CONFIGURAÇÕES NO TECIDO URBANO: ITAPURANGA E SOCIABILIDADE Venusa Tavares Lima* *Graduanda em Geografia pela Universidade Estadual de Goiás, Câmpus de Itapuranga, bolsista PIBID (Capes). E-mail: venusatl@hotmail.com Resumo: Compreender o espaço urbano de uma cidade é bem mais que a dimensão territorial e delimitação da cidade é compreender a sociedade e suas aflições e necessidades cotidianas submetida as interferências do capital. Sendo assim o objetivo deste trabalho é descrever as novas formas do tecido urbano da cidade de Itapuranga, a sujeição da produção capitalista e como se dá, ali, as relações de sociabilidade. Para que isto seja possível esta pesquisa se deu nos seguintes procedimento o levantamento teórico para se trabalhar conceitos utilizados, analise de fotografias, entrevistas com moradores de bairros diferenciados e analise de fotografias antigos para se confrontar com a realidade observada. De início, foi identificado grande interferência de aparelhos técnicos influenciando significadamente na sociabilidade dos moradores mais esperamos ainda analisar como as forças capitalistas também influencia nestas relações e a que nível é alterado as formas do espaço urbano da cidade. Espera se que esta pesquisa contribuía com o conhecimento das formas urbanas de uma cidade considerada pequena, já que muitos estudos urbanos são direcionados a metrópoles. Palavras-chave: Itapuranga, formas, sociabilidade. Introdução Compreender o espaço urbano de uma cidade é bem mais que a dimensão territorial e delimitação da cidade, é compreender a sociedade e suas aflições e necessidades cotidianas submetida as interferências do capital. As mudanças que ocorrem no espaço urbano ao longo do tempo de modo aleatório e singular juntamente com as mudanças sociais, motivou este estudo de caso na cidade de Itapuranga pois
mesmo sabendo que ocorreu mudanças significativas em seu espaço urbano, motiva saber que mudanças foram e o nível delas dentro do recorte temporal trabalhado. O fascínio pelo tema se deu por uma inquietação e preocupação pessoal com as atuais modificações das relações de vizinhanças nas cidades hoje. Para a geografia compreender as relações sociais de vizinhanças que se dá dentro do espaço urbano permite compreender a sociedade que constrói e reconstrói o espaço urbano. As sociedade que compõe, a história da construção da cidade, influência do capital e diversos outros fatores vai influenciar de modo direto ou indireto como este espaço urbano vai se organizando ao longo do tempo. A cidade de Itapuranga diferente de algumas cidades não tem em sua formação aspecto de uma cidade que surgiu no período da mineração, pois seu surgimento se deu após este período. Se trata de uma cidade que surgiu bem depois deste período. Na verdade surge na necessidade de um grupo de fazendeiros próximo de terem ali alguns serviços que só eram encontrados na cidade de Goiás. Itapuranga surgiu a partir de terras doadas a Frades Dominicanos e a partir da construção da igreja e das diversas necessidades de pessoas que moravam por perto, como consta nas informações disponíveis pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) A origem desta povoação data de 1933, quando os frades dominicanos, sediados na cidade de Goiás, requereram do Estado um título de posse de um lote de terras devolutas, situadas à margem esquerda do Ribeirão Canastra, para a formação de um patrimônio, sob a invocação de São Sebastião. (IBGE, 2011). Hoje Itapuranga não possui as mesma características de sua origem pois seu espaço ao mesmo tempo que aumentou foi se reorganizando de diversas formas diferentes. Este trabalho se designa como qualitativo pois analisa variáveis relevantes. Se dará através dos seguintes procedimentos: o levantamento bibliográfico; a pesquisa em campo com observações e análise das relações cotidianas em uma convivência intensa com a população, sobreposições de mapas na cidade, entrevistas
com narrativas orais com a população mais velhas da cidade de Itapuranga que tenha vivido em Itapuranga nos últimos 20 anos, fotos e imagens de Itapuranga de 1984 a 2014, em diversos lugares para foto-entrevistas; por último a análise do trabalho em campo que resultará na discursão e elaboração da redação final. Por questões de ética nenhum nome dos entrevistados não foram divulgados. Sendo três entrevistados que contribuiu com esta entrevistas, serão nomeados como entrevistados A, B e C. Entrevistados estes que contribuiu significadamente para os resultados já aqui alcançados. Organização e Re(organização) do Tecido Urbano Impossível pensar uma cidade hoje na mesma rotina cotidiana de alguns anos atrais. Tendo como exemplo a cidade de Itapuranga ou outra, é impossível pensar suas relações sociais e seu cotidiano como a 20 anos atrais que não se tinha a interferência de aparelhos eletrônicos (celulares). Dentro desta concepção Carlos (2004) salienta: A mudança das relações espaço-tempo revela a profunda mudança nos costumes e hábitos sem que as pessoas parecem se dar conta, pois as inovações são feitas de modo gradual, quase despercebidas embrulhadas pela ideologia que aponta a degradação do cotidiano. (CARLOS 2004, p.62) As relações se dão no mesmo tempo e em espaços diferentes, de diferentes modos. Milton Santos coloca em uma importante perspectiva em relação ao tempo, onde fala que: Na cidade atual, essa ideia de periodização é ainda presente; é presente nas cidades que encontramos ao longo da História, porque cada uma delas nasce com características próprias, ligadas às necessidades e possibilidades da época, e é presente no presente, à medida que o espaço é formado pelo menos de dois elementos: a materialidade e os elementos sociais. (SANTOS, 1989, P.21) Sendo assim, as relações sociais se materializam no espaço e o modifica. De acordo com as ideias de Santos, a cidade é um reflexo de sua história ao longo do tempo.
Na realidade, a paisagem é toda ela passado, porque o presente que escapa de nossas mãos, já é passado também. Então, a cidade nos traz, através de sua materialidade, que é um dado fundamental da compreensão do espaço, essa presença dos tempos que se foram e que permanecem através das formas e objetos que são também representativos de técnicas. É nesse sentido que eu falei que a técnica é sinônimo de tempo: cada técnica representa um momento das possibilidades de realização humana e é por isso que as técnicas têm um papel tão importante na preocupação de interpretação histórica do espaço. (SANTOS,1989, P.21). Itapuranga foi como já mencionada, nasceu como um povoado denominado de Xixá por volta de 1934, por doações de terras do governo para Frades Dominicanos, terras que seriam devolutas. A cidade começou a surgir com a construção de uma Capela. Com a implantação de uma loja de tecido e influência de dois fazendeiros da região, começaram a expandir seu desenvolvimento até que por volta de 54 se desmembra da cidade de Goiás para se tornar um município, alterando seu nome para Itapuranga, como consta em dados do IBGE (Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico).
Figura 1: Matriz Nossa Senhora de Fátima de Itapuranga. Ano 1955a 1960 Os primeiros habitantes de Itapuranga como ficou em evidencia através dos entrevistados seriam em sua maioria, mineiros ou descendentes dos mesmos aos poucos a cidade foi se desenvolvendo e novos povos e culturas começou a redesenhar suas formas. Estas mudanças não são visíveis a um curto espaço de tempo mais a partir de vinte anos já se observa algumas mudanças significativa. A população que tinha uma origem principal vai se diversificando a partir de implantação da usina que de biocombustível através da política incentivadora por meados 75 a 80, com vida de pessoas para trabalhar de diversos lugares e estados principalmente do nordeste brasileiro. Itapuranga passou a se reconfigurar as novos modelos e costumes de vida que pode se ter alterado significadamente suas relações sociais. A indústria como e necessidades do capital muda com o tempo e as marcas destas mudanças podem evidentemente ser deixada em números mais também de modo subjetivo e na organização do espaço. A usina instalada a muito tempo na cidade teve suas vira e volta, horas funcionando mais na maioria fechada, mesmo com produção de cana nas terras do município. O resultado em números deixado pela usina e sua influência na cidade de Itapuranga e município pode ser comprovada nos dados do IBGE. Veja tabela a seguir. Ano Itapuranga Goiás Brasil 1991 31.215 4.018.903 146.825.475 1996 27.711 4.478.143 156.032.944 2000 26.740 5.003.228 169.799.170 2007 24.832 5.647.035 183.987.291 2010 26.125 6.003.788 190.755.799 Figura 2: Tabela de populações de Itapuranga, do Estado de Goiás e do Brasil com dados de censos em diferentes períodos. Fonte: IBGE
Na década de noventa a população do município era considerado auto, dando baixa populacional nos períodos seguintes de acordo com os censo realizado por o IBGE. Itapuranga e fotografias: mudanças e novas configurações Observações das fotografias antigas em tempos distintos, da cidade de Itapuranga com sua paisagem atual dos locais fotografados passa para o pesquisador observador da paisagem uma mudança física da cidade ou da materialidade das relações existente como no tipo de comercio existente do que é representado pelas imagens antigas. O uso das imagens para relembrar a cidade aos entrevistado demonstrou algo frutífero, pois além das perguntas reisadas os entrevistados viajavam nas imagens como se retornassem no tempo como foi visto nos relatos da entrevistada A que comenta a respeito da imagem da carroça da panificadora que percorria a cidade (figura 3): Era bão dimais! Eu era nova um pouco mais nova e todo dia esperava pra comprar pão, hoje estou mais velha e tenho que ir na padaria se quiser, essas lojas de hoje tá com nada, nois não falava panificadora, era padaria, e nem mercado, nois falava armazém ou venda. Lá nois achava quase de tudo que precisava, mesmo que naquele tempo não precisava comprar tanta coisa porque sempre alguém colhia muito arroz e outras coisas e nois comprava a saca (Entrevista concedida no dia 16 de junho de 2016). Sobre o uso de imagens e fotografias para a análise das cidades Coelho coloca que elas podem representar os diversos aspectos da relação de sua população com a natureza, e os diversos momentos da ação da cultura ao longo do tempo.
Figura 3: Carroça que fazia entregas de pães e quitandas da Antiga Panificadora Bom Jesus e Panificadora Serra Dourada, por volta de 1959 à 1965... foto de Ed. Gont. Figura 4: vista de uma rua em um bairro de Itapuranga, não se sabe a data provável mais se baseia a mais de 20 anos. Fonte: arquivo da prefeitura municipal.
Ao analisar a figura 4, nos deparamos com um contesto urbano diferente do que se observa hoje. Em uma fala da entrevistada A, ela comenta que esta fotografia parece ser do novo centro de Itapuranga antes da pavimentação, pois as casas antigamente eram assim. Para reforçar a identificação da entrevistada nota se os poste de madeira que em alguns lugares no centro de Itapuranga ainda são de madeira. Itapuranga: evidenciando as novas formas de relações sócias As entrevistas realizadas evidenciou fortemente mudanças das relações sociais e interações dos habitantes, os três entrevistados confirma isto em respostas as entrevistas. Um dos entrevistados nomeado aqui pela letra C, mesmo não morando dentro da cidade contribuiu com a pesquisa já que depende da cidade para busca de suas necessidades básicas como alimentos, saúde, etc. Das perguntas realizadas os principais eram: quanto tempo mora em Itapuranga ou município? Como era feito para comprar alimentos ou roupas em Itapuranga a mais de 20 anos ou no período em que mudou para cá? Hoje você faz do mesmo jeito que naquele tempo? como é hoje? A entrevistada A diz ter vindo nova para cá, por volta de 64. E que naquele tempo como ela havia comentado quando viu a fotografia da carroça da panificadora que não se falava mercado como hoje e sim venda, e que naquele tempo não se precisava comprar de tudo na venda pois quando a família não tinha um pedaço de terra para plantar os principais alimentos comprava de quem tinha em quantidade maior e mais barato, o arroz era pilado em uma máquina quando necessário, as vestimentas comprava na loja o tecido e pedia a uma costureira para fazer quando a mãe não fazia. Comentou ela: Minha mãe costurava nossas roupas, nois era muito irmão. Éramos 11, então ficava caro para fazer tantas roupas, ai ela comprava só o tecido e fazia quase que igual para todos pra não ter briga (Entrevista concedida no dia 16 de junho de 2016).
Sobre como é hoje a entrevistada A disse em suas palavras que hoje é diferente e muito mais difícil pois tem que fazer cadastro com CPF até pra comprar com dinheiro e fila pra tudo depois de tanto ter que andar, pois Itapuranga está bem maior. [...] Eu até falo que antes era mio, porque o que nois precisava tinha na venda, e lá se não tinha dinheiro mandava anotar na conta do pai, quase todo mundo fazia assim e sempre pagava. Agora dá muito trabalho. Eu um tempo atrás fui numa loja compra um trem lá e no dinheiro, tive que fica numa fila pra eles oia meu CPF pra poder pegar o dinheiro (Entrevista concedida no dia 16 de junho de 2016). O entrevistado B é um pouco mais jovem e não se lembra corretamente do período em que veio para Itapuranga mais comenta que antes tudo se baseava na confiança entre a população, e que agora também por questões de memória e o grande número de pessoas de lugares diferente indo e vindo para Itapuranga diz que tem que ser tudo no computador mesmo. Antes era quase todo mundo conhecido ne, agora muita gente de fora vem comprar em Itapuranga e tem que usar o computador mesmo, não dá pra ser no pedaço de papel não, na maioria nem conhece a pessoa (Entrevista concedida em 04 de junho de 2016). A entrevistada C também já é uma senhora de idade, não mora em Itapuranga mais viu suas mudanças ao longo do tempo pois precisa e depende dos serviços básicos encontrado na cidade. Antes era bão que tudo que nois fazia ia vender lá e comprava outas coisas, tudo na venda lá. Agora eles não compra nada que nois vende e é muito caro o queles vende. Nois chegava lá de carroça cheia e vendia tudo e hoje se nois ir de carroça lá capais que atropela nois de carro (Entrevista concedida no dia 16 de junho de 2016). Como já demostrado nos relatos dos entrevistados, eles foram unanimes em demostrar uma mudanças nas relações da população, mesmo em opiniões diferentes sobre estas mudanças. Considerações finais
Desde já, com poucos avanços na pesquisa, fica em evidencia que ao longo do tempo novas forma de socialização vem redesenhando e organizando o espaço urbano da cidade de Itapuranga. As interferências do capital e indústria contribui significadamente para estas mudanças como em Itapuranga atuou a usina para processos de migração de trabalhadores para a cidade. Estes trabalhadores vindo de lugares diferentes causou um modelo de socialização e novos arranjos no espaço. Pode-se dizer que talvez a chegada de novas culturas e modos de interagir possa ter muito contribuído para que as antigas formas de comercio e interações entre as pessoas viesse a se modificar ao longo do tempo. Espera se que esta pesquisa contribuía com o conhecimento das formas urbanas de uma cidade considerada pequena, já que muitos estudos urbanos são direcionados a metrópoles. Referências: CARLOS, Ana Fani Alessandri, O ESPAÇO URBANO: novos escritos sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2004. COELHO, Letícia Castilhos, A Paisagem na Fotografia, os rastros da memória nas imagens, Gpit: Grupo de Pesquisa Identidade e Território acessado em: http://www.ufrgs.br/gpit/wp-content/uploads/2011/03/castilhos-leticia-a-paisagem-nafotografia.pdf, às 13:01 do dia 04/06/2016. IBGE, disponível em http://ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?codmun=521120&search=goias%7c itapuranga%7cinfograficos:-historico&lang acessado em 28/05/2016 às 14:04. IBGE: Censo dos serviços I Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. - Rio de Janeiro: IBGE, 1984. Acessado em http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/gebis%20%20rj/censodosse rvicos/1980_v05_n25_go.pdf, às 19:30 do dia 01/07/2016.
SANTOS, Milton, A URBANISAÇÃO BRASILEIRA Ed. HUCITEC São Paulo, 1993. SANTOS, Milton, O TEMPO NAS CIDADES, Texto extraído da transcrição da conferencia do autor na mesa-redonda O tempo na Filosofia e na Historia, promovida pelo Grupo de Estudos sobre o Tempo do Instituto de Estudos Avançados da USP em 29 de maio de 1989. A transcrição completa foi publicada na Coleção Documentos, série Estudos sobre o tempo, fascículo 2, em fevereiro de 2001. Acessado em www.laboratoriourbano.ufba.br/arquivos/arquivo-71.pdf as 16:17 do dia 10/11/2015. Agradecimentos: Agradeço ao apoio financeira concedida pela PRG (pró-reitora de Graduação) da UEG.