política, cultura & negócios eduardo tessler O jornalismo impresso tem futuro? desafio Brasil As experiências que deram certo pelo mundo Brasil Nuno Ramos: Faço arte para surpreender, não para escandalizar FilosoFando Parlamento britânico, uma lição de simplicidade que pode servir para o Brasil capa Eduardo suplicy: O PT se afastou De suas origens ano 9 nº102 r$12,00 1
EnTREVISTA o Brasil que faz bonito lá fora Por Fabio Pereira Ribeiro Durante anos, existiu um mito de que o brasileiro não desenvolvia o planejamento estratégico. No entanto, as empresas que realmente estão se desenvolvendo, mesmo com os ambientes incertos do país e da economia mundial, são as que mais investiram em estratégia e também em planos que realmente dão sustentação ao desenvolvimento econômico de seus negócios. Essa é a opinião de um dos grandes especialistas em estratégia empresarial no Brasil, Fernando Luzio, CEO da Luzio Strategy Consulting e diretor Brasil da Archetype Discoveries Worldwide. Ele é professor de Estratégia Empresarial do MBA da Universidade de São Paulo (FIA-USP) desde 1999, autor do livro Fazendo a estratégia acontecer, além de articulista da Harvard Business Review. Se compararmos o Brasil com outras potências, como estamos no quesito planejamento estratégico? Diversas empresas têm recebido prêmios internacionais desde 2003, que as reconhecem como benchmarks globais em boas práticas de planejamento estratégico, tais como Unibanco (antes da fusão com o Itaú) e Gerdau. Além das grandes corporações, temos percebido um crescente despertar das empresas de médio porte para a importância da adoção de metodologias de planejamento e modelos de governança que ajudem a garantir a evolução sustentável das suas organizações. Prova disso é o trabalho exemplar que organizações como o Grupo Sotreq e a U&M Mineração e Construção têm realizado no sentido de equipar suas lideranças e colaboradores com os mais modernos métodos de gestão. Assim, não somente grupos empresariais que são antigas celebridades da mídia há mais de 15 anos investindo pesadamente para manter suas empresas na fronteira das práticas de administração, mas também esses local heroes de porte médio e invisíveis para o público têm realizado investimentos significativos para atin- 12 VOTO - política, cultura e negócios - julho - 2013
Temos uma classe empresarial brasileira que já conduziu suas empresas para um patamar de gestão estratégica perfeitamente comparável ao das melhores organizações norte-americanas e europeias Divulgação Fernando Luzio, CEO da Luzio Strategy Consulting 13
EnTREVISTA girem a excelência no planejamento e na gestão estratégica. Portanto, posso afirmar que temos uma classe empresarial brasileira que já conduziu suas empresas para um patamar perfeitamente comparável ao das melhores organizações norte-americanas e europeias. E os grandes problemas estruturais do Brasil, tais como infraestrutura, gargalos logísticos, mão de obra qualificada e educação? O maior desafio do governo não está no pensar a estratégia, mas sim nas inúmeras barreiras à execução da estratégia nas diversas esferas da gestão pública, desde os emaranhados burocráticos das normas, dos processos e das leis que regem a coisa pública, até os constrangimentos políticos que teria de ignorar em prol do desenvolvimento do país. As Parcerias Público-Privadas (PPPs) e as concessões são boas soluções para garantir a implementação das prioridades, mas ainda sofrem por imaturidade e pelas limitações dos marcos regulatórios que as regem. Outra barreira igualmente difícil de transpor no Brasil, e que produz restrições graves às intervenções para o aprimoramento da infraestrutura, são os movimentos e as pressões ambientalistas. Serei sempre a favor da vigilância dos órgãos e das militâncias que defendem o meio ambiente. Porém, não podemos deixar de discutir as soluções que precisam ser criadas (como geração de energia) para garantir a continuidade da vida moderna num país cada dia mais sofisticado no uso de tecnologias aplicadas no trabalho e na moradia. Quais são as vantagens da
cultura empresarial brasileira? No estudo que realizamos, descobrimos que a cultura brasileira tem alma feminina. Somos todos regidos e inspirados pelo arquétipo da mulher guerreira, nossa mais profunda fonte de orgulho nacional. Esse gene predominante no nosso DNA cultural tem diversas implicações estratégicas. Nosso inconsciente cultural é regido pelo ímpeto da integração. Temos a tradição de receber no país, com hospitalidade genuína, imigrantes do mundo inteiro. Essa abertura para receber o desconhecido e explorar as riquezas de outras nacionalidades fomenta nossa criatividade e a capacidade de assimilar as mudanças aceleradas que o mundo contemporâneo impõe. Essa alma feminina também confere ao brasileiro bastante flexibilidade. Apesar de o famoso jeitinho brasileiro ser malvisto por muitos pela direta associação com corrupção, ele é responsável pelo nosso jogo de cintura e pela capacidade de tirar leite da pedra. Por isso somos tão criativos diante de restrições históricas que impedem nosso crescimento temos habilidade de contornar obstáculos e encontrar saídas. Finalmente, nossa alma feminina nos confere resiliência, capacidade de lidar com pressões e manter o trem no trilho. Juntos, todos esses ingredientes há anos têm valorizado os executivos e as executivas no mercado de trabalho internacional. E são eles que respondem pelas inúmeras trajetórias surpreendentes do segundo povo mais empreendedor do planeta, perdendo apenas para os norte-americanos. Quais são os grandes projetos da luzio Strategy Consulting? Nos seus 12 anos de vida, a Luzio tem realizado projetos relevantes em diversos setores da economia, no Brasil e no exterior. Admiramos todos os nossos clientes e casos. Posso citar alguns exemplos interessantes. Em infraestrutura, tivemos o privilégio de apoiar líderes notáveis na Ecorodovias, Grupo Sotreq, Itaipu Binacional, CAB Ambiental (saneamento básico) e Galvão Energia, entre outros. Em tecnologia, vale destacar que acompanhamos as principais mudanças na estratégia da Bematech, de 2001 a 2011, uma empresa que até hoje nos traz muito orgulho. No varejo, ajudamos a salvar a Casa&Video (varejo) da crise estrutural que quase matou a empresa. Como você enxerga o Brasil no cenário internacional nos próximos cinco anos? Esses próximos cinco anos serão muito importantes. Creio que vivemos um processo histórico único, de discussões abertas e propositivas para o futuro do país. No campo econômico, as barreiras são todas elas bastante conhecidas, e o empenho e a celeridade do governo na execução das estratégias desenhadas significarão um resultado importante para a mitigação de gargalos históricos em nossa errática infraestrutura. Elas deverão ser suportadas por reformas políticas e econômicas cuja viabilidade será possível somente em 2015, creio eu, por conta da eleição de 2014, que promete ser dura. E em processos eleitorais não se conseguem grandes avanços na agenda política de qualquer governo. O contexto externo deve se acomodar num crescimento chinês em patamares mais módicos, mas não enxergo um solavanco brutal na demanda chinesa por nossas commodities, garantindo uma estabilidade de contas externas e a continuidade do ingresso de divisas em nossa economia, que oferece poderosas e atraentes oportunidades para o capital internacional. Finalmente, empresas em processo de expansão devem continuar elevando o patrimônio da marca Brasil no mundo corporativo global. uma estratégia corretamente disseminada e utilizada como ponto de partida para a definição de Metas de desempenho das lideranças e suas equipes coloca todos atirando para o MesMo alvo.