POLÍTICAS SOCIAIS NO RURAL BRASILEIRO ENTRE 2003 E 2014, COM FOCO NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

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Transcrição:

POLÍTICAS SOCIAIS NO RURAL BRASILEIRO ENTRE 2003 E 2014, COM FOCO NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA Lauro Mattei Professor da UFSC e Pesquisador do OPPA Email: l.mattei@ufsc.br

I-TRAJETÓRIAS RECENTES DAS POLÍTICAS SOCIAIS 1)SOB A VIGÊNCIA DA ORDEM LIBERAL Na esfera social, o período 1990-2002 foi marcado por uma profunda incompatibilidade entre a estratégia macroeconômica e as possibilidades de desenvolvimento social estimulado pela política social Prevaleceram os valores do Estado Mínimo (focalização, privatização, supressão de direitos, desregulação dos contratos trabalhistas) como instrumento do ajuste macroeconômico e da reforma liberal do Estado Por isso foi necessário eliminar direitos presentes na Constituição de 1988, especialmente no capítulo sobre a Ordem Social

Neste contexto, foi lançado em 1996 o programa de desenvolvimento social para o país, sob o guarda-chuva denominado de Comunidade Solidária, o qual adotou medidas que visavam introduzir as políticas focalizadas para enfrentar as situações agudas de fome e de miséria. Para tanto, as políticas sociais passaram a ter suas ações focalizadas e com base em critérios técnicos de necessidades e de eficácia, visando uma maior articulação entre as diferentes esferas governamentais (federal, estadual, municipal). A partir dessa concepção geral foram implementados os primeiros programas de transferências de renda no Brasil a partir de 1997

2)SOB A VIGÊNCIA DO NEODESENVOLVIMENTISMO As mudanças na ordem política no início dos anos 2000 propiciaram diversas modificações na lógica vigente das políticas sociais. Sob a estratégia novo desenvolvimentista definiu-se uma ação forte do Estado na área social com o objetivo de reduzir a pobreza e as desigualdades Para tanto, houve uma dupla estratégia: fortalecimento de programas sociais universais (saúde, educação e assistência social) combinado com ações focalizadas, destacando-se os programas de transferência de renda.

A estratégia do novo desenvolvimentismo assentada na defesa da produção do país e do mercado doméstico promoveu um curto período de crescimento econômico que melhorou significativamente as contas públicas e abriu espaço para a expansão dos gastos sociais governamentais Assim, a conjugação entre crescimento econômico e expansão do gasto social foi decisiva para melhorar o caráter redistributivo do país, estimular a mobilidade social e reduzir os níveis de pobreza e de miséria Para tanto, três políticas sociais setoriais combinadas foram decisivas: estímulo ao emprego formalizado; valorização dos salários, especialmente do salário mínimo; e programas de transferência de renda.

3) Alguns indicadores desse período Trajetória do Gasto Social Federal, 1995 a 2010

Trajetória do Gasto Social Federal per capita, 1995 a 2010

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS: Na área de saúde observou-se uma trajetória decrescente em todo o período analisado, uma vez que a participação caiu de 15,9%, em 1995, para 10,80%, em 2010. Mesmo com aumento da presença de estados e municípios no sistema, se notou uma estagnação dos recursos federais para o setor A área de educação apresentou trajetória muito semelhante ao setor de saúde, uma vez que os gastos apresentaram trajetória de queda ao longo do período considerado. Com isso, a participação que era de 8,50%, em 1995, passou para 7,20%, em 2010.

A área de Assistência Social foi a que apresentou a maior participação relativa no volume total de recursos, uma vez que passou de 0,70%, em 1995, para 6,90%, em 2010. Esse aumento expressivo na participação de todos os gastos sociais diz respeito ao papel dos programas de transferência fortemente impulsionados durante a primeira década do século XXI Outra área com baixíssimos volumes de recursos foi a do saneamento básico. Em grande medida, esse comportamento explica a posição bastante negativa ocupado pelo país no ranking mundial em termos de políticas de saneamento básico.

II PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA 1)Breve Histórico Instituído pela Lei Federal 10.836, de 09.01.2004, o programa Bolsa Família introduziu uma diferença importante em relação à sistemática dos programas anteriores, uma vez que a família passou a ser a unidade de atendimento e não mais os indivíduos isoladamente. Essa redefinição do público-alvo foi importante para evitar o processo de sobreposição de ações sociais nas diferentes esferas governamentais Em termos dos mecanismos de pagamentos foi adotado um processo de escalonamento de acordo com a renda e a condição social de cada família beneficiada

A adoção de diversas condicionalidades aos beneficiários justifica-se como estratégia de rompimento da pobreza geracional Do ponto de vista institucional o que difere a experiência brasileira em relação aos demais programas em curso na América Latina é que o programa Bolsa Família está amparado em Lei Federal (10.836, de 09/01/2004) Do ponto de vista operacional, o programa envolve diversos órgãos do próprio Governo Federal, bem como as administrações municipais que se responsabilizam pelo cadastro das famílias beneficiárias Mesmo que a Constituição Federal defina que o combate à pobreza é responsabilidade do Governo Central, o PBF busca compartilhar responsabilidades entre as três esferas de governo

2)Alguns indicadores gerais A unificação dos diversos programas sociais e a descentralização do preenchimento dos questionários - via Cadastro Único - fez com que a demanda aumentasse continuamente ao longo dos anos. Entre 2011 e 2014 observa-se que o programa bateu o teto máximo de atendimentos quando atingiu mais de 14 milhões de famílias. Todavia, nota-se que naquele ano (2014) mais de 29 milhões de famílias estavam cadastradas no programa, significando que apenas 48% dos demandantes foram atendidos.

Tabela 3: Número de famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família Anos Número de Famílias Cadastradas Número de Famílias Atendidas 2004-6.571.839 2005-8.700.445 2006 15.125.898 10.965.810 2007 16.819.976 11.043.076 2008 18.284.298 10.557.996 2009 19.288.559 12.370.915 2010 20.813.445 12.778.220 2011 22.265.418 13.352.306 2012 25.063.802 13.902.155 2013 25.800.472 13.841.665 2014 29.164.446 14.003.441 2015 27.325.069 13.936.791 Fonte: SAGI/MDS.

Famílias Cadastradas e Beneficiadas pelo PBF, por valor repassado Brasil (2004-2014)

O debate sobre os impactos do PBF Existe hoje uma extensa literatura que procura mensurar os impactos do programa no combate à pobreza (Hall, 2008; Medeiros et al, 2007; Kerstenetzky, 2009; Cunha & Câmara Pinto, 2008; Haddad, 2008; Rocha, 2008; Soares et al, 2006; Hoffmann, 2006 e 2008), Cedeplar, 2006, MDS, 2007. A maior parte desses trabalhos estão amparados em pesquisas empíricas, destacando-se diversos efeitos relevantes do Programa: na saúde; na educação; na assistência social; no gasto familiar com consumo; nos impactos sobre as economias locais; etc.

3) O Programa Bolsa Família nas áreas rurais Como não foram acessados os microdados do Programa, elaborou-se algumas tabelas com base nas informações disponibilizadas no site oficial, o que significa uma fotografia do programa no momento da coleta das informações (meses de abril e maio de 2016). Sobre a distribuição dos beneficiários por situação domiciliar, observa-se que a proporção entre os que recebem e os que não recebem os benefícios é muito distinta, uma vez que nas áreas rurais 65% dos cadastrados recebem regularmente os benefícios, enquanto no meio urbano apenas 49%. Em termos absolutos, do total de 12.381.808 famílias que não recebem o benefício, apenas 2.001.466 famílias encontravam-se domiciliadas em área rurais do país.

Das famílias residentes em áreas rurais que recebem os benefícios, 66% estavam domiciliadas na Nordeste, 15% na região Norte e 12% na região Sudeste. Ou seja, 93% de todas as famílias rurais beneficiadas pelo programa localizavam-se nestas três regiões geográficas do país. Já dentre aquelas famílias cadastradas, mas que não recebem os benefícios, 52% se localizavam na região Nordeste; 19% na região Sudeste e 13% na região Sul.

REGIÕES SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO URBANO RURAL SEM RESPOSTA Não Recebe Recebe Não Recebe Recebe Não Recebe Recebe Benefício Benefício Benefício Benefício Benefício Benefício Centro-Oeste 1.049.602 602.447 119.775 104.050 412 1.507 Norte 809.273 1.170.751 197.040 547.181 206 339 Nordeste 3.082.608 4.499.826 1.043.844 2.492.477 1.041 3.345 Sudeste 3.995.391 2.989.252 379.452 449.971 6.712 28.339 Sul 1.443.468 721.465 261.355 181.834 1.944 5.678 TOTAL 10.380.342 9.983.741 2.001.466 3.775.513 10.315 39.208

REGIÕES Famílias de Quilombolas Famílias Indígenas Cadastrada s Beneficiárias Centro-Oeste 7.795 4.034 Norte 16.026 12.553 Nordeste 103.028 79.695 Sudeste 14.069 9.474 Sul 4.276 2.262 TOTAL 145.194 108.018 Cadastradas Beneficiárias 24.281 19.060 62.841 51.454 35.984 27.608 5.423 3.786 11.525 8.554 140.054 110.462

REGIÕES Famílias de extrativistas Famílias de Agricultores Cadastradas Beneficiárias Centro-Oeste 179 103 Norte 22.887 18.789 Nordeste 10.835 9.177 Sudeste 305 190 Sul 417 263 TOTAL 34.623 28.522 Cadastradas Beneficiárias 7.105 3.887 128.601 104.709 831.798 640.646 30.914 19.009 58.023 23.908 1.056.441 792.159

REGIÕES Famílias Assentadas da R. Agrária Famílias Acampadas Cadastradas Beneficiárias Centro-Oeste 39.448 15.912 Norte 20.520 13.351 Nordeste 44.121 31.730 Sudeste 12.004 5.715 Sul 12.456 7.181 TOTAL 128.549 73.889 Cadastradas Beneficiárias 29.451 7.176 5.263 2.640 6.112 3.150 9.526 2.877 6.177 2.574 56.529 18.417

III CONSIDERAÇÕES FINAIS Os primeiros anos do século XXI foram marcados pela elevação das taxas de crescimento; pela recuperação do poder de compra dos salários, especialmente do salário mínimo; e pela expansão dos programas governamentais de transferência de renda. O somatório desses fatores resultou numa trajetória de redução dos níveis de pobreza no país. Mesmo assim é importante retomar o debate sobre o papel das políticas sociais e do próprio sistema de proteção social do país, que ainda incompleto e se ressente de uma trajetória histórica e de contingências conjunturais que impõem um ritmo nem sempre adequado à realidade.

No período analisado, mesmo que em algumas áreas o valor absoluto do gasto tenha crescido, o país ainda permanece com baixo nível de investimento social, comparativamente ao nível de investimentos sociais internacionais, especialmente nos setores da habitação, urbanismo e saneamento Além disso, vimos que a área de assistência social puxada pelos programas focalizados de transferência de renda apresentou a maior taxa de crescimento do gasto social do governo federal, enquanto que as áreas de saúde e educação que exigem políticas cada vez mais universais tiveram reduções percentuais de suas participações no gasto social total entre 1995 e 2010

É fato que durante os governos Lula I e II e Dilma I (2003-2014) se buscou uma maior convergência entre programas focalizados com políticas sociais universais. Todavia, essa convergência foi muito tímida e até mesmo incapaz de reverter situações estruturais responsáveis pela pobreza e pela exclusão social. Com isso, diante de uma nova crise econômica desencadeada a partir de 2014, tanto a pobreza extrema como a pobreza geral voltaram a crescer em percentuais acelerados O desemprego elevado; o processo de informalidade que vai tomando conta do mercado de trabalho; e a desestruturação das políticas sociais, estão recolocando rapidamente os níveis de pobreza nos patamares do início do século XXI