UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA DISCIPLINA ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM I

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA DISCIPLINA ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM I 2º semestre de 2014 TOMADA DE DECISÃO E O PENSAMENTO CRITICO REFLEXIVO EM ENFERMAGEM 1. GRECO, ROSANGELA MARIA 2 MOURA, DENISE CRISTINA ALVES 3 Para pensar... Tendemos a ver o que esperamos ver, o que nos é familiar; nós somos influenciados pelos valores e crenças pessoais; resistimos a mudanças; gostamos de estar sempre com a razão (ALFARO-LEFEVRE, 1996) Os homens sábios mudam suas mentes, um tolo nunca mudará (Provérbio espanhol - ALFARO-LEFEVRE, 1996) Objetivos Compreender e desenvolver o processo decisório fundamentado em conhecimentos, habilidades, valores pessoais e éticos como subsídio para a prática profissional; Discutir como desenvolver o pensamento crítico-reflexivo; Refletir sobre a importância do pensamento crítico reflexivo para o processo de tomada de decisão; Utilizar o pensamento crítico-reflexivo na tomada de decisão. O que tem de especial e por que estudar o processo de tomada de decisão? O ato de tomar decisões faz parte da vida, todos os dias, a todo o momento estamos tomando decisões das mais simples as mais complexas, como: que roupa vestir, que ônibus tomar, se pego ou não carona, se faço ou não determinada disciplina do curso, se namoro ou 1 Este texto foi elaborado como material instrucional para a Disciplina Administração em Enfermagem I, para os acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora. Pedimos que, caso haja o interesse em utilizar este material, seja citada a referência. 2 Enfermeira, Doutora em Saúde Pública, Professor Associado do Departamento de Enfermagem Básica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora. 3 Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora substituta do Departamento de Enfermagem Básica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora.

não determinado garoto ou garota, em quem vamos votar para Reitor da nossa Universidade, enfim nossa vida é permeada de escolhas. No âmbito pessoal e individual o processo de tomada de decisão tem a sua dimensão, ele serve para traçar e orientar os caminhos que nós iremos seguir, ele influenciará as nossas vidas pessoais. Entretanto, quando falamos profissionalmente o processo de tomada de decisão ganha outra dimensão. Em um serviço pessoas diferentes compartilham situações que podem ser complexas, necessitando na maioria das vezes que se tome alguma atitude, que irá influenciar nossas vidas pessoais e a de muitas outras pessoas e, portanto frente a situações complexas, no processo de trabalho, não podemos simplesmente arriscar tomando decisões, orientados pelo processo de acerto ou erro, de modo ingênuo ou através, por exemplo, de cara ou coroa, par ou impar, sorteio, melhor de três, entre outras técnicas (CIAMPONE; MELLEIRO, 2014). Segundo Ciampone e Melleiro (2014) ao falharmos/errarmos no processo decisório, este pode ter conseqüências fatais para nós e para outras pessoas, sendo que estes erros decorrem principalmente de falhas de informação e formação, ou seja, por falta de preparo. Portanto fica clara a nossa responsabilidade e desafio ao tomarmos decisões no cotidiano do trabalho. Assim, ao fazermos escolhas é necessário que tenhamos a exata compreensão do que elas poderão significar sendo importante que as decisões não sejam tomadas empiricamente, mas sim de modo sistematizado para que se obtenha o melhor resultado possível, em cada situação, pois com certeza as escolhas irão influenciar a vida de muitas outras pessoas, e neste caso não temos o direito de sermos superficiais (CIAMPONE, 1991). Além disso, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de Graduação em Enfermagem define que o curso de Graduação em Enfermagem tem como perfil do formando egresso/profissional: Enfermeiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Define ainda que a formação do enfermeiro deve ter como objetivo instrumentalizar o profissional de conhecimentos para exercer as seguintes competências e habilidades gerais: atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento, educação permanente (BRASIL, 2001, p1.) Alguns autores discutem que é na graduação de enfermagem que deve-se formar enfermeiros críticos reflexivos, para que haja o desenvolvimento de atitudes críticas, criativas e transformadoras (CROSSETTI et al., 2010). O que é o processo decisório Decidir-se por algo, em outras palavras, significa fazer uma escolha. Na gestão de serviços ou de setores específicos a tomada de decisão é uma atividade inerente ao processo de planejamento, ou seja, quando se define onde se pretende chegar, o que deve ser feito, quando, como e em que seqüência está-se tomando uma decisão (KWASNICKA, 1991; CHIAVENATO, 1993). A ação de planejar anda de mãos dadas com a ação de tomar decisões. E nesta perspectiva Ciampone; Melleiros (2014, p. 36) definem o planejamento como sendo a a arte de fazer escolhas e de elaborar planos para favorecer um processo de mudança.

Em relação ao significado e a definição de processo decisório CIAMPONE (1991 p. 192), pesquisando autores e literaturas diversas, chegou às seguintes definições: decidir significa ir além do momento da escolha, da decisão em si ; decidir significa necessariamente escolher entre uma ou mais alternativas ou opções, com vistas a alcançar um resultado desejado. A tomada de decisão, portanto, é um processo que envolve aspectos individuais e sociais, sendo necessário que se tenha uma meta, um objetivo ao qual se pretende chegar, para que então se escolha uma ou mais alternativas para o alcance da proposição. Ainda segundo CUNHA (1991 p. 34), a tomada de decisão é uma atitude que requer consciência da situação como um todo, seja durante uma fração de segundos, seja num período mais longo, pois o processo decisório começa antes do momento da decisão e termina depois dela. Estudiosos sobre o processo de tomada de decisão afirmam que as melhores decisões são tomadas quando percorremos todas as fases do processo decisório, de modo sistemático, e que podemos aprender a fazer isso, adquirindo maior segurança (CIAMPONE, MELLEIRO, 2014, p. 36). Antes de estudarmos as fases do processo decisório é importante compreender que quando os membros de um grupo podem conversar abertamente sobre os problemas e dificuldades, discutindo as propostas de solução, estas poderão ter uma implementação mais efetiva. Diante de uma situação crítica, se o impulso e a energia de todos puderem ser canalizados para um esforço no sentido de se superar a situação, deixando de lado as tendências individualistas e competitivas, com certeza se estará caminhando para a melhor solução possível. Vejamos então quais são as fases ou passos do processo de tomada de decisão. As fases do processo decisório são semelhantes as do Método de Solução de Problemas, do planejamento administrativo em enfermagem sendo elas: Identificação do problema; Coleta de dados; Análise dos dados; Descrição de soluções alternativas; Escolha ou decisão; Implementação e Avaliação. Vejamos então o que significa cada uma delas: Identificação do problema - significa descrever objetivamente a situação que se considera como problema do modo como ela é percebida, tentando definir o problema a partir da listagem das supostas causas, a descrição da situação por escrito auxilia na compreensão da situação; Coleta de dados - consiste em se colher e levantar informações que permitam o exame da situação para isso deve-se ouvir todas as pessoas envolvidas na situação e faz-se um estudo de opiniões do grupo de trabalho; Análise dos dados - procura-se chegar às causas e aos determinantes da situação com o objetivo de visualizar o problema de diferentes ângulos. Deve-se buscar relacionar as forças restritivas que causam e mantém o problema, resistindo à sua solução (as forças negativas) e as forças impulsoras, que contribuem para a solução do problema (forças positivas); Descrição de Soluções Alternativas consiste em se listar as várias propostas de soluções alternativas, considerando a viabilidade e os efeitos prováveis de cada uma, ou seja, o impacto e as conseqüências. Deve-se ter o cuidado para não atacar sintomas ao invés de problemas,

nessa fase pode-se utilizar as experiências, hábitos e rotinas já existentes, como se pode fazer uso de bibliografias, consulta a especialistas, registros e explorar as opiniões dos envolvidos na situação através de dinâmica de grupo; Escolha ou decisão é o momento em que após ter-se feito o estudo da situação, das causas e das possíveis alternativas, faz-se uma escolha, opta-se por uma determinada solução, considerando-se as que melhor atendam aos objetivos estabelecidos e às circunstâncias presentes; Implementação - consiste em aplicar a solução escolhida, esta fase depende da anterior, pois a tomada de decisão por consenso do grupo leva a pouca ou nenhuma dificuldade na implementação, já as decisões baseadas em um único elemento são mais difíceis de serem implementadas, pois depende desse indivíduo convencer todo o grupo a aceitar a decisão; Avaliação consiste em olhar para todo o processo verificando se conseguiu resolver o problema e quais as conseqüências da decisão tomada, para fundamentar futuras intervenções (CIAMPONE 1991; KRON ; GRAY, 1994). Como já vimos anteriormente, vivemos tomando decisões e podemos ou não seguir as etapas acima, mas o estudo dessas fases e de como as decisões são tomadas pode contribuir para que se faça uma previsão e que se evite tomar decisões importantes sem uma análise de todo o processo a ser percorrido, levando assim a escolha da melhor alternativa. As decisões podem ir das mais simples onde as opções por uma determinada alternativa surgem de modo fácil e espontâneo e as fases do processo ocorrem de modo inconsciente, até as mais complexas onde as teorias desenvolvidas têm o papel de ajudar a identificar, descrever, explicar, prever, solucionar e corrigir os problemas envolvidos nas diversas fases do processo decisório (CARVALHAL, 1981 apud CIAMPONE, 1991). A enfermagem e o processo de tomada de decisão Na enfermagem não atuamos isoladamente, trabalhamos com outros profissionais, temos que estruturar o nosso trabalho, a nossa ação juntamente com esses trabalhadores. Nosso trabalho tem como finalidade o cuidar, que deve ser entendido como um estar junto, fazer o melhor possível pelo outro, compreendendo procedimentos técnicos, mas também demonstrações de afetividade, paciência, carinho e respeito, dentro de uma concepção ética, valorizando princípios e valores humanos, enfatizando os aspectos criativos, emocionais e intuitivos; se operacionalizando através das dimensões desse cuidar assistir, gerenciar, ensinar e investigar (WALDOW, 1998). O cuidar envolve fazer escolhas, tomar decisões, seja na dimensão assistir, gerenciar, ensinar ou investigar, assim a todo o momento nós enfermeiros nos vemos frente a situações que exigem um posicionamento. Apesar da tomada de decisão no gerenciamento em enfermagem fazer parte do cotidiano de trabalho do enfermeiro, muitas vezes as decisões são circunstanciais, pouco fundamentadas, baseadas apenas em hábitos ou rotinas sem explorar variáveis diferenciadas e criativas. Esse fato, segundo Ciampone (1991 p. 194) causa angustias, inseguranças e inquietação que, somadas às ansiedades geradas pelo próprio ambiente de trabalho, levam o profissional a vivenciar situações de permanentes conflitos e insatisfações.

A tomada de decisão em enfermagem é influenciada por padrões, normas e diretrizes, no entanto é importante que estes não sejam seguidos cegamente, usar o pensamento crítico para tomar uma decisão é essencial no momento de reconhecer quando a situação requer soluções criativas. O que é pensamento crítico? Estamos no início do século XXI e o mundo está mudando rapidamente, frente às transformações pelas quais a sociedade vem passando podemos assumir duas posturas: a de sujeitos independentes, críticos, questionadores, capazes de refletir sobre a realidade (educacional, social, política, econômica, cultural, etc.) e, portanto, estarmos instrumentalizados para viabilizar as rupturas no instituído, ou a de sujeitos dependentes, não críticos, acomodados às informações recebidas, sem criatividade e capacidade de refletir sobre a realidade em que vivemos ou onde iremos atuar o que é bastante interessante para os grupos que detém o poder, pois estes terão menores dificuldades de governar e manipular uma população passiva, não questionadora (SORDI; BAGNATO, 1998). Qual postura você tem assumido? Para começarmos a definir o que é pensamento crítico, é importante destacar que todos nós, seres humanos, pensamos. Mas, se todos nós pensamos qual a diferença entre pensamento e pensamento crítico? Para Alfaro-Lefevre (1996) a diferença é o controle, pois o pensamento é basicamente qualquer atividade mental ele pode ser sem objetivo e descontrolado. Ele pode servir a um propósito, mas nós freqüentemente não estamos cientes dos seus benefícios. Não poderíamos lembrar exatamente todos os nossos pensamentos. Por outro lado, o pensamento crítico é controlado, proposital e mais apropriado para levar aos benefícios óbvios resultantes. Para pensar criticamente é necessário estimular o ato reflexivo, o que significa desenvolver a capacidade de observação, análise, crítica, autonomia de pensar e de idéias, ampliar os horizontes, tornar-se agente ativo nas transformações da sociedade, buscar interagir com a realidade (SORDI; BAGNATO, 1998). Existem numerosas definições para pensamento crítico, Waldow (1995) citando Brookfield (1991), considera o pensamento crítico como um processo de reflexão sobre as hipóteses que permeiam as nossas idéias e ações, bem como as dos outros, reconhecendo como o contexto altera comportamentos, resultando em novas formas alternativas de pensar e viver. E assim sendo, para identificar pensamento crítico pode-se considerar os seguintes temas ou categorias: É uma atividade produtiva e positiva; É um processo e não pode ser confundido como resultado; A forma como ele se manifesta varia de acordo com o contexto em que ocorre; Pode ser originado tanto por eventos positivos como negativos; É tanto emocional como racional (WALDOW, 1995 apud BROOKFIELD, 1991). Para Alfaro-Lefevre, (1996) é melhor descrever o que é pensamento crítico do que defini-lo e para descrever a autora lista as características, ou atitudes, dos indivíduos que demonstram pensamento crítico como se pode ver no quadro a seguir.

Características (atitudes) de pensadores críticos Pensadores críticos são: Pensadores ativos, ou seja, mantêm uma atitude questionadora e uma resistência dupla na confiança de informação e na sua interpretação da informação. Conhecedores de seus preceitos e limitações, o que alguns chamam Ter humildade intelectual *. Imparciais, isto é, são extremamente cientes da poderosa influência de suas próprias percepções, valores e crenças, mas buscam considerar todos os pontos de vista semelhantemente. Inclinados a exercitar um esforço consciente para trabalhar de maneira planejada, reunindo informações, resistindo à exatidão e persistindo até quando as soluções não forem óbvias ou necessitarem de diversas etapas. Bons comunicadores, compreendendo que uma troca recíproca de idéias é fundamental para entender o fato e achar soluções melhores. Empáticos, colocando seus próprios sentimentos de lado, e imaginando-se no lugar dos outros a fim de entendê-los genuinamente. Alguns chamam isso Ter empatia intelectual. Mentes abertas, ou seja, estão dispostos a considerar outras perspectivas e adiam o julgamento até que todas as evidências sejam ponderadas. Pensadores independentes, fazendo seus próprios julgamentos e decisões, ao invés de permitir que outros façam isso por ele. Curiosos e perspicazes, questionando profundamente e interessando-se em entender, dando ênfase a pensamento e sentimentos. Humildes, reconhecendo que ninguém tem todas as respostas ou está imune a erro. Honestos consigo e com os outros, admitindo quando seus pensamentos podem estar imperfeitos ou requerem mais reflexão. Alguns chamam isso Ter integridade intelectual *. Prevenidos, em vez de reativos, antecipando problemas e agindo antes de ocorrerem. Organizados e sistemáticos em suas abordagens, para solucionar problemas e tomar decisões. Flexíveis, aptos a explorar e imaginar alternativas, e mudar abordagens e prioridades quando necessário. Cientes das regras da lógica, reconhecendo a função da intuição, mas buscando evidências e ponderando riscos e benefícios antes de agir. Realistas, reconhecendo que nós não vivemos num mundo perfeito, e que as melhores respostas não são sempre as respostas perfeitas. Jogadores de equipe, dispostos a colaborar para trabalhar em direção ao alvo comum. Criativos e comprometidos com a excelência, continuamente avaliando, buscando clareza e exatidão e procurando maneiras de aperfeiçoar como as coisas são feitas. * estes termos foram inicialmente utilizados por Ricardo Paul (1993) ALFARO-LEFEVRE, (1996). Ao lermos as características descritas acima é bem natural que busquemos entre elas quais as qualidades que possuímos bem desenvolvidas e quais que ainda gostaríamos de aperfeiçoar. Como um exercício Alfaro-Lefevre (1996) sugere marcar com um B as que estão bem desenvolvidas e com um A as que se gostaria de desenvolver, ressaltando que

não existe a função perfeita do modelo, e se não estamos colocando um mínimo de As é sinal de que estamos precisando refletir mais sobre nossas características pessoais e sobre o que é pensamento crítico. Ainda segundo esta autora, um sinônimo para pensamento crítico é raciocínio, sendo que nós podemos nos aperfeiçoar em pensarmos critica e reflexivamente, buscando conhecimentos, instruções e praticando conscientemente com esse objetivo. Pensamento crítico é similar ao método de resolução de problemas e ao científico, sendo muitas vezes mais abrangente, pois além de se propor a resolver, objetiva prevenir e maximizar potencial e eficientemente as situações. Em relação aos princípios científicos ele é similar ao utilizar da observação, classificação de dados, conclusões que obedecem à lógica, condução de experiências e teste de hipóteses (ALFARO-LEFEVRE 1996). Como pensar criticamente PEREIRA (1992) citando BROOKFIELD (1987) coloca que o pensamento critico ocorre através: Da identificação e questionamento quanto aos fatos da vida cotidiana, quando refletimos sobre nosso modo de agir com as pessoas que nos cercam, quando analisamos os pressupostos que embasam uma atividade ou atitude pessoal ou profissional; Da conscientização do contexto, pois as pessoas agem de acordo com suas crenças, valores, contexto cultural e histórico, que são produtos sociais e de experiências pessoais de cada um; Da exploração e imaginação de ações alternativas, o que se dá através de novos modos de pensar, da mentalização de alternativas de vida, Do desenvolvimento da reflexão céptica, através do questionamento do que até então foi considerado valor, verdade e justificativa. Todos nós estamos sujeitos a fatores pessoais, situacionais, hábitos e comunicação que podem influenciar o pensamento crítico, mas estar consciente deles nos ajuda a identificar possíveis estratégias para promover o pensamento crítico-reflexivo (Alfaro-Lefevre, 1996). Resumidamente, as estratégias para o desenvolvimento de pensamento crítico podem ser compreendidas em três dimensões: Atividades de observação, de Escrita e de Ação (Waldow, 1995). Existem oito questões-chave que podem ajudar a determinar uma abordagem do pensamento crítico em situações diferentes, são elas: 1) Qual é o objetivo do meu pensamento? 2) Quais são as circunstâncias? 3) Que tipo de conhecimento é requerido? 4) Qual é à margem de erro? 5) De quanto tempo eu disponho? 6) Que recursos podem me auxiliar? 7) Que perspectivas devem ser consideradas? 8) O que está influenciando meu pensamento? Existem algumas ações que podem ajudar no exercício do pensar crítica e reflexivamente, são elas:

Identificar suposições, verificar a exatidão e integridade dos dados, compreender quando existem contradições em relação à informação apresentada, distinguir o relevante do irrelevante, distinguir normal do anormal; Identificar uma abordagem organizada para a descoberta escolher uma abordagem sistemática que aumente a capacidade de coletar todos os dados relevantes; Reunir informações afins, identificar informações; Identificar modelos interpretar quais modelos são sugeridos pela informação reunida; Considerar conclusões diferentes e válidas; Identificar a causa fundamental e estabelecer prioridades; determinar alvos realistas; Desenvolver um plano abrangente prever respostas, pesar riscos e benefícios, reduzir riscos e determinar intervenções; Avaliar e corrigir (Alfaro-Lefevre, 1996). Muitas destas ações nós fazemos automaticamente, e este é o ponto da questão, tornar as nossas ações conscientes e embasadas em conhecimentos específicos. Como será então, que se pode aplicar o pensamento crítico em situações específicas de enfermagem? O pensamento crítico em enfermagem Como já dissemos no início deste texto, nós podemos ou não pensar criticamente e a mesma opção pode ser tomada profissionalmente, ou seja, em relação à prática da enfermagem. Mas, pensar criticamente em enfermagem significa romper com a lógica tecnicista, com a biologização dos conteúdos, com a ênfase apenas no saber e no saber-fazer, que apesar de serem aspectos importantes da formação acadêmica não devem ser privilegiados em detrimento do saber-ser (Sordi; Bagnato, 1998). Esta tarefa não é fácil estudantes de enfermagem na sua maioria, vêm já condicionados e motivados para atividades práticas. Embora concordem em alguns pontos, como o de que a enfermagem é discriminada, os próprios estudantes acabam caindo na cilada, submetendo-se ao senso comum e engajando-se mais em disciplinas e atividades que priorizam o modelo biomédico e o tecnicismo desconsiderando e até muitas vezes discriminando disciplinas que estimulam o refletir, o pensar, a discussão coletiva e teórica como embasamento para o fazer (Waldow, 1995). Pode-se dizer que o pensamento crítico em enfermagem é similar ao de qualquer outra situação, pois requer o desenvolvimento das características de pensadores críticos, é influenciado por fatores pessoais e situacionais, hábitos e comunicação e envolve o domínio das ações citadas acima. No entanto, as habilidades e o desempenho do pensamento crítico em enfermagem devem ser desenvolvidos em um nível profissional, pois as conclusões e decisões a que chegamos como enfermeiros afeta a vida das pessoas e assim o nosso pensamento deve ser guiado por um raciocínio sadio, preciso, disciplinado, que promova a exatidão e a profundidade da coleta de dados e que procure identificar claramente as questões que se apresentam (Alfaro-Lefevre, 1996). Como instrumentos, que fornecem a base para nos auxiliar no desenvolvimento do pensamento crítico reflexivo em enfermagem podemos utilizar o planejamento administrativo

e o processo de enfermagem. Mas, você pode utilizar esses dois instrumentos de uma forma rotineira, linear, sem pensamento crítico, ou de forma dinâmica com pensamento crítico reflexivo. O pensamento crítico reflexivo e a tomada de decisão em enfermagem O pensamento crítico reflexivo é essencial e pode nos ajudar, por exemplo, na identificação de problemas reais e potenciais; a tomar decisões sobre um plano de ação; a reduzir riscos de obter resultados indesejáveis; a aumentar a probabilidade de alcançar resultados benéficos e a descobrir maneiras de nos melhorarmos, de contribuir para o aprimoramento de nossa equipe e de nossa prática (ALFARO-LEFEVRE, 1996). A rápida mudança do sistema de prestação de cuidado de saúde e a diversidade e complexidade crescente da prática exigem instrumentalização dos enfermeiros para que sejam capazes de pensar criticamente, a fim de processarem dados complexos e tomarem decisões oportunas em relação ao cuidado ao cliente (LIMA, CASSINI, 2000). A tomada de decisões em enfermagem é influenciada por padrões, normas e diretrizes, no entanto é importante que estes não sejam seguidos cegamente, usar o pensamento crítico para tomar uma decisão é essencial no momento de reconhecer quando a situação requer soluções criativas. Para exemplificar Alfaro-Lefevre (1996) cita a seguinte situação: Suponha que você está cuidando de alguém que teve apenas cirurgia de próstata, e o senso crítico dessa situação problema é que, no segundo dia, o paciente sairá da cama duas vezes. No entanto, no segundo dia, você avalia o paciente e descobre que ele tem desconforto torácico. Essa descoberta é significativa para você perguntar se ele deve realmente sair da cama hoje: Poderia esse homem estar sofrendo de complicação como infarto do miocárdio ou embolia pulmonar? Nesse caso, você precisa informar os sintomas e manter o paciente na cama até que ele seja avaliado mais cuidadosamente. Dentro do processo decisório, a fase de procura de soluções alternativas pede que se lance mão da criatividade para que se alcancem mudanças. Entretanto segundo Kron; Gray (1994) os enfermeiros possuem bloqueios à criatividade que podem ser explicados pelas seguintes razões: 1 Uso do pensamento crítico mais que o pensamento imaginativo; 2 Receio do desconhecido receio de arriscar; 3 Incapacidade ou não desejo de analisar, objetivamente, as forças e capacidades dos indivíduos; 4 Conformismo, manutenção de métodos e padrões tradicionais e 5 Incapacidade de selecionar repentinamente idéias como forma de resolver um problema para mudança. Para o psicólogo do trabalho, Hesketh (1984) apud Ciampone (1991), a dificuldade em ser criativo pode ocorrer basicamente por 3 motivos: Bloqueios psicológicos - normalmente por falta de informação e conhecimentos sobre as situações ou hábitos pessoais levando a uma tendência a seguir normas preestabelecidas; Bloqueios por atitudes - pode ser representado pelo pensamento negativista, pelo conformismo e pela preguiça mental ;

Bloqueios pela influência de fatores socioculturais representado pelo condicionamento na crença da autoridade e os critérios de julgamento. A capacidade para tomar decisões prontamente e de forma adequada e a criatividade não devem ser compreendidas como habilidades natas, elas podem e devem ser desenvolvidas, o que pode ser feito através de exercícios que estimulam a capacidade de tomar decisões e pensar criativamente (KRON; GRAY, 1994). Nesse sentido, as técnicas e jogos grupais, uma vez que facilitam a participação do grupo, possibilitam a tomada de decisões criativas, elas são um meio para que o grupo possa trabalhar melhor, porém elas devem estar inseridas como parte da filosofia de trabalho do serviço de enfermagem (CIAMPONE, 1991). Vejamos então algumas dessas técnicas. Técnicas de tomada de decisão De modo esquemático as técnicas que auxiliam ao processo de tomada de decisão podem ser classificadas em técnicas tradicionais e modernas, que poderão ser utilizadas nas decisões programadas ou não-programadas conforme o quadro esquemático adaptado de Ciampone (1991, p.203). Decisões Técnicas Tradicionais Técnicas Modernas Programadas 1. Repetitivas, de rotina. 2. Decisões tomadas através dos processos da organização, onde é possível percorrer as fases da teoria. Não-programadas 1. Decisões de momento (considerando a urgência) 2. Decisões que envolvem mudanças não previstas na estrutura 1. Hábito 2. Rotina (procedimentos padrões) 3. Estrutura organizacional: expectativa comum; canais de informação bem definidos. 1. Julgamento por intuição. 2. Regras empíricas. 3. Atribuição de crença na autoridade do pessoal de 1ª linha chefes e supervisores 1. Pesquisa operacional (observação participante e visão sistêmica do problema) 2. Técnicas grupais 3. Processamento de dados 1.Técnica heurística de solução de problemas (deixar que as pessoas busquem a melhor solução) 2.Exploração das alternativas disponíveis e conseqüências com incentivo à criatividade do grupo envolvido na decisão. Tendências e perspectivas do modelo gerencial tradicional para o modelo de decisão compartilhada Nas décadas de 80 e 90, as organizações de modo geral passaram por mudanças e reestruturações. As estruturas de verticais passaram para horizontais entre outras transformações, forçando os líderes a partilharem as informações com seu grupo de trabalho, descentralizando a tomada de decisão.

Os serviços de saúde de modo geral e como parte deles os serviços de enfermagem vem acompanhando essa tendência através da implantação do modelo de tomada de decisão descentralizada, que tem como referência o modelo de Administração Participativa. Segundo Bork et al (2003, p. 74), esse modelo é definido como um processo de descentralização que possibilita ao enfermeiro o controle sobre sua prática e ambiente de trabalho, pautado em ações que requerem autoridade com responsabilidade, tendo como alvos a serem alcançados: a autonomia do enfermeiro na tomada de decisão, os níveis elevados de satisfação no trabalho, a maior eficiência e efetividade da prática de enfermagem, o melhor cuidado ao paciente e a menor rotatividade de profissionais. Ainda segundo esses autores, a decisão compartilhada tem como pilares sete princípios que são: Parceria consiste no envolvimento de todos na busca dos melhores resultados, através do reconhecimento da interdependência das ações e da contribuição de cada um no resultado. Autoridade com responsabilidade consiste em garantir ao profissional autonomia, autoridade e controle sobre determinada atividade. Entendendo-se autonomia como sendo o direito a tomada de decisão; autoridade como o poder para a tomada de decisão e o controle como a habilidade e a capacidade para a tomada de decisão. Equidade consiste em valorizar a todos, permitindo a participação dos diversos representantes no processo de tomada de decisão, estando relacionado ao reconhecimento do valor ético e os princípios de conduta que orientam as relações interpessoais. Propriedade consiste no comprometimento do trabalho de cada um com a meta da organização. Eficiência, eficácia e efetividade neste caso a eficiência consiste no empenho dos profissionais para o alcance dos resultados; a eficácia consiste nas ações objetivas e assertivas para o resultado e a efetividade no alcance do resultado esperado. Aprendizado contínuo todos os membros da equipe devem investir no aprendizado contínuo, buscando ações e decisões embasadas na melhor informação. A pessoa certa no lugar certo a melhor decisão não é a mais popular ou da maioria, mas sim aquela respaldada pela melhor informação assim sendo, deve-se garantir que a pessoa certa esteja no lugar certo para que tenha as melhores informações e assim possa tomar as melhores decisões. Optar por uma mudança de modelo do tradicional para o de Decisão Compartilhada não é simples e deve ser pautada e fundamentada em uma escolha consciente. Em relação à enfermagem Bork e et al (2003, p.76) afirmam que: é fundamental que a decisão de mudança do modelo de gestão de um Sistema de Enfermagem seja aprovada pela liderança do Serviço de Saúde, que deve compreender que o processo de implantação de um novo modelo envolve uma mudança cultural, sendo, portanto, necessário investir tempo adequado para a obtenção de resultados, uma vez que estes não são imediatos Estes autores afirmam ainda que o primeiro passo para escolha do modelo de decisão compartilhada é um amplo estudo, que envolva uma busca bibliográfica, eventuais visitas a instituições em que este já fora implantado. E, logicamente, deve ser viável dentro da realidade da instituição e do país.

A título de conclusão Tomar decisões envolve juízo de fatos e de valores, sendo algo complexo, principalmente quando nossas decisões irão influenciar a vida de muitas outras pessoas. Entretanto no processo de trabalho do enfermeiro ele certamente terá que utilizar conhecimentos, habilidades e atitudes coerentes, precisas e imparciais para uma tomada de decisão que venha ao encontro de seus valores pessoais e éticos e ao mesmo tempo em que atenda aos objetivos e metas da organização (CIAMPONE, 1991). Assim sendo, é necessário que o enfermeiro desenvolva: capacidade de caracterização objetiva da situação, sensibilidade para problemas de relações humanas, descontentamento construtivo (inconformismo com a rotina) e, sobretudo, autodeterminação para solucionar problemas (CIAMPONE, 1991). Além disso, é importante ressaltar ainda que no processo de tomada de decisão não deve haver um distanciamento entre os que tomam decisões os que colocam em prática as soluções e alternativas do que foi decidido, este processo tem que ser participativo e contar, sempre que possível com a colaboração e o envolvimento de todos os envolvidos, em todas as fases. Em relação ao pensamento crítico-reflexivo, fica o desafio para os sujeitos envolvidos no processo de formação, para que sejam capazes de se inserir na produção dos serviços de saúde na perspectiva da consolidação do Sistema Único de Saúde, de acordo com os princípios da Reforma Sanitária brasileira (FERNANDES et al., 2008 p. 398). Referências ALFARO-LEFEVRE, R. Pensamento crítico em enfermagem: um enfoque prático. Artes Médica, Porto Alegre, 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 3/2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ces03.pdf. Acesso em: 15 de outubro de 2014. BORK, et al. Da teoria para o dia a dia a estrutura de decisão compartilhada do sistema de enfermagem. In: Bork. A. M. T.; Minatel V. de F. Enfermagem de Excelência: da visão à ação. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2003. CIAMPONE, M. H. T. Tomada de decisão em enfermagem. In: KURCGANT, P. Administração em enfermagem. São Paulo, EPU, 1991, p.191-206. CIAMPONE, M. H. T.; MELLEIRO, M. M. O Planejamento e o Processo Decisório como Instrumentos do Processo de Trabalho Gerencial. In: KURCGANT, P. Gerenciamento em Enfermagem. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2014, p.35-50. CHIAVENATO, I. Teoria Geral da Administração. São Paulo, MAKRON BOOKS, 1993. CROSSETTI, M. G. O. et al. Estratégias de Ensino das Habilidades do Pensamento Crítico na Enfermagem. Rev Gaúcha Enferm., v. 30, n.4, 732-41p. 2009.

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