AULA 05 SISTEMAS SINDICAIS: CRITÉRIOS DE AGREGAÇÃO DOS TRABALHADORES NO SINDICATO: OFÍCIO OU PROFISSÃO; EMPRESA; RAMO EMPRESARIAL DE ATIVIDADES; CATEGORIA PROFISSIONAL; ASSOCIAÇÃO SINDICAL; UNICIDADE E PLURALIDADE SINDICAL. POSIÇÃO CONSTITUCIONAL. Já foi destacado que o sindicato é protagonista no Direito do Trabalho brasileiro, tanto em sua perspectiva individual quanto coletiva, ainda que, em alguns casos, disso não se aperceba. No que concerne ao Direito Coletivo do Trabalho, sua participação é essencial e imprescindível. DEFINIÇÃO DE SINDICATO Conforme leciona Maurício Godinho Delgado, Sindicatos, em sentido amplo, são entidades associativas permanentes, que representam, respectivamente, trabalhadores, lato sensu, e empregadores, visando a defesa de seus correspondentes interesses coletivos. É evidente, porém, que a definição de qualquer figura regulada pelo Direito passa, pelas particularidades normativas de cada país. Assim, no Brasil, a definição de sindicato envolve a ideia de categoria, inerente ao sistema jurídico vigorante no país desde a década de 1930. Nesse sentido, a concepção de sindicato prevista na CLT (art. 511 e seguintes) leva em consideração a noção de categoria profissional, diferenciada e de trabalhadores autônomos, além da categoria de empregadores, também denominada categoria econômica. Assim, a lei brasileira define sindicato como associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos, ou profissionais liberais, exerçam respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas. (art. 511, caput, CLT). SISTEMAS SINDICAIS Há diversos padrões, no mundo capitalista ocidental, de organização sindical, que se estruturam a partir de dois grandes tópicos: a) quanto à forma de agregação dos trabalhadores ao sindicato; b) Quanto à regulação legal. a) Forma de agregação dos trabalhadores ao sindicato - as principais formas de agregação dos trabalhadores ao sindicato são: por ofício ou profissão, por categoria, por empresa e por grandes ramos ou segmentos empresariais. b) Regulação Legal os modelos existentes regulados juridicamente são o unitarismo e o pluralismo sindicais. Há contraposição entre esses dois modelos.
Formas de agregação dos trabalhadores no Sindicato Conforme exposto, a agregação dos trabalhadores a seus respectivos sindicatos ocorre, basicamente, de quatro formas, não necessariamente excludentes entre si, pois algumas formas podem se combinar em determinada realidade jurídica. Agregação pelo ofício ou profissão Trata-se de modelo sindical que foi prestigiado nos primeiros momentos do sindicalismo, perdendo densidade nos períodos subsequentes nos países capitalistas centrais. No Brasil, esse padrão tem certa importância no conjunto das entidades sindicais, embora não seja, de modo algum, dominante. Excepcionalmente, contempla a legislação brasileira a agregação através de sindicato organizado por ofício ou profissão. Os sindicatos que agregam trabalhadores em virtude de sua profissão são os denominados sindicatos de categoria diferenciada, como professores, motoristas, aeronautas, jornalistas profissionais, médicos, músicos, etc. Tais trabalhadores serão representados por seus sindicatos específicos independentemente daquilo a que se dedica o seu empregador. De acordo com a CLT (art. 511, 3º), categoria profissional diferenciada é a que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condições de vida singulares. As categorias diferenciadas são também chamadas de sindicatos horizontais, pois abrangem trabalhadores das mais diversas empresas e empregadores existentes. Agregação por categoria profissional A agregação dos trabalhadores por categoria profissional compõe a principal forma como se organizam os sindicatos no Brasil desde a década de 1930. É o padrão brasileiro por representar o conjunto mais significativo de sindicatos. A CLT, em seu artigo 511, 2º concebe categoria profissional como expressão social elementar, dando destaque também para a expressão na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas. Art. 511... 2º A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, compõe a expressão social elementar compreendida como categoria profissional. O ponto de agregação é, portanto, a vinculação dos trabalhadores a empregadores que tenham atividades econômicas idênticas, similares ou conexas. É o que se
denomina sindicato vertical, pois atinge, verticalmente, as empresas economicamente afins (v.g. empresas bancárias, comerciais, metalúrgicas). A regra, então, é a agregação do trabalhador ao sindicato conforme a atividade econômica preponderante do seu empregador. Todavia, com a extinção do controle administrativo sobre os sindicatos em face das determinações do texto constitucional de 1988, (art. 8º, I e II), tem-se espraiado, no âmbito do sindicalismo, uma interpretação restritiva de categoria profissional, com o consequente fracionamento dos sindicatos obreiros. Há, portanto, claro enfraquecimento do sindicalismo no país, em decorrência desse processo de desdobramento e fragmentação das categorias profissionais. Como bem observa Maurício Godinho Delgado, a ideia de similitude de condições de vida e labor, em função do vínculo dos obreiros a atividades econômicas empresariais similares ou conexas (ideia que forma o núcleo do conceito de categoria) enseja o alargamento dos sindicatos e não, necessariamente, seu definhamento, como verificado na última década. Agregação por empresa Há ordenamentos jurídicos estrangeiros que contemplam a figura do sindicato organizado por empresa, o que não é o caso do Brasil. É, por exemplo, o sistema estadunidense. Juridicamente é inviável no Brasil em virtude da abrangência territorial mínima do sindicato que é o município, nos termos do artigo 8º, II da CF (unicidade sindical). Esta forma de estrutura sindical enfraquece o papel progressista do direito coletivo do trabalho na medida em que reduz a possibilidade de generalização de conquistas trabalhistas para um âmbito econômico profissional mais amplo. Diminui também a solidariedade entre os trabalhadores de empresas distintas acentuando o individualismo no âmbito das propostas de atuação sindical. Agregação por ramo ou segmento empresarial de atividades Por esta forma de agregação sindical os trabalhadores se organizam, por exemplo, por segmento industrial, segmento financeiro, segmento comercial, segmento agropecuário, etc., concentrando a representação trabalhista nesses diferentes setores econômicos. Esse modelo é adotado na Alemanha. O critério de agregação sindical por ramo ou segmento empresarial de atividades favorece a criação de grandes sindicatos que tendem a ser significativamente fortes, dotados de grande abrangência territorial, regional ou até mesmo nacional, e com amplo poder de negociação coletiva.
Tende tal sistema a possibilitar maiores ganhos para os trabalhadores, vez que a força destas grandes estruturas representativas é proporcional ao número de representados. Tem-se nesse sistema o cumprimento do princípio da real equivalência entre os contratantes coletivos. Favorece também a solidariedade entre empregados de empresas distintas, atenuando a perspectiva estritamente individualista de atuação sindical. Regulação Legal Unicidade versus Pluralidade Outro ponto distintivo entre os sistemas sindicais é o que trata da unicidade em contraponto à pluralidade de sindicatos de mesma representação em um mesmo território. Unicidade sindical corresponde à previsão normativa obrigatória de existência de um único sindicato representativo dos correspondentes obreiros, seja por empresa, por profissão ou por categoria profissional. Predomina o intervencionismo estatal, onde os sindicatos são constituídos conforme regras estabelecidas pelo poder público, negando o princípio da liberdade de organizarem-se. Pelo critério da Unicidade, prevalece obrigatoriamente o Sindicato único por categoria profissional ou diferenciada em se tratando de trabalhadores e por categoria econômica, em se tratando de empregadores. Trata-se do monopólio de representação sindical dos sujeitos trabalhistas. Pluralidade Sindical pressupõe a possibilidade de existir mais de um sindicato por profissão, por empresa ou por categoria profissional em determinada base territorial. O pluralismo sindical, assim como a unidade sindical, estão afeitos ao sistema de liberdade sindical e prepondera na maioria dos países ocidentais desenvolvidos (França, Inglaterra, Alemanha, EUA, etc.). Nos países em que há unidade prática de sindicatos (caso da Alemanha), ela resulta da experiência histórica do sindicalismo, e não de determinação legal. Esse sistema de liberdade sindical plena encontra-se propugnado pela Convenção 87 da OIT, de 1948, ainda não ratificada no Brasil. É importante, porém, fazer a distinção entre unicidade e unidade sindicais: segundo Mauricio Godinho Delgado, a unicidade traduz o sistema pelo qual a lei impõe a presença na sociedade do sindicato único. Já a unidade traduz a estruturação ou operação unitária dos sindicatos, sem que o Estado discipline a obrigatoriedade de um (unicidade) ou outro (pluralidade) sistema por meio da imposição legal.
Unicidade Sindical no Brasil O Brasil prevê a unicidade sindical, ou seja, veda, por lei, a existência de sindicatos concorrentes, prevendo um único sindicato por categoria, nos termos do artigo 8º, II da CF. Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:... II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; A base territorial mínima dos sindicatos é o município. Base territorial é a abrangência de representatividade dos trabalhadores ou empregadores. Modelo tradicional implantado na década de 1930 O sistema de unicidade foi implantado no Brasil nos anos ditatoriais de 1930 até 1945 e mantido nas décadas seguintes. Alguns pontos estruturais do modelo implantado foram os seguintes: a) modelo de sindicato único - estruturado por categoria profissional ou diferenciada, com monopólio de representação na respectiva base territorial; b) Vinculação direta ou indireta do sindicalismo ao Estado - o controle políticoadministrativo dos sindicatos era exercido pelo Ministério do Trabalho, além da cooptação política, ideológica e administrativa dos quadros sindicais através da participação no aparelho de Estado. c) Financiamento compulsório do sistema mediante contribuição obrigatória de origem legal. d) Existência do poder normativo pelo Judiciário Trabalhista mediante concorrência direta com a negociação coletiva sindical. A posição da Constituição de 1988 A Constituição Federal de 1988 iniciou a transição para a democratização do sistema sindical brasileiro, mas sem concluir o processo. Dentre os avanços consignados pelo texto constitucional destacam-se: o Afastamento da possibilidade jurídica de intervenção e interferências políticoadministrativas do Estado no sindicalismo (CF, art. 8º, I); o Reforça o papel dos sindicatos na defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais e administrativas (CF, art. 8.º, II); o Alarga os poderes da negociação coletiva, sempre sob o manto da participação sindical obreira (CF, art. 7º, VI, XIII, XIV, XXVI; art. 8º, VI).
Entretanto, o texto constitucional manteve o sistema de unicidade sindical (art. 8º, II); preservou o financiamento compulsório de suas entidades integrantes (art. 8º, IV); e deu continuidade ao poder normativo concorrencial da Justiça do Trabalho (art. 114, 2º), deixando, por dez anos, neste ramo do judiciário, o mecanismo de representação classista (que foi extinto em dezembro de 1999, pela Emenda Constitucional n.º 24). Vale frisar, que a reforma do sistema sindical brasileiro iniciada com a CF/88 não passa somente pela reestruturação dos velhos traços de matriz corporativa, mas também pelo implemento de certas garantias democráticas à atuação sindical, em contexto de plenas autonomia e liberdade sindical. Referências Bibliogáficas DELGADO, Maurício Godinho. Direito Coletivo do Trabalho, 4 Ed., São Paulo: LTr, 2011. JUNIOR, José Cairo. Curso de Direito do Trabalho. 6 ed., Bahia: Ed. Jus Podivm, 2011. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011