O ENFRENTAMENTO DO TRABALHO INFANTIL: a pobreza como fator condicionante



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Transcrição:

O ENFRENTAMENTO DO TRABALHO INFANTIL: a pobreza como fator condicionante Monique Angelis de Amorim Silva 1 RESUMO O artigo propõe demonstrar uma análise sócio-histórica acerca da pauperização da classe trabalhadora e sua relação com o trabalho infantil. Enfatizando as ações proposta pelo governo brasileiro com o objetivo de erradicar este tipo de prática, em especial, suas piores formas. Destarte, o Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente e o Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador serão os documentos observados nesse artigo, pois objetivam eliminar o uso do trabalho infantil até 2020. Palavras-chave: Capitalismo. Pobreza. Trabalho Infantil. ABSTRACT The paper proposes to demonstrate socio-historical analysis on impoverishment of the working class and its relation to child labor. Emphasizing the actions proposed by the Brazilian government in order to eradicate this practice, particularly its worst forms. Thus, the National Plan for Employment and Decent Work and the National Plan for Preventionand Eradication of Child Labour and Protection of Adolescent Workers will be observed the documents in this article, as aiming to eliminate the use of child labor by 2020. Keywords: Capitalis. Poverty. Child labor. 1 Estudante. Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: monique_angelis2@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO O debate apresentado fará uma analise relevante acerca da pauperização da classe trabalhadora como expressão fundamental da relação capital x trabalho. A ação estatal diante dessa problemática exerce o papel de controlar e eliminar este tipo de prática, a partir de instrumentos legais que objetivem a erradicação do trabalho infantil. Conquanto, faz-se necessário a relação das ações proposta pelo governo mediante o Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador com a realidade apresentada no atual cenário brasileiro. A problemática discutida é fruto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), Grupo de Pesquisa Trabalho e Serviço Social (TRASSO), com o Projeto de Pesquisa é intitulado, O Silenciamento da condição de Trabalho Decente Na Agenda Nacional de Combate à Pobreza. Ao analisar o trabalho infantil nos diversos momentos da sociedade é possível atinar para os diferentes modos de produção: escravista, feudal e o capitalista. No entanto, este tipo de prática não era visto como um problema social, e sim, como instância educadora para o desenvolvimento e inserção de crianças e adolescentes na sociedade. Nos modos de produção precedentes ao capitalismo (escravocrata e feudalismo), esse tipo de prática foi naturalizada, no modo de produção capitalista até certo momento de sua história, era visto de forma mais incisiva, como algo natural. Com o desenvolvimento da sociedade burguesa a criança e o adolescente ganhou espaço e a infância foi reconhecida como fase importante a ser preservada e protegida. À vista disso, tornou-se necessária a criação de um arcabouço jurídico que reprima e coíba qualquer ato que se configure como exploração do labor infantil. Porém, mesmo com a construção dessa legislação protetiva, a mão de obra infantil foi densamente explorada e utilizada e, alguns traços ainda persistem na atual conjuntura. É importante salientar que esse debate é fruto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), Grupo de Pesquisa Trabalho e Serviço Social (TRASSO), com o Projeto de Pesquisa é intitulado, O Silenciamento da condição de Trabalho Decente Na Agenda Nacional de Combate à Pobreza. O debate apresentado não se esgota neste artigo, visto que as analises serão 2. CONFIGURAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NA SOCIEDADE CAPITALISTA.

O período denominado por Marx, Revolução Industrial, conforme Cesário Júnior apud Oliva (2006, p. 39), trouxe uma radical modificação na organização da produção, existindo grandes fábricas, dotadas de maquinismos e reunindo milhares de empregados. A partir disso, tem-se que o trabalho ganha uma nova configuração na sociedade capitalista. Conforme Marx (1985), o trabalho é a interação orgânica do homem com a natureza a fim de produzir bens matérias que consiste em valores de uso. O trabalho, como criador de valores de uso, como trabalho útil, é indispensável à existência do homem quaisquer que sejam as formas de sociedade, - é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza, e, portanto, de manter a vida humana. (MARX, 1985, p. 50) Porém, na sociedade industrial os produtos possuem valores de uso e de troca, tem em seu fundamento a acumulação de riqueza, a expropriação de capital. Nesse processo de produção surgem duas classes com interesses distintos: o proletário (possuidor da força de trabalho), o capitalista (expropriador dos meios de produção). A utilização da força de trabalho infantil percorre a história, no entanto, no capitalismo essa exploração se torna mais aviltante, se intensifica, englobando toda a família na produção, sem distinção de gênero e idade onde homens e mulheres trabalham sob as mesmas condições a fim de maximizar os lucros dos capitalistas. Obter somente o limite mínimo do custo de matéria prima não se lhes assegura suficiente, razão por que procuraram baratear a produção. Uma das formas encontradas, dentre tantas outras como o aviltamento dos salários e o aumento excessivo das horas de serviço que penalizaram o trabalhador, foi o emprego de mulheres e crianças [...] (OLIVA, p. 40, 2006). Portanto, faz parte do sistema capitalista gerar riqueza na mesma proporção que gera pobreza, pois o que o trabalhador produz como trabalho excedente volta em forma de lucro para o empregador, e o trabalho de suas mãos não é desfrutado pelo o mesmo, sendo oportuno haver ricos e pobres, assim sendo o último assegurará a manutenção do primeiro. É explícito que o trabalhador nesta sociedade é mercadoria necessária para a produção e reprodução do capital. O que este trabalhador produz é expropriado para o capitalista em forma de mais-valia, valor excedente, trabalho não pago realizado pelo operário. Esse trabalho não pago, acumulação de capital, é expropriado do trabalhador

tornando fator essencial para o pauperismo 2 dessa classe, pois a remuneração atribuída não condiz ao tempo necessário para a produção de mercadorias. Ou seja, o operário trabalha mais do que necessita para produzir o equivalente a sua sobrevivência, denominado por Marx, trabalho excedente 3. Como esse trabalho excedente é expropriado em forma de valor pelo burguês, o trabalhador recebe o equivalente a sua subsistência para manter-se como a força de trabalho. Porém, não o necessário para manter sua família (filhos e mulher). Desse modo, a inserção de mulheres e crianças na fábrica é também uma condição necessária para o sistema do capital, visto que a utilização da força de trabalho infantil e feminina se constitui como um meio de exploração, por parte do capitalista, mais barata que a força de trabalho masculina. Nos dias atuais essa prática ramifica para os diversos modos de produção, no qual é notável a inserção de crianças em variados tipos de serviços, e, é possível notar a naturalidade que permeia o labor infantil. Na atual conjuntura, com o desenvolvimento da sociedade essa realidade ainda persiste, porém nos diversos ramos produtivos. Segundo Marin (2006), mesmo possibilitando a saída da criança do ambiente fabril pelos seguimentos sociais, entre eles os pais e familiares que se moveram e lutaram para a retirada da criança desse universo intenso de exploração. Alguns traços dessa exploração continua, porém a diferenciação é o aparato legislativo que proíbe qualquer ato que se configure em trabalho de crianças, salvos menor aprendiz. Assim, o Estado utiliza de programas e serviços, a exemplo, Programa de Erradicação de Trabalho Infantil (PETI), entre outros que visam minimizar as expressões concernentes ao modo de produção capitalista. Todavia, o Trabalho Infantil se configura uma expressão da questão social decorrente da pauperização sofrida pela classe trabalhadora, sendo assim, objeto de atuação do Serviço Social. A questão social é fruto das relações de acumulação existentes nas sociedades capitalistas é produto dos antagonismos, contradições e dominação das classes (burguesia x proletariado), ou seja, (capital x trabalho) intrínseca nesse sistema. Por isso, a questão social é indissociável desse sistema, o desemprego, a miséria, a fome, a violência, o trabalho infantil é parte integrante das relações sociais propicias para a geração de lucro, de riqueza e pobreza. É nesse contexto que cada vez mais famílias estão lutando contra a realidade perversa que norteia as relações de produção capitalista, buscando estratégias 2 O fenômeno do pauperismo resulta das contradições concretas entre capital e trabalho, a partir do moderno processo de industrialização capitalista, tendo como seu determinante o empobrecimento da classe trabalhadora. 3 Trabalho excedente consiste no valor do trabalho não pago ao trabalhador, isto é, no processo de produção o trabalhador produz mais do que é necessário a sua sobrevivência, e em contra partida é expropriado pelo capitalista em forma de lucro, denominado por Marx mais-valia, trabalho excedente.

de sobrevivência entre seus membros inserindo a crianças e adolescente cada vez mais cedo no mercado de trabalho. A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1983, p. 77) Segundo Netto (2011, p. 29) É somente nestas condições que as sequelas da questão social tornam-se mais exatamente: podem tornar-se objeto de uma intervenção contínua e sistemática por parte do Estado. Com isso, é nessas condições econômicos-sociais que se faz necessário o alvo nas políticas sociais e leis como forma de resposta as reivindicações da classe trabalhadora a cerca das relações sociais imposta pelo capitalismo. São neste sentindo, que o Estado intervém na questão social como forma de conter as suas expressões. Pois é no interior do desenvolvimento capitalista que está à raiz da questão social. Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para esfera pública, exigindo a interferência do Estado para o reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos. GIOSA (apud Iamamoto, 2001, p. 17). Assim, o Brasil articulou um leque de aparato jurídico que protege a criança e o adolescente das mais variadas formas de trabalho explorado, salvo que, a historicidade do trabalho infanto-juvenil é ligado ao desenvolvimento das relações de produção capitalista e consequentemente a questão social. 3. ENFRENTAMENTO DO TRABALHO INFANTIL: MEDIDAS PROTETIVAS Diante do elucidado, percebe-se como a força de trabalho infantil percorre a sociedade nos diversos modos de produção, porém a legislação restritiva a este tipo de prática só ganha ênfase com a entrada da criança nas fábricas, no início da produção capitalista, na industrialização, no qual a mão de obra infantil fica mais explícita e duramente explorada. No Brasil há indícios de legislação no período escravocrata com a promulgação da Lei do ventre Livre e após e a abolição da escravatura em 1888.

Com o desenvolvimento da sociedade capitalista foi-se necessário o Decreto Federal n. 1313, no qual não era permitindo que menores de 12 anos trabalhassem. Com a ineficácia desse decreto, em 1927, foi promulgado o primeiro Código de Menores que regulava apenas os menores em situação irregular, regulamentando questões como trabalho infantil, proibindo o trabalho de crianças de até 12 anos e o trabalho noturno aos menores de 18. Destarte, o código atua com medidas protetivas e com um controle do Estado sobre a família pobre. Em seguida em 1942, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), que consistia em um órgão do Ministério da Justiça que atuava como um sistema penitenciário para os menores e tinha como foco os menores carentes e infratores com medidas corretivas. Durante a ditadura militar no Brasil, foi promulgada a Constituição Federal de 1967 e duas legislações acerca da criança e do adolescente, quais sejam: a criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor Funabem (Lei 4.513 de 01/12/64) e o novo Código de Menores de 1979 (Lei 6.697 de 10/10/79). Contudo, a partir da Constituição Federal promulgada em 1988, conhecida como Constituição Cidadã, proporciona a Doutrina Jurídica da Proteção Integral a infância, e pela primeira vez no Brasil, uma constituição atribui a família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar direitos à crianças. Logo crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, sendo estes fundamentais para o desenvolvimento físico, psíquico e social dessa classe, previsto no artigo 227, que dispõe: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá- los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (PLANALTO, 1988) Essa constituição trouxe o principio de proteção integral preconizada pela ONU Organização das Nações Unidas (ONU), através da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente de 1989. De acordo com essa visão, todas as crianças e os adolescentes devem ser protegidos de forma especial pela família, pela sociedade e pelo Estado, para que tenham os seus direitos garantidos. Posteriormente, em 1990, foi promulgada a Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 instituindo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Estatuto da Criança e do Adolescente passou a regular as relações de cuidado e medidas protetivas relacionados à criança e ao adolescente, prefigurando criança com idade de até 12 anos incompletos, e aos 18 anos adolescentes. Com a emenda constitucional n.

20 sancionou a idade para trabalho aos 16 anos, e aos 14 na condição de aprendiz. No que respeito à profissionalização e a proteção ao trabalho o capítulo V dispõe dos art. 60 aos 69. Conquanto, faz-se necessário destacar que no plano internacional, as duas principais normas existentes a respeito do trabalho de crianças, são a convenção n. 138 sobre a idade mínima para admissão ao emprego e a 182 relacionada às piores formas do trabalho infantil, de 1973 e 1999 respectivamente, ambas da Organização Internacional do trabalho (OIT). Posteriormente em 1992, a OIT e seus parceiros locais avaliaram e executaram projetos, implantando no Brasil o Programa Internacional para Eliminação de Trabalho Infantil (IPEC). Entre os programas e políticas criadas para a erradicação do trabalho infantil cabe salientar o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), implantado em 1996 com o objetivo de retirar crianças e adolescentes de 7 a 15 anos de idade do trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre ou degradante (Manual Operacional do PETI, 2002). De inicio na área rural e conseguinte para a área urbana. Nesse contexto, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Portaria nº 365, de 12 de setembro de 2002, instituiu a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (CONAETI) com o objetivo prioritário de viabilizar a elaboração do Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil. Esse plano conceitua trabalho infantil como: Às atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes em idade inferior a 16 (dezesseis) anos, ressalvada a condição de aprendiz a parti r dos 14 (quatorze) anos, independentemente da sua condição ocupacional. Para efeitos de proteção ao adolescente trabalhador será considerado todo trabalho desempenhado por pessoa com idade entre 16 e 18 anos e, na condição de aprendiz, de 14 a 18 anos, conforme definido pela Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998. (BRASIL, 2011, p. 07). A Convenção 182 da OIT estabelece que cada país que é participe da convenção deve elaborar a descrição dos trabalhos que por sua natureza ou pelas condições em que são realizados, são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança ou a moral das crianças e, portanto devem ser proibidos. Nesse sentido, o governo brasileiro aprovou o Decreto nº 6.481, de 12 de junho de 2008, que define a Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), anteriormente descrita pela Portaria 20/2001 da Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego MET. Como continuidade ao pacto e compromisso nacional, algumas ações foram realizadas, entre elas, a elaboração da Agenda Nacional de Emprego e Trabalho Decente em 2006 e o Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente em 2010, esse plano preconiza erradicar o trabalho escravo e eliminar o trabalho infantil, em especial em suas piores formas e para isso promove o diálogo social entre os três segmentos:

Promover a articulação e seguimento do conjunto de programas e ações do governo federal relacionados ao trabalho, ao emprego e à proteção social, conforme definido na ANTD, e aprofundar ao mesmo tempo a cooperação com os demais países, em especial na relação Sul-Sul. O diálogo social e a prática do tripartismo, tanto em nível nacional como internacional, deverão ser fortalecidos tendo em vista esta perspectiva. O enfrentamento e superação da crise estrutural do emprego exigirão uma coordenação dos esforços de todos os países e, dentro destes, dos seus respectivos governos e organizações de trabalhadores e de empregadores (BRASIL, 2011, p.43). Uns dos resultados esperado por este plano é a erradicação definitiva do trabalho escravo e infantil, através de fiscalizações, metas, ações e estratégias até 2015, eliminando o trabalho infantil em suas piores formas e em 2020 erradicar toda prática que se configure como trabalho infantil. Além de combater o trabalho infantil esse plano objetiva reduzir e combater a pobreza no país, de modo a possibilitar melhores condições vida e de trabalho aos assalariados, esse pacto é fortalecido entre os atores tripartites (governo, empresários e trabalhadores). Diante da existência de tantas leis e artifícios para eliminar os problemas sociais mencionados, incluindo o trabalho infantil, cabe mencionar que, como a pauperização da classe trabalhadora é construída a partir das relações sociais estabelecida entre os homens, sendo assim grande parte da riqueza produzida nos diversos modos de produção é advinda de ossos e corpos ainda em formação, porém expropriada, retida das mãos daqueles que as produzem. Neste sentido, a condição para o trabalho infantil é algo social e não natural, bem como a geração de pobreza condicional ao trabalho infantil. O modo para o enfrentamento dessa problemática é determinado pela sua conjuntura. Para o enfrentamento da pobreza o governo objetiva possibilitar condições descentes a oportunidade de trabalho para homens e mulheres vendo nesta a principal forma de superar a extrema pobreza e a desigualdade social. No entanto, basta observar o cotidiano para perceber que ainda subsistem fortemente os elementos que demonstram a presença de trabalho infantil nos diversos setores, o que demonstra a não efetividade de algumas ações previstas para 2011 no Plano Nacional de Erradicação ao Trabalho Infantil, entre eles, a que prevê 90% de crianças entre 5 a 9 anos fora da situação de trabalho, onde só houve a queda de 3,4 % de ocorrência de trabalho nesta faixa etária. Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2012, que cerca de 3,5 milhões de crianças encontra-se em situação de trabalho, entre 5 a 17 anos, onde 81 mil crianças na faixa etária de 5e 9 anos de idade, 473 mil entre 10 e 13 anos e cerca de 3 milhões entre os 14 e 17 anos trabalham. Segundo o Estudo sobre trabalho infantil para a América Latina e o Caribe, 2008-2011. Para 2015 o Plano prevê o avanço considerável na prevenção e erradicação

do trabalho infantil resultando em maior garantia dos direitos de crianças e adolescentes. Objetivando as referidas ações, Reduzidir significativamente a ocorrência do trabalho infantil (abaixo de 14 anos); De 5 a 9 ano s: eliminada a ocorrência; De 10 a 13 anos: ocorrência reduzida a menos de 3%; Reduzir significativamente a ocorrência do trabalho infantil nas atividades agrícolas (abaixo de 14 anos); De 5 a 9 anos: eliminada a ocorrência; De 10 a 13 anos: ocorrência reduzida a menos de 2/3 do número absoluto atual; Reduzida a influência dos fatores gênero e raça na ocorrência do trabalho infantil, entre outros. (BRASIL, 2011, p. 24-26) Diante do exposto, e considerando toda a medida protetiva na atual conjuntura brasileira, faz-se necessário um paralelo entre o aparato jurídico legal que protege as crianças e adolescentes com a realidade, no qual se apresenta os dados, uma vez que a medida que se desenvolve a sociedade capitalista às medidas protetivas contra o trabalho degradante seja de crianças, adolescentes e adultos se desenvolvem na mesma proporção. Com isso, percebe-se que não é a falta de aparelhamento estatal que proíba a força de trabalho infantil, pois na sociedade vigente possui modernos instrumentos que visam combater o labor infantil, dando ênfase nas suas piores formas como já supracitado anteriormente, mas sim as relações sociais que criam condições de uso do labor infantil desde a tenra idade. Desse modo, compreende-se que consumir a força de trabalho infantil está associado ao modo de sociabilidade, nas formas de organização social, e em vista disto a condição de silenciamento e persistência desta prática esta ancorado as modernas legislações com a finalidade de responder as demandas da sociedade, mas não seu sentido efetivo, visto que a condição de força de trabalho infantil está no cerne da sociedade capitalista. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, é possível apreender em suas raízes o processo histórico que condiciona a utilização da mão de obra infantil e as contradições que contribuem para a persistência dessa prática. Apropriando-se como referência a análise crítica das relações sociais como forma de entender as contradições inerentes ao modo de produção capitalista que explora e subordina o trabalhador aprofundando e contribuindo para a miserabilidade da classe trabalhadora. Todavia, a sociedade burguesa é modo de produção no qual explora de forma mais gritante o labor infantil, e em contra partida, é a sociedade que possui um arcabouço jurídico de proteção integral a criança e ao adolescente em relação a seus precedentes. Diante

disto, entender essa dicotomia torna- se imprescindível para compreender o cerne do trabalho infantil e suas causas atenuando para o modo de produção vigente baseado no lucro exacerbado e a expropriação da riqueza produzida socialmente. Para o trabalho produtivo no sistema capitalista é necessário à remuneração diferenciada, e condições de liberdade limitada. Porém, os princípios que norteia a Agenda Nacional de Emprego e Trabalho Decente é baseado na liberdade, condições dignas de trabalho, e remuneração adequada com o fim de combater a extrema pobreza. Dessa forma, articular os objetivos da Agenda com o processo de desenvolvimento capitalista é dicotômico, pois os ideais capitalistas não têm conformidade com o desenvolvimento humano, visando condições dignas de vida, pois se baseia na exploração do homem pelo homem e a desumanização das relações sociais. Diante disto, o trabalho escravo, e em especial o trabalho infantil, constitui meta do governo para eliminar as condições necessárias da sua existência, para tanto, erradicar o trabalho infantil significa aniquilar o processo de exploração que a classe trabalhadora é submetida e sua dominação, sendo estes os elementos que sustentam o capital. Portanto, erradicar a utilização de mão de obra infantil seria o mesmo que suprimir o processo econômico, social e político que o ocasiona, ou seja, a sociedade do capital, e constituindo outra forma de sociabilidade, no qual não haverá acumulação de riquezas e dominação de uma classe sobre a outra. REFERENCIAS AMARAL, Maria Virgínia Borges. Projeto de pesquisa: O discurso do trabalho decente na agenda nacional de combate à pobreza - questões para o debate do serviço social no setor sucroenergético de Alagoas Fase 2: O Silenciamento da condição de Trabalho Decente Na Agenda Nacional de Combate à Pobreza. (2014 2015). BRASIL. Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador/ Comissão nacional de Erradicação do Trabalho Infantil. 2 ed. Brasília: Ministério do trabalho e Emprego, 2011. 95 p. BRASIL. Plano Nacional de Emprego e Trabalho decente. Brasília, 2010. 44 p.

BRASIL. Agenda nacional de Trabalho Descente. Brasília, 2006. 19 p. MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia política. Livro I. O processo de produção de capital. 6ed. 1980. OLIVA, Roberto Dantas. O Princípio da Proteção Integral e o Trabalho da Criança e do Adolescente no Brasil: com as alterações promovidas pela Lei n. 11.180, de 23 de setembro de 2005, que ampliou o limite da idade nos contratos de aprendizagem para 24 anos. São Paulo. LTr, 2006. IAMAMOTO, Marilda. Relações Sociais e Serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodólogico. São Paulo: Cortez, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 19 de fevereiro de 2105. GIOSA, Beatriz Aparecida Nogueira. Trabalho Infantil: entre a exploração e a sobrevivência. 2010. 102 fls. Tese de (Mestrado). Pontifíca Universidade Católica de São Paulo PUC-SP. São Paulo, 2010. NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 8 Ed. São Paulo: Cortez, 2011.