29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul PROMOÇÃO DE SAÚDE: VIVÊNCIAS E SENTIDOS NO TRABALHO COM A COMUNIDADE Área Temática: Saúde Ramona Fernanda Ceriotti Toassi (Coordenadora da Ação de Extensão) Autores: Ramona Fernanda Ceriotti Toassi 1, Juliana Maciel de Souza 2, Izis Leopoldino da Motta 3, Carmen Beatriz Borges Fortes 4, Cristine Maria Warmling 5, Jacqueline Oliveira Silva 6, Roberta Alvarenga Reis 7 Palavras-chave: Educação e saúde, promoção de saúde, ensino em saúde. Resumo Vinculado ao Programa Convivências 2011 da UFRGS, o objetivo foi promover a convivência entre acadêmicos, professores e técnicos com a comunidade, a fim de problematizar/estimular o auto-cuidado e a prevenção da saúde em uma comunidade do município de Gravataí/RS. Foi realizado o reconhecimento do território, a aproximação com a comunidade, o planejamento/desenvolvimento das ações de educação e saúde e a avaliação. O vínculo e o cuidado oportunizados pelo projeto nas vivências e o contato com a comunidade foram aspectos que se destacaram. Introdução O Programa Convivências da UFRGS caracteriza-se por uma metodologia participativa de construção de conhecimentos. Durante esse período, estudantes de graduação, professores e técnicos participam, no sentido de viver e conviver com a comunidade sob as condições que os cercam, tendo como ponto de partida os saberes que cada um possui. Esta dinâmica possibilita, além da troca das experiências, os momentos do ensinar e o do aprender. A relevância da presente proposta de ação de extensão aconteceu pela iniciativa de participação e vivência de estudantes, professores e técnicos oriundos de diferentes áreas da saúde, de modo integrado e articulado, e uma comunidade em estado de vulnerabilidade. O projeto contou com a participação das seguintes unidades da UFRGS: - Faculdade de Odontologia (Curso de Odontologia e Fonoaudiologia) - Instituto de Psicologia (Curso de Psicologia e Serviço Social) - 1 Doutorado em Educação. Departamento de Odontologia Preventiva e Social - Faculdade de Odontologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ramona.fernanda@ufrgs.br. 2 Comissão de Graduação de Odontologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 3 Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 4 Departamento de Odontologia Conservadora. Universidade Federal do Rio Grande do Sul 5 Departamento de Odontologia Preventiva e Social. Universidade Federal do Rio Grande do Sul 6 Departamento de Medicina Social. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 7 Departamento de Odontologia Preventiva e Social. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Faculdade de Medicina (Curso de Medicina e Nutrição). Além dos professores e técnicos, estudantes de diferentes cursos também tiveram inserção no projeto. O objetivo desse projeto foi promover a convivência entre estudantes de graduação, professores e técnicos da UFRGS com a comunidade atendida pela Unidade de Saúde da Família (USF) Aristides D Ávila, no bairro Parque dos Anjos, município de Gravataí/RS, a fim de problematizar/estimular o auto-cuidado e a prevenção em saúde. Metodologia O projeto foi realizado a partir de visitas na comunidade, durante o período de 17 a 23 de janeiro de 2011. A população selecionada para essa convivência foi a comunidade atendida pela Unidade de Saúde da Família (USF) Aristides D Ávila, no bairro Parque dos Anjos, município de Gravataí/RS. O bairro é de grande extensão territorial e constituído por diversas comunidades que possuem realidades socioeconômicas muito diversificadas entre si. O projeto Promoção de Saúde foi desenvolvido a partir das seguintes etapas: Etapa 1 Reconhecimento do território, com identificação dos equipamentos e movimentos sociais existentes e aproximação com a comunidade, explicando os objetivos do projeto e ouvindo essa comunidade quanto às suas necessidades e expectativas. Etapa 2 Planejamento das ações a serem desenvolvidas com participação dos profissionais da USF Aristides D Ávila. A partir da realidade observada e das expectativas e sugestões da equipe de saúde da família, o grupo, em parceria com a equipe de saúde, elaborou o planejamento de ações específicas no âmbito da educação e prevenção em saúde. Etapa 3 Desenvolvimento das atividades do projeto. Durante uma semana, a convivência com a comunidade e com a equipe de Saúde da Família do local incluiu: grupo do artesanato, grupo da atividade física, roda de conversa sobre alimentação, corpo e obesidade, grupo de saúde bucal com crianças em escola e, na comunidade, junto com suas mães, grupo com mulheres gestantes e visitas domiciliares. No último dia de atividades, o grupo foi recepcionado na USF com um café da manhã organizado pelas agentes comunitárias de saúde. A seguir, foi realizada a Oficina com argila, coordenada por uma terapeuta ocupacional, trabalhando a representação do grupo sobre o entendimento do significado de corpo, com as agentes comunitárias de saúde. Segundo Bastos, Peres e Ramires (2003, p. 119), para se fazer educação em saúde, é necessário saber em primeiro lugar o que significa saúde, e esta foi uma questão permanente em todas as atividades desenvolvidas. Abegg (1999) define a educação em saúde como qualquer oportunidade de aprendizado que objetiva adaptação voluntária de comportamento que leve à saúde. Historicamente ela vem sendo utilizada como uma estratégia importante para melhorar as condições de saúde da população. Dessa forma, a promoção da saúde pode ser compreendida como um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo (MACHADO et al., 2007, p.336). Freire (2001), falando sobre a concepção problematizadora, fundamenta suas idéias na prática do diálogo, na problematização do real, na interrogação, na
aprendizagem da análise crítica, sistemática e aprofundada, na recusa do fatalismo e na determinação de transformar a realidade em função dos homens. O profissional comprometido com essa perspectiva problematizadora da educação em saúde educação, deve considerar os aspectos psicológicos e afetivos, suas angústias e resistências diante das situações apresentadas (PETRY; PRETTO, 2003). O entendimento do acolhimento e do vínculo no encontro entre os profissionais de saúde, estudantes, técnicos e comunidade, permite a construção de uma prática mais humanizada de atenção à saúde bucal, passando de uma posição centrada em procedimentos para uma outra centrada no sujeito (PINHEIRO; OLIVEIRA, 2011). O cruzamento do saber científico com a realidade sociocultural permite o fortalecimento da identidade e dos valores de cada grupo social e não somente a redução de índices epidemiológicos. A participação e o envolvimento de cada comunidade, somente por meio de uma relação dialógica, permitem a união, o desenvolvimento e a conscientização, ou seja, a educação para a transformação social (DIAS et al., 2006). Etapa 4 Avaliação das atividades desenvolvidas. Pensando nesse processo de transformação, ao final das atividades do projeto, o grupo se reuniu e a seguinte questão disparadora foi colocada para reflexão: tente resumir em uma palavra ou frase o que foi essa semana de convivências para você. As falas foram gravadas e, após, transcritas para que as idéias colocadas ficassem registradas na íntegra. As seguintes palavras emergiram sobre a experiência com o projeto: potencializador, convivência, novo olhar sobre essa comunidade, carinho, muito trabalho, gratificante, anormal, troca, aprendizado e carência (comunidade). O projeto preocupou-se em não seguir a perspectiva de um projeto educativo em saúde de transmissão de conhecimentos especializados, onde o profissional da saúde detém e ensina para uma população leiga, cujo saber viver é desvalorizado e/ou ignorado nesses processos de transmissão. Trabalhou-se na idéia da desconstrução de grande parte do aprendido no cotidiano da vida (MEYER et al., 2006). Em todas as atividades do projeto, foi entregue um folder educativo, elaborado em parceria com o Departamento de Educação e Desenvolvimento Social (DEDS), enfocando o cuidado do corpo. Figura: Folder do projeto
Figura 1 Folder sobre o cuidado do corpo (frente). Figura 2 Folder sobre o cuidado do corpo (verso). Conclusão O projeto Promoção de Saúde promoveu a convivência entre estudantes de graduação, professores e técnicos da UFRGS com a comunidade, problematizando e estimulando o auto-cuidado e a prevenção em saúde. Além disso, por meio da proximidade dos estudantes com a comunidade, o projeto permitiu complementar a formação de futuros profissionais de saúde atentos à realidade social. Após uma semana de convivência entre Universidade e comunidade, percebeu-se que a promoção da saúde não constitui responsabilidade restrita do setor saúde, mas depende de uma integração entre diversos setores do governo municipal, estadual e federal, os quais articulam políticas e ações que tragam melhorias das condições de vida da população e da oferta de serviços essenciais aos seres humanos (MACHADO et al., 2007). As diferentes vivências oportunizadas pelo projeto convivência podem servir como uma cunha de mudança nas estruturas do pensamento dos estudantes e dos docentes, apontando para uma formação acadêmica em que o conhecimento técnico esteja sempre associado ao vínculo e ao cuidado efetivo.
Referências ABEGG, C. Notas sobre a educação em Saúde Bucal nos consultórios odontológicos, unidades de saúde e nas escolas. Ação Coletiva, v. 2, n. 2, p. 258, abr./jun. 1999. BASTOS, J. R. M.; PERES, S. H. C. S.; RAMIRES, I. Educação para a saúde. In: PEREIRA, A. C. P. Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: Artmed, 2003. Cap. 6, p. 117-139. DIAS A. A. et al. Saúde Bucal Coletiva: Metodologia de Trabalho e Práticas. São Paulo: Santos, 2006. FREIRE. P. Conscientização: teoria e prática da libertação. 3. ed. São Paulo: Centauro, 2001. 102p. MACHADO, M.F.A.S. et al. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS uma revisão conceitual. Ciência & Saúde Coletiva, v. 12, n. 2, p. 335-342, 2007. MEYER, D. E. E. et al. Você aprende. A gente ensina? Integrogando relações entre educação e saúde desde a perspectiva de vulnerabilidade. Cad. de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 6, p. 1335-1342, jun. 2006. PETRY, P. C.; PRETTO, S. M. Educação e Motivação em Saúde Bucal. In: KRIGER, L. (Coord.). ABOPREV. Promoção de saúde bucal: paradigma, ciência, humanização. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2003. Cap. 18, p. 371-386. PINHEIRO, P. M.; OLIVEIRA, L. C. A contribuição do acolhimento e do vínculo na humanização da prática do cirurgião-dentista no Programa Saúde da Família. Interface Comunic., Saúde, Educ., v. 15, n. 6, p. 185-198, jan./mar. 2011.