INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2010. Ao Exmo. Sr. Dr. J. Bernardo Cabral MD Presidente da Comissão Permanente de Direito Constitucional doiab Prezado Presidente, Ementa: Indicação n. 013/2011 - Criação de Conselhos de Comunicação Social - A informação é atividade de interesse coletivo - Legitimidade e autoridade constitucional do poder público para regulamentar, nos termos da lei, as atividades empresariais de comunicação social - Relevante interesse social para impedir censura praticada pelos meios de comunicação - Indicação que deve ser arquivada por ausência de objeto, por não especificar os projetos de lei a serem analisados. Fui designado relator da indicação epigrafada, que tem por objeto "manifestação formal contra a criação de Conselhos de Comunicação Social", na qual o indicante se insurge contra diversos projetos de lei para regulamentação do tema, sem, contudo, especificá-ios. Saliento desde já que, ao contrário do indicante, vejo com bons olhos a ideia da criação de órgão de regulamentação e fiscalização das atividades do concentrado segmento de comunicação social. Por se tratar de atividade de interesse da coletividade, é lídimo e hígido ao Poder Público regulamentar e fiscalizar, nos termos da
Constituição e da lei, as mencionadas abusos praticados contra a sociedade. atividades, diante A propósito, o que a Constituição veda é a restrição à manifestação do pensamento, à criação, à expressão e à informação, que não pode ser praticada por ninguém, seja por agentes do Estado ou particulares, inclusive as próprias empresas do segmento de radiodifusão, que atuam por meio de concessão pública. Nesse ponto, peço licença para abrir um parêntesis e manifestar minha tristeza com decisões judiciais que, partindo muitas vezes de sofismas, dizem respeitar a liberdade de expressão, mas permitem que se pratique a mais feroz das censuras, como fizeram os regimes ditatoriais. É inaceitável que, nos dias atuais, qualquer tribunal possa impedir alguém de escrever sobre determinado tema ou pessoa. O Judiciário jamais poderia servir de instrumento para cassar a palavra a um cidadão e profissional, pois, além da censura, estaria impedindo também o exercício do ofício e do trabalho de jornalista. O direito não pode proteger este tipo de decisão. Ao contrário, deve reconhecer a ampla liberdade de manifestação como direito sagrado do homem, ainda mais quando o Supremo Tribunal Federal apregoa, a todo o momento, a preservação da dignidade da pessoa humana. Infelizmente, há magistrados que acreditam que os jornalistas de coragem querem usurpar sua função de julgadores e dizem até que estes pretendem se transformar em fomentadores de justiça. Retomando o cerne da questão, saliente-se que a sociedade brasileira garante, por princípio econômico, a livre iniciativa. Contudo, a Constituição assegura ao Estado, nos termos da lei, a regulamentação e a fiscalização de atividades econômicas, especialmente as de caráter público, como a comunicação social, sendo vedada a concentração deste segmento por meio de oligopólio, como parece ocorrer na prática.
~"t:t0~.~rí7''' ;;';,j'''~ ~~/ ~ '<'S'~ 'd'" ~_n",,_..,- ':" ');. Com efeito, quando se trata de prestação de serviço público, cab %( fe'-1 '/J )~;) diretamente ao Estado, em primeiro plano, desenvolver a~:~~;t'~:::~~~ atividade ou, então, consentir que o setor privado possa explorá-ia '* por meio de concessão ou permissão. Quando a Constituição proíbe toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística, não quer dizer que a iniciativa privada tenha território livre para fazer o que bem entende, não podendo distorcer, limitar nem censurar a notícia, que deve sempre, única e objetivamente, refletir a verdade na exata acepção do termo. Além disso, a comunicação social não está restrita à notícia, pois produz toda uma gama de manifestações capazes de atingir valores culturais, morais, sociais e da família, que, pela Constituição, têm especial proteção do Estado. Atualmente no Brasil, existe programa televisivo, com transmissão durante 24 horas, que se constitui num elogio ao voyeurismo mais vulgar, ao hedonismo e ao ócio da pior espécie. Programas desse tipo, propagados pela radiodifusão pública, que geram vultosas receitas para a emissora, em nada contribuem para incutir e fortalecer nas crianças e adolescentes os conceitos de ética, trabalho e moral, distorcendo os princípios basilares da família, que, repita-se, merece a proteção do Estado. A propósito, por ocasião da análise da Indicação n.º 41/2010, que tratou do tema da liberdade de expressão diante da revogação da lei de imprensa, proferi voto-vista cuja fundamentação reproduzo em parte, por considerá-ia própria à questão: "Senhores, o Presidente Celso foi muito feliz com a presente tndicação, que possibilita ao Instituto debater não apenas (i) a atuação do Poder judiciário diante da revogação da lei de imprensa pelo STF, como também (U) a liberdade de imprensa e expressão, e acrescento ainda a questão (iii) que
('.NOGt\K ~'r-'-7f'"''''""o,..,.f':;l/r:' (,~t-.~. ~ ~.',1.: \~~..,oí -c- f,~_.~..,..,...",q>, j..: \",..,.-. '1..~" ~c.~t ~".,.:., t.!:~ imprensa é essa (?), que deveria informar, porém em~;;; \... i/:i) diversas oportunidades deforma e desinforma'v{~ ~ <.':'<~."::~:~'o <: ~,.I/I. ç,.7 descumprindo (ela própria) o preceito constitucional.z.,>: do direito à correta notícia. O que mais me preocupa neste processo (e que todos sabemos) é que mentiras, quando reiteraâamente repetidas, podem se tornar falsas verdades. O Ministro Marco Aurélio manifestou no seu voto vencido que o julgamento da causa se constituía numa "estrada de mão dupla" e indagou ao plenário do STF qual preceito fundamental teria sido violado. E eu vou além para indagar: a quem interessa a ausência de uma lei de imprensa? Realmente, os pontos ventilados pelo Ministro Marco Aurélio foram importantes, uma vez que a lei de imprensa, apesar de sancionada em um regime de exceção, assegurava direitos constitucionais amparados pela Constituição de 1988, como a resposta do agravado. Além disso, vale lembrar que, com o intuito de combater as manipulações realizadas pelo pequeno grupo de empresas que controlam os meios de comunicação, a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão e a Federação Nacional dos jornalistas propuseram, no Supremo Tribunal Federal, ação direta de inconstitucionalidade por omissão do Congresso Nacional em regulamentar diversos artigos da Constituição relacionados aos meios de comunicação social, uma vez que já decorreram mais de 22 anos da sua promulgação. A propósito, a mora do legislador, apontada na mencionada ação direta de inconstitucion alidade,
/~~,,",o) "'IV'\~~à i~~y' "':,.,-,T"'\1~\ s fi t:/n.t: U(;:~Il::JIL U US t.oiiu otouores oas empre~as. a(}~~::~:j?', "',,"ih.,,/wlf' rnrn"mrnrnn nllp nhmm pm r;pnmpntn m/h"rn \:',c., ~~-?o o," ~. ',',1/' ':);í" ~.+" mediante concessão (nos casos de radiodifusão), e ~:J!... deveriam agir conforme os interesses da coletividade, mas, em vez de informar. trabalham - como já disse - a desinformação, afim de manter o status quo. Com efeito, a História registra diversos casos em que os meios de comunicação foram empregados para atacar governantes que apenas se colocaram contrários à entrega das riquezas nacionais e à exploração de seu povo. Sem embargo, vejam, então, como é oportuna a indicação. Está na hora de aprofundarmos o debate sobre qual tipo de imprensa esta mos falando, pois {se você ler o jornal com atenção todos os dias, só há notícias ruins, pouca esperança, e você tem vontade de cometer um suicídio por dia, se isso fosse possível.' Oliver Stone, cineasta americano, Revista Versus, n. Q S - agosto de 2010, p.1s. Vale lembrar ainda a afirmação de Osny Duarte Pereira de que '0 país que dominar a imprensa de outro tem o controle sobre a opinião pública, porque se o povo for erroneamente informado pela rádio, pelas revistas e jornais, fará seus julgamentos também erradamente, visto que o poder de adivinhar não existe. ' (Quem faz as leis no Brasil/]" Ressalte-se que, na apreciação da indicação n. Q 41/2010, propus que o IAB promovesse um seminário interdisciplinar, para analisar com profundidade a questão da liberdade de imprensa e expressão, convocando as representações dos trabalhadores e dos patrões do setor, o que foi acolhido pelo presidente do Instituto na sessão de votação.
.o)~íog~.:,.r~.:op~~.;:(ji'}\.. ;f (., / 11 ""'.1.' 'is'\' ~?(íln 'y;~ "")1.i '7 Além do mais, o tema da indicação em comento não é novo~~:~~".":""u"":::6~ ",I{,~. S,.,,'" estando em vigor lei federal, sancionada pelo presidente Fernando '".... Collor, que criou o Conselho de Comunicação Social. Portanto, o Conselho de Comunicação Social, ao contrário do imaginado, não significa permissão à prática da censura, mas atende à necessidade de se regulamentar e fiscalizar atividade econômica de relevante interesse público. De qualquer forma e independentemente da opinião manifestada em favor da constitucionalidade da idéia de criação de conselho regulador e fiscalizador das atividades empresariais de comunicação social, considero que a indicação não tem objeto, uma vez que não foram mencionados os textos legislativos a respeito do tema, tornando impossível a análise. Isto posto, opino pelo seu arquivamento. Jorge Rubem Folena de Oliveira JORGE RUBEM FOLE NA DE OLIVEIRA Signer: CN=JORGE RUBEM FOLENA DE OLIVEIRA C=BR O=ICP-Brasil E=jorgerubem@fjbadvogados.com.br Public key: RSA/1024 bits 2011.02.1619:17:40