A METÁFORA COMO ACONTECIMENTO EM A ROSA DE HIROXIMA Isabel Cristina Ferreira Teixeira 1 Charlusa Camargo Montezano 2 Douglas Ferreira Soares 3 Larissa do Prado Martins 4 Maria Eduarda Osório Macedo 5 Resumo: O presente trabalho propõe-se a apresentar a Língua e Literatura como campo de pesquisa e, a partir desta, será realizada uma análise do ponto de vista textual do poema A Rosa de Hiroxima escrita pelo cantor e compositor Vinícius de Moraes. A análise do texto foi realizada voltando-se às concepções de enunciação e dialogismo, concebidas por Bakhtin. Atentando-se às informações trazidas desde o nome ao corpo do poema, pois permite que seja feita uma relação metafórica entre a bomba e a rosa, as quais estão associadas no ato da explosão: assim que a bomba explode, forma-se uma nuvem de fumaça, a que o poeta chamará de rosa, que dá nome ao poema. Resolvemos associar a metáfora ao dialogismo, pois a metáfora pode ser entendida como forma composicional do dialogismo. Por que fizemos essa relação? Ora, na perspectiva bakhtiniana, o enunciado significa por ser atravessado por outros enunciados; e o que é a metáfora senão uma figura, um enunciado polissêmico. Então não pensamos na metáfora como uma palavra, mas como um enunciado, ou seja, linguagem em ação, em uso, em interação.durante a análise do poema A Rosa de Hiroxima, concluímos que as metáforas apresentam uma forma de dialogismo, pois formam um meio de trazer enunciados históricos, reais, de uma forma suavizada e ideal para o entendimento do texto, não sendo vista numa perspectiva estrutural, não como uma palavra, mas como um acontecimento enunciativo. Palavras-chave: metáfora, dialogismo, enunciação, acontecimento Modalidade de Participação: Iniciação Científica A METÁFORA COMO ACONTECIMENTO EM A ROSA DE HIROXIMA 1 Docente. isabelcristinaft@gmail.com. Orientador 2 Aluno de graduação. char.montezano@gmail.com. Apresentador 3 Aluno de graduação. douglassoares8819@gmail.com. Co-autor 4 aluna de graduação. lariiissa.martins9@gmail.com. Co-autor 5 Aluna de graduação. eduardamacedocccc@gmail.com. Co-autor Universidade Federal do Pampa Santana do Livramento, 6 a 8 de novembro de 2018
A METÁFORA COMO ACONTECIMENTO EM A ROSA DE HIROXIMA 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho propõe-se a apresentar a Língua e Literatura como campo de pesquisa e, a partir desta, será realizada uma análise do ponto de vista textual do poema A Rosa de Hiroxima escrita pelo cantor e compositor Vinícius de Moraes. A análise do texto será feita voltando-se às concepções de enunciação e dialogismo, concebidas por Bakhtin. Atentando-se às informações trazidas desde o nome ao corpo do poema, pois permite que seja feita uma relação metafórica entre a bomba e a rosa, as quais estão associadas no ato da explosão: assim que a bomba explode, forma-se uma nuvem de fumaça, a que o poeta chamará de rosa, que dá nome ao poema. Além disso, a rosa, que é considerada habitualmente como um símbolo feminino, comumente associado ao amor e à beleza, neste caso está sendo relacionada com o medo, o desastre e todas as terríveis consequências causadas por essa rosa específica. Nessa direção, resolvemos associar a metáfora ao dialogismo, pois a metáfora pode ser entendida como forma composicional do dialogismo. Por que fizemos essa relação? Ora, na perspectiva bakhtiniana, o enunciado significa por ser atravessado por outros enunciados; e o que é a metáfora senão uma figura, um enunciado polissêmico. Então não pensamos na metáfora como uma palavra, mas como um enunciado, ou seja, linguagem em ação, em uso, em interação. 2. METODOLOGIA Segundo Bakhtin entende-se o dialogismo como um modo de funcionamento real da linguagem, onde um enunciado é atravessado por outros, formando assim os discursos. Isso significa que um enunciado presente mobiliza outros, necessários para a constituição do sentido deste que está em uso, em uma enunciação específica. Entendendo que, para a compreensão do sentido do texto, é necessária uma interação com o processo histórico que culminou na explosão de uma bomba atômica na cidade de Hiroshima, elegemos o conceito de dialogismo como norteador na análise para o objeto de estudo. Também, e não menos importante, a metáfora, como processo fundamental para HQWHQGHUFHUWRVHOHPHQWRVQRWH[WRFRPRDVLJQLILFDomRGD³URVD $OpPGLVVRDPHWiIRUDVH constrói com a escolha de dois termos, um em seu sentido literal e outro no sentido figurado, de modo que o quê os une é uma característica do segundo termo sendo aplicada no primeiro. Assim, os relacionamos, pois a metáfora como dito anteriormente é um termo ideal para representar o termo real, ou seja, a metáfora é polissêmica, ela significa por ser atravessada por um sentido que originalmente seria considerado no sentido real. Uma das diferenças fundamentais é que a metáfora se situa em uma perspectiva estrutural e o enunciado em uma perspectiva enunciativa. O enunciado situa-se em uma perspectiva discursiva em que se pensa em linguagem e na construção do sentido em uma situação de interação. Com esta relação entre a metáfora e o enunciado, estamos discursivisando a metáfora, trazendo-a para o âmbito da enunciação. 1. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente desta grande metáfora em que o poema se constitui e nessa visão enunciativa que nós atribuímos a essa figura tradicionalmente vista como dissociada da enunciação, chamamos a atenção para o uso dos verbos utilizados no imperativo, o que aponta para uma recomendação, para uma ordem e também aponta para a interpelação do leitor, o
OHLWRUpFKDPDGRDUHIOHWLUWDOFRPRDFRQWHFHQDUHSHWLomRHQIiWLFDGH³3HQVHP QRVYHUVRV1, 3, 5, e 7, e GHSRLVGH³1mRVHHVTXHoDP no verso 9. Outro aspecto bastante interessante é o conjunto de adjetivos usados ou de locuções que funcionam como adjetivos, como nos versos a seguir: ³0XGDV WHOHSiWLFDV ³&HJDV LQH[DWDV ³5RWDVDOWHUDGDV H³&RPRURVDVFiOLGDV. Além disso, o poema mostra a herança deixada pela bomba, como podemos interpretar QRVYHUVRVDVHJXLU³$URVDKHUHGLWiULD H³$URVDUDGLRDWLYD. E também podemos ver a estupidez humana em criar uma bomba que ocasionou a tragédia em Hiroshima como vemos neste verso: ³(VW~SLGDHLQYiOLGD. Mediante a análise Bakhtiniana, identifica-se que a rosa citada pelo poeta, serve como uma metáfora para a bomba atômica, já que, quando ela explode, surge uma espécie de caule com um "bojo" em cima, fato este que o autor associa a uma rosa para contrapor estupidez e delicadeza. Através dessa metáfora chegamos a um paralelo traçado entre o acontecimento histórico e o texto, constituindo assim o dialogismo. A Rosa de Hiroxima nos remete à explosão da bomba atômica naquela cidade. Dessa forma, identifica-se no texto uma alusão à bomba atômica lançada pelos EUA em Hiroshima, no Japão, durante a 2ª Guerra Mundial. A partir disso, entende-se que se trata da bomba pela obviedade presente no título do poema, já que se trata da cidade onde aconteceu o incidente e WDPEpPQRGHFRUUHUGRWH[WRRDXWRUFKDPDDURVDGH³URVDUDGLRDWLYD RX³DQWL-rosa DW{PLFD $t HVWi SUHVHQWH XP IDWR KLVWyULFR QR WH[WR(QWHQGHPRV VH WUDWDU GH XPD FUtWLFD atentando aos leitores, visto que o autor a escreve sempre no imperativo e na terceira pessoa GRSOXUDO³3HQVHPQDVFULDQoDVPXGDVWHOHSiWLFDV3HQVHP0DVRKQmRVHHVTXHoDP GDURVD Ao mencionar as mulheres com suas ³rotas alteradas, percebemos que o poeta se referia às diferentes mudanças e consequências causadas pela destruição da bomba. Logo no corpo do poema, podemos observar as feridas causadas pela radiação, como são mostradas QDV IUDVHV D VHJXLU ³3HQVHP QDV IHULGDV ³&RPR URVDV FiOLGDV $VVLP FRPR VmR representadas, também nas palavras ³UDGLRDWLYD ³LQYiOLGD H³FLUURVH. Outra característica marcante a ser mencionada, além das manifestações metafóricas, é a falta de pontuação no texto, sem vírgula ou sequer o ponto final. A ausência da pontuação fez com que o poema adquirisse um sentido próprio, como se qualquer alteração no texto pudesse mudar a sua essência. Além disso, essa ausência de pontuação culmina com XP~OWLPRYHUVRTXHGL]³6HPURVDVHPQDGD LPLWDQGRDH[SORVmRHRGHVDSDUHFLPHQWRGD fumaça. Trata-se de uma crítica a bomba atômica, mas não especificamente a ela, o que leva o poeta a escrever o poema é atentar aos leitores as consequências da explosão da bomba, como nas palavras "mudas, telepáticas; cegas, inexatas". Assim, o dialogismo é uma noção capaz de produzir uma interpretação coerente por produzir sentidos que resultam na metáfora e também porque há uma interação entre os enunciados do poema e o que está fora dele, isto é, a exterioridade, necessária para a interpretação, ou seja, ambos confirmam o dialogismo. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante a análise do poema A Rosa de Hiroxima, concluímos que as metáforas apresentam uma forma de dialogismo, pois formam um meio de trazer enunciados históricos, reais, de uma forma suavizada e ideal para o entendimento do texto, não sendo vista numa perspectiva estrutural, não como uma palavra, mas como um acontecimento enunciativo.
Além disso, o estudo da obra nos oportunizou o aprimoramento na pesquisa sobre enunciação e dialogismo formulados por Bakhtin, usando o texto literário como base para análise textual, e conseguimos analisar a forma composicional, dentre outros recursos poéticos para dar conta do estilo do poema. 5. REFERÊNCIAS MORAES, Vinicius. A Rosa de Hiroxima. Rio de Janeiro, 1954. FIORIN, José Luiz. Introdução ao Pensamento de Bakhtin/José Luiz Fiorin. 2. ed. - São Paulo: Contexto, 2016.
ANEXO A ROSA DE HIROXIMA rio de Janeiro, 1954 Pensem nas crianças (interpelação) Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam (pedido) Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.