1 Embora o ECA, o Sistema Nacional de Atendimento Sócio-educativo SINASE e o Conselho Estadual



Documentos relacionados
Desafios da EJA: flexibilidade, diversidade e profissionalização PNLD 2014

Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos Secretaria Executiva de Desenvolvimento e Assistência Social Gerência de Planejamento,


Projeto de Decreto. (Criar uma denominação/nome própria para o programa)

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO INCLUSIVA 400h. Estrutura Curricular do Curso Disciplinas

Educação Integral, Escola de Tempo Integral e Aluno em Tempo Integral na Escola.

PROPOSTAS PARA A REDUÇÃO DA VIOLÊNCIA

O sistema de garantia dos direitos humanos das crianças e dos adolescentes: responsabilidades compartilhadas.

ANEXO I ROTEIRO PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS FIA Cada projeto deve conter no máximo 20 páginas

UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE UNIPLAC PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO E APOIO COMUNITÁRIO

AÇÕES DE POTENCIALIZAÇÃO DE JOVENS EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA ATENDIDOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DA ASISTÊNCIA SOCIAL

LEVANTAMENTO DOS CRESS SOBRE QUADRO DE ASSISTENTES SOCIAIS NOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DOS ESTADOS

Apoio às políticas públicas já existentes;

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

ABUSO DO CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS, UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA. Senhor Presidente,

difusão de idéias EDUCAÇÃO INFANTIL SEGMENTO QUE DEVE SER VALORIZADO

O sistema de garantias dos direitos da criança e do adolescente

ELIANE RIBEIRO - UNIRIO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DA INFÂNCIA E JUVENTUDE CIJ

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ EDITAL N. 01/2013

MÓDULO II Introdução ao Estatuto da Criança e do Adolescente AULA 04

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A REALIZAÇÃO DAS CONFERÊNCIAS MUNICIPAIS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO ESTADO DE MINAS GERAIS 2011

PALAVRAS-CHAVE Rede de Proteção. Criança e adolescente. Direitos Humanos. Violência

Depoimento Sem Dano Porto Alegre, AGOSTO de 2009

FÓRUM REGIONAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO ALTO VALE DO ITAJAÍ RIO DO SUL SC 2015 CARTA DE PRINCÍPIOS

VIII JORNADA DE ESTÁGIO DE SERVIÇO SOCIAL

Como proceder à notificação e para onde encaminhá-la?

A Educação Brasileira dos Surdos: Um Novo Mundo a Ser Desvendado

SERVIÇO DE ACOLHIMENTO INSTITUCONAL

Organização dos Estados Ibero-americanos Para a Educação, a Ciência e a Cultura

SAÚDE COMO UM DIREITO DE CIDADANIA

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

Presente em 20 estados Unidades próprias em Curitiba Sede Administrativa em Curitiba Parque Gráfico em Pinhais - Pr

RELATÓRIO DA PESQUISA ONLINE: Avaliação dos Atores do Sistema de Garantia de Direitos participantes das Oficinas em São Paulo

Trabalho com Pedagogia da Alternância nas Casas Familiares Rurais (91)

Violência contra crianças e adolescentes: uma análise descritiva do fenômeno

MITOS E REALIDADES A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA

Um país melhor é possível

Munic 2014: 45% dos municípios tinham política de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica

DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE E DO IDOSO. doutrina e legislação. Del Rey. Belo Horizonte, 2006

RESOLUÇÃO Nº 101 DE 17 DE MARÇO DE 2005 (*)

Os Atores do Sistema de Garantia aos Direitos da Criança e do Adolescente e o Significado do Controle Social

DIREITOS HUMANOS, JUVENTUDE E SEGURANÇA HUMANA

Defensoria Pública do Estado de São Paulo Núcleo Especializado dos Direitos do Idoso e da pessoa com Deficiência

PROJETO INFORMÁTICA E CIDADANIA

Brasília, 27 de maio de 2013.

NOSSA ESCOLA ANOS DE TRADIÇÃO E QUALIDADE, FAZENDO HISTÓRIA NO PRESENTE E NO FUTURO!!! Do Maternal I ao 5º ano SERVIÇOS E CURSOS QUE OFERECEMOS

Diretrizes para Implementação dos Serviços de Responsabilização e Educação dos Agressores

Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

wwueo

Fórum Nacional de Diretores de Faculdades/Centros/Departamentos de Educação das Universidades Públicas Brasileiras (FORUMDIR)

Curso de Especialização em EDUCAÇÃO DO CAMPO

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Juruti

O PETI e o Trabalho em Rede. Maria de Fátima Nassif Equipe Proteção Social Especial Coordenadoria de Ação Social Secretaria de Desenvolvimento Social

e construção do conhecimento em educação popular e o processo de participação em ações coletivas, tendo a cidadania como objetivo principal.

Curso de Especialização em POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO E SERVIÇOS SOCIAIS

SEDE NACIONAL DA CAMPANHA

Ementa do curso de ESPECIALIZAÇÃO EM MBA EXECUTIVO EM SERVIÇOS SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS

DIÁLOGOS SOBRE O DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO NO BRASIL. (Pesquisa qualitativa -- RESUMO)

PREFEITURA MUNICIPAL DE BOM DESPACHO-MG PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO - EDITAL

Nome do GT 06: Políticas Educacionais para Educação Inclusiva. Resumo:

TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA. Profa. Maria Antonia Ramos de Azevedo UNESP/Rio Claro.

Serviço que organiza o acolhimento, em residências de famílias acolhedoras cadastradas, de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar por

EIXO 5 GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES PROPOSTAS APROVADAS OBTIVERAM ENTRE 80 e 100% DOS VOTOS

ANEXO IV PROPOSTAS APROVADAS NA CONFERÊNCIA ESTADUAL. Eixo MOBILIZAÇÃO IMPLEMENTAÇÃO MONITORAMENTO

VIDA E JUVENTUDE Centro Popular de Formação da Juventude CNPJ: / EDITAL Nº 02/2015

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 128 DE 2006

INSTITUTO SINGULARIDADES CURSO PEDAGOGIA MATRIZ CURRICULAR POR ANO E SEMESTRE DE CURSO

Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes

Re s p o n s a b i l i z a ç ã o e


A redução da maioridade penal não é a solução

Secretaria Municipal de Assistência Social Centro de Referência Especializado de Assistência Social

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ACRE TÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

do Idoso Portaria 104/2011

CME BOA VISTA ESTADO DE RORAIMA PREFEITURA MUNIPAL DE BOA VISTA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

Mostra de Projetos Projovem em Ação

Teresina, 08 de junho de 2015.

CERCA DE 76% DOS CONDENADOS NO BRASIL ESTÃO OCIOSOS NA PRISÃO, APONTA ESTUDO. Do UOL Notícias Em São Paulo

CMDCA PROJETOS COOPERAÇÃO CAPELINHA/MG

FUNDAMENTOS LEGAIS, PRINCÍPIOS E ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

TERMO DE REFERÊNCIA SE-003/2011

CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL POR EXPERIÊNCIA DE ADMINISTRADORES

Curso de Especialização em INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL

Gangues, Criminalidade Violenta e Contexto Urbano: Um Estudo de Caso

PROJETO DE LEI N, DE (Do Senhor NELSON MARQUEZELLI)

CIRLANE MARA NATAL MESTRE EM EDUCAÇÃO PPGE/UFES 2013

Grandes Dicotomias (b)

POLÍTICAS PÚBLICAS Aula 11. Prof. a Dr. a Maria das Graças Rua

A Família e sua importância no processo educativo dos alunos especiais

Ambientes Não Formais de Aprendizagem

CURSO EDUCAÇÃO, RELAÇÕES RACIAIS E DIREITOS HUMANOS

NÚCLEO TÉCNICO FEDERAL

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA ATUAÇÃO EM EAD NOS CURSOS DE PEDAGOGIA DE SANTA CATARINA

LEI DE INCENTIVO AO ESPORTE UM DIREITO SEU QUE TRANSFORMA VIDAS

Iniciativa global Out of School Children Pelas Crianças Fora da Escola.

Hiperconexão. Micro-Revoluções. Não-dualismo

Jornada Pedagógica Pastoral Divane Nery

Transcrição:

MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESENVOLVIDAS JUNTO AOS ADOLESCENTES EM CONFLITO SOCIAL NO CENTRO EDUCACIONAL REGIONAL DE LAGES/SC PEREIRA, Josilaine Antunes UNIPLAC antunesjo@hotmail.com GT: Educação Popular / n.06 Agência Financiadora: Sem Financiamento Historicamente, os sujeitos envolvidos com atos infracionais vítimas da sociedade brasileira que exclui e discrimina, tinham um tratamento todo especial. O qual não tinha o intuito de educar ou socializar, apenas de vigiar e punir o adolescente e o jovem infrator, marcando-os com tratamentos desumanos e excludentes. Este artigo é parte de uma pesquisa em curso, cujo objeto de investigação é confrontar os pressupostos preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - Capítulo IV, Seção VII e Artigos 121 à 125, no que tange as medidas sócioeducativas que privilegiam a privação de liberdade e as práticas educativas efetivamente realizadas no Centro Educacional Regional de Lages CERL. Propõe-se compreender as tensões que se estabelecem entre as ações pedagógicas praticadas no CERL e o desenvolvimento das Políticas Públicas voltadas para o processo de re-socialização do adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional 1. Desenvolvo os objetivos através de entrevistas e fontes primárias - documentos/diretrizes/relatórios - relativos às práticas educativas realizadas no CERL. O CERL é uma instituição educacional vinculado a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, situado num bairro periférico da cidade de Lages SC. Criado em 1985, denominava-se FUCABEM, tinha por legislação o Código de Menores/1979, destinado a menores em situação irregular, empobrecidos, carentes e abandonados, termos estes, extremamente pejorativo e estigmatizante. Na década de 80 a sociedade civil mobilizada chamou para si a responsabilidade da Doutrina de Proteção Integral às Crianças e aos Adolescentes, e em julho de 1990 o ECA era promulgado. A Assembléia Nacional Constituinte referendou duas Emendas Populares com mais de 1,5 milhão de assinaturas de adultos, crianças e adolescentes e inscreveu na Constituição Federal de 1988 o seu 1 Embora o ECA, o Sistema Nacional de Atendimento Sócio-educativo SINASE e o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente CEDCA/SC, em suas diretrizes e documentos utilizam-se dos termos adolescente autor de ato infracional, adolescente infrator e/ou adolescente em conflito com a lei, neste artigo utilizarei o termo adolescente em conflito social, por entender que o adolescente não está em conflito com a lei, tampouco é autor isoladamente do ato cometido, e sim por se tratar de um problema essencialmente social.

2 artigo 227, posteriormente regulamentado com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente ECA, em 13 de julho de 1990, influindo radicalmente no destino da infância e adolescência no Brasil. A partir do Estatuto, crianças e adolescentes brasileiros, sem distinção de raça, cor classe social, passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, considerados em sua condição de pessoas em desenvolvimento e a quem se deve prioridade absoluta, seja na formulação das políticas públicas e destinação privilegiada de recursos das diversas instancias político-administrativas do país. (ECA, 2005, p. 7) Ao se regulamentar o artigo 227 da Constituição Federal, aprovava-se o ECA - Lei 8.069/90. Em 1991 a entidade até então conhecida por FUCABEM, inicia um processo de transição recebendo nova denominação Centro Educacional Regional de Lages, pretendendo adaptar-se às exigências da nova legislação. O programa de trabalho desenvolvido pelo CERL passa a ser chamado de medidas sócio-educativas, destinadas ao atendimento de adolescentes em conflito social que se encontram em regime de privação da liberdade, conforme preconiza o artigo 90º do ECA. É nesta perspectiva que o CERL, vem se adaptando à legislação atual ao procurar cumprir o que determina o ECA no que diz respeito às medidas sócioeducativas em regime de privação de liberdade e/ou internação. Mas, da realidade à garantia integral dos direitos dos adolescentes tem-se um longo caminho a percorrer, pois conforme o Relatório do CEDCA/SC 2 : Há precariedade de ações educativas...[]desconhecimento e incompreensão do Estatuto da Criança e do adolescente por alguns profissionais...[]não percebemos, nas unidades, uma proposta pedagógica nos moldes do ECA...[] Concepção e compreensão menorista do adolescente é o que permeia as Instituições. (Relatório CEDCA, 2007) Por outro lado a Assistente Social do CERL diz que, no que se refere às medidas sócio-educativas, acredita na educação em meio aberto, particularmente a Liberdade Assistida. Afirma que, o que preconiza o ECA e o que a Instituição realiza está longe do ideal, porém em Santa Catarina é o Centro que mais se aproxima do preconizado pelo ECA. Mesmo com toda a cobrança a que são submetidos tanto pela sociedade quanto pelo Ministério Público, Conselho Tutelar, Juizado da Infância e da 2 Relatório de visitas aos Centros de Internação Provisória e Centros Educacionais Regionais de Santa Catarina, realizado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente CEDCA/SC. O CER de Lages recebeu a visita em 06.06.2006 dos Conselheiros do CEDCA/SC, do representante do Conselho Tutelar - CT, e do Representante do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente CMDCA.

3 Juventude, em contrapartida quando o CERL cobra posições destas mesmas instituições, não encontra apoio necessário para fazer com que o ECA se cumpra. O espaço físico da entidade comporta as instalações do Centro de Internamento Provisório - CIP e o CERL. O CIP 3 tem capacidade para 10 adolescentes e o CERL para 30 adolescentes do sexo masculino, na faixa etária de 12 a 21 anos, oriundos de todo o Estado. Conforme relatórios do CERL, todos os adolescentes estão envolvidos diretamente ou indiretamente com drogas, sejam lícitas ou ilícitas. Outro dado é que todos os adolescentes têm escolaridade aquém de sua idade cronológica, bem como vêm de famílias empobrecidas. Isso não significa que os ilustrados, os bem educados os filhos e filhas da elite não se encontrem em conflito social; entretanto prisão - no caso o CERL é endereço para os pobres, negros, aqueles que já experimentam estruturalmente desde o nascimento a exclusão social. As condições inumanas em que milhões de crianças, adolescentes, jovens e adultos, alunos, têm de sobreviver deveriam ser muito mais preocupantes do que as suas indisciplinas e violências. Que esperar de crianças famintas e adolescentes atolados na sobrevivência mais imediata? Quando os seres humanos são acuados nos limites da sobrevivência, sem horizontes, será difícil controlar suas condutas. Talvez resulte estranha, mas lembro da dura frase de Nietzsche: os insetos não picam por maldade, mas porque querem viver. (ARROYO, 2004, p. 16) Dizemos que os adolescentes são/estão violento, entretanto não questionamos a estrutura social. Kosik (1976), em Dialética do Concreto, já ensinou a necessidade de se compreender o fenômeno social indo da sua aparência para a essência e para isso não se dispensa o conhecimento. Eis, uma das razões causadora de tantas incompreensões do ECA e resistências ao seu cumprimento. Administrativamente, conta com direção e com equipe multidisciplinar, formada por técnicos, monitores e funcionários. 4 As atividades são desenvolvidas em duas modalidades: educação formal os adolescentes são atendidos pelo CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos), com alfabetização, nivelamento (quatro primeiras séries do ensino fundamental), ensino fundamental e médio através de módulos. Segundo a pedagoga o método de ensino do 3 Conforme o art. 108 do ECA. Internação provisória antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de 45 dias. 4 Os técnicos são: psicóloga, assistente social, advogado, médico, enfermeira e pedagoga. Os monitores são os funcionários que atuam diretamente com os adolescentes, trabalham 24 horas e folgam 72 horas. Os demais funcionários compreendem: serviços gerais, instrutores/professores e as funções administrativas.

4 CEJA não contempla as necessidades do CERL, as atividades são descontextualizadas, e em função disso os adolescentes não se sentem atraídos pela educação formal. E, educação não-formal: os adolescentes são convidados a fazerem parte de grupos, conforme seus gostos e habilidades, em atividades de pintura de painéis, teatro, futebol, agropecuária, horta, culinária, oficina de madeira, pintura em pátina, jardinagem, atividades desportivas, etc. Segundo relatório realizado pelo CEDCA/SC, os adolescentes na sua maioria não sabem de sua situação processual, bem como muitos relatórios de avaliação realizados pelos técnicos do CERL não são levados em consideração por alguns Juízes. Percebemos no relato dos profissionais, a dificuldade relação/visão de alguns juizes/promotores com relação aos adolescentes (não conhecem a realidade, utilizam-se de termos jurídicos da área criminal) e com a própria sociedade. As medidas são aplicadas na grande maioria dos casos para adolescentes empobrecidos, muitos são vítimas do tráfico de drogas. (Relatório CEDCA, 2007) Diante deste cenário, os sujeitos coletivos responsabilizados pelos adolescentes em desenvolvimento integral, como a família, a sociedade e o estado devem abraçar a causa desses adolescentes e jovens, se não quisermos ver os sonhos, as utopias, as crenças serem sucumbidos pela violência da lógica capitalista e excludente. O CER de Lages ainda é considerado segundo seus técnicos, modelo no Estado e, por que não do Sul do País e também do Brasil? É neste contexto que estou buscando compreender se o CERL através de suas práticas educativas tem obtido êxito em suas ações, e desta forma fazendo com que estes adolescentes em conflito social reencontrem a liberdade, a cidadania negada, sobretudo, reintegrando-se à sociedade. Persistem muitos desafios, como: concepção do que apregoa o ECA e as práticas contraditórias dos profissionais do poder judiciário, pois os relatórios e entrevistas realizados revelam aí, localizar-se as maiores violações dos direitos, e isso se dá por pressão da própria sociedade, que vê o adolescente como réu e não vítima; Outro desafio está na concepção educacional dos profissionais que atuam na instituição: eles não têm acesso à formação permanente sob suas práticas pedagógicas, quase sempre suas ações não condizem com o ECA; as famílias dos adolescentes, encontram-se desestruturadas social, psicológica e economicamente, não tendo condições de corresponder às exigências do ECA, estão geograficamente distantes do CERL, pois existem somente três Centros Educacionais no Estado o que dificulta a manutenção do vínculo familiar.

5 Se a sociedade tem responsabilidade estrutural na produção do adolescente em conflito social, pela forma como o exclui social, cultural e economicamente, não se pode ignorar o poder judiciário que, todavia não corresponde às atuais exigências do ECA. É preciso romper com a atual concepção da prática jurídico penal que mais penaliza do que educa, para uma concepção que vem sendo denominada de abolicionismo jurídico penal que implica em trazer para a sociedade/comunidade com suas instituições (família, escola, etc) e decidir junto com o adolescente as medidas sócioeducativas correspondentes. BIBLIOGRAFIA ARROYO, M. G. Imagens Quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Ministério da Educação. Assessoria de Comunicação Social. Brasília: MEC, ACS, 2005 FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 21o. ed. Petrópolis: Vozes, 1987 KOSIK, K. Dialética do Concreto. 5º.ed. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1976. RELATÓRIO de visitas aos CIPs e aos CER. Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente CEDCA/SC. Florianópolis, fevereiro de 2007 REGIMENTO INTERNO CER Lages. s/d