FONOLIBRAS: O ENSINO E APRENDIZAGEM NO USO DOS PARES MÍNIMOS COM ÊNFASE NAS CONFIGURAÇÕES DE MÃOS

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Transcrição:

RESUMO O objeto deste artigo é compreender como se dá a aprendizagem utilizando as produções lexicais sinalizadas pelos surdos apresentadas em 10 termos fornecidos para os usuários. Destarte, analisar os léxicos escolhidos pelos surdos na produção das seguintes termos: Congresso, Seminário, Primo, Empregada, Verde, Roxo, Maturidade, Entender, Saúde e Pastor. Trazendo o processo histórico da estrutura linguística da Língua Brasileira de Sinais- Libras e conceituando Lexicografia, Pares Mínimos e Configurações de Mãos. Pois as configurações de mãos fazem parte dos parâmetros da língua de sinais, desta forma ter a compreensão dos sinais que possuem uma verossimilhança é trazer uma vivacidade na aprendizagem, sem esquecer que existem outros parâmetros que fazem parte, tais como os pontos de articulação. Palavras-Chave: Pares Mínimos; Léxico; Configurações de Mão.

Introdução Na literatura encontra-se importantes obras que evidenciam a língua brasileira sinais Libras como língua regida por parâmetros fonológicos no que tange as expressões da língua espaço-visual. O novo Deit-Libras dicionário trilíngue do autor Capovila, por exemplo, faz alusão a esses parâmetros, são eles: configuração de mãos (CM), ponto de articulação (PA), movimento (M), orientação das mãos (Or), expressões faciais/corporais (NM). Nesta obra, o autor apresenta um glossário com diversos sinais e apresenta ainda as variações linguísticas destes segundo a maior usabilidade dos sinais por região demográfica, aplicando-se nas áreas urbanas e rurais, pois em cada região haverá suas peculiaridades, influenciando assim, na comunicação. A partir do léxico que o norteia, faz se entender, portanto, que o autor do discurso reserva-se de uma percepção de natureza estética, isto é, uma percepção para engajar um ponto de vista singular sobre seu discurso. Isso quer dizer que o usuário surdo estaria sinalizando errado? Não, em absoluto. Da mesma forma como nas línguas orais, existe a questão do regionalismo na comunicação pelos falantes usuários desta, na Libras, não é diferente, assim como as demais línguas de sinais de outros países e cada um destes tem seus sinais próprios, possuindo em comum apenas os parâmetros linguísticos (CM, PA,M, EF e EC). Dentro de uma mesma comunidade observa-se variações linguísticas fonológicas na expressão da fala, sejam em línguas orais ou espaço-visuais, afinal, diversas influências como regionalismo ou mesmo social repercutem diretamente no discurso comunicativo dos indivíduos. Destarte, levanta-se a 2

motivação em pesquisar como que as escolhas lexicais realizadas pelos usuários da língua brasileira de sinais. Portanto, levanta-se o seguinte questionamento: o que cerca essas escolhas lexicais? Seria a origem geográfica ou contexto social de trabalho? Ou ainda gênero, idade, grau de instrução e experiências? Dessa forma este artigo visa compreender as produções lexicais sinalizadas pelos surdos apresentadas em 10 termos fornecidos. Analisando os léxicos escolhidos pelos surdos na produção das seguintes termos: Congresso, Seminário, Primo, Empregada, Verde, Roxo, Maturidade, Entender, Saúde e Pastor. Também objetivou-se conhecer o processo histórico da estrutura linguística da Libras. Conceituar Lexicografia, Pares Mínimos e Configurações de Mãos. Linguística Em 1960, o linguista americano Stokoe atribuiu o status de língua para as línguas de sinais através do estudos acerca da Língua Americana de Sinais (ASL), afinal, observou-se que as línguas na modalidade espaço-visual são regidas pelo o que o autor nomeou de parâmetros, estes por sua vez não carregam significado isoladamente e obedecem uma simultaneidade na execução dos sinais, a saber: configuração de mão (CM), locação ou ponto de articulação (PA) e movimento (M). Posteriormente, Battison (1974-1978) atribuiu às línguas de sinais mais dois parâmetros, são eles: orientação das mãos (Or) e expressões faciais/corporais (NM), todos os cinco parâmetros correspondem aos fonemas da língua de sinais. 3

Segundo Quadros e Karnopp (2004), entre os anos de 1978 e 1988, os estudos sobre ASL expandiram-se, abrangendo assim, as áreas de morfologia e sintaxe (pág 50), ao analisar a morfologia e sintaxe as língua de sinais concluiu-se que estas diferem das orais em seu processo combinatório, isto é, enquanto nas línguas orais algumas palavras são formadas por prefixos ou sufixos, nas línguas de sinais resultam de processo não-concatenativos atribuise a uma raiz movimentos e contornos no espaço de sinalização. (Klima e Bellugi apud Quadros e Karnopp, 2004 p. 87). Levando em consideração essas peculiaridades da linguística das línguas de sinais, abre-se precedentes para uma discussão acerca da variação linguística evidenciando a identidade sócio-cultural do usuário, afinal a língua de sinais vernácula do nosso país é multifacetada e assim como nas línguas orais, apresenta variantes lexicais regionais influenciados pela cultura e valores daquela comunidade. Júnior apud Strobel e Fernandes (1998 p.56) afirmam acerca das variações linguísticas na Libras: a maioria no mundo, há, pelo menos, uma língua de sinais usada amplamente na comunidade surda de cada país, diferente daquela da língua falada utilizada na mesma área geográfica. Isto se dá porque essas línguas são independentes das línguas orais, pois foram produzidas dentro das comunidades surdas. 4

Lexicografia Segundo Salviano (2014), a lexicografia é a ciência responsável pelo desenvolvimento de métodos e técnicas de produção das obras dicionarísticas na sua variedade de formas (monolíngues, bilíngues, semibilíngues, escolares, gerais, infantis, etc). Nunes (2006) descreve a lexicografia como um saber linguístico de natureza prática, tendo em vista a aquisição de um domínio de língua, de um domínio de escrita e de um domínio de enunciação e de discurso. Para Nunes, 2006, p. 150: De fato, alcançar domínio efetivo nesses campos não é tarefa exclusiva da lexicografia, mas a capacidade dos dicionários, como produto da mesma, de esmiuçar as normas da palavra, sua grafia, significados, sinônimos, usos e etc_ aproxima tal ciência dos domínios supracitados tão importantes para formação linguística dos usuários da língua. Assim, a lexicografia desponta como ciência essencial para contribuir para o desenvolvimento da competência lexical. Para Junior (2011), toda língua possui uma dicionário chamado de léxico, que não é representado apenas no formato de papel, possuímos um dicionário mental no qual podemos acessá-lo conforme as nossas experiências e leituras. Entretanto, a gramática é a que fica responsável pela geração de 5

regras que são conhecidas e estudadas conforme os modelos linguísticos tais como, estruturalismo, gerativismo e funcionalismo. Mas não apenas estes modelos pois a gramática normativa é regida por várias regras. Pares Mínimos Segundo Corrêa (2014), William Stokoe (1960) foi o primeiro linguista que comprovou que a língua de sinais atendia a todos os critérios linguísticos de uma língua, no léxico, na sintaxe e na capacidade de gerar uma quantidade infinita de sentenças. Em suas pesquisas com a American Sign Language (ASL), constatou que cada sinal apresentava, pelo menos, três partes independentes e que cada parte possuía um número limitado de combinações (QUADROS E KARNOPP, 2004). As unidades mínimas (fonemas) que constituem os sinais são: configuração de mão (CM), locação da mão (L) e movimento da mão (M). As análises dos pares mínimos da língua de sinais (BATTISON, 1974) incluíram mais um parâmetro na fonologia da língua de sinais: a orientação da mão (Or). As expressões não-manuais, também, foram incluídas nos parâmetros da língua de sinais, prestando-se, em suma, a dois papéis: marcação de construções sintáticas e diferenciação de elementos lexicais. Corrêa(2010) apud Klima e Bellugi (1979) colocam que as brincadeiras em sinais são algo parecido com trocadilhos. Os autores esclarecem que um trocadilho na língua falada depende da exploração da equivalência ou similaridade do som em duas palavras que são diferentes em significados podendo ser compactadas em um contexto linguístico em que ambas tem aplicação. Na ASL, os trocadilhos podem ser percebidos nos aspectos como: 6

sinais com dois significados, pares de sinais que são quase homônimos na forma, mas distintos nos significados. Configurações de mãos Segundo WILLIAMS, DYSON, e WARWICK, 1996, pg. 26: Os dedos da mão humana movem-se (com exceção do polegar) por ação de tendões ligados a músculos no antebraço e de outros pequenos músculos que ligam as falanges. O polegar move-se ainda por ação dos músculos flexores e rotadores, que se encontram na palma da mão, ligados ao primeiro metacarpal6. Estão divididos em polegar, dedo indicador, dedo médio, anelar e dedo mínimo Figura 1 : Dedos da mão http://tododiaumtextonovo.blogspot.com.br/2010/12/dedos-assim-assim.html 7

Bento (2010) refere-se à(s) forma(s) específicas formadas com a(s) mão(s) que são usados em línguas de sinais, como a Língua Brasileira de Sinais, a Língua Americana de sinais, a Língua Francesa de Sinais e assim sucessivamente, i.e, consiste na forma real da mão que estamos usando para produzir um léxico nas línguas de sinais. É considerado um articulador primário das línguas de sinais, sendo o parâmetro mais primitivo, pois não existe sinal sem configuração de mão. A CM é usada com a orientação, o movimento e a localização (e às vezes com os marcadores não-manuais) para descrever um sinal. Todo sinal deve ter um conjunto exclusivo de CM, orientação, localização e movimento. Figura 2: Configuração de Mãos http://tertuliasdelibras.blogspot.com.br/2015/11/configuracoes-demaos.html 8

Ferrira (2010) afirma ainda que as configurações de mãos assumem as diversas formas para a realização do sinal, e se formos comparar com a ASL (American Sign Languague) poderemos perceber que há uma grande número de similaridades e algumas diferenças, entre elas pode-se destacar F e T no alfabeto manual do Brasil e que não são utilizadas em ASL, o F da ASL é um confirguração diferente, também muito usada na Libras, mas sem letra correspondente no alfabeto manual brasileiro. Bento (2010 pg.44) apud Ferreira-Brito (1995) Quadros e Karnopp (2004): A LIBRAS apresenta 46 configurações de mãos, em se tratando de manifestações do nível fonético. As configurações de mãos da Língua Brasileira de Sinais foram agrupadas verticalmente de acordo com a semelhança entre elas, mas sem uma identificação enquanto configurações de mãos básicas ou configurações de mãos variantes. Metodologia O referente artigo terá como metodologia a pesquisa quali-quantitativa, afinal, trata-se da coleta de dados de grupos restritos e em menor quantidade, assim, um método misto nos permitirá obter maior compreensão do tema abordado, de igual forma, maior precisão nos resultados analisados. A pesquisa quali-quantitativa se realiza por meio de algumas abordagens, como levantamento bibliográfico sobre a temática ou ainda 9

através de entrevista não-direta, no decurso desta pode-se colher informações a partir de um discurso livre do participante e assim o entrevistador toma nota das informações em um diálogo desenvolto, dessa maneira logra-se as informações necessárias para análise (Severino, 2007, p.125). A observação também fará parte da abordagem quali-quantitativa, pois, o corpus linguístico coletado será classificado nas seguintes categorias: idade, gênero, nível de formação. A abordagem quali-quantitativa dá liberdade para que dados quantitativos e qualitativos tornem os resultados mais preciso, como afirma Goldenberg (2005) permite que o pesquisador faça um cruzamento de suas conclusões de modo a ter maior confiança que seus dados não são produto de um procedimento específico ou de uma situação particular (p.62). Assim, ao estabelecer uma compreensão de dados, confirmar ou refutar os questionamentos segundo a classificação das categorias estipuladas nas hipóteses, seremos capazes de pontuar as produções através da fonologia contidas na escolha lexicais dos usuários surdos. Produções Lexicais A pesquisa baseou-se a partir do contato com os usuários da língua brasileira de sinais, surdos da cidade de Manaus-AM, nos foram envidas as frases supracitadas para que analisássemos os pares mínimos. Foram enviados quatro (4) vídeos dos usuários residentes na cidade de Manaus, sendo que os participantes foram divididos em dois grupos, o primeiro 10

de mais jovens com idade entre 25 a 27 anos e o segundo do grupo adulto com idade entre 33 a 45 anos, como demonstrado na tabela abaixo: Cidade Grupo Jovem Gênero Grupo Adulto Gênero 25 anos Masculino 33 anos Masculino Manaus 27 anos Masculino 45 anos Masculino Tabela 1 Quadro característico: gênero, idade do perfil dos Surdos entrevistados Cidade Grupo Escolaridade Grupo Jovem Adulto Escolaridade 25 anos Nível 33 anos Pós- Manaus 27 anos Superior completo. 45 anos graduação completa Tabela 2- Quadro característico: Escolaridade 11

Iniciaremos a análise dos dados transcrevendo em Libras como cada grupo interagiu e exemplificaremos através de fotos como que grupo utilizou as configurações de mãos com enfoque nos pares mínimos. Grupo Jovem: Imagem1: Congresso Imagem 2: Seminário Imagem 3: Prim@ Imagem 4: Empregad@ 12

Imagem 6: Verde Imagem 8: Roxo Imagem 9: Maturidade Imagem 10: Entender Imagem 11: Pastor Imagem 12: Saúde Grupo Adulto: Imagem 13: Congresso Imagem14: Seminário 13

Imagem 16: Prim@ Imagem17: Empregad@ Imagem 18: Maturidade Imagem 19: Entender Ambos tiveram a mesma execução. Imagem 20: Verde Imagem 21: Roxo Imagem 22: Pastor Imagem 23: Saúde 14

Análise e discussões Observamos que apenas 4 sinais executados pelo grupo adulto difere do grupo jovem, o primeiro sinal é: O primeiro é o sinal de Congresso, o ponto de articulação inicia no peito, e no grupo jovem o ponto de articulação é no queixo, no âmbito do movimento e configuração de mãos foi a mesma, não houve nenhuma alteração. O segundo sinal é: Seminário, no grupo jovem o ponto de articulação inicia no queixo e no grupo adulto o sinal inicia no peito, entretanto, ambos os grupos tiveram o mesmo movimento e a mesma configuração de mão igual conforme mostrado nas imagens. O terceiro sinal é: Verde, houve uma mudança bem discrepante entre os dois grupos, enquanto no grupo jovem o ponto de articulação é no dorso da mão ativa e com a configuração em R, no grupo adulto a configuração de mão foi executado em forma de GANCHO com o ponto de articulação no queixo com o movimento para frente. O quarto sinal é: Pastor, no grupo jovem o início do sinal se dá no peito e de forma alternada, tocando da direita para esquerda, com a configuração de mãos em p. No grupo adulto a configuração de mãos também é em p, mas o movimento é forma de cruz e o ponto de articulação se dá no espaço neutro. Para Bagno (2007) o processo de variação ocorre por influências no qual o individuo está inserido, ou até mesmo influências de outros estados, o contato é fator decisivo na escolha lexical do individuo na comunicação. 15

Conclusão A diversidade de um idioma perpassa por fronteiras inimagináveis e principalmente nos aspectos fonológicos, assim conseguimos encontrar, conhecer como são executados determinados sinais, foi interessante e nos possibilitou abranger conhecimentos dos aspectos sociolinguísticos da língua de sinais brasileira. Corriqueiramente, ouve-se o discurso em torno das línguas orais especificamente à língua portuguesa, de que sua estrutura é considerada difícil. Nas línguas de sinais acontece da mesma forma e ainda se constata um preconceito linguístico dos usuários em não aceitar determinados parâmetros ou variacionais estes durante a execução dos sinais. Coelho (2010) afirma que o preconceito linguístico vigora firme e sem ser percebido como tal em nossa sociedade, e muitos passam suas vidas acreditando que, de fato, não são capazes de se expressar, que falam uma língua toda errada e que nunca terão acesso a alguns de seus direitos mais básicos como cidadãos, como o direito à justiça, à inclusão e à livre defesa de suas posições. Todavia, a língua de sinais de brasileiras obteve grandes avanços, um deles com o seu reconhecimento no que diz respeito idioma, trazendo avanços como a inclusão de alunos com deficientes auditivos e surdos desta forma possibilitando a criação de sinais para cada área do conhecimento de acordo com as necessidades. 16

Referências Bibliográficas BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. BENTO, Nanci Araujo. Os parâmetros fonológicos: Configuraçãos de mãos, ponto de articulação e movimento na aquisição da linfuga brasileira de sinaisum estudo de caso. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras elinguística do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia UFBA, como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Letras e Linguística. Salvador, 2010. COELHO, Izete Lehmkuhl... [et all.] Sociolinguística Florianópolis : LLV/CCE/UFSC, 2010. 172 p. : 28 cm FERREIRA, Lucinda. Por uma gramatica de línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2010. CORRÊA, Fabiana Schmitt. Língua Brasileira de Sinais: Expressões inovadoras. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de Pós- Graduação em Linguística. Florianópolis, SC, 2014 pg..141 GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 10 ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. JÚNIOR, Gláucio de Castro. Tese de Mestrado: Variação Linguística em Língua de Sinais Brasileira. Brasília DF, 2011. MARTELOTTA, Mario Eduardo. Manual de Linguistica. 2 ed., 3 reimpressão São Paulo : Contexto, 2015. 17

MUSSALIM, Fernanda.; BENTES, Adriana. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. Vol. 1. São Paulo: Cortez, 2001. NETO, O.C. O Trabalho de Campo como Descoberta da e Criação. In: MINAYO, M.C.S. Pesquisa Social, Teoria, Método e Criatividade. Petrópoles RJ. 2002. Cap. III, p. 51-66. NUNES, José Horta. Lexicologia e Lexicografia. In.: GUIMARÃES, E. e ZOPPIFONTANA, M. (Orgs.) Introdução às Ciências da Linguagem A palavra e a frase. Campinas, SP: Pontes, 2006, 147-172. QUADROS, Ronice Muller. KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira Estudos Linguísticos. Porto Alegre. Artmed, 2004. SALVIANO, Bárbara Neves. O uso do dicionário de língua como instrumento didático no ensino de língua portuguesa para alunos surdos [manuscrito]: em busca de um bilinguismo funcional. Dissertação (mestrado) apresentada ao Programa de Pós-graduação do Departamento de Linguística Aplicada Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras. 2014. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. Editora Cortez. São Paulo, 2007. SOARES, Maria Aparecida Leite. A educação do surdo no Brasil. Campinas: Autores Associados/Bragança Paulista, 1999. SUASSURE, Ferdinand de. Curso de linguística Geral. 28 ed 2012 2 reimpressão 2016. São Paulo. p.312. 18

Identificação dos Autores Graduado em Pedagogia pelo Centro Universitário do Norte (2012). Especialista em Administração, Orientação, Supervisão Escolar, Neuropsicopedagogia e em Língua Portuguesa, pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci (2014). Especialista em Libras pela Universidade Católica Dom Bosco (2015). Especialista em Psicologia Sexual, pela Faculdade Unileya (2018). Discente do Curso Letras-Libras da Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Mestrando em Ciências da Educação (2017) pela Universidade Privada Del Leste. Atua como Docente do curso de Letras-Libras e Pedagogia do Centro Universitário Leonardo Da Vinci, Manaus-AM. E-mail: edu_figueira20@hotmail.com Graduada em licenciatura em Língua Portuguesa pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci Uniasselvi (2015), Especialista na Língua Brasileira de Sinais pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (2016), possuí proficiência em ensino de Libras expedido pelo MEC - PROLIBRAS (2016), Mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Amazonas- UFAM (2018), atua como professora de idiomas no Instituto Federal do Amazonas- IFAM. E-mail: ilma.librasbv@gmail.com 19