Percepção dos Usuários do Facebook Quanto a Motivação e Dependência da Rede Social Lígia Silva dos Santos ligiagunyn@gmail.com Instituto de Psicologia, 3º período Lígia Maria Cândido Santana ligiamsantana@hotmail.com Instituto de Psicologia, 3º período Nádhia Williane de Lima Ramos nwilliane@gmail.com Instituto de Psicologia, 5º período Orieantadora: Nilma Figueiredo de Almeida nilmaf@ig.com.br Instituto de Psicologia Para Lemos (2004) a informatização da sociedade começou na década de 70, no século XX, e popularizou-se com a internet na década de 80, implicando em transformações nas práticas sociais, na vivência do espaço urbano, na forma de produzir e consumir informação, assim como na produção de novas subjetividades, pois no ciberespaço circulam leis, normas, procedimentos e discursos que acabam construindo uma cultura do virtual (cibercultura), que é introjetada pelos internautas, os quais vivenciam uma experiência de fascínio frente às inúmeras possibilidades que esse tipo de espaço lhes oferece. (LIMA, 2003 apud GONTIJO, MENDES-SILVA, VIGGIANO, PAIXÃO E TOMASI, 2007). Para Guimarães Jr., 1999 (apud Gontijo e col., 2007), o ciberespaço vai além da comunicação, pois oferece suporte a um espaço simbólico propiciador de repertórios e atividades de caráter social, transformando-se em palco de práticas e representações dos diferentes grupos que o habitam. A característica de lócus virtual de interação social o transforma em um laboratório ontológico onde os indivíduos experimentam diferentes possibilidades de ser. Como as fronteiras entre público e privado são hoje indefiníveis, também não há separação entre as interações presenciais e virtuais: ambas são experiências que referenciam a vida social e cultural dos indivíduos. Estes, inquietos e ansiosos, pressionados para saber e compartilhar as novidades antes de todos, representam a versão ciberespacial do indivíduo contemporâneo descrito por Bauman, 2001 (apud Pereira e Bernar, 2011) como aquele 1
que está em crise e precisa descobrir quem é ou quem deve ser. Estendendo-se essa realidade para o ambiente tecnológico interativo, as redes sociais digitais têm sido o lugar onde o indivíduo demonstra quem ele é ou quem ele simula ser. A virtualidade pode servir aos sujeitos como refúgio em relação às dificuldades sociais; lócus de ampliação das possibilidades interativas, de acesso rápido e democrático a informações, entretenimento, oportunidades profissionais, lúdicas, educativas e sociais, como campo de construção de identidades e recurso terapêutico. Leva a uma alienação, se o sujeito ficar preso ao fascínio das imagens eletrônicas. (PEREIRA E BERNAR, 2011). Para Dal Bello (2009) o sujeito da pós-modernidade é descentrado, encadeado no discurso, atravessado pelos contextos, diluído, inexistente; e a identidade tornou-se plural, contraditória, temporária, múltipla, fragmentada. Este pluridivíduo está inserido em um sistema capitalista que estimula a competição no mercado de trabalho, na vida privada e na web. Busca-se nas redes sociais digitais a visibilidade, o lugar de destaque no grupo a que está vinculado. É o desejo de se diferenciar, de chamar a atenção no ciberespaço. Mas, a recorrência pela diferenciação gera um comportamento padronizado, cuja prerrogativa é a exposição cada vez maior da própria intimidade em busca do foco mediático. A sociedade do espetáculo (DEBORD, 1997) se expande e intensifica nos contextos interativos, onde cada indivíduo produz o espetáculo de si mesmo, extrapola a relação entre privado e público causando uma hibridação, que se percebe na velocidade com que as experiências íntimas são publicadas e consumidas na web. As relações sociais no ciberespaço tornam indivíduos desconhecidos em reconhecidos, como nos fenômenos da web-celebrização. (PEREIRA e BERNAR, 2011). Fragoso (2011) coloca que na modernidade líquida a busca frenética pela felicidade através do reconhecimento social tem impacto importante na identidade, continuamente montada e desmontada, exigindo adaptabilidade e mudança constantes. Com a chegada dos smartphones cerca de 10% dos brasileiros toraram-se viciados digitais. Pesquisadores da Universidade de Maryland (EUA) diagnosticaram em jovens de 10 países um transtorno denominado Internet Addiction Disorder - IAD, um distúrbio de dependência em internet. Os sintomas manifestados são de abstinência, no mesmo grau dos portadores de dependência de drogas ou de jogos, quando privados do objeto da compulsão. (Isto é, 2013). Em 2009 o número de dependentes em internet chegou a 24 milhões na China, segundo a China Youth Association for Network 2
Development (CYAND), onde 15,6% dos jovens entre 18 e 23 anos são adictos, sendo a maioria estudantes; entre as crianças, de 6 a 12 anos, 8,8% apresentam condutas típicas de um dependente. (PEOPLE DAYLE, 2010). Segundo Pujol, Schmidt, Sokolovsky, Karam, Spritzer (2009); Sá (2012); Pirocca (2012) os estudos de Internet Addiction (IA), realizados por Kimberly S. Young, da St. Bonaventure University (NY, USA) buscam os meios para diagnóstico e tratamento do distúrbio. O termo adicção (condição geral na qual a dependência psicológica impele à procura de um objeto, sem o qual a vida se torna sem sentido) tem sido substituído por abuso e dependência (referindo-se à dependência física e química), assinalando aspectos de tolerância e abstinência. (GUERRESCHI, 2007). A dependência de internet (DI) é um conceito relativamente novo na psiquiatria, caracterizado principalmente pela incapacidade de controlar o próprio uso da Internet, causando no indivíduo um sofrimento intenso e/ou prejuízo significativo em diversas áreas da vida. Os critérios de semelhança a uma dependência de substância consistem em: um comportamento que produz intoxicação/prazer (com a intenção de alterar o humor e a consciência), um padrão de uso excessivo, um impacto negativo ou prejudicial em uma esfera importante da vida e a presença de aspectos de tolerância e abstinência. (GREENFIELD, 2011). Estudos verificaram nos usuários tendências à depressão e compulsão a substituir a interação da vida real por salas de bate-papo e sites de relacionamento social; os homens e jovens teriam maior propensão ao vício; os adictos teriam níveis de moderados a graves de depressão e se envolveriam mais em sites de sexo, jogos e de comunidades/chat online. Outros fatores envolvidos são: a crença de intolerância à frustração entre adolescentes (mais prevalente no sexo masculino) e associado com a baixa autoestima, com sintomas obsessivos-compulsivos; transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), isolamento social, abuso de substâncias (PIROCCA, 2012). O abuso nas redes sociais pode gerar problemas sociais, psicológicos e físicos, pois uma experiência interativa pode satisfazer as necessidades pessoais do usuário e reforçar este comportamento. Níveis elevados de solidão, ansiedade social, neuroticismo e baixos níveis de extroversão contribuem para o desenvolvimento da adicção em internet. Pesquisa tcheca relacionou o uso do Facebook com a procrastinação acadêmica, devido à perda da noção do tempo gasto nesta rede social. (PIROCCA, 2012). De acordo com Caretti, 2000 (apud Guerreschi, 2007) o uso abusivo da internet provoca um transtorno chamado transe dissociativo do 3
videoterminal, caracterizado por alternâncias do estado de consciência, despersonalização e perda do sentimento da própria identidade, a qual é substituída por outra, paralela. Assim a rede se torna um espaço psicológico onde a pessoa pode projetar suas vivências e fantasias, as quais prevaricam na vida real, absorvendo a pessoa em sua totalidade. Como o Facebook é a rede social mais acessada no Brasil, o objetivo deste estudo foi verificar qual a percepção de seus usuários quanto à motivação e dependência da rede social. Foram aplicados 170 questionários online, em universitários, entre 18 e 28 anos, da cidade do Rio de Janeiro. Resultados: 77% acessam o facebook do computador pessoal; 69% sentem satisfação ao usar o facebook; 52% que a satisfação não está relacionada com a sensação de não estar sozinho; 62% não sentem conforto quando percebem que há outras pessoas online; 80% publicam no Facebook quando não há amigos, ou poucos, online; 62% não necessitam que outras pessoas interajam na rede/apenas publicar já causa algum tipo de satisfação; 92% acreditam que a relação com o facebook pode levar à dependência; 39% admitem serem dependentes. A motivação de 77% consiste em manter contatos; 5% reencontrar amigos; 18% passar informações, expor a personalidade, desabafar. Conclui-se que os universitários têm consciência do Facebook levar à dependência, enquanto alguns já se percebem adictos. A motivação para participar do Facebook consiste em manter contato, mas o reencontro com amigos corresponde a um baixo percentual, o que demonstra o isolamento a que a internet submete seus usuários. Referências DAL BELLO, Cíntia e TRIVINHO, Eugênio. Cibercultura e Subjetividade: Uma investigação sobe a identidade em plataformas virtuais de hiperespetacularização do eu. 2009, 130 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009. DEBORD, Guy. A Separação Consolidada. In: A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto, 1997. p. 13-27. FRAGOSO, Tiago de Oliveira. Modernidade líquida e liberdade consumidora: o pensamento crítico de Zygmunt Bauman. Revista Perspectivas Sociais Pelotas, Ano 1, N. 1, p. 109-124, março/2011. GONTIJO, Cynthia Rúbia Braga, MENDES-SILVA, Ivone Maria, VIGGIANO, Adalci Righ, PAIXÃO, Edmilson Leite, TOMASI, Antônio de Pádua Nunes. Ciberespaço: que território é esse? Educação & Tecnologia, v. 12, n. 3, 2007. 4
GREENFIELD, David. As propriedades de dependência do uso de internet. In: YOUNG K.(Org.). Dependência de internet- Manual e guia de avaliação e tratamento. Porto Alegre, RS: Artmed, 2011. GUERRESCHI, Cesare. New Addictions: As Novas Dependências. São Paulo, SP: Paulus, 2007. LEMOS, André. Cibercultura e Mobilidade: a Era da Conexão. Razón y Palabra. N. 41, Octubre - Noviembre, 2004. PEREIRA, Heloisa Prates, BERNAR, Lígia Isis Pinto. A superexposição de si como tendência no ciberespaço. VIII POSCOM Seminário dos Alunos de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUC-Rio, 2011, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, RJ. PIROCCA, Caroline. Dependência de Internet, definição e tratamentos: revisão sistemática da literatura. Monografia (Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental) - Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. SÁ, Gustavo Malafaya. À frente do computador: a Internet enquanto produtora de dependência e isolamento. Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXIV, 2012. Disponível em: <http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/10761.pdf>. Acesso em 17/05/2013 5