Estratégias Nutricionais para reduzir a emissão de Metano em Bovinos Plínio de Oliveira FASSIO 1 ; Larissa de Oliveira FASSIO 2 ; Angélica Campos MARTINS 3 ; Claudiane de Assis SOUZA 3 ; Vanessa Daniela Lázara de ASSIS 3 ; Liziana Maria RODRIGUES 4 1 Aluno do curso de Zootecnia IFMG-BAMBUÍ. Bolsista de Iniciação Científica - FAPEMIG. 2 Aluna especial de Mestrado em Ciências dos Alimentos pela Universidade Federal de Lavras 3 Aluno do curso de Zootecnia - IFMG campus Bambuí. 4 Prof. Msc. IFMG-BAMBUÍ RESUMO A produção brasileira de bovinos a pasto vem sendo apontada como a grande responsável pelo aumento da liberação de gás metano na atmosfera, devido ao processo fermentativo que ocorre no rúmen desses animais. Apesar dessa realidade, a atividade não pode ser responsabilizada exclusivamente, uma vez que a produção de metano entérico pelos ruminantes corresponde com 15 a 20% das atividades antrópicas. O presente trabalho teve como objetivo apresentar as possíveis formas de manipular a dieta em ruminantes visando à redução da produção de metano entérico. Várias pesquisas apontam que é possível melhorar a eficiência energética do ruminante através da manipulação da dieta. A inclusão da monensina sódica, ácidos graxos poliinsaturados e leguminosa na dieta de bovinos têm apresentado efeitos positivos sobre o padrão de fermentação. A própolis em dietas com menor relação volumoso:concentrado também contribuem para a redução do metano produzido pelos ruminantes. Os animais que receberam esse tipo de suplementação diminuíram a relação acetato:propionato, com menor perda energética e redução da metanogênese. O uso de aditivos na dieta de ruminantes que modificam a fermentação ruminal não deve ser utilizado pensando exclusivamente no impacto do metano sobre a atmosfera, mas também no beneficio que essa manipulação traz ao desempenho animal através da melhoria da eficiência energética. Palavras-Chave: aditivos, fermentação ruminal, manipulação, metanogênese, pecuária, INTRODUÇÃO A pecuária brasileira, principalmente a extensiva, encontra-se no centro da discussão sobre a emissão de gases de efeito estufa pelas atividades antrópicas. Os pecuaristas do Brasil plíniofassio@yahoo.com.br
estão sendo alvo de críticas severas a respeito da emissão de gás metano na atmosfera pelos bovinos criados em pastagens. Embora, seja uma realidade este fato não pode ser levando em consideração como o único responsável pelo aumento desse gás na atmosfera. Segundo Pedreira et al. (2005), isso tem sido usado como barreira mercadológica para a carne brasileira, uma vez que o Brasil é detentor do maior de rebanho comercial de bovinos do mundo e por utilizar forrageiras tropicais como base da alimentação destes animais. A produção de metano pela pecuária corresponde apenas com 15 a 20% das atividades antrópicas (MOSS et al., 2000 citados por MARTIN, et al., 2008). O metano é eliminado por bovinos e sua produção é proveniente da fermentação ruminal, e que está relacionada ao tipo do animal e ao consumo e digestibilidade do alimento (RIVERA et al., 2010). Desta maneira, o desenvolvimento de estratégias alimentares que reduzam a emissão de metano pode trazer benefícios não somente ao meio ambiente, mas também ao próprio animal (MARTIN et al., 2008). Vários estudos vêm sendo conduzidos com o objetivo de melhorar a eficiência energética dos bovinos e reduzir a metanogênese. Alguns alimentos estão sendo incluídos nas dietas dos bovinos, como por exemplo, a monensina sódica, a própolis, óleos de canola, linhaça e girassol, leucena e leveduras, além de dietas com menor relação volumoso:concentrado (BEAUCHEMIN e McGINN, 2006; MARTIN et al. 2008; McGINN et al. 2004; PEDREIRA et al. 2004; POSSENTI et al. 2008). Sendo assim, objetivou-se com este trabalho apresentar algumas estratégias de modificação da fermentação ruminal em bovinos visando à redução da produção de metano. REFERENCIAL TEÓRICO A metanogênese no rúmen é realizada por bactérias tais como as Methanosarcina barkerii; Methanobrevibacter ruminantium; Methanobacterium formicicum; Methanomicrobium mobile. Esses microrganismos têm papel importante na regulação da fermentação ruminal, sendo responsáveis pela remoção de H 2 com consequente produção de metano. Apesar de ser um processo natural no metabolismo dos animais ruminantes isso representa uma perda energética devido à energia gasta para a síntese de metano, além daquela perdida na ligação carbono/hidrogênio.
A utilização de modificadores da fermentação ruminal estão sendo cada vez mais empregados no intuito de contornar essa perda de energia, além de reduzir a emissão de gás metano na atmosfera (Tabela 1). TABELA 1 Aditivos suplementares em dietas de ruminantes e seus efeitos sobre a fermentação ruminal Suplemento Efeito Referência Óleo de canola Redução do metano entérico Beauchemin e Mcginn, (2006) Óleo de girassol Menor relação acetato:propionato Mcginn et al. (2004) Leucaena leucocephala Redução do metano entérico Possenti et al. (2008) Própolis Redução do metano entérico Prado et al (2010); Óleo de soja Defaunação e redução de metano Martinele et al (2008) Enramicina Sem efeito na proporção de AGV s Borges et al (2008) A monensina sódica é uma alternativa de suplementação em dietas de bovinos (JOHNSON e JOHNSON, 1995). Outra possibilidade que vem sendo estudada é inclusão da própolis na dieta de bovinos e seus efeitos sobre a fermentação ruminal (PRADO et al. 2010). O emprego da suplementação lipídica na dieta de ruminantes também vem sendo utilizada e tem apresentado como uma estratégia promissora para aumentar a eficiência no sistema de produção animal e os benefícios ambientais decorrentes da redução na metanogênese (RIVERA et al., 2010). Martin et al. (2008) estudaram a inclusão de linhaça na dieta de vacas em lactação e seu efeito sobre a produção de metano. As inclusões consistiram na linhaça bruta, linhaça extrusada e óleo de linhaça. O estudo demonstrou que a suplementação com linhaça nas várias formas pode reduzir a metanogênese em vacas leiteiras. Outro estudo com a modificação da fermentação ruminal através manipulação da dieta de bovinos foi realizado por Rivera et al. (2010). Esses pesquisadores estudaram os efeitos da suplementação, no nível de 5 g/dia, dos seguintes aditivos: complexo de leveduras, ácidos graxos poliinsaturados e aminoácidos; monensina sódica 5%; caulim, usado como controle, sobre a produção de metano. Esses aditivos foram fornecidos com a dieta-base, composta de feno de capim-tifton 85 (Cynodon spp.) e concentrado, na relação 80:20. A produção de metano não diferiu entre os aditivos estudados (Tabela 2). No entanto, a suplementação com monensina reduziu a relação acetato:propionato, resultando em menor perda de energia.
TABELA 2 Valor médio do volume total de gás e metano (CH 4 ) produzido por grama de matéria seca (MS) incubada. Volume de gás Aditivo CV (%) (ml/ g MS) Complexo de leveduras, ácidos graxos poliinsaturados e aminoácidos Monensina Caulim (sem aditivo) Total 62,33 61,67 63,05 17,48 Metano 21,04 22,29 23,78 31,87 CV = coeficiente de variação Fonte: Rivera et al. (2010) A manipulação da fermentação ruminal em ruminantes pode também ser conseguida através do uso de leguminosa na dieta. Um estudo realizado por Possenti et al. (2008) com a adição de Leucaena leucocephala associada ao feno de capim Cynodon dactylon cv. coast-cross na dieta de bovinos mestiços demonstrou que dietas com 50% de leucena e 50% de gramínea promoveram melhor padrão de fermentação no rúmen de bovinos. A produção de ácido propiônico aumentou e a emissão de metano reduziu em 12,3% com o fornecimento dessas dietas sem leveduras. Por outro lado, dietas contendo 20% de leucena e 10% de levedura reduziram em 17,2% a produção de ácido propiônico e a emissão de metano, demonstrando relevante efeito associativo do alto nível de leucena e do uso de levedura na redução da emissão de metano e melhoria da eficiência energética pelos ruminantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS A manipulação da fermentação através de dietas contendo fontes variadas de ácidos graxos poliinsaturados, leucena e monensina podem ser alternativas para mitigar a emissão de gás metano na atmosfera pelos ruminantes. A própolis em dietas com menor relação volumoso:concentrado também contribuem para a redução do metano produzido pelos ruminantes. Muitos estudos ainda devem ser conduzidos com objetivo de melhorar a eficiência energética e potencializar a utilização desses aditivos suplementares na dieta de bovinos. Essa estratégia não deve ser utilizada pensando exclusivamente no impacto do metano sobre a atmosfera, mas também no beneficio que essa manipulação traz ao desempenho animal através da melhoria da eficiência energética.
AGRADECIMENTOS Ao Instituto Federal Minas Gerais campus Bambuí e a FAPEMIG pela concessão da bolsa de iniciação científica ao primeiro autor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEAUCHEMIN, K. A.; McGINN, S. M. Methane emissions from beef cattle: Effects of fumaric acid, essential oil, and canola oil. J. Anim. Sci. 2006. 84: 1489-1496. BORGES, L. F. O.; PASSINI, R.; MEYER, P. M.; PIRES, A. V.; RODRIGUES, P. H. M. Efeito da enramicina e da monensina sódica no consumo da matéria seca, na fermentação ruminal e no comportamento alimentar em bovinos alimentados com dieta com altos níveis de concentrado. Rev. Bras. Zootec., v. 37, n. 4, p. 681-688, 2008. JOHNSON, K. A.; JOHNSON, D. E. Methane emissions from cattle. J. Anim. Sci. 1995. 73: 2483-2492. MARTINELE, I.; EIFERT, E. C.; LANA, R. P.; ARCURI, P. B.; D AGOSTO, M. Efeito da monensina e do óleo de soja sobre os protozoários ciliados e correlação dos protozoários com parâmetros da fermentação ruminal e digestiva. Rev. Bras. Zootec., v. 37, n. 6 p. 1129-1136, 2008. MARTIN, C; ROUEL, J; JOUANY, J. P. et al. Methane output and diet digestibility in response to feeding dairy cows crude linseed, extruded linseed, or linseed oil. J. Anim. Sci., v. 86, n.10, p. 2642-2650, 2008. McGINN, S. M.; COATES, T.; COLOMBATTO, D. Methane emissions from beef cattle: Effects of monensin, sunflower oil, enzymes, yeast, and fumaric acid. J. Anim. Sci. 2004. 82:3346-3356. PEDREIRA, M. S.; BERCHIELLI, T. T.; OLIVEIRA, S; G. PRIMAVESI, O.; LIMA. M. A.; FRIGHETTO, R. Produção de metano e concentração de ácidos graxos voláteis ruminal em bovinos alimentados com diferentes relação volumoso:concetrado. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41, 2004. Campo Grande. Anais... Campo Grande: SBZ, 2004. POSSENTI, R. A.; FRANZOLIN, R.; SCHAMMAS, E. A. et al. Efeitos de dietas contendo Leucaena leucocephala e Saccharomyces cerevisiae sobre a fermentação ruminal e a emissão de gás metano em bovinos. R. Bras. Zootec. v.37, n.8, Viçosa Aug. 2008. PRADO, O. P. P.; ZEOULA, L. M. MOURA, L. P. P.; FRANCO, S. L.; PRADO, I. N.; GOMES, H. C. C. Digestibilidade e parâmetros ruminais de dietas a base de forragem com a adição de própolis e monensina sódica para bovinos. R. Bras. Zootec., v. 39, n. 6, p.1336-1345, 2010. RIVERA, A. R.; BERCHIELLI, T. T.; MESSANA, J. D. et al. Fermentação ruminal e produção de metano em bovinos alimentados com feno de capim-tifton 85 e concentrado com aditivos. R. Bras. Zootec., v.39, n.3, p.617-624, 2010.