Plataformas Associativas, Património Rural e Conservação da Fauna Selvagem Casos práticos do Nordeste Transmontano



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Transcrição:

Plataformas Associativas, Património Rural e Conservação da Fauna Selvagem Casos práticos do Nordeste Transmontano Ricardo M. L. Brandão ALDEIA Apartado 71 5210-909 Miranda do Douro E-mail: aldeiamail@gmail.com Website: www.aldeia.org PALOMBAR Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste Rua 1º de Maio 5210 Miranda do Douro Website: www.palombar.org O desenvolvimento foi e será inevitavelmente uma necessidade das populações humanas, mas só há relativamente pouco tempo é que a sua sustentabilidade social e ambiental começaram lentamente a fazer parte das agendas de quem decide. Para que este processo se alargue, é fundamental torná-lo uma necessidade de cada cidadão e não apenas uma obrigação que é imposta. Assim, a integração das populações de uma forma consciente e responsável no meio natural de que dependem, torna-se cada vez mais uma prioridade. O processo de abandono do interior rural Português é imparável, mas não é necessariamente negativo e deve ser encarado como uma oportunidade privilegiada de desenvolvimento que reconheça as especificidades e particularidades únicas das regiões, preservando e valorizando o seu património natural e construido. Para tal, devem-se estabelecer planos de acção participativos, mobilizados também a partir da sociedade civil e nesse contexto, a presença do associativismo e de voluntariado em meios rurais são pilares básicos que é urgente fomentar. A Associação ALDEIA A Associação ALDEIA iniciou as suas actividades no ano de 2004, tendo como objectivo principal a promoção de acções que contribuam para a valorização e conservação do património natural e cultural em meios rurais, incentivando a participação das populações locais neste processo. A área de actuação principal tem sido o Nordeste Transmontano e têm sido desenvolvidas acções englobadas nas áreas temáticas da Conservação da Natureza e da Cultura Rural Tradicional, sendo de destacar as seguintes iniciativas e projectos: 1) Actividades Rurais em Extinção: Esta iniciativa destina-se a ir ao encontro de saberes e tradições que sempre fizeram parte do mundo rural e que lentamente vão desaparecendo à medida que as populações vão envelhecendo e/ou abandonando o campo. O ponto de partida para este projecto têm sido cursos que funcionam como oportunidades de encontro entre quem quer descobrir actividades como por exemplo as técnicas tradicionais de cestaria ou de pastoreio de um rebanho de ovelhas, entre outras. Estas actividades em extinção estão associadas a modos de vida que moldaram os meios rurais de que ainda temos o previlégio de poder usufruir, e a preservação destes pode depender da passagem dos conhecimentos que as populações foram gerando, para novas gerações que podem lentamente ir despertando para um regresso à vida nas aldeias.

2) Programa Antídoto Portugal: Uma das maiores ameaças globais à Biodiversidade é o uso de substâncias tóxicas no meio ambiente. O Programa Antídoto é uma iniciativa que começou em Espanha em 1998 e que se alargou a Portugal em 2004 e o seu principal objectivo é conhecer e investigar a problemática do uso ilegal de venenos e estabelecer medidas de controlo e repressão que reduzam os efeitos que estas práticas têm sobre várias espécies, nomeadamente da fauna selvagem. Para além de se dedicar a este problema que está fortemente relacionado com a actividade cinegética e com a criação de gado doméstico, o programa tem alargado a sua acção no sentido de investigar os efeitos do uso de algumas substâncias altamente tóxicas na Agricultura, que embora legalizadas pelas entidades competentes (e por isso, de muito fácil acesso), têm efeitos adversos comprovados sobre a fauna, pelo que deveriam merecer um maior controlo no seu uso. O Programa Antídoto - Portugal têm um âmbito nacional e é levado a cabo por uma rede de organizações e instituições de todos o país, tendo ficado a ALDEIA encarregue de dinamização de acções na região de Trás-os-Montes. 3) Turismo Eco-Cultural em Meio Rural O Turismo Ecológico e Cultural é uma actividade que tem registado um crescimento assinalável em várias regiões do mundo e que em Portugal tem dado os primeiros passos durante a última década. Uma das grandes potencialidades turísticas de regiões frequentemente consideradas desfavorecidas como o Nordeste Transmontano é precisamente o meio natural que ainda se encontra preservado, embora constantemente e cada vez mais ameaçado pelas necessidades de desenvolvimento, e a forte identidade cultural conferida pela riqueza do património construído e pelas tradições. São estes os eixos em torno dos quais se poderia e deveria fomentar o desenvolvimento sustentável e um turismo de qualidade, que além da mera oferta de mais uma actividade, acabe por criar uma consciencialização das populações para determinadas questões, como por exemplo, a conservação dos recursos naturais. Assim, a ALDEIA tem iniciado e tenciona continuar a promover um conjunto de actividades em aldeias e áreas envolventes, que previligiem o contacto com a arquitectura tradicional, as práticas agrícolas ao longo do ano, as artes de produzir alimentos (como por exemplo, o pão) e que proporcionem em simultâneo o contacto com a Natureza e com as populações rurais, que devem ser envolvidas de uma forma consciente e activa. Outras actividades têm sido as saídas de campo para identificação e apanha de cogumelos silvestres, ou de observação de aves selvagens. 4) Cursos, Seminários e Jornadas Um dos objectivos da ALDEIA é contribuir para formar, educar e sensibilizar os jovens, em particular os universitários. Nesse sentido, têm sido desenvolvidos vários cursos (Biodiversidade e Mundo Rural, Biologia da Conservação; Recuperação de Fauna Selvagem), Seminários (Agricultura e Pecuária Ecológica) e Jornadas (Bioconstrução e Arquitectura Tradicional, Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Rural Sustentável; o Mar, as suas Gentes e os que Nele Habitam) em várias regiões do país, que sejam atraentes desde um ponto de vista de formação académica, mas que contribuam para um contacto e aproximação progressiva a vários aspectos relacionados com a relação entre o homem e a Natureza, particularmente em meios rurais. 5) Fotografia - Expedições e Cursos Técnicos A Fotografia é um excelente veículo de sensibilização, pelos momentos que proporciona quando é observada, mas também quando é captada. Por essa razão, têm

sido promovidas diversas expedições fotográficas temáticas (Pelas Aldeias do Rio Sabor; Pelas Aldeias do Nordeste; Pastores do Sabor) que por um lado dão um pretexto e um tema central às saídas de campo e por outro resultam nalgum material que dará origem a várias exposições de fotografia itinerantes. Para melhorar o nível técnico e para formação dos participantes também foram desenvolvidos workshops, como por exemplo de Introdução à Fotografia da Natureza que se irão repetir futuramente e alargar a várias outras áreas da fotografia. 6) Campos de Trabalho de Voluntariado - Recuperação de Património O voluntariado é um dos principais motores da actividade da ALDEIA, e para além da organização das actividades acima referidas iniciaram-se alguns campos de trabalho com o objectivo de, de momento, recuperar estruturas que serão património da associação, de que se destacam escolas primárias abandonadas que servirão futuramente como sede e centro de interpretação, e que foram cedidas por Câmaras Municipais locais. Futuramente pretende-se alargar os campos de trabalho à recuperação de outro património abandonado e que não esteja a merecer a atenção das instituições. As actividades e o funcionamento da associação têm sido desenvolvidos maioritariamente em regime de voluntariado e com uma filosofia de itinerância e estabelecimento de parcerias com entidades locais. Sempre que possível, as aldeias têm sido os locais de eleição para organização das actividades e é aí que também se pretendem instalar os principais centros de trabalho da associação. A Associação Palombar Na região Nordeste de Portugal (distritos de Bragança e Guarda) existem quase 3500 pombais tradicionais, a maioria deles em estado de degradação devido ao abandono rural da região. Estas estruturas foram construidas pelas populações e eram aproveitadas principalmente para a criação de pombos (importante complemento à alimentação humana), mas também serviam, por exemplo, para a produção de estrume, o pombinho, que era utilizado para fertilizar os campos agrícolas. Durante os útimos anos, a recuperação de parte desses pombais tem sido efectuada através de projectos dinamizados por diferentes instituições e pelos proprietários. A Palombar Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste surgiu em 1998 e desde então tem vindo a desenvolver diversas acções com o objectivo de recuperar, revitalizar e conservar um importante património, que são os pombais tradicionais. As principais linhas de trabalho da associação são: 1) Inventário e Caracterização: O trabalho de campo tem sido essencial para proceder ao levantamento de todos os pombais existentes na região Nordeste de Portugal. Através de vários projectos e com a colaboração de várias instituições, foi possível criar uma base de dados que reune a identificação e caracterização individual de todos os pombais, bem como o seu estado de conservação e uso actual e todos os dados relevantes sobre o proprietário. Esta base de dados é um ponto de partida fundamental para todas as acções que estão a ser desenvolvidas ou que se venham a desenvolver no futuro, e está em permanente actualização. 2) Divulgação e Turismo: Para se conseguir o reconhecimento dos pombais na região onde existem e também fora dela, têm sido desenvolvidas algumas actividades de carácter turístico e

promocional. Estas actividades têm consistido essencialmente em passeios pedestres por aldeias onde existam pombais, através de visitas guiadas pela associação, e passeios em bicicleta (Rotas BTT) onde se fazem paragens em locais onde existem pombais, proporcionando assim oportunidades e momentos de contacto entre os participantes e as populações locais, nomeadamente os proprietários. Estes vêm assim reconhecido e valorizado o seu trabalho de manutenção dos pombais, ou por outro lado, começam a sentir-se mais estimulados para proceder à sua recuperação, no caso de se encontrarem degradados. Outra acção importante é a organização de Feiras Gastronómicas, que contribuem para um maior envolvimento de vários agentes locais (restaurantes, hotéis, Câmaras Municipais, associações de desenvolvimento) que desta forma reconhecem também um valor económico aos pombais e aos pombos que aí são produzidos. Esta acção é também um incentivo ao proprietários que têm pombais para que continuem a mantê-los activos e também desperta interesse de mais habitantes locais para as potencialidades da criação destes animais. 3) Recuperação (projectos e campos de voluntariado) O elevado número de pombais degradados e abandonados (mais de 2500) obriga a que sejam criados projectos para a sua recuperação. Várias entidades locais têm realizado este trabalho, quase sempre com a colaboração e participação activa da Palombar, e nalguns casos são até os próprios proprietários a procederem à recuperação sem qualquer tipo de apoio ou colaboração de nenhuma instituição. Assim, seja ao nível do apoio técnico, seja através da intervenção directa nos processo de recuperação, a Palombar tem tido um papel relevante no importante processo de aumentar o número de pombais com a estrutura física totalmente recuperada. Nalguns casos, têm sido desenvolvidos campos de trabalho de voluntariado em colaboração com associações nacionais e internacionais, com a colaboração das autarquias e empresas locais, e com a participação dos próprios proprietários. De uma forma geral, estes campos de trabalho são realizados no Verão, contam com a participação de cerca de 20 voluntários e têm a duração de 2 semanas. Nesse período, para além do trabalho físico de recuperação da estrutura do pombal, são desenvolvidas várias actividades lúdicas e turísticas que permitem o contacto com a região, com a cultura e com as populações locais. 4) Apoio Técnico aos proprietários (repovoamento e diagnóstico sanitário) Paralelamente aos processos de recuperação, é necessário proceder à revitalização dos pombais, para que se mantenham realmente activos, cumprindo o verdadeiro papel para o qual têm sido construídos e utilizados ao longo dos tempos. Asism, tem sido fundamental realizar acções de formação e apoio técnico aos proprietários relativamente ao repovoamento dos pombais que se encontravam abandonados, para que a existam as informações correctas necessárias para a sua manutenção e gestão. Para isso, o maneio reprodutivo, o diagnóstico de doenças e a resolução de pequenos problemas e dificuldades que vão surgindo tem sido uma tarefa que a Palombar tem considerado prioritária, principalmente nos tempos mais recentes. As perdas no efectivo de pombos que podem ocorrer, por exemplo com as doenças, e os riscos que estas acarretam também para a Saúde Pública Humana obrigam a que a Palombar tenha vindo a oferecer serviços médico-veterinários, muitas vezes em regime de voluntariado, e noutras vezes através de projectos em que está envolvida. 5) Educação e Sensibilização Ambiental Os pombais cumprem um papel ecológico importantíssimo na região pois por um lado estão a associados a práticas agrícolas perfeitamente sustentáveis ambientalmente, como é o caso do uso de estrume de pombo para fertilizar os campos

agrícolas de uma forma limpa e livre de químicos; e por outro lado, os pombos servem muitas vezes de alimento para diversas espécies de animais selvagens, principalmente as aves de rapina, algumas delas em perigo crítico de extinção na região, como é o caso da ameaçada Águia-de-bonelli (Hieraeetus fasciatus). Embora muitos proprietários estejam consciencializados para o papel ecológico dos seus pombos, as perdas por vezes são difíceis de tolerar, e por isso é fundamental aproveitar as oportunidades de contacto entre a Palombar e os proprietários para proceder a acções de sensibilização, que diminuam os conflitos com os animais selvagens. Esta situação tem sido recentemente integrada nas acções de formação pois é fundamental passar a mensagem de que reduzindo as perdas derivadas do maneio incorrecto dos pombais, as perdas geradas pelas espécies que se alimentam dos pombos são praticamente irrelevantes na maioria dos casos. No entanto, esta questão é muito sensível e há a necessidade de um trabalho continuado e cada vez melhor de educação e sensibilização ambiental de forma a desmistificar as crenças e a reduzir a falta de informação que pode em alguns casos levar ao abate ilegal de animais considerados, muitas vezes incorrectamente, inimigos dos pombos. Muitas das acções descritas anteriormente dificilmente teriam sido integradas no plano de acção da Palombar se a associação fosse constituida exclusivamente por proprietários de pombos, muitos já de idade avançada. Por isso, nos últimos anos, a associação tem sido gerida e dinamizada por jovens (locais e de outras regiões do país), que através de projectos ou meramente por gosto e interesse pessoal, têm dedicado o seu tempo e as suas habilitações profissionais à dinamização dos pombais, tendo para isso sido criadas várias parcerias locais e regionais para concretizar as diversas acções. Embora esquecidos e até há muito pouco tempo desvalorizados, os pombais tradicionais representam um património característico do Nordeste Português e têm uma grande importância cultural e ecológica pelo que é importante divulgar e proteger estas últimas sentinelas da paisagem rural.