Conflitos interpessoais na instituição educativa: formação do professor, gestão, e políticas públicas para a educação



Documentos relacionados
Curso de Capacitação em Bullying

SOE Serviço de Orientação Educacional

PLURALIDADE CULTURAL E INCLUSÃO NA ESCOLA Uma pesquisa no IFC - Camboriú

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

LEI Nº 2.619, DE 19 DE MARÇO DE 2010.

IDENTIFICAR A INCIDÊNCIA E TIPOS DE BULLYING MAIS FRENQUENTE NA ESCOLA

Resumo Aula-tema 04: Eu e os outros (Competência Social)

coleção Conversas #6 Respostas que podem estar passando para algumas perguntas pela sua cabeça.

Aula 28.2 Conteúdos: A estrutura de construção de um texto argumentativo Características do gênero Artigo de opinião LÍNGUA PORTUGUESA

VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ESCOLA CAMPO

VIGILÂNCIA SOCIAL E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ELETROBRAS. Política de Responsabilidade Social das Empresas Eletrobras

ADMINISTRAÇÃO GERAL MOTIVAÇÃO

BULLYING, ISTO NÃO É BRINCADEIRA`

BULLY L IN I G G N A E SCOLA O O Q U Q E É?

EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS: CONSTRUINDO CAMINHOS PARA PREVENÇÃO DO BULLYING ESCOLAR

AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO-CURRICULAR, ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E DOS PLANOS DE ENSINO 1

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS. UNICEF 20 de Novembro de 1959 AS CRIANÇAS TÊM DIREITOS

Trabalho em grupo: modelos de deficiência 1/5

Barómetro APAV INTERCAMPUS Perceção da População Portuguesa sobre Stalking, Cyberstalking, Bullying e Cyberbullying Preparado para: Associação

25 de novembro - Dia Internacional de Combate à Violência Contra as Mulheres. Carta de Brasília

DA UNIVERSIDADE AO TRABALHO DOCENTE OU DO MUNDO FICCIONAL AO REAL: EXPECTATIVAS DE FUTUROS PROFISSIONAIS DOCENTES

Maus -tratos. ACÇÃO DE FORMAÇÃO ANO de 2010 FÁBIA SOUZA

O PSICÓLOGO (A) E A INSTITUIÇÃO ESCOLAR ¹ RESUMO

OS DIREITOS HUMANOS NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

BULLYING EI! QUEM É VOCÊ?

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

2. REDUZINDO A VULNERABILIDADE AO HIV

Como aconteceu essa escuta?

ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO LÍDER NO SETOR DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO CONCHECITA CIARLINI MOSSORÓ/RN

Ana Beatriz Bronzoni

O PREFEITO DO MUNICIPIO DE SUMARÉ

Gênero no processo. construindo cidadania

Conceituando a violência

VOLUNTARIADO E CIDADANIA

Violência escolar: construindo diálogo na escola

PROJETO DE LEI Nº. 098/2011 A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO DECRETA:

ORIENTADOR EDUCACIONAL

Aula 8: Modelos clássicos da análise e compreensão da sociedade e das instituições sociais e políticas: A Sociologia de Max Weber (I).

Campanha Anti-bullying. JMJ na luta de uma escola respeitosa e humanizada

Avaliação da aprendizagem... mais uma vez

PROJETO Manifestações de Março/2015

SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA (PAIF)

Indisciplina escolar: um breve balanço da pesquisa em educação. Juliana Ap. M. Zechi FCT/UNESP

Daniela Campioto Cyrilo Lima*, Emanuela Matos Granja*, Fabio Giordano **

TEORIA DE JULGAMENTO MORAL DE KOHLBERG E BULLYING: INTERSEÇÕES POSSÍVEIS DE UM PROBLEMA PERTINENTE

O Caracol Curioso. Escola a Tempo Inteiro - 1ºciclo. Projeto PedagógicoCAF/CATL - Bullying

AS RELAÇÕES ENTRE OS CONFLITOS INTERPESSOAIS E O BULLYING: UM ESTUDO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Vice-Reitoria Curso de Abordagem da Violência na Atenção Domiciliar Unidade 2-Violência e criança

Quem faz a diferença? E.E.E.I. Olímpio Catão Sala 10 - Sessão 1

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Prevenção na Escola. 1. Eu não ajo com violência física ou psicológica (Bullying/Cyberbullying).

AS REDES SOCIAIS COMO AUXÍLIO NA COMUNICAÇÃO DE ALUNOS DE GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO MUNICÍPIO DE ITAPERUNA- RJ

PROJETO CONVIVÊNCIA E VALORES

Desvios de redações efetuadas por alunos do Ensino Médio

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR

PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER: MAPEAMENTO DAS DENÚNCIAS ENTRE OS ANOS DE 2010 E 2011 NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB

Projetos bem sucedidos de educação moral: em busca de experiências brasileiras I

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PSICOLOGIA DA FACULDADE ANGLO-AMERICANO

FINESSE II. Escala de Avaliação de Serviços dirigidos a Famílias em Contextos Naturais

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

Material: Uma copia do fundo para escrever a cartinha pra mamãe (quebragelo) Uma copia do cartão para cada criança.

O Determinismo na Educação hoje Lino de Macedo

Projeto Prevenção Também se Ensina

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

GESTÃO DEMOCRÁTICA EDUCACIONAL

Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

Faculdade de Direito Ipatinga Núcleo de Investigação Científica e Extensão NICE Coordenadoria de Extensão. Identificação da Ação Proposta

Faculdade Sagrada Família

Proteção Infanto-Juvenil no campo: uma Colheita para o Futuro

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

PRÁTICAS DA PSICOLOGIA EM SITUAÇÕES DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS NO CREAS

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

Parabéns a você que burlou a realidade para se tornar a PEÇA que FALTAVA na sua advocacia.

TIPOS DE RELACIONAMENTOS

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

Cartilha de Prevenção Orientações para o combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, EXPRESSÃO E RELIGIÃO NO BRASIL Rev. Augustus Nicodemus Lopes APRESENTAÇÃO CARTA DE PRINCÍPIOS 2011

Gestão da Informação e do Conhecimento

No E-book anterior 5 PASSOS PARA MUDAR SUA HISTÓRIA, foi passado. alguns exercícios onde é realizada uma análise da sua situação atual para

Curso Sustentabilidade e Saúde Humana:

Administração de Pessoas

III Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí III Jornada Científica 19 a 23 de Outubro de 2010

CURSO PREPARATÓRIO PARA PROFESSORES. Profa. M. Ana Paula Melim Profa. Milene Bartolomei Silva

ESTUDAR E BRINCAR OU BRINCAR E ESTUDAR? ESTUDAR E BRINCAR OU BRINCAR E ESTUDAR?

20 perguntas para descobrir como APRENDER MELHOR

Entrevista com Heloísa Lück

5 Considerações finais

UNIVERSIDADE DE MINAS GERAIS - RS UFMG - EXTENÇÃO JUVIVA 2-CURSO DE ATUALIZAÇÃO EJA E JUVENTUDE VIVA 2-T9

Ambientes Não Formais de Aprendizagem

SOCIEDADE VIRTUAL: UMA NOVA REALIDADE PARA A RESPONSABILIDADE CIVIL

Os desengajamentos morais: as pesquisas que podem contribuir para a compreensão da convivência ética. Luciene Regina Paulino Tognetta

Faculdade de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Educação RESUMO EXPANDIDO DO PROJETO DE PESQUISA

DIREITOS HUMANOS, FEMINISMO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÊNERO: APLICABILIDADE DA LEI Nº /06 EM CAMPINA GRANDE/PB

Proteção de dados e acesso à informação. Mario Viola

REGULAMENTO CURSO DESCENTRALIZADO

Organizando Voluntariado na Escola. Aula 1 Ser Voluntário

Bullying - A Agressividade Entre Pares. A Agressividade Entre Pares

ATUAÇÃO DO PROFESSOR DIANTE DO BULLYING NA SALA DE AULA: PREVENÇÃO E COMBATE

Transcrição:

FORMAÇÃO DE PROFESSORES APTOS A DIAGNOSTICAR E TRABALHAR GESTÃO DO FENÔMENO BULLYING NO ENSINO SUPERIOR: UMA NECESSIDADE Juliana de Lima da Silva (UFAM) July_anna18@hotmail.com. Suely A. do N. Mascarenhas (UFAM) suelymascarenhas1@yahoo.com.br José Maria Avilés Martinez (Universidade de Valladolid) bullying@telefônica.net. Conflitos interpessoais na instituição educativa: formação do professor, gestão, e políticas públicas para a educação Este estudo é realizado ao abrigo do PIBIC-H-FAPEAM/UFAM 036/2010/ 2011 avalia informações acerca do fenômeno bullying em universitários da UFAM. Bullying é uma palavra de origem inglesa utilizada para definir atos de violência física e psicológica praticados contra um ou mais indivíduos de forma repetitiva e contínua com o objetivo de maltratar, intimidar, molestar e difamar pessoas em desvantagem de poder. Dessa forma um dos papéis fundamentais da universidade é formar professores aptos para o diagnostico desse fenômeno, assim como, prepará-los para trabalhar com as situações de intimidação dentro do ambiente escolar. O trabalho tem como objetivo analisar as representações escritas pelos estudantes a cerca do fenômeno bullying, a fim de avaliar qual a percepção dos mesmos a respeito do tema em questão. É uma investigação transversal, na perspectiva quali-quantitativa. Os dados apresentados foram obtidos com base em uma amostra de n= 310 estudantes do ensino superior do IEAA, sendo n= 64,2% do sexo feminino e n= 32,9% do sexo masculino com idade entre 15 e 60 anos. Neste estudo analisa-se com apoio do programa estatístico SPSS versão 15.0, a ocorrência do fenômeno junto a universitários da UFAM, diagnosticados e avaliados com aplicação do QIMEI - Questionário sobre intimidação e maltrato entre iguais universitários. Avilés, (2005). Tradução para português/brasil, Mascarenhas (2007), com 35 itens, sendo 34 com questões de múltipla escolha e uma questão dissertativa. Os resultados evidenciam a ocorrência do bullying no contexto universitário investigado bem como evidencia diversas tipologias e situações de intimidação existem na universidade. O que sugere a pertinência na continuidade da pesquisa e implementação de políticas e programas para formação dos professores que assegure profissionais capacitados para diagnosticar e gerir o fenômeno em contextos educativos. Palavras-chave: bullying, ensino superior, formação de professores.

INTRODUÇÃO Este estudo realizado ao abrigo do PIBIC-H-FAPEAM/UFAM 036/ 2010/2011 avalia informações acerca do fenômeno bullying em universitários da UFAM Universidade Federal do Amazonas, mais precisamente no IEAA Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente, Humaitá, Sul do Amazonas. Tem como objetivo analisar as representações escritas pelos estudantes a cerca do fenômeno bullying, a fim de avaliar qual a percepção dos mesmos a respeito do tema. Contribuindo com a efetivação de investigações desta natureza e com ampliação da oferta de informações de cunho psicopedagógico que possam ser utilizadas por gestores universitários e estudantes no sentido de ajustarem o seu perfil às necessidades do processo de relações interpessoais face às exigências de qualidade e bem-estar psicossocial preconizado pelos direitos e as garantias individuais da cidadania no Brasil, inclusive os integrados ao contexto universitário brasileiro na atualidade (BRASIL, 1996; LIRA; COL, 2009; MASCARENHAS; COL, 2009; SILVA; COL, 2009). Tendo em vista que a palavra bullying é derivada do verbo inglês bully que significa usar a superioridade física para intimidar ou maltratar alguém, caracterizando-se por situações de intimidação e violência tanto física quanto psicologia, praticadas contra um ou mais indivíduos de forma repetitiva e contínua com o objetivo de maltratar, intimidar, molestar e difamar pessoas em desvantagem de poder. Porém pelo termo bullying não ter uma tradução literal para o português seus enfoques e conotações variam de país para país e de cultura para cultura. Como acontece no Japão onde, a palavra referida, ijime, relaciona-se a agressividade relacional, enfatizando a manipulação social e a violência simbólica. Já na Itália, as palavras prepotenza e violenza referem-se aos aspectos mais diretos e físicos das agressões. Sendo assim, a opção por usar o termo no idioma inglês juntamente a sua conceituação pode, embora seja um 596

estrangeirismo, abarcar a complexidade desse processo (LISBOA, 2005; LISBOA; KOLLER, 2004). Dessa forma, a atual literatura psicológica classifica o fenômeno bullying como subconjunto de comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos que se caracteriza por todo tipo de maus tratos, intimidações, agressões, violências praticados no âmbito das relações interpessoais que afetam o bem-estar, a saúde psicológica, a segurança das pessoas. Podendo ser considerado um fenômeno social e como tal pode ocorrer em qualquer contexto social, podendo ser divido em dois aspectos, como relatado por Pinheiro (2006) esse comportamento violento dividiu-se em dois grupos: o primeiro grupo refere-se a ações diretas físicas (chutar, empurrar, bater, tomar pertences) e verbais (apelidos e insultos); e o segundo, as ações indiretas/emocionais através de boatos. Sendo que geralmente as vítimas de bullying são aqueles e de alguma forma são vistos pelos agressores como sendo mais fracos e fáceis de dominar. Na maioria das vezes é aquela pessoa tímida, que não fala muito ou tem dificuldade para posicionar-se diante de certas situações ou em outras circunstâncias pode ser aquele que fica nervoso mais facilmente e tende a não ficar passivo diante das agressões, definidos por Lima e Lucena (2009) como vítimas típicas e vítimas provocativas. A vítima típica é geralmente tímida, tranquila, submissa e sensível. Usualmente possui baixa autoestima, é insegura, pouco sociável e pode ser fisicamente mais frágil que seus agressores. Possuem poucos recursos para se defender das agressões e frequentemente é acometida de depressão. Já a vítima provocativa apresenta as mesmas características de depressão, baixa autoestima e ansiedade que a vítima típica, no entanto o seu modo de agir pode apresentar hiperatividade, inquietação, dispersão e comportamentos agressivos. Ficando quase impossível se definir um padrão ou um perfil de vítima do 597

bullying, tendo vista que as agressões geralmente acontecem sem motivos aparentes. Os agressores geralmente possuem opiniões muito positivas sobre si mesmos, são populares entre os outros estudantes e tem facilidade para dominar os colegas e ter a sua atenção, na maioria das vezes eles tem um pequeno grupo de alunos ao seu redor para ajudar nas intimidações e diluir a culpa das agressões entre as mesmas. Olweus (1993) distingue dois tipos de agressores: os agressores passivos ou seguidores e os agressores típicos. O primeiro constitui um grupo de alunos inseguros e ansiosos, e que participam nas agressões em que normalmente não tomam a iniciativa. Quanto aos agressores típicos, estes têm um modelo de reação agressiva combinado (quando se tratam de rapazes) com a força física. Já as testemunhas exercem diferentes papeis diante dos acometimentos violentos, sendo classificadas por Lopes (2005) como auxiliares (participam ativamente da agressão), incentivadores (incitam e estimulam o autor), observadores (só observam ou se afastam) ou defensores (protegem o alvo ou chamam outra pessoa para interromper a agressão). Dessa forma podemos dizer que o bullying tem origem na intolerância às diferenças sejam elas físicas, psicologias, sociais, raciais, sexuais e etc. O que acaba negando o direito a singularidade que cada um possui. Fato que não deve ser aceito e tão negligenciado pela sociedade e principalmente pelo acadêmico. Tendo em vista que a nossa sociedade é caracterizada por uma imensa diversidade sociocultural e ninguém pode ser estigmatizado por tais diferenças, ou ainda pelo fato de vivermos em uma sociedade democrática e de acordo com Pesani (2009) a democracia tem por princípio a igualdade, e, sobretudo porque a universidade é um espaço que deve promover o respeito à diversidade seja ela racial, sexual, religiosa, social e etc. 598

Sendo assim, é dever da universidade promover o respeito a essa heterogeneidade, principalmente em se tratando de um fenômeno com grandes consequências como o bullying, assim como formar professores aptos para o diagnostico desse fenômeno e prepará-los para trabalhar com as situações de intimidação dentro do ambiente escolar. MÉTODO Esta é uma investigação transversal, na perspectiva quali-quantitativa. Os dados apresentados foram obtidos com base em uma amostra de n= 310 estudantes do ensino superior do IEAA, sendo n= 64,2% do sexo feminino e n= 32,9% do sexo masculino com idade entre 15 e 60 anos. Instrumento A ocorrência do fenômeno junto a universitários da UFAM, diagnosticados e avaliados com aplicação do QIMEI - Questionário sobre intimidação e maltrato entre iguais universitários. Avilés, (2005). Tradução para português/brasil, Mascarenhas (2007), com 35 itens, sendo 34 com questões de múltipla escolha e uma questão dissertativa. Procedimentos de coleta de dados Os dados analisados neste estudo foram obtidos observando os procedimentos éticos nacionais e internacionais. Os participantes após serem informados sobre os objetivos da pesquisa responderam voluntaria e anonimamente ao instrumento em horário de aula previamente agendado com os professores. O tempo de resposta variou de 10 a 15 minutos. Média: 10 minutos. Foi assegurado aos participantes que as informações seriam utilizadas exclusiva- 599

mente para os objetivos da pesquisa e somente os pesquisadores envolvidos teriam acesso às informações. Tratamento de dados Após os procedimentos de coleta de dados, observando os procedimentos éticos vigentes, os dados receberam tratamento estatístico com apoio do SPSS 15.0 de acordo com os objetivos da investigação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados verificados evidenciam a ocorrência do fenômeno bullying na universidade nos itens: 1 - Segundo tua opinião quais as formas mais frequentes de maltrato entre colegas da universidade. Onde 20,7% dos integrantes da amostra responderam que a forma mais frequente de intimidação na universidade é rir de alguém ou deixar em ridículo, caracterizando o bullying indireto, todavia 15,7% relataram que fazer dano físico, dar tapas, empurrar são as formas mais frequentes de intimidação na universidade, o que caracteriza o bullying direto. 10 Quantas vezes, nesta turma, alguns/mas colegas te intimidaram ou maltrataram? Onde 3,9% afirmaram que as situações de intimidação acontecem quase todos os dias, evidenciando que o bullying infelizmente faz parte rotina dos estudantes do IEAA UFAM. 12 O que sentes quando te acontece isso? Aonde 12,3% disseram que prefeririam que essas situações não acontecessem. Demonstrando o desejo das vítimas de não serem alvos do bullying e consequente que seus direitos sejam respeitados. 17 Quem normalmente para as situações de intimidações? Em que 32,3% responderam que ninguém para as situações de intimidação. Evidenciando uma omissão dos envolvidos no que diz respeito ao bullying, tendo em vista que mesmo diante das agressões este preferem afastar-se do tema. 600

Com relação ao item 35 Se você tem algo a incluir sobre o tema perguntado, por gentileza escreva no espaço abaixo. Registram-se as seguintes representações indicativas da percepção do bullying no contexto educativo estudado. 35-I Este assunto é muito polêmico. Somente cessarão com as atitudes das vitimas, para denunciar seus agressores aos órgãos responsáveis e uma atitude mais enérgica dos responsáveis do instituto para com os agressores. 35-II Não é comum ocorrer agressões físicas na universidade e sim nas ruas. O que se torna obvio na universidade é a diferença de pessoas, gerando coisas como apelidos e brincadeiras de mau gosto. 35-III Maltratar alguém é de natureza desumana. Somos todos iguais perante Deus. Ninguém é melhor ou pior que o outro. 35-IV Lógico que não podemos fechar os olhos, isso acontece aqui e em outros lugares, mas com a ajuda de todos quem sabe podemos parar com essa violência e mudar para a melhor. 35-V Muitas vezes o agressor o faz por achar que é melhor do que os seus companheiros ou por ter o pensamento ridículo de que seu curso é melhor do que o da vitima. 35-VI Acho que fazem isso porque são mais velhos e pelo fato de serem daqui da cidade (Humaitá AM), só posso afirmar que me sinto excluído dos outros. Deste modo, observa-se que os estudantes que integram a amostra deste estudo estão cientes da ocorrência do bullying na universidade, e que algo tem que ser feito para que as agressões tenham fim, afirmando que para isso acontecer as vítimas devem se apoiadas para denunciar seus agressores e todos os alunos precisam estar unidos em favor das diferenças e da singularidade que cada um possui. Os agressores devem ser apoiados para que se pos- 601

sam construir uma conduta ética e ajustada. Os docentes como agentes públicos representantes do Estado precisam estar preparados para ajudar os estudantes a desenvolverem sua consciência de cidadania, de que têm direito ao respeito de seus pares, que devem respeitar a todos/as e que não podem se omitir ao testemunhar atos de desrespeito e violência interpessoal em qualquer contexto, inclusive no acadêmico onde se formam as lideranças sociais que devem primar por uma conduta ética e solidária em prol da construção do bemestar social. CONCLUSÃO Dessa forma de acordo com os resultados da investigação torna evidente a presença do fenômeno bullying no contexto estudado, o que sugere que este estudo pode contribuir com informações de cunho psicopedagógico úteis para apoiar ações de promoção e bem-estar psicossocial de estudantes universitários e as possíveis implicações para o apoio aos profissionais que atuam nas áreas de orientação, supervisão e gestão acadêmica, bem como contribuir na formação de profissionais aptos a diagnosticar e trabalhar com a gestão do fenômeno em questão. Da totalidade dos dados apurados contata-se a necessidade de implantar programas de formação em serviço que possam apoiar os profissionais que atuam no contexto universitário para o diagnóstico e intervenção no sentido de alinhar as condutas dos estudantes e demais protagonistas deste cenário de ensino formal com o preconizado pelo atual ordenamento jurídico brasileiro que assegura à pessoa humana segurança, bem-estar psicossocial e proteção à saúde física, integridade moral, imagem, honra dentre outros. Dadas as características e proporções da amostra novas investigações podem ser propostas no sentido de ampliar a base de informações sistematizadas sobre o fenômeno no contexto acadêmico cujos relatórios poderão apoiar a construção de políticas de formação de professores neste domínio. 602

REFERÊNCIAS AVILÉS-MARTÍNEZ, J. M.; MASCARENHAS, S. A. N. Bullying Agressividade, Conflito e Violência Interpessoal. Diferenças de Atribuição Causal de seus Protagonistas no Ensino Secundário da Espanha (Valladolid) e do Brasil (Amazonas/Humaitá), Atas do IX Congresso Internacional Galaicoportugués de Psicopedagogia, A Coruña, Universidade da Corunha e Universidade do Minho. Revista Galego Portuguesa de Psicopedagogia- Edição especial- CDROOM, PDF, 2007 FANTE, C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2ª edição, Campinas, SP: Verus, 2005. LIMA, J. S.; LUCENA, F. C. O bullying e as suas implicações no processo de ensino aprendizagem: procedimentos para o descomprometimento do cidadão com o social. Revista Ágora, Salgueiro PE, v. 4, n.1, p 11-20, 2009. LISBOA. C.S.M. Comportamento agressivo, vitimização e relações de amizade de crianças em idade escolar. fatores de risco e proteção. Porto Alegre RS. (Tese de doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 146p, 2005. LISBOA, C.; BRAGA, L. L. EBERT, G. O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade: Definições, formas de manifestação e possibilidade de intervenção. Contextos Clínicos, vol. 2, n. 1, janeiro-junho p. 15-25, 2009. LOPES NETO, A.A. Bullying comportamento agressivo entre estudantes. J Pediatr (Rio J). 81 (5 Supl); S164 S172, 2005. PESANI, CLÓVIS. Pequeno Dicionário de Sociologia. Campinas SP: Autores Associados, 2009. 603