Idade e mutação da protrombina G20120A são fatores de risco independentes para a recorrência de trombose venosa cerebral

Documentos relacionados
Impacto clínico da tripla positividade dos anticorpos antifosfolípides na síndrome antifosfolípide trombótica

Luís Amaral Ferreira Internato de Radiologia 3º ano Outubro de 2016

Tabela 4 - Freqüência de polimorfismos no gene da apolipoproteína E (ApoE) em pacientes (n= 97) e em indivíduos do grupo-controle (n= 201)

DOENÇA TROMBÓTICA DAS VEIAS E SEIOS VENOSOS CEREBRAIS RESUMO

I. RESUMO TROMBOEMBOLISMO VENOSO APÓS O TRANSPLANTE PULMONAR EM ADULTOS: UM EVENTO FREQUENTE E ASSOCIADO A UMA SOBREVIDA REDUZIDA.

Caso clínico. S.A.G, 35 anos

ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI

Trombose Associada ao Cancro. Epidemiologia / Dados Nacionais

Introdução: Relato de Caso de Trombose Venosa Cerebral secundária a doença Inflamatória Intestinal em Hospital Universitário

Trombo. A inovação da genética para o estudo da trombofilia

ANÁLISE DE SOBREVIDA DE PACIENTES COM CÂNCER Modelo de Riscos proporcionais de COX

Ajustar Técnica usada na análise dos dados para controlar ou considerar possíveis variáveis de confusão.

XXIII Jornadas ROR-SUL. 15, 16 e 17 Fevereiro 2016 Lisboa

TROMBOFILIAS Testes Moleculares GENÉTICA MOLECULAR GENÉTICA MOLECULAR

Objetivos. Metodologia. Metodologia 30/05/2016 SÍNDROME DA REDE AXILAR NO CÂNCER DE MAMA EPIDEMIOLOGIA, FATORES DE RISCO, E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS.

Tatiana Chama Borges Luz Antônio Ignácio de Loyola Filho Maria Fernanda Furtado de Lima-Costa

FREQÜÊNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO NO BRASIL, NAS MACRO- REGIÕES, ÁREAS URBANAS E RURAIS E INDICADORES SOCIOECONÔMICOS.

UNIFESP - HOSPITAL SÃO PAULO - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA

Revisão sistemática: o que é? Como fazer?

Síndrome Pós-Trombótica

Questão clínica: Prognóstico/sobrevida. Análise de sobrevida 2015

Impacto do Grau de Controlo da Asma na Utilização de Cuidados de Saúde em Portugal

Vanessa Maria Fenelon da Costa 2012

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

AVC EM IDADE PEDIÁTRICA. Fernando Alves Silva

Registro Brasileiros Cardiovasculares. REgistro do pacientes de Alto risco Cardiovascular na prática clínica

I OFICINA DE GESTÃO DO PAE. Fluxo de Atendimento da Pessoa com Doença Falciforme no Projeto PAE

TROMBOPROFILAXIA DURANTE A GRAVIDEZ, PARTO E PUERPÉRIO

Rede Médicos Sentinela: instrumento de observação e investigação em saúde

Projeto BPC: Conceitos Gerais. Sabrina Bernardez Pereira, MD, MSc, PhD

Melhores Práticas Assistenciais

O IMPACTO DE CONDIÇÕES CRÔNICAS NA QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À SAÚDE (SF-36) DE IDOSOS EM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL ISA-SP.

PROVA DE CONHECIMENTO EM METODOLOGIA CIENTÍFICA E INTERPRETAÇÃO DE ARTIGO CIENTÍFICO NÍVEL MESTRADO

IMPORTÂNCIA DA CONSULTA DE ENFERMAFGEM PARA PREVENÇÃO DA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA EM PUÉRPERAS

PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO DESTINADO À ELABORAÇÃO DE UMA DISSERTAÇÃO ORIGINAL NO ÂMBITO DO CURSO DE MESTRADO EM EPIDEMIOLOGIA (1ª EDIÇÃO)

Análise de sobrevivência aplicada a pacientes HIV positivos

PROVA DE CONHECIMENTO EM METODOLOGIA CIENTÍFICA E INTERPRETAÇÃO DE ARTIGO CIENTÍFICO NÍVEL MESTRADO. Candidato:

Princípios de Bioestatística

Tomografia computadorizada (TC), Ressonância magnética (RM)

Diferenciais sociodemográficos na prevalência de complicações decorrentes do diabetes mellitus entre idosos brasileiros

Tratamento da Dependência do CRACK. As Bases e os Mitos. Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira Professor Titular de Psiquiatria da UNIFESP UNIAD - INPAD

Conflitos de interesse

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

Vigilância Epidemiológica, Sanitária e Ambiental

Trombose Venosa Profunda. Embolia Pulmonar. Prof. Dr. Cristiano J. M. Pinto

Após um episódio de ITU, há uma chance de aproximadamente 19% de aparecimento de cicatriz renal

Princípios de Bioestatística

CONJUNTO DE DADOS DUQUE PARA FRACTURA GRAVE DA ANCA

Atualizações em Hemodinâmica e Cardiologia Invasiva. Dr. Renato Sanchez Antonio HCI São Sebastião do Paraíso

ACHADOS TOMOGRÁFICOS DE DOENÇA NASOSSINUSAL EM CRIANÇAS E EM ADOLESCENTES COM FIBROSE CÍSTICA

Diretriz Assistencial. Ataque Isquêmico Transitório

Revisão Sistemática e Metaanálise. Aula

Delineamentos de estudos. FACIMED Investigação científica II 5º período Professora Gracian Li Pereira

UNIFESP - HOSPITAL SÃO PAULO - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA

Métodos 28. município de São Bernardo do Campo (SP), com idade entre 14 e 18 anos, e

EPI3. Aula 6 Estudos de risco: Análise de sobrevida

Tabela 16 - Freqüência do polimorfismo 4G/5G na região promotora do gene do PAI -1 entre os pacientes com DAP e indivíduos do grupo-controle

DISSERTAÇÃO Mestrado

Mylene Martins Lavado. Declaração de conflito de interesse

Alternativas à Regressão Logística para análise de dados

Métodos Estatísticos Avançados em Epidemiologia

TROMBOEMBOLISMO VENOSO

IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DE PACIENTES QUE UTILIZAM VARFARINA

EXAME DE ESTATÍSTICA / ESTATÍSTICA I

FATORES DE RISCO PARA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA EM PUÉRPERAS: PROJETO CEPP

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS CURSO DE MEDICINA KATARINE DE FIGUEIREDO MAIA

ESTUDO DE COMPARAÇÃO DA TENDÊNCIA DA AIDS NO BRASIL, REGIÕES E ESTADOS, DE 1990 A 2012, POR SEXO E FAIXA ETÁRIA

Imagem da Semana: Tomografia Computadorizada

Bioestatística F Desenho de Estudos na Área da Saúde

PROVA DE CONHECIMENTO EM METODOLOGIA CIENTÍFICA E INTERPRETAÇÃO DE ARTIGO CIENTÍFICO NÍVEL DOUTORADO

XI CURSO BÁSICO de DOENÇAS HEREDITÁRIAS do METABOLISMO

Tipos de Estudos Epidemiológicos

Avaliação da efetividade do Programa de. do dengue. Brasil,

Gestação na adolescência: qualidade do pré-natal e fatores sociais

III Jornadas do Potencial Técnico e Científico do IPCB

RADIOTERAPIA EM TUMORES DE CABEÇA E PESCOÇO LOCALMENTE AVANÇADOS E IRRESSECÁVEIS (IVB): QUANDO EVITAR TRATAMENTOS RADICAIS?

ESTUDOS DE COORTE. Baixo Peso Peso Normal Total Mãe usuária de cocaína

Racional Metodologia do Estudo Análise de Resultados Aspetos Gerais Terapia de Longa Duração (< 6 meses) Terapia Prolongada Recorrência de trombose e

CASUÍSTICA E MÉTODOS. Vista frontal do Coreto do Instituto Lauro de Souza Lima - FOTO produzida por José Ricardo Franchim, 2000.

BENEFIT e CHAGASICS TRIAL

Daniel Dias Ribeiro. Avaliação de fatores associados à recorrência de trombose venosa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU CURSO DE MESTRADO DISCIPLINAS

n Sub-títulos n Referências n Métodos: n O que você fez desenho do estudo n Em qual ordem n Como você fez n Por que você fez n Preparação

PROGRAMA STRICTO SENSU CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE/2019 DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS

EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA: ESTUDOS DE COORTE

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA. Medidas de Freqüência de doenças e Medidas do Efeito da Exposição

FATORES PREDITIVOS PARA FALHA BIOQUÍMICA APÓS RADIOTERAPIA DE RESGATE EM CÂNCER DE PRÓSTATA, PÓS- PROSTATECTOMIA RADICAL

SOBRECARGA DO CUIDADOR DE DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL E DOENÇA DE ALZHEIMER.

APLICAÇÕES DA BIOLOGIA MOLECULAR NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HEPATITE B. Maio

EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA: Validade em estudos epidemiológicos observacionais

Dr. Bruno Pinto Ribeiro Residente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantídio

Fecundidade da população portuguesa: uma análise estatística dos determinantes da transição para a parentalidade.

Mucosite oral: perfil dos pacientes pediátricos do Hospital das Clínicas da UFMG

Métodos Estatísticos Avançados em Epidemiologia

Medidas de Associação em Epidemiologia

Freqüências absolutas

ESTUDO DE CONFIABILIDADE DE MOTORES DIESEL DE CAMINHÕES FORA DE ESTRADA

IPATIMUP. Private non-profit Institution of Public Utility Associated Laboratory of the Ministry of Science and Technology since 2000

Projeto Atenção Especializada

Intervenção nutricional em indivíduos com sobrepeso e obesidade

Transcrição:

Idade e mutação da protrombina G20120A são fatores de risco independentes para a recorrência de trombose venosa cerebral Pires GS 1, Ribeiro DD 1, Freitas LC 1, Vaez R 3, Annichino-Bizzacchi JM 2, Morelli VM 3, Rezende SM 1 1 UFMG 2 UNICAMP 3 UNIFESP Florianópolis 2016

INTRODUÇÃO Trombose venosa cerebral (TVC) Doença vascular cerebral causada pela oclusão dos seios venosos e/ou das veias cerebrais por trombos Incidência estimada de 3 a 4 casos por milhão de adultos Predomínio de acometimento no sexo feminino Incidência maior na terceira década de vida De Veber et al., 2001; Stam et al., 2005; Martinelli et al., 2012

JUSTIFICATIVA Fatores de risco relacionados à recorrência do tromboembolismo venoso após o primeiro episódio de TVC permitirá uma melhor focalização de grupos de pacientes que necessitam de profilaxia secundária de longa duração. A variação racial na prevalência de mutações protrombóticas e as diferenças demográficas da população brasileira em comparação com a caucasiana, a determinação dos fatores de risco em nossa população fazse importante para melhor compreender a epidemiologia da TVC em nosso meio.

OBJETIVOS Objetivo geral Avaliar os fatores de risco relacionados à recorrência de trombose venosa após um primeiro evento de TVC. Objetivos específicos Avaliar a incidência de recorrência de TEV após o primeiro episódio de TVC. Avaliar os tipos de TEV na recorrência da TVC.

MÉTODOS Desenho e local do estudo Coorte prospectivamulticêntrica Locais: Ambulatório de Trombofilias do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) e Clínica Hematológica (CH),Belo Horizonte, Minas Gerais; Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, São Paulo; Serviço de Hematologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo.

Sujeitos da pesquisa MÉTODOS Critérios para inclusão: Idade > 18 anos Diagnóstico de TVC como primeiro evento tromboembólico. Assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Período de inclusão dos pacientes: 01/04/2000 a 30/06/2014

Fluxograma do Estudo MÉTODOS Período de inclusão Follow-up 01/04/2000 30/06/2014 15/01/2015 1º TVC n = 203 n = 189 Suspensão do AVK

Desfecho MÉTODOS O desfecho primário do estudo foi a recorrência de TEV em qualquer sítio venoso.

Análise estatística MÉTODOS Incidências e intervalos de confiança: calculados sob a hipótese de distribuição de Poisson Taxas de incidência de eventos trombóticos recorrentes foram calculadas como o número de eventos ao longo do tempo de observação acumulada A razão entre as taxas de incidência e os seus IC 95% foi calculada para avaliar a diferença entre a taxa de incidência das recorrências entre subgrupos

Análise estatística MÉTODOS Análise univariada, utilizando teste do qui-quadrado e gráfico de Kaplan-Meier para cada variável separadamente (idade ao diagnóstico do primeiro evento, sexo, Fator v de Leiden, mutação da protrombina G20210A) Análise multivariada por meio da regressão de Cox para verificar a associação dos fatores de risco ao desfecho primário e somente com as variáveis que apresentaram significância <0,05 na análise univariada Análises de sensibilidade foram realizadas para três modelos: Modelo A: excluindo pacientes que suspenderam a anticoagulação após 30/06/2014 e consequentemente não tiveram um acompanhamento mínimo de seis meses; Modelo B: excluindo os sujeitos cujo último contato foi anterior a 15/01/2015; Modelo C: excluindo os sujeitos cujo último contato não foi realizado após 15/01/2015 e a terapia anticoagulante oral não foi suspensa até 30/06/2014.

Análise estatística MÉTODOS Análise de Sensibilidade Término do AVK até 30/06/2014 Último contato após 15/01/2015 ou recorrência Término do AVK até 30/06/2014 Término do AVK Última contato após15/01/2015 ou recorrência Modelo A Término do AVK até 30/06/2014 Último contato Último contato após 15/01/2015 Modelo B Término do AVK até 30/06/2014 Término do AVK Último contato Último contato após 15/01/2015 Modelo C

Desfecho: Resultados A taxa de incidência da recorrência de todas as formas de TEV, incluindo TVC, foi de 1,6 (IC 95%, 0,8-2,8) casos por 100 pacientes-ano.

Desfecho: Resultados

Desfecho: Resultados

Modelo de regressão Resultados A taxa de recorrência de TEV aumenta em 5% a cada ano a mais de vida. Em portadores da mutação da protrombina, a taxa de recorrência de TEV foi 4,5 vezes maior.

Conclusão Em concordância com a literatura, as taxas de incidência de recorrência de TEV após um primeiro evento de TVC são baixas em relação às incidências de recorrência após um primeiro evento de TEV em geral. A incidência de recorrência foi maior em pacientes do sexo masculino e em pacientes com fator V de Leiden e mutação da protrombina G20210A. A idade ao diagnóstico do 1º evento e a presença de mutação da protrombina G20210A demonstraram ser fatores de risco para a recorrência de TEV. O estudo é prospectivo e multicêntrico com acompanhamento dos pacientes por uma mediana de tempo de 3 anos e com pequena perda de seguimento para uma doença rara. O ineditismo em avaliar a incidência da recorrência de TEV em pacientes brasileiros com primeiro episódio de TVC.

Obrigada!