Pilhas, baterias e o pobre do nosso bolso Autor: Fernando A. B. Pinheiro Minha casa foi invadida! Calma, não precisa chamar a polícia. A invasão não foi de ladrões, mas de aparelhos que precisam de pilhas e baterias. Além dos já comuns celulares, MP3 e câmeras digitais, ainda têm agora uma legião de brinquedos do meu filho que são vorazes consumidores de pilhas e baterias. Um dos brinquedos que ele simplesmente adora usa logo as caras baterias de 9V (aproximadamente R$ 10,00 cada). Depois de comprar a terceira bateria em apenas duas semanas, eu descobri que não tem bolso que agüente, e estou procurando agora boas baterias de 9V recarregáveis para comprar. Informação é essencial para se fazer uma compra. Quanto mais se sabe sobre algo, melhor gastamos o nosso suado dinheiro. Quando o assunto são pilhas e baterias recarregáveis, isso é mais que verdade. Então vamos ver o que existe no mercado. FORMATO Existem vários formatos de pilhas e baterias recarregáveis: Pilhas AAA, AA, C e bateria de 9V. Os exemplos acima não são recarregáveis AAA (tem gente que chama de 3A) - pilha palito. Muito pequenas, suportam pouca energia quando comparadas com suas irmãs maiores (AA). São as mais utilizadas em MP3 Players e em outros dispositivos onde o espaço é reduzido. AA (ou 2A) - são as pilhas "pequenas". São as mais comuns. Bateria de 9V - na verdade, são 6 pilhas AAA reunidas em um único invólucro (ah, isso explica porque são tão caras). Como cada pilha AAA tem 1,5V, o resultado é um conjunto com 9V (6 x 1,5V) O nome dado é "bateria" porque é formada por várias pilhas independentes, interligadas entre si em série/paralelo. Veja a foto.
Além destes, existem pilhas médias (formato C) e pilhas grandes (formato D). Entretanto, esses tipos são raríssimos de serem encontradas como recarregáveis (tanto a pilha quanto o carregador. Tudo o que escrevemos abaixo sobre pilhas recarregáveis também se aplica às baterias recarregáveis, e vice-versa. No texto abaixo nos referimos tanto a pilhas quanto a baterias como sinônimos. TECNOLOGIA São basicamente 3: Níquel Cádmo (Ni-Cd), Níquel Metal-Hidreto (Ni-MH) e Lítio. A primeira coisa a saber é que os fabricantes tem a obrigação de colocar o tipo no rótulo das pilhas (individualmente). Se isso não existir, fuja da marca! Não aceite fabricantes que apenas descrevem no rótulo de papel a tecnologia utilizada. NiCd (Nickel Cadmium)
Indo direto ao assunto, fuja dessa tecnologia. Esse é o tipo de pilha recarregável que surgiu primeiro. Normalmente as pilhas NiCd são mais baratas, porém têm menor tempo de vida útil, além de terem menor capacidade de carga (medida em miliampéres/hora - ma/h). As baterias de Níquel Cádmio são as que mais sofrem com o famigerado "efeito memória". Toda pilha/bateria só deveria ser recarregada quando totalmente esgotada (carga = 0%). Como 10 em 10 usuários não tomam esse tipo de cuidado, os compostos químicos da pilha se "lembram" da última posição em que foram recarregados e, quando ocorrer nova recarga, não se carreregam totalmente. Quando isso ocorre, a pilha deixa de ser carregada totalmente, mas seus compostos dão um falso sinal de que a carga está completa. Na prática, se uma pilha Ni-Cd nova costuma durar 5 dias e o usuário costuma recarregá-la sempre no 4 dia, a pilha "se lembra" (efeito memória) disso e passa a durar apenas 4 dias. A partir daí, o usuário a recarrega a cada 3 dias, e após algum tempo a pilha passa a durar apenas 3 dias, e o usuário passa a recarregá-la a cada 2 dias... O efeito memória acontece quando resíduos de carga na pilha induzem a formação de pequenos blocos de cádmio, internamente, em um processo irreversível e que só piora com o tempo. A melhor maneira de evitar o problema é não fazer recargas quando a bateria está parcialmente descarregada. É melhor esperar até a pilha "ficar fraca" e você não conseguir mais utilizá-la em seu aparelho para então recarregá-la. Mas é dificílimo lembrar disso. As pilhas NiCd estão cada vez mais em desuso, pois além do efeito memória, de terem menor capacidade e menor tempo de vida útil, esse tipo de bateria é muito poluente, já que o cádmio é um elemento químico altamente tóxico e prejudicial ao meio ambiente. NiMH (Nickel-Metal Hydride) É a tecnologia mais usada atualmente. Em relação ao NiCd, oferecem maior capacidade, maior tempo de vida, suportam mais recargas e são menos poluentes. Outra vantagem desse tipo é a não existência do efeito memória. Na verdade, ela existe, mas em menor grau. Não é sempre necessário descarregá-las totalmente, mas é bom fazer isso às vezes. Lítio (Lithium Ion ou Li-Ion) É a tecnologia mais recente, a que apresenta a maior durabilidade e também o maior preço. Seria a escolha ideal, exceto pelo fato de que esse tipo de tecnologia não é encontrada em pilhas (AA ou AAA) ou baterias de 9V, mas sim em baterias de celulares, de notebooks, equipamentos com alto valor agregado. Se você encontrar pilhas/baterias de Li-Ion para vender, desconfie. Ou elas serão de uma marca conhecida e caríssimas ou serão falsificadas. CAPACIDADE A capacidade de energia das pilhas ou baterias é medida em miliampéres por hora, cuja sigla é ma/h ou simplesmente mah. Quanto maior o número dos mah, melhor (e mais caro). Assim, é necessário conhecer o consumo de cada aparelho para medir o tempo de duração de uso da pilha no dispositivo. Como exemplo, imagine um MP3-Player que utiliza uma pilha do tipo AAA e consome 200 ma. Se a pilha tiver capacidade de 1000 mah, sua duração será de: 1000 / 200 = 5 horas O cálculo não é muito preciso porque existem vários fatores. Se o usuário usa volume mais alto, o consumo será maior, por exemplo. Mas a regra é: quanto mais ma/h a pilha tiver, mais ela vai durar, e mais cara vai ser. Muita atenção na capacidade das pilhas e baterias. Os falsificadores adoram colocar números bem altos. Pilhas AA costumam ter até 2.800mAh. Pilhas AAA costumam ir até 900mAh e baterias de 9V a maior que encontrei foi de 300mAh. Desconfie de baterias com valores muito mais altos que a dos outros fabricantes. Encontrei uma pilha Sony AA de 3600mAh, obviamente falsificada (pelo menos para quando este artigo foi escrito). NÚMERO DE RECARGAS Os rótulos que vem nas pilhas indicam: podem sofrer até 1.000 recargas. Alguns rótulos indicam 1.000 "ciclos de vida". O que é um ciclo? Toda vez que colocamos uma pilha para carregar, estamos "queimando" um ciclo de sua vida. Essa "queima" irá acontecer quando colocarmos para recarregar uma bateria com 5% ou com 90% de carga, se deixarmos 10 minutos ou 10 horas no carregador.
Logo, a dica é sempre descarregar completamente a pilha e somente depois disso colocar para recarregar novamente. E quando colocarmos para carregar, esperar a bateria estar completamente cheia antes de removê-la do carregador. Mas isso é coisa difícil de fazer. Ninguém se lembra de descarregar a pilha antes de carregar novamente, e muitas vezes temos pressa e não esperamos o término da carga. Isso é importantíssimo, e serve para qualquer dispositivo que utilize pilhas e baterias. Pode ser um notebook, uma câmera fotográfica, etc. Quando o número de recargas se aproxima do máximo, o sintoma é que a pilha não "segura" carga (bastante semelhante ao efeito memória). Costuma-se chamar as pilhas de "viciadas". A solução é uma só: jogar no lixo* e comprar novas. *A melhor idéia é levar a um posto de reciclagem. Lojas de celulares são obrigadas a fazer o recolhimento, não só de baterias de celular como também de pilhas e baterias (recarregáveis ou não). CARREGADORES Como o nome indica, carregadores são aparelhos responsáveis por recarregar as pilhas. O procedimento para isso freqüentemente é simples: basta colocar um ou dois pares de pilhas recarregáveis no dispositivo e encaixá-lo em uma tomada da rede elétrica. O processo de recarga de pilhas consiste em passar uma corrente elétrica por elas de forma que a energia (os elétrons) seja capturada e armazenada. Quanto maior a corrente (carregadores mais rápidos), menor é o tempo de recarga. No entanto, a maior "velocidade de trabalho" faz com que a geração de calor aumente. Por isso que, quando tiramos a pilha do carregador, elas estão quentes (em alguns casos, muito quentes). Por esse motivo, devemos escolher um carregador capaz de identificar quando a pilha está totalmente carregada para cortar a corrente. A maioria é assim, mas não custa conferir no manual ou no rótulo. O superaquecimento pode fazer a pilha vazar e, na pior das hipóteses, explodir (vide alguns casos de celulares explodindo noticiados nos jornais). E sempre diminui a vida útil das pilhas. Alguns carregadores citam que tem períodos de carga rápida e carga lenta. A carga rápida é feita enquanto a bateria está sendo carregada e, quando cheia (ou próximo a isso, 90% ou 95%), o carregador entra em modo "carga lenta", de forma a completar o processo. Algumas coisas importantes sobre carregadores:
- Prefira comprar modelos que possam carregar os três tipos de pilha: AA, AAA e 9V - Prefira comprar modelos compatíveis com NiCD e NiMH (atualmente a maioria já é, mas não custa conferir) - Nunca misture pilhas de capacidades diferentes (uma 2000mAh e outra 2500mAh). As pilhas serão carregadas pela capacidade menor. - Nunca misture pilhas de fabricantes diferentes, mesmo que de mesma capacidade. As falsificações são comuns e você poderá estar "queimando" ciclos de uma pilha de boa qualidade à toa. PERDA DE CARGA Uma vez carregadas, mesmo sem uso (sem estar ligado a nada) a pilha perde sua energia. Essa perda pode ser pequena ou grande, depende da tecnologia da pilha. Baterias de Li-Ion perdem tipicamente 1% ao dia da sua carga, NiCd pode perder até 5% por dia. Não estranhe quando pegar pilhas recarregadas alguns dias atrás e elas durarem menos que uma pilha recém carregada, mesmo que iguais. Logo, a melhor idéia é sempre carregá-las na véspera da sua utilização. A Sony criou recentemente pilhas que tem esse problema bastante reduzido. Um tipo de pilha que preserva até 85% da energia por um período de um ano. MARCAS Como tudo, existem inúmeros fabricantes que produzem pilhas recarregáveis. Alguns são tradicionais no mercado, outros não. A diferença de qualidade entre eles é gritante. Possuo pilhas da marca Maxell e de outra marca. Mesmo a Maxell sendo de 2100mAh, ela dura mais que as pilhas da outra marca, de 2.500 mah. Sempre que possível, compre pilhas de fabricantes conhecidos. Será mais caro, mas o resultado será bem melhor. Mas cuidado com falsificações. FALSIFICAÇÕES Caímos agora no maior problema das pilhas e baterias recarregáveis: a falsificação. Algumas marcas famosas (Sony, Panasonic, etc) são extremamente falsificadas, de forma que os próprios fabricantes mantêm alertas e procedimentos para como identificar. Por exemplo, veja: http://www.sony.com.br/antifalsificacao/
As pilhas da Sony são tão vítimas de falsificação que, pessoalmente, não tenho coragem de utilizar pilhas dessa marca, a não ser compradas de grandes redes de lojas (que compram diretamente da fábrica). Ou então comprar logo de uma marca "menor", que tem muito menos risco de ser falsificada. Foi o que eu fiz, comprando da marca GP, para usar no brinquedo do meu filho. PRÁTICA Fui ao mercado local (as lojas da minha cidade) e fui no Mercado Livre também, procurando baterias de 9V recarregáveis. Encontrei basicamente duas marcas: GP - fabricante chinesa. Baterias recarregáveis de 100mA/h, 140mA/h, 170 ma/h, 200 ma/h, 240 ma/h e 300mA/h. Os preços vão de R$ 19,90 (a de 100mAh) até R$ 45,00 (a de 300mAh). Acabei comprando a de 300mAh. Sony, de 280mAh. Encontrei em uma loja por R$ 25,00 e no Mercado Livre por R$ 17,00. E a Sony NÃO FABRICA baterias de 9V recarregáveis. Falsificação pura. Mas o vendedor logo disse: "ninguém nunca reclamou, e vende bastante". Bom para ele, péssimo para o consumidor desinformado.
PILHAS, BATERIAS E ÁUDIO Em áudio, utilizamos pilhas para os microfones condensadores (lapelas, goosenecks, etc) microfones sem fio, para os amplificadores de fones, em contrabaixos, violões, guitarras, etc. Pessoalmente, se as pilhas tem uma boa durabilidade em equipamentos (um lapela da LeSon funciona meses com uma mesma pilha AA alcalina), não há necessidade de se manter pilhas recarregáveis para esses equipamentos. E pilhas AA são baratas, compensa mais mantê-las em estoque. O grande problema são equipamentos que utilizam baterias de 9V, como microfones sem fio e amplificadores de fones. Nesses casos, a compra de baterias recarregáveis pode ajudar a conter os custos. Mas fica um alerta: baterias de 9V recarregáveis não duram tanto quanto uma bateria alcalina nova. Repare que o fabricante GP trouxe a informação no seu invólucro: 8,4Volts (correspondente a 1,4V por pilha interna). Fique ciente, como operador de som de igrejas, que uma bateria recarregável será muito útil em ensaios e reuniões internas (sem a presença de visitantes), mas cultos (principalmente os importantes - casamentos, etc) merecem uma boa bateria alcalina nova. O mesmo raciocínio vale para pilhas. E se você for comprar microfones sem fios novos, não pense somente no custo do aparelho. Pense no custo das pilhas também. Sempre que possível, dê preferência aos modelos que são alimentados por pilhas AA. São mais caros, mas com o uso o menor custo com pilhas compensa mais que um modelo mais barato alimentado pelas caras baterias de 9V. Comprando certo e cuidando direito das pilhas recarregáveis, quem vai te agradecer muito é o seu próprio bolso!