Comentários às Mudanças Contábeis na Lei nº 6.404/76 MP nº 449/08



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Transcrição:

Comentários às Mudanças Contábeis na Lei nº 6.404/76 MP nº 449/08 Comentários às Mudanças Contábeis na Lei nº 6.404/76 MP nº 449/08 No dia 3 de dezembro de 2008, foi editada a Medida Provisória nº 449, que, entre outras coisas, alterou a Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações) em seus aspectos contábeis. Antes de tudo, é preciso levar em conta que as MPs dependem de aprovação pelo Congresso. Vale dizer, muito embora não seja o mais provável, essa MP pode ser rejeitada ou mesmo modificada por nossos deputados e senadores. Infelizmente, quanto às mudanças contábeis, ela entra em vigor já na data de sua publicação. De qualquer forma, antes de ficarmos aflitos com as modificações, é importante constatar que elas, em boa parte, extinguem ou simplificam dispositivos anteriores da Lei das S.A. Portanto, tente pensar nas mudanças pelo lado positivo: você não terá mais que estudar resultados de exercícios futuros e diferido, que foram extintos; o ativo era composto por 3 grupos e o passivo, por 4; agora são apenas 2 e 3, respectivamente (mais fácil para memorizar). Depois do susto, ao ler a MP, constatamos que as alterações foram mais em termos de nomenclatura que de conteúdo. Logo, quem já sabia contabilidade não precisa entrar em desespero, pois terá apenas que se acostumar com alguns nomes novos para coisas antigas. Bem, como você provavelmente é concurseiro e deve estar pensando que não tem tempo a perder com essa minha lengalenga, vamos direto ao que interessa. Aqui estão as mudanças mais relevantes, em termos contábeis, na Lei das S.A. No site da Editora Ferreira (www.editoraferreira.com.br), disponibilizaremos em breve outros textos que tratam desse tema. Balanço Patrimonial Grupos de Contas Com a edição da Medida Provisória nº 449/08, a composição dos grupos e subgrupos do ativo e do passivo sofre significativas modificações. No ativo, as contas continuam a ser dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, mas agora nos seguintes grupos: 1 - ativo circulante; 2 - ativo não-circulante, composto por: a) ativo realizável a longo prazo; b) investimentos; c) imobilizado; e d) intangível. O grupo ativo não-circulante é composto pelos antigos grupos ativo realizável a longo prazo e ativo permanente. O realizável a longo prazo passou a ser um subgrupo do ativo não-circulante, enquanto 1

www.editoraferreira.com.br o ativo permanente foi extinto, e seus subgrupos, incorporados ao ativo não-circulante, com exceção do ativo diferido, que também foi extinto. O ativo diferido foi extinto pela MP nº 449/08, a qual, todavia, admite que seu saldo existente em 31 de dezembro de 2008 que, pela sua natureza, não possa ser alocado a outro grupo de contas, possa permanecer no ativo sob essa classificação até sua completa amortização, sujeito à análise sobre a recuperação. No passivo, as contas agora devem ser classificadas nos seguintes grupos: 1 - passivo circulante; 2 - passivo não-circulante; e 3 - patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. O antigo grupo passivo exigível a longo prazo foi extinto, e seus valores passam integrar o passivo não-circulante. Enquanto o ativo não-circulante apresenta todas as contas não classificadas no ativo circulante, o passivo não-circulante exibe as contas que não integram: 1) o passivo circulante; e 2) o patrimônio líquido. Com a MP nº 449/08, as obrigações da companhia, inclusive financiamentos para aquisição de direitos do ativo não-circulante, são classificadas no passivo circulante, quando se vencem no exercício seguinte, e no passivo não-circulante, se têm vencimento em prazo maior. Todavia, na companhia em que o ciclo operacional da empresa tem duração maior que o exercício social, a classificação no circulante ou não-circulante, tanto do ativo quanto do passivo, deve ter por base o prazo desse ciclo, o que já ocorria, de forma semelhante, na legislação anterior. O grupo resultados de exercícios futuros foi extinto. A MP nº 449/08 fixa que o saldo nele existente em 31 de dezembro de 2008 deve ser reclassificado para o passivo não-circulante em conta representativa de receita diferida. O registro desse saldo deve evidenciar a receita diferida e o respectivo custo diferido, mais ou menos assim: Passivo Não-Circulante Receitas Diferidas ( ) Custos e Despesas das Receitas Diferidas Exemplo de receita diferida é a representada pela conta Juros Ativos a Vencer, desde que o valor recebido antecipadamente não esteja sujeito a restituição. Quanto aos ajustes de avaliação patrimonial, a MP nº 449/08 ampliou os poderes da CVM, ao permitir que ela estabeleça hipóteses de aplicação desse critério de avaliação, sem prejuízos dos casos já previstos na Lei das Sociedades por Ações: Art. 182 3º Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, com base na competência conferida pelo 3 o do art. 177. 2

Comentários às Mudanças Contábeis na Lei nº 6.404/76 MP nº 449/08 De início esses ajustes devem ter como contrapartida conta de patrimônio líquido denominada Ajustes de Avaliação Patrimonial, cujo saldo será gradativamente transferido para o resultado, à medida que os elementos do ativo e do passivo em questão forem realizados. Notas Explicativas Conforme a MP nº 449/08, as notas explicativas devem: 1 - apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações financeiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para negócios e eventos significativos; 2 - divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adotadas no Brasil que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demonstrações financeiras; 3 - fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstrações financeiras e consideradas necessárias para uma apresentação adequada; e 4 - indicar: a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de elementos do ativo; b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, parágrafo único); c) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações (art. 182, 3 o ); d) os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes; e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; f) o número, espécies e classes das ações do capital social; g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; h) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, 1 o ); e i) os eventos subseqüentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia. O item c anterior, que, antes da MP nº 449/08, tratava do aumento de valor de elementos do ativo resultante de reavaliações, é adequado às mudanças da Lei nº 11.638/07 no que diz respeito aos ajustes de avaliação patrimonial que ela criou. Essa lei é objeto de diversos artigos ainda disponíveis no site da Editora Ferreira. Quanto aos demais itens, praticamente foi mantida a redação anterior à MP nº 449/08. Escrituração Em matéria de escrituração, a MP nº 449/08 deu à Lei nº 6.404/76 redação semelhante à anterior à edição da Lei nº 11.638/07: 3

www.editoraferreira.com.br Art. 177.... 2º A companhia observará exclusivamente em livros ou registros auxiliares, sem qualquer modificação da escrituração mercantil e das demonstrações reguladas nesta Lei, as disposições da lei tributária, ou de legislação especial sobre a atividade que constitui seu objeto, que prescrevam, conduzam ou incentivem a utilização de métodos ou critérios contábeis diferentes ou determinem registros, lançamentos ou ajustes ou a elaboração de outras demonstrações financeiras. A Lei nº 11.638/08 admitia que as disposições da lei tributária ou de legislação especial sobre atividade que constitui o objeto da companhia que conduzam à utilização de métodos ou critérios contábeis diferentes ou à elaboração de outras demonstrações fossem observadas na escrituração mercantil, desde que houvesse em seguida lançamentos contábeis adicionais, assegurando a preparação e a divulgação de demonstrações financeiras com observância dos princípios e critérios contábeis. Com a MP nº 449/08, para fins da escrituração contábil, os registros contábeis necessários à observância das disposições tributárias relativas à determinação da base de cálculo do Imposto de Renda e, também, dos demais tributos, quando não devam, por sua natureza fiscal, constar da escrituração contábil, ou forem diferentes dos lançamentos dessa escrituração, serão efetuados exclusivamente em: 1 - livros ou registros contábeis auxiliares; ou 2 - livros fiscais. Cabe à Secretaria da Receita Federal do Brasil disciplinar esse tema. Critérios de Avaliação do Ativo Pela MP nº 449/08, as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em direitos e títulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo, devem ser avaliadas: 1 - pelo seu valor justo, quando se tratar de aplicações destinadas à negociação ou disponíveis para venda; e 2 - pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando este for inferior, no caso das demais aplicações e dos direitos e títulos de crédito. As aplicações em geral devem ser contabilizadas pelo valor efetivamente pago ou a pagar (inclusive corretagens e emolumentos) e são divididas nestas categorias: 1 - Aplicações que serão mantidas até o vencimento aquelas em relação às quais haja intenção e capacidade financeira da companhia de mantê-las até o vencimento, devendo ser desconsiderada a possibilidade de venda. 2 - Aplicações destinadas à negociação aquelas adquiridas com a finalidade de serem ativa e freqüentemente negociadas. 3 - Aplicações disponíveis para venda as que não se enquadrem como aplicações mantidas até o vencimento ou destinadas à negociação. Apenas estas duas últimas categorias, por suas características mais especulativas, são avaliáveis pelo valor justo. 4

Comentários às Mudanças Contábeis na Lei nº 6.404/76 MP nº 449/08 Para esses efeitos, considera-se valor justo dos instrumentos financeiros o que se pode obter em um mercado ativo, decorrente de transação não compulsória realizada entre partes independentes; e, na ausência de um mercado ativo para um determinado instrumento financeiro: 1 - o valor que se pode obter em um mercado ativo com a negociação de outro instrumento financeiro de natureza, prazo e risco similares; 2 - o valor presente líquido dos fluxos de caixa futuros para instrumentos financeiros de natureza, prazo e risco similares; ou 3 - o valor obtido por meio de modelos matemático-estatísticos de precificação de instrumentos financeiros. Demonstração do Resultado do Exercício A MP 449/08 introduziu alterações em dois incisos do art. 187 da Lei nº 6.404/76, que trata da estrutura da demonstração do resultado do exercício: Art. 187. IV - o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; VI - as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa; Com a modificação no inciso IV do art. 187, o legislador parece ter a intenção de acabar com a denominação resultados não-operacionais na DRE, que será substituída por outras receitas e outras despesas. Como a Lei das S.A. não definia receitas e despesas não-operacionais, o conceito delas era tomado emprestado da legislação do Imposto de Renda, segundo a qual os resultados nãooperacionais são, basicamente, os lucros e perdas de capital, vale dizer, resultados positivos e negativos apurados na alienação ou baixa de investimentos não-circulantes, imobilizado e intangível (antigo ativo permanente). É interessante observar que a MP nº 449/08 determina que a mudança na redação do inciso IV do art. 187 não altera o tratamento dos resultados operacionais e não-operacionais para fins de apuração e compensação de prejuízos fiscais. Portanto, essa modificação na Lei nº 6.404/76 tem apenas reflexos contábeis, sem alterar o direito à compensação admitido na legislação do IR. Quanto à nova redação do inciso VI do art. 187, tem apenas a finalidade de incluir as participações de titulares de partes beneficiárias, que haviam sido equivocadamente excluídas do texto desse inciso pela Lei nº 11.638/07. 5

www.editoraferreira.com.br Conceito de Coligação A MP nº 449/08 modificou o conceito de coligação, determinando que são coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influência significativa. Considera-se que há influência significativa quando a investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisões das políticas financeira ou operacional da investida, sem controlá-la. Exemplo disso é quando a investidora tem o direito à nomeação de pelo menos um adminstrador da investida, sem que exerça o seu controle. Presume-se a influência significativa quando a investidora é titular de 20% ou mais do capital votante da investida, sem controlá-la. A legislação anterior dizia serem coligadas as sociedades quando uma participava com 10% ou mais do capital da outra, sem controlá-la. Equivalência Patrimonial Com a edição da MP nº 449/08, serão avaliados pela equivalência patrimonial os investimentos: 1 - em coligadas, independentemente do percentual de participação da investidora; 2 - em controladas; 3 - em outras sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum. Regime Tributário de Transição (RTT) Segundo a nova legislação, as alterações introduzidas pela Lei nº 11.638/07 e pelos arts. 36 e 37 da Medida Provisória nº 449/08, que modifiquem o critério de reconhecimento de receitas, custos e despesas computadas na apuração do lucro líquido do exercício definido no art. 191 da Lei n o 6.404/76, não terão efeitos para fins de apuração do lucro real da pessoa jurídica sujeita ao RTT, devendo ser considerados, para fins tributários, os métodos e critérios contábeis vigentes em 31 de dezembro de 2007. Com essa finalidade, a MP nº 449/08 fixa critérios para que as doações e subvenções governamentais para investimentos e o prêmio recebido na emissão de debêntures sejam computados como receita no resultado, conforme o regime de competência, sem que, no entanto, sofram tributação pelo Imposto de Renda (exclusão). 6