07/08/2007 ECONOMIA: A CIÊNCIA DA ESCASSEZ NEM SEMPRE MAIS É MELHOR MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS E FARMACOECONOMIA



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Transcrição:

ECONOMIA: A CIÊNCIA DA ESCASSEZ MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS E FARMACOECONOMIA André Sasse NEM SEMPRE MAIS É MELHOR EUA Gastos de 1,1 trilhão em saúde/ ano 13,5% PIB Maior gasto per capita do mundo 25 o. qualidade de saúde (Mueningn Cost effectiveness analysis, 2004) Alocação de recursos e equipamentos são quase sempre baseadas nas opiniões dos interessados, porém mais e mais as solicitações deverão ser baseadas em argumentos detalhando com evidências consistentes os ganhos que serão esperados do ponto de vista do paciente e seus custos. Poucos poderão contestar isto. Cochrane AL. Effectiveness and Efficiency: random reflections on health services. Nuffield Provincial Hospitals Trust, London, 1972. 1

FAZER ANÁLISES ECONÔMICAS Custo x preço Preço Quantidade de dinheiro necessária para comprar algo Custo Todos os recursos físicos e humanos considerados na provisão de serviço ou produto POR QUE A AVALIAÇÃO ECONÔMICA É IMPORTANTE? Sem uma análise sistemática, é difícil identificar claramente as melhores alternativas. Drummond MF, O Brien B, Stoddart GL, Torrance GW. Methods for the economic evaluation of health care programmes. 2nd edition. Oxford: Oxford Press; 1997. FÁRMACO-ECONOMIA E DECISÃO CLÍNICA CONSERTAR NO AR! Os estudos de fármaco-economia estão se tornando parte do cotidiano médico Custos da medicina são crescentes Aumento de 12% nos EUA em 2003 Inflação 2% São requisitos para registro de novas tecnologias em vários países desenvolvidos 2

CUSTOS EM MEDICINA Mercado médico comportamento peculiar Um dos únicos com Custo crescente Complexidade d crescente Demanda mais recursos tecnológicos para alcançar menores ganhos O QUE É A ANÁLISE ECONÔMICA? Análise comparativa de duas ou mais alternativas em termos de custos e conseqüências. Drummond MF, O Brien B, Stoddart GL, Torrance GW. Methods for the economic evaluation of health care programmes. 2nd edition. Oxford: Oxford Press; 1997. ESTUDO DE FÁRMACO-ECONOMIA NÃO É ESTUDO DE FÁRMACO-ECONOMIA Compara custos com resultados Resultado A Levantamento Resultado A Resultado B Levantamento de custos 3

TIPOS DE CUSTO Diretos (Medicamentos, consultas...) Indiretos (Horas sem trabalho...) Intangíveis (Dor, tempo de vida...) TIPOS DE ANÁLISE ECONÔMICA Análise de custo-efetividade Análise de custo-utility Análise de custo-benefício Análise custo-minimização CUSTO EFETIVIDADE CUSTO-EFETIVIDADE Custo para alguma melhora medido em unidades determinadas Custo por Ano de vida ganho Casos diagnosticados Cirurgias evitadas Internações evitadas Tempo livre de sintomas Tempo de vida A (Custo B A) para Tempo de vida B 4

É pouco PONTOS DE VISTA NA ANÁLISE ECONÔMICA PONTOS DE VISTA É Muito Sociedade Médico Doente Pagador Indústria EXEMPLO BUDENISONA X CUIDADOS USUAIS EM ASMA CUSTO-EFETIVIDADE Avaliação crítica do estudo Randomização adequada Allocation concealment adequado Mascaramento adequado (duplo) 7241 pacientes Mediu o tempo livre de sintomas e custos Uso de recursos hospitalares Dias de ausência ao trabalho/escola Uso de outras drogas para asma Asma Cuidados usuais Budenisona Tempo livre de sintomas 14% maior Tempo livre de sintomas 5

CUSTOS Pagador US$ 0,42 a mais por dia US$ 11,30/ ano livre de sintoma Sociedade Inclui absenteísmo US$ 0,14 a mais por dia US$ 3,70/ ano livre de sintoma WILLINGNESS TO PAY Propensão para pagar Quantidade de dinheiro que a sociedade está disposta a pagar / ano de vida salvo ajustado pela qualidade US$ 50.000,00 Custo da diálise (Laupacis 1992) CUSTO MINIMIZAÇÃO CUSTO MINIMIZAÇÃO Intervenções com o mesmo resultado (sobrevida, qualidade de vida, cura ) e com custos diferentes Tempo de vida A Tempo de vida B Diferença de custos (A B) 6

ANASTROZOL X FULVESTRAN Mesma efetividade Dados de dois estudos randomizados Custos Anastrozol ~R$ 300,00/ mês Fulvestran ~R$ 2.220,00/ mês CUSTO UTILITY Custo para alguma melhora medido em unidades determinadas AJUSTADO pela qualidade Custo por Ano de vida ganho com boa qualidade de vida CUSTO UTILITY QUALY Tempo de vida A (Custo B A) /anos ajustados pela qualidade Quality of life adjusted years Um ano com saúde perfeita = 100% Diminui-se o valor percentual conforme diminui a qualidade d de vida Tempo de vida B 7

USO DE DESFIBRILADORES EM LOCAIS PÚBLICOS CUSTO EFETIVIDADE DE DESFIBRILADORES EM LOCAIS PÚBLICOS Escócia 5,1 milhão de habitantes 7 anos 38 paradas cardíacas em locais públicos 5,4/ano 31 desfibriladores CUSTO EFETIVIDADE DE DESFIBRILADORES EM LOCAIS PÚBLICOS Necessários 31 desfibriladores US$ 50.000,00/ vida salva US$ 69.000,00/ QUALY Qualy = 0,72 após parada Não é recomendado CUSTO BENEFÍCIO Mede os custos da intervenção e as consequências em valores e os compara Custo de programa de screening de próstata X custo (ou economia) em anos de vida produtiva 8

CUSTO BENEFÍCIO CUSTO BENEFÍCIO intervenção A custo consequência A Custos/ ganhos advindos de A Programa de screening de cancer de mama custo Número de anos de vida ganhos A Custos/ ganhos advindos de A custo Tempo de vida B Custos/ ganhos advindos de B Imunização contra gripe custo Dias de afastamento evitados com B Custos/ ganhos advindos de B Ideal Custo menor Resultado melhor C E D A F B Custo maior Haycox et al. Clinical guidelinesthe hidden costs. BMJ 1999 Feb 6;318(7180):391-3. Resultado pior Apesar de alguns especialistas, particularmente os mais velhos e experientes poderem resistir indefinidamente, a maioria vai mudar de um modo ou outro. Conversões irão ocorrer aos poucos,até que os últimos resistentes tenham morrido. A profissão inteira será novamente praticada sob um novo, porém diferente paradigma. - Thomas Kuhn, 1962 9