O estágio atual da crise do capitalismo



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Transcrição:

O estágio atual da crise do capitalismo II Seminário de Estudos Avançados PC do B Prof. Dr. Paulo Balanco Faculdade de Economia Programa de Pós-Graduação em Economia Universidade Federal da Bahia São Paulo, 14 de fevereiro de 2014 1

A crise atual Bases interpretativas 1) Determinantes gerais da crise (comuns a todas elas): estrutura e dinâmica do capitalismo. 2) Determinantes históricos (próprios de cada uma): padrão de acumulação (e arcabouço institucional) de cada período do desenvolvimento capitalista. 2

A crise geral do capitalismo Ponto de partida a teoria da acumulação de Marx. Crise: fenômeno ordinário do capitalismo. 3

A crise geral do capitalismo O processo da acumulação Lógica e empiricamente interrupções. Acumulação: limites e não harmonia. A dinâmica do capital crises periódicas - episódios necessários. Origens: muito diferentes da Teoria do Acidente ou da Moralidade Inadequada. 4

A crise geral do capitalismo A Origem da Crise Insuficiente valorização do capital, decorrente da tendência à queda da taxa de lucro. A Base da Crise Insuficiência de Mais-Valia frente ao capital acumulado. Latente queda da taxa de lucro real escassez de lucratividade. A interrupção da acumulação subseqüente crise, caracterizada de sobreacumulação. 5

A crise geral do capitalismo 1)Inevitáveis queda da taxa de lucro, aumento da produtividade do trabalho, da produção de bens e limitação simultânea da capacidade de produção de valores. 2)Indispensáveis função de limpeza, de destruição de valores e de restabelecimento das condições necessárias à retomada. 6

A crise geral do capitalismo Extensão da análise visando uma necessária totalização incorporação da circulação. Efetivamente, a reprodução do capital é processo unitário entre duas esferas, a produção e a circulação. Mas, a crise é detectada em primeiro lugar na circulação. 7

A crise geral do capitalismo Porém, a crise capitalista não é um problema de circulação ou de realização. Representa uma ruptura do processo de reprodução como um todo. A acumulação de capital depende da massa MV na produção se localizam os fatores que explicam a passagem da crise como possibilidade para a efetivação da mesma. 8

A crise geral do capitalismo Reprodução capitalista desproporção (e consumo aquém das necessidades sociais) fatores regulares (não excepcionais). A insuficiência de demanda agregada ou a desproporção : frágil explicação da origem da crise. Superação da crise restauração unidade entre produção e circulação sem a eliminação da desproporção e sem que o consumo cresça proporcionalmente à produção. 9

A crise geral do capitalismo Dinheiro e acumulação Apropriação da MV e a reprodução do capital dependem do dinheiro. Acumulação riqueza, como capital, exige sua forma mais geral, o dinheiro. Passagem do valor - da forma mercadoria para a forma dinheiro dificuldades potenciais - problemas na acumulação. Função primordial dinheiro como capital (D-M-D ) é a conservação e o aumento do valor. 10

A crise geral do capitalismo Dinheiro e acumulação O capital portador de juros lógica da acumulação capital-dinheiro - oportunidade extrair mais valor do dinheiro em si mesmo (D D ). Base produtiva do capital fictício Potencial autonomia das finanças frente à produção ativos financeiros - mercados específicos preços são determinados, e flutuam, de acordo com leis particulares aos mesmos. 11

A crise geral do capitalismo Dinheiro e acumulação O movimento autônomo do capital fictício ilusoriamente aceito como capital verdadeiro, tal aquele que o dinheiro representa. Na verdade, a emissão de títulos é seguida de um conjunto de operações múltiplas tornando invisível a origem de seus dividendos e rendas. 12

A crise geral do capitalismo Em princípio, no capitalismo desenvolvido, qualquer grande crise pode se tornar a crise final. Porém, se isto não acontece, ela permanece como um pressuposto da acumulação futura. Ora, uma crise permanente é tão concebível no sistema marxiano quando as crises superáveis... Sob as condições presentes no mundo do capital pode surgir um estado de crise econômica e política persistente, mas também pode acontecer que a crise dê ao capital uma oportunidade de começar uma nova expansão (Paul Mattick Crise econômica e teoria da crise). 13

Fonte: Roberts, 2012a 14

Fonte: Roberts, 2012a 15

Fonte: Roberts, 2012a 16

As particularidades históricas da crise atual 1) Superposição entre a crise geral e os determinantes históricos das três últimas décadas. 2) Interação entre o enfraquecimento da acumulação e as transformações do setor financeiro. 3) Fonte primária da crise atual: declínio da vitalidade das economias avançadas desde anos 1970 e, particularmente, desde 2000. 17

As bases financeiras da crise atual Mudanças recentes no sistema bancário Macroestrutura produtivo-financeira da globalização Fim onda-longa pós-segunda Guerra - Crise anos 1970: Queda lucratividade recessão estagnação secular. Universalização relações capitalistas integração de novas regiões ao MM EIR fim do pré-capitalismo. Nova estrutura financeira articulada às mudanças produtivas novos eixos de acumulação Excedentes: financiamento do consumo e expansão esfera financeira nos países centrais e resto do MM. 18

As bases financeiras da crise atual Macroestrutura produtivo-financeira da globalização A) - Busca da liquidez absoluta Efeito Riqueza 1) Efeito mercado acionário; 2) Efeito captura de dividendos lógica generalizada a toda economia. B) - Financeirização, bolha especulativa e capital fictício Regime de acumulação com dominância financeira. Hegemonia da finança. Bolha estrutural: relação entre as novas tendências de crescimento e a bolha financeira ciclos expansivos de curta duração (1995-2000; 2003-2007) 19

As bases financeiras da crise atual Mudanças recentes no sistema bancário A crise do subprime 1) Mudanças econômicas e financeiras pós-1970 Liberalização financeira, investidor institucional, financeirização corporações não financeiras. Enfraquecimento do banco tradicional novos tipos de negócios e fundos. 2) Estagnação salarial; elevação da desigualdade. Expansão da oferta privada de meios educacionais, residenciais, saúde e aposentadoria. Recurso forçado dos assalariados ao sistema bancário. 20

As bases financeiras da crise atual Mudanças recentes no sistema bancário A crise do subprime procura do lucro na esfera da circulação Giro em direção aos salários como fonte do lucro bancário. Empréstimos reorientados das empresas para formas de consumo e hipotecas. Negócios bancários ampliados para vários tipos de bancos crescimento dos fundos de investimento de varejo. 21

As bases financeiras da crise atual Mudanças recentes no sistema bancário A crise do subprime procura do lucro na esfera da circulação Explosão bolha imobiliária EUA decorrente meios de reanimação da economia dos EUA após a bolha precedente ( Nova Economia - 1995-2000). Juros baixos; acesso fácil à propriedade; pequenas garantias e opaca arquitetura financeira baseada na hiper-exposição ao risco. 22

As bases financeiras da crise atual Mudanças recentes no sistema bancário A crise do subprime procura do lucro na esfera da circulação Crise inerente a um sistema bancário distintivo. Implantado mediante extensão de empréstimos para setores historicamente oprimidos da população. Causas financeiras do colapso: securitização, acesso aos mercados de dinheiro, alta alavancagem bancária, potencialidade destrutiva da competição financeira. 23

Fonte: Roberts, 2012a 24

EUA: taxa média de lucro média móvel anual de 10 anos (1951-2011; 1947=100) Fonte: Carchedi & Roberts, 2013 25

EUA: taxa média de lucro (1982-2011) Fonte: Carchedi & Roberts, 2013 ARP: taxa média de lucro 26

EUA: taxa média de lucro (1982-2011) Fonte: Carchedi & Roberts, 2013 27

Fonte: Roberts, 2012b 28

Short, 2014 29

30

A crise atual Desdobramentos internacionais/sistêmicos 1) Superação restrita à lógica da bolha estrutural Re-regulação; reconhecimento teórico-doutrinário da função estatal; manutenção da hegemonia americana; continuidade da centralidade do dólar como moeda internacional. Crise estrutural do capital estagnação permanente e tendência declinante sistêmica instabilidade sócio política fortalecimento dos movimentos de negação do capital. 2) Nova onda-longa de crescimento. Nova arquitetura monetário-financeira internacional; nova moeda internacional; hegemonia compartilhada; fixação dos novos eixos sistêmicos da acumulação. 31

Bibliografia BALANCO, Paulo. Crise geral e crise financeira no capitalismo contemporâneo. In: BARROSO, Sérgio & SOUZA, Renildo (org.). "A Grande Crise Capitalista Global (2007-2013): Gênese, relações e tendências", pp. 99-116, 2013. ISBN 978-85-7277-142-9. CARCHEDI, Guglielmo & ROBERTS, Michael. The long rots of the present crisis: Keynesians, Austerians, and Marx s Law. World Review of Political Economy Vol. 4, No. 1, Spring 2013. CIPPOLA, Francisco Paulo. Da crise bancária à crise geral. In: BARROSO, Sérgio & SOUZA, Renildo (org.). "A Grande Crise Capitalista Global (2007-2013): Gênese, relações e tendências", pp. 137-160, 2013. ISBN 978-85-7277-142-9. ROBERTS, Michael. Crise ou colapso. In: http://eleuterioprado.files.wordpress.com/2012/10/michaelroberts-crise-ou-colapso.pdf. 2012a. ROBERTS, Michael. A globalização e a economia mundial. In: http://eleuterioprado.files.wordpress.com/2012/07/taxa-de-lucro-mundial.pdf. 2012b. SHORT, Dourg. The Full-Time/Part-Time Employment Ratio Worsens a Bit. In: http://advisorperspectives.com/dshort/commentaries/full-time-vs-part-time- Employment.php, 2014. 32