GESTÃO ESTRATÉGICA INCLUSIVA



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Transcrição:

GESTÃO ESTRATÉGICA INCLUSIVA MIZRAHI, Saul Eliahú Instituto Nacional de Tecnologia saul.mizrahi@int.gov.br TAVARES, Denise Barbosa Silva Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São João de Meriti/RJ nisedenise@hotmail.com Resumo CARVALHO, Magda Fernandes de Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São João de Meriti/RJ magdafcarvalho@yahoo.com.br Eixo Temático: Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: FAPERJ O presente artigo busca apresentar a experiência da aplicação da metodologia de Gestão Estratégica Multicultural (GEM) que ocorreu como desdobramento do projeto Perspectivas Educacionais Inclusivas para o Aluno com Autismo na Rede Pública de Ensino realizado na Escola Municipal Especial Professora Mariza Azevedo Catarino na cidade de São João de Meriti/RJ. A Escola atende preferencialmente alunos com autismo e busca apoiar a inclusão e a permanência destes alunos no ensino regular. A experiência teve como base a tese de doutorado Gestão Estratégica Multicultural aplicada a Instituições de Ensino. Nesta encontra-se a descrição da metodologia GEM, que combina a gestão estratégica baseada no Balanced Scorecard com o multiculturalismo crítico para aplicação em instituições de ensino. O quadro metodológico de encaminhamento da pesquisa iniciou-se pelo conhecimento prévio da instituição escolar e negociação de um roteiro de trabalho. Houve apresentação de recomendações metodológicas, procedimentos e sistema de medidas de desempenho conforme a metodologia GEM. Ocorreram discussões sobre como realizar o trabalho no âmbito da Escola. Foi construído um sistema de métricas partindo-se da visão estratégica da Instituição. Ocorreram dinâmicas simulando-se os procedimentos da proposta GEM, tendo como início a escolha de temas e abordagens que pudessem convergir mais rapidamente com os interesses da instituição e promovesse o engajamento de colaboradores. A realização e acompanhamento dos ciclos completos foram executados com uma simulação da metodologia GEM. A avaliação do desempenho e propostas de adequações foram consolidadas, ao longo do trabalho. O uso da metodologia GEM veio apoiar os programas e projetos de desenvolvimento institucional. Evidenciamos, com sua aplicação, uma atuação mais perseverante da equipe escolar no trabalho de análise de contexto, alcançando com isto mais efetivamente as causas de problemas e sua hierarquização. Palavras-chave: Gestão Estratégica. Educação Inclusiva. Multiculturalismo. Balanced Scorecard.

13360 Introdução O presente artigo busca apresentar a experiência sobre Gestão Estratégica Inclusiva que ocorreu como desdobramento do projeto PEI - Perspectivas Educacionais Inclusivas para o Aluno com Autismo na Rede Pública de Ensino. O referido projeto foi aprovado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) 1 e teve como instituições participantes a Universidade Federal Fluminense (UFF), o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), a Secretaria de Educação de São João de Meriti e a Escola Municipal Especial Professora Mariza Azevedo Catarino (Escola Mariza). Estava previsto no Projeto PEI, para medir o impacto de suas ações, a atividade de criação de indicadores de desempenho. Serviria para acompanhar e avaliar o processo pedagógico da Escola Mariza. Como desdobramento desta atividade foi elaborado o Manual de Gestão Estratégica Inclusiva da Escola Mariza. Com este Manual pretendia-se definir e utilizar parâmetros estratégicos de modo a favorecer a melhoria e avaliação das atividades da Escola e convergir com as políticas públicas de inclusão da pessoa com autismo. O Manual de Gestão Estratégica Inclusiva põe como centro o estabelecimento, atualização periódica e compartilhamento dos parâmetros estratégicos, incluindo objetivos, indicadores, metas e iniciativas de melhoria, conforme a tecnologia Balanced Scorecard (BSC). 2 O Manual de Gestão Estratégica Inclusiva teve como base a tese de doutorado Gestão Estratégica Multicultural aplicada a Instituições de Ensino (MIZRAHI, 2011). Esta tese apresenta uma proposta de gestão estratégica multicultural baseada no BSC para instituições de ensino para que possam enfrentar incompatibilidades culturais tidas como fonte de insucesso em trabalhos propostos pelas instituições. A proposta de Gestão Estratégica Multicultural (GEM) consiste em um conjunto integrado de procedimentos, recomendações metodológicas e um sistema de métricas visando promover a valorização da diversidade cultural para o sucesso escolar (MIZRAHI, 2011). Tanto as recomendações metodológicas como os procedimentos servirão para melhorar os indicadores e métricas de desempenho. Os procedimentos são as atividades operacionais e 1 Edital 14/2009 do Programa Apoio à Melhoria do Ensino em Escolas Públicas Sediadas no Estado do Rio de Janeiro 2009. 2 O BSC foi lançado em 1992 na Harvard Business Review, como um sistema gerencial para alcançar melhorias drásticas em produtos, processos, clientes e mercados. Tinha nesta ocasião a proposta de conversão dos objetivos estratégicos da organização em indicadores de desempenho (KAPLAN, NORTON, 2004, p. 31). O termo balanced se refere ao equilíbrio entre objetivos de curto e longo prazos, medidas financeiras e não-financeiras, indicadores de tendências e de ocorrências, perspectivas internas e externas de desempenho.

13361 seguem conjunta e interativamente os ciclos de gestão. Envolvem conhecer compartilhar, analisar, decidir, avaliar, em sequências concomitantes e combinadas. Busca-se, com a metodologia GEM, favorecer o desenvolvimento de uma gestão baseada no conhecimento e confiança, permitindo a superação de conflitos e incertezas com o entendimento das fontes da diversidade, conforme o multiculturalismo crítico que promove o questionamento do pensamento dominante priorizando políticas e práticas que possam levar à construção das identidades do sujeito (CANEN, CANEN, 2005, p.32). Valoriza-se, ainda, modos para definição e aquisição de competências multiculturais para que a instituição alcance os melhores resultados. A Escola Mariza, pertencente à Rede de Ensino da Cidade de São João de Meriti/RJ, atende preferencialmente alunos com autismo. Atualmente tem 85 alunos matriculados freqüentando aulas ministradas por uma equipe multidisciplinar composta por professores especializados em Psicologia, Psicopedagogia, Fonoaudiologia, Psicomotricidade, Fisioterapia, Educação Física, Artes e Musicoterapia, além de promover atividades direcionadas através de um trabalho de apoio terapêutico ao grupo de pais e responsáveis dos alunos. A partir das ações em parceria do Projeto PEI significativas mudanças ocorreram na Escola, especialmente na prática de seus profissionais, constituindo-se como significativos avanços pedagógicos e em gestão. Destacou-se, neste âmbito, a oferta de encontros de capacitação realizados pela Professora Doutora Dayse Serra (UFF). A capacitação segue no cotidiano da Escola Mariza com a orientação das professoras Denise Tavares e Magda Carvalho, propiciando a reflexão sobre as práticas atuais e sobre o que poderia ser aperfeiçoado visando um atendimento mais qualificado e eficiente para o aluno com autismo na perspectiva inclusiva. A inclusão e a permanência de alunos com autismo no ensino regular é um dos objetivos da Secretaria Municipal de Educação que a Escola Mariza buscou apoiar. Os alunos com autismo, geralmente, têm habilidades de comunicação comprometidas que leva a prejuízos na aprendizagem. Conforme Rivière (1995), o tratamento mais efetivo para crianças com autismo é a educação. Ainda, segundo esse autor, os objetivos educacionais não se diferem das outras crianças e devem desenvolver ao máximo suas possibilidades e competências.

13362 O quadro metodológico de encaminhamento da pesquisa que relatamos inicia-se pelo conhecimento prévio da instituição escolar e negociação com sua Equipe Técnico-Diretiva para definição de um roteiro de trabalho mais adequado. Observa-se o grau de interação dos membros da instituição de ensino no planejamento e aplicação desta proposta de gestão. Uma explanação dos princípios da proposta GEM é realizada com a presença voluntária dos gestores, professores, profissionais da escola em geral, alunos e respectivas famílias. Passa-se por apresentar as recomendações metodológicas, procedimentos e sistema de medidas de desempenho. Discute-se como operacionalizar a proposta GEM no âmbito da Escola. Busca-se saber quem são os possíveis apoiadores deste processo de implementação, e ainda, levantam-se as necessidades de recursos para tal realização. Busca-se saber o grau de aceitação de cada participante para assumir cada um dos papéis para implantação da Proposta GEM, seja como coordenador, mediador, observador, relator, orientador, apoiador ou outros. Trabalha-se no sistema de métricas partindo-se da visão estratégica da instituição, sua missão, valores, objetivos estratégicos nas categorias ou perspectivas propostas. Elabora-se em indicadores de desempenho para os respectivos objetivos. Realiza-se a redação das metas estratégicas pela combinação de cada objetivo com os respectivos indicadores de desempenho. Ao final desta construção participativa a instituição termina a etapa com os devidos ajustes e com o reconhecimento de ter sido formado um sistema de métricas coerente. Busca-se então a execução de dinâmicas simulando-se os procedimentos da proposta GEM, tendo como início a escolha de temas e abordagens que pudessem convergir mais rapidamente com os interesses da instituição e promovesse o engajamento de colaboradores. Ainda na fase de planejamento, indicadores e métricas prioritárias são escolhidos para as dinâmicas. Define-se o escopo para os relatórios parciais. Elabora-se, discute-se e aprovase uma proposta de roteiro de atividades. A realização e acompanhamento dos ciclos completos são executados com uma simulação da metodologia GEM. Promove-se a discussão sobre os relatórios parciais. A avaliação do desempenho e as propostas de adequação são consolidadas, ao longo do trabalho. Referencial Teórico A Metodologia GEM relaciona a gestão estratégica baseada no BSC com o multiculturalismo. O BSC, por seu foco na estratégia, permite formas alternativas de trabalho

13363 considerando-se as diferenças culturais, sem ameaçar o desempenho institucional (MIZRAHI, 2011, p.8). Conforme Kaplan e Norton (2004), a gestão da estratégia da instituição com o BSC tem suporte de sistemas de informação e sistemas de indicadores de desempenho atendendo às etapas de implementação, esclarecimento, compartilhamento e gerenciamento da estratégia. Conforme Canen e Canen (1999, p.4), a expressão perspectiva intercultural foi utilizada na Educação e trazia o objetivo de sensibilizar os professores para o acolhimento da pluralidade cultural e para superação do pensamento hegemônico encontrado nos conteúdos e práticas curriculares. A interculturalidade, conforme Candau (2008, p.22), caracteriza-se pela valorização da interação entre grupos culturais na sociedade. Para que esta interação seja produtiva, a autora defende o papel da Educação para promover a negociação cultural. A abordagem multicultural crítica, de acordo com Canen e Canen (2005, p.32), definese como o modo de tratar a diversidade cultural. A rejeição de estereótipos culturais, os questionamentos sobre as relações desiguais de poder, e o desafio a preconceitos e discriminações são essenciais nesta abordagem. Converge, ainda, com esta abordagem o conceito de relevância do humano (FRAGA, 2009, p.125) em que a "compreensão é destacada como saber rigoroso que promove o desafio a preconceitos e valoriza a comunicação multilateral. Busca-se conhecer as consequências não do simples resultado em cada situação de trabalho. A junção do BSC com a essência do multiculturalismo se faz possível por um lado pelas diferentes formas de funcionamento da instituição para que se alcancem os objetivos estratégicos traçados em seu planejamento mais amplo. Por outro lado, a justificativa do multiculturalismo se dá pela existência hoje de um encontro de um conjunto de atores com diferentes características culturais, no funcionamento institucional, possibilitando-se, no diaa-dia, harmonizar a interação destes (MIZRAHI, 2011, p.13). Para Canen e Canen (2004, p.42), o sucesso institucional exige um ambiente baseado na confiança com a valorização das identidades culturais de cada colaborador. Neste ambiente de confiança haveria o meio mais adequado para tratamento dos conflitos. Apesar do risco de que as discussões possam trazer conflitos em diferentes modalidades e graus, os conflitos internos da equipe da Escola podem ser mais facilmente gerenciados por aqueles que se dedicam a este tipo de trabalho no cotidiano escolar. O conhecer e tratar estes conflitos

13364 pode trazer mudanças valiosas para a gestão. Assim, conforme Chrispino (2007, p.17), o líder atua na prevenção e superação destes conflitos. Aplicação da Metodologia GEM Trabalha-se no sistema de métricas partindo-se da visão estratégica da instituição, sua missão e valores. Conforme Rampersad (2004), a missão institucional está relacionada com identidade da instituição, e é uma declaração de sua razão de existir. A visão institucional representa o desejo mais ambicioso da instituição. Pretende-se, com esta declaração de visão, que haja compartilhamento da imagem de uma situação desejada para o futuro, e que ainda possa ser constatada sua viabilidade. Declarações de missão e visão da Escola Mariza são apresentadas a seguir: Missão: Estabelecer condições de acessibilidade, aprendizagem e desenvolvimento para inclusão da pessoa com autismo na Sociedade. Visão: Tornar-se centro de referência de pesquisa e capacitação sobre autismo prestando apoio aos profissionais, atuantes e em formação, pesquisadores, educandos e seus familiares. Desdobra-se a visão institucional em objetivos estratégicos nas categorias ou perspectivas propostas, que são: Financeira, de desenvolvimento do Corpo Discente, Processos Internos, de Inovação Escolar, Multicultural. Indicadores de desempenho são elaborados para cada objetivo. Realiza-se a redação das metas estratégicas pela combinação de cada objetivo com os respectivos indicadores de desempenho, considerando-se, ainda, o período previsto para sua execução, conforme a Quadro 1. Kaplan e Norton (1997) recomendam a utilização de 20 a 25 medidas sintéticas associadas às perspectivas do BSC, para comunicar e apoiar a implementação da estratégia. Niven (2007, p.179) propõe critérios para escolha das medidas de desempenho. Pode-se destacar, dentre estes critérios, o impacto da medida na estratégia, a possibilidade de avaliações objetivas, a relação entre o custo de sua obtenção e seu benefício, e que esta propicie melhorias sistêmicas. Busca-se então a execução de dinâmicas com procedimentos da Metodologia GEM, tendo como início a escolha de temas e abordagens que pudessem convergir mais rapidamente com os interesses da Instituição e promovesse o engajamento de colaboradores.

13365 Quadro 1: Objetivos estratégicos e indicadores de desempenho por perspectiva Perspectiva Objetivos Indicadores Desenvolvimento do Corpo Discente Disseminação do conhecimento para instituições de atendimento ao aluno com autismo Atendimento precoce Tornar processo de inclusão do aluno mais efetivo na aprendizagem e formação Nível de disseminação Quantidade de avaliações para selecionar alunos Eficácia da intervenção Número de Alunos incluídos Processos Internos Sensibilizar Famílias sobre importância da participação Grau de autonomia para a vida Nível de sensibilização Nível de Iniciativa Garantir o ingresso da criança com autismo na escola Quantidade de Intervenções precoces o mais cedo possível. Colaborar com as políticas públicas de inclusão Quantidade de ações para construção das políticas públicas Inovação Institucional Financeira Multicultural Manter registro histórico o mais completo e atualizado possível. Promover orientação dos profissionais de educação sobre metodologias existentes Capacitar equipes de educação e saúde envolvidas no processo de inclusão Buscar parcerias com instituições Aumentar captação de recursos Otimizar custos Garantir política multicultural Credibilidade do registro Nível de avanço do perfil profissional Nível de empenho institucional para capacitação profissional Quantidade de parceiros e articulações Quantidade de projetos Quantidade de verbas de fomento e doação Nível de efetividade do emprego dos recursos Liderança Negociação Solidariedade Pesquisa para compreensão Autonomia / auto-estima Fonte: Os autores O movimento mundial pela inclusão é político, cultural, social e pedagógico, desencadeado em defesa do direito de todos os alunos estarem juntos, aprendendo e participando sem nenhum tipo de discriminação. Neste sentido, as atividades desenvolvidas na Escola Mariza e em outras instituições parceiras têm como finalidade favorecer as

13366 inter-relações do grupo a fim de promover a maior integração da pessoa com autismo na sociedade. O reconhecimento das dificuldades do processo de inclusão de pessoas com autismo na rede regular de ensino fez com que esta equipe optasse por um trabalho diferenciado de inclusão através de atividades lúdicas, investindo-se sobretudo em tecnologias para melhor suporte aos profissionais da Escola. Alguns conteúdos foram objeto de discussão e troca de experiências com o uso do procedimento Mediador e Relator da Metodologia GEM, procedimento este escolhido e empregado na Escola Mariza no período 2010-2011. Dentre os objetos de discussão destacamos as inadequações de critérios relacionadas ao censo escolar, diários de classe, modelos de relatórios, registros de frequência, terminalidade específica, critérios para ingresso, permanência e desligamento do educando nesta Escola, assim como, projetos extras sugeridos pela Secretaria de Educação como - desfile cívico que acompanham nossa Unidade Escolar durante todo processo educacional. Neste sentido, salientamos que a Escola Mariza, diante do trabalho apresentado, conquistou autonomia para convocar reuniões e sugerir através de ofícios as adaptações pertinentes para que os documentos sejam elaborados e as atividades desenvolvidas sem causar constrangimento ou trazer prejuízo para os alunos. O mediador e relator lançam desafios, estimulam a participação, categorizam respostas, dentre outras atuações. Conforme afirmam Likert e Likert (1979), a capacidade de um grupo para desenvolver soluções novas e criativas para problemas difíceis deve ser considerado de importante valor estratégico para as instituições. Este procedimento tem o objetivo de dar suporte ao processo decisório, garantindo-se o equilíbrio das soluções e da participação das pessoas. Um mediador escolhido criteriosamente, com o devido registro destes critérios e com base em uma descrição de conflito, lança desafios, estimula a participação, distribui papéis, tanto em defesa como de refutação de ideias, e categoriza respostas. Cada contribuição registrada estimula que outras sejam fornecidas e superadas. Dinâmicas de instigação ocorrem em encontros com o grupo de responsáveis pelos alunos e de funcionários da Escola, ora em grupos separadamente, ora em encontros gerais, com a mediação da Orientação Educacional. Passou-se a realizar avaliações objetivas sobre aspectos que caracterizam desempenho da gestão atual.

13367 Conforme princípios do multiculturalismo crítico (MIZRAHI, 2011, p.136), as seguintes recomendações podem ser listadas para os participantes e se apresentam como competências multiculturais: a manutenção do respeito mútuo, independentemente do cargo; o resguardar o direito de expressão de cada um e o incentivo à participação; o estímulo à flexibilidade entre o exercício da crítica e criatividade, considerando-se os diversos perfis que podem existir na instituição; o respeito ao sentimento de pertença de cada um ao seu grupo; e a suspensão da susceptibilidade. Considerações Finais O uso da metodologia GEM veio apoiar os programas e projetos de desenvolvimento institucional. Evidenciamos, com sua aplicação, uma atuação mais perseverante da equipe escolar no trabalho de análise de contexto, alcançando com isto, mais efetivamente, as causas e hierarquização de problemas, e seu aprofundamento consolidando-se em soluções e conhecimentos. Esta aplicação propiciou maior participação de seus profissionais, com maior reconhecimento da importância de sua presença para as transformações desejadas. De acordo com a bibliografia consultada, pela própria experiência profissional e pelo intercâmbio com profissionais da educação e da saúde, percebe-se que a maioria dos profissionais da rede pública de ensino se sente desamparada e despreparada para receber as crianças com deficiência, em especial, o autista. Ressalta-se a importância da integração dos mais variados profissionais que atuam no tratamento das pessoas com necessidades especiais à equipe pedagógica para receberem auxílio neste contexto. Todavia, podemos relatar que, no funcionamento da Escola Mariza, obtivemos uma mudança significativa na receptividade em relação aos indivíduos autistas por parte de todos os funcionários depois de sua participação nos encontros de capacitação fornecidos no âmbito do Projeto PEI, nas oferecidas pela Prefeitura de São João de Meriti (denominado PROSA) e em grupos de estudo realizados internamente da Unidade Escolar, estabelecendo melhores relações entre o corpo discente, docente, equipe técnica, demais funcionários, responsáveis e comunidade escolar, compartilhando ainda conhecimentos com outras escolas da rede, de municípios vizinhos, escolas particulares e outras instituições através de visitas presenciais e contatos virtuais, principalmente em parceria com os docentes. Espera-se que este trabalho possa ter continuidade em outros projetos no Município, apoiando os profissionais envolvidos no trabalho da inclusão social, e principalmente, aos

13368 jovens, adolescentes e crianças do nosso país, que necessitam de receber um ensino de qualidade, superando barreiras e preconceitos, trazendo maior conforto e estabilidade emocional para suas famílias. REFERÊNCIAS CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In. MOREIRA, A. F.; CANDAU, V. M. (Orgs.), Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 13-37. CANEN, Alberto Gabbay; CANEN, Ana. Logistics and Cultural Diversity: Hand in Hand for Organisational Success. Cross Cultural Management: An International Journal, v. 6, n. 1, p. 3-10. 1999. CANEN, Alberto Gabbay; CANEN, Ana. Organizações Multiculturais: Logística na Corporação Globalizada. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2005. CHRISPINO, Álvaro. Gestão do conflito escolar: da classificação dos conflitos aos modelos de mediação. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 15, n. 54, p. 11-28, jan./mar, 2007. FRAGA, Valderez Ferreira. Gestão pela Formação Humana: Uma Abordagem Fenomenológica. 2. ed. Barueri: Manole, 2009. KAPLAN, Robert S.; NORTON, David. P. Kaplan e Norton na Prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. A Estratégia em Ação: Balanced Scorecard. Rio de Janeiro: Campus, 1997. LIKERT, Rensis; LIKERT, Jane Gibson. Administração de conflitos: novas abordagens. São Paulo: McGraw-Hill, 1979. MIZRAHI, Saul Eliahú. Gestão Estratégica Multicultural Aplicada a Instituições de Ensino. 2011. 209 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Rio de Janeiro, 2011. NIVEN, Paul R. Balanced Scorecard - Passo - A - Passo: Elevando o Desempenho e Mantendo Resultados. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007. RAMPERSAD, Hubert K. Scorecards para Performance Total. Rio de Janeiro: Campus, 2004. RIVIÈRE, Angel. O desenvolvimento e a educação da criança autista. In: COLL, César; PALÁCIOS, Jesús; MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. v. 3., Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. p. 274-297.