Morte do jornal de papel e novas tecnologias digitais: desafios e perspectivas



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Transcrição:

ISSN: 2316-3992 Morte do jornal de papel e novas tecnologias digitais: desafios e perspectivas MELECH, Edgard Cesar Universidade Estadual do Centro-Oeste, PR Resumo Importantes transformações sociais e tecnológicas conspiram contra os jornais impressos no mundo todo. A forte redução da verba publicitária, o envelhecimento dos leitores, o custo do papel e, principalmente, portais e sites de informação e os novos suportes de mídia digital através da Internet, exercem forte impacto na história e na vida dessa tradicional forma de mídia. No Brasil, apesar das novas tecnologias já terem motivado o fechamento vários de grandes periódicos, também se registra, em contrapartida, aumento na tiragem dos jornais de papel devido à expansão, em tempos recentes, dos pequenos jornais. Esse contexto traz à tona antiga polêmica sobre a sobrevivência dessa mídia. Conseguirão os jornais de papel encontrar novos caminhos para resistir ao impacto das novas mídias? Palavras-chave: Imprensa, Mídia, Novas Tecnologias, Fim do Papel Jornal.

MELECH, Edgard Cesar 57 A nova realidade bate à porta Para Dines (2010) nenhum jornal é uma ilha e que a cada um que morre, menor a imprensa, menor o continente, o mundo, a humanidade. Mas a previsão sombria quanto ao tempo de vida dos diários de papel parece que caminha a passos largos para uma materialização irreversível, à medida que as rotativas são desligadas para dar lugar aos sites jornalísticos. Vive-se um momento crítico de mudança caracterizado pelo declínio do produto midiático de papel e o surgimento e fortalecimento do produto midiático digital do século XXI. As projeções para o fim do jornal impresso indicam que nos Estados Unidos ocorrerá em 2017, depois na Inglaterra em 2019, em seguida Canadá e Noruega, em 2020 e em 2027 no Brasil. Essa realidade já atinge jornais de todos os países, e inclusive nos EUA, onde somente em 2011 desapareceram 142 títulos em diversas cidades. Entre esses há jornais centenários, refletindo novas condições culturais e sociais em que o número de leitores e a receita publicitária dos sites de notícias já supera a dos jornais impressos. Em compensação, a difusão dos jornais em papel continua em alta na Ásia e Oriente Médio, tendência que compensa as perdas na Europa, Estados Unidos e América Latina. Em todo mundo, o aumento da mídia impressa foi de 1,1% entre 2010 e 2011, segundo a Associação Mundial de Jornais, WAN. No Brasil, a Associação Nacional de Jornais, ANJ, revela que de 2001 a 2011 o aumento médio da tiragem dos diários brasileiros ultrapassou o índice de 11 por cento. No total, a tiragem brasileira já ultrapassa oito milhões de exemplares/dia. Acompanha esse crescimento a verba publicitária para esse veículo: Gráfico 1 VERBA PUBLICITÁRIA PARA JORNAIS NO BRASIL

MELECH, Edgard Cesar 58 No Brasil, quando comparado com outras mídias, o jornal impresso teve reduzida sua participação no rateio da verba. Essa mídia, que detinha 21,73% do investimento em comunicação em 2001, acabou com uma redução para 12,36% em 2010. Enquanto isso, a Internet, que possuía apenas 1,49% em 2003, foi para 4,64% em 2009, conforme demonstram dados abaixo: Gráfico 2 INVESTIMENTO POR MEIO (%) No contexto mundial, o ingresso de publicidade nos periódicos diminuiu 40% até 2007, atingindo principalmente o mercado americano, entretanto, quatro mil entrevistas realizadas pela WAN em 2010, entre leitores, editores, anunciantes, jornalistas e outros profissionais, mostram que leitores de países como Estados Unidos, Canadá, França, Reino Unido, Alemanha, Holanda e Suiça ainda preferem o papel à Internet. As conclusões apontam que jornais tradicionais ainda têm uma forte ligação com o seu leitor. Acredita-se que essa tendência também se reflita no Brasil através dos jornais de circulação paga, considerando-se a variação positiva da tiragem, o número títulos e a importância dessa mídia para a sociedade em geral, conforme observa-se: Gráfico 3 MAIORES JORNAIS BRASILEIROS DE CIRCULAÇÃO PAGA

MELECH, Edgard Cesar 59 Constata-se, ainda, que a circulação dos jornais brasileiros teve um ligeiro crescimento de 2,3% no primeiro semestre de 2012. Houve estabilidade do meio, que teve seu desempenho puxado, em partes, pela alta da circulação dos títulos mais baratos (com preço de capa inferior a R$ 2). Entretanto, a circulação brasileira de jornais impressos ainda é muito inferior à média mundial, já que em 2006 o país ocupava a 101ª posição no índice de leitura de jornais (circulação média/população adulta cópias por mil habitantes), atrás da Palestina, Guiana, El Salvador, Equador, Jamaica e Costa Rica. (IVC, 2012) Atualmente os maiores jornais brasileiros estão distribuidos, principalmente, nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do país, entretanto, a quantidade de pequenos periódicos com periodicidade diária, semanal, quinzenal e mensal tem crescido consideravelmente, apontando para novas condições e realidades que estabilizam a sobrevivência do jornal de papel. Pequenos jornais semanários, principalmente, estão em expansão porque conseguem diminuir custos operacionais, quantidade de papel, número de funcionários, e ainda alcançar boa tiragem e circulação devido à integração entre o jornal de papel e site jornalístico. Gráfico 4 PERIODICIDADE DOS JORNAIS BRASILEIROS Pequenos jornais diários, de um modo geral, cobrem todas as regiões brasileiras. Distribuídos entre Região Norte (31), Região Nordeste (55), Região Sudeste (278), Região Centro-Oeste (44) e Região Sul (147), representam enorme potencial de imprensa que ocupa espaço deixado pelos grandes veículos e que, de uma forma sistemática, vem se organizando ao longo dos últimos anos. As associações de jornais do interior reúnem afiliados e obtém, a partir de ações editoriais e políticas conjuntas, grande repercussão junto ao público e, como resultado, aumento da verba publicitária, assinaturas e mais venda avulsa.

MELECH, Edgard Cesar 60 Esse avanço da tiragem dos jornais brasileiros, em muito resultado do crescimento da tiragem dos pequenos jornais diários e semanários, pode ser analisado a partir de alguns dados que apontam a demanda de mídia impressa nos municípios até há pouco tempo sem jornal. Entre os possíveis fatores desse crescimento estão a estabilidade econômica do país, o aumento do poder aquisitivo da população de baixa renda e o melhor desempenho dos números na educação formal. Entretanto, o que se coloca em questão para os jornais impressos, sejam grandes ou pequenos, é a necessidade para encontrar fórmulas que apresentem soluções possíveis quanto ao avanço das novas mídias e suportes para informação jornalística. Em geral, os pequenos jornais já associam notícias impressas com a versão online, uma forma de integrar o leitor tradicional com leitores a partir das mídias digitais. Importância disso é que praticamente a metade da população norte-americana declara obter notícias online pelo menos três vezes por semana, contra 40 por cento que afirmam obter notícias dos jornais em papel e dos sites a estes associados, constatação que mostra o quanto a migração para a web está se acelerando, em conjunto com a expansão do uso dos tablets e dos celulares inteligentes. (INFOABRIL, 2011) Jornal O Estado do Paraná: vida e morte O embate tecnológico e cultural que atinge os jornais foi marcado, em 2010, pela paralisação das impressoras do Jornal do Brasil, que agora é somente digital. Outro exemplo, em 2011, é o caso do fechamento do diário O Estado do Paraná, a alguns meses de completar 60 anos de circulação. A despedida foi acompanhada do anúncio em que seu proprietário justificava a necessidade de acabar com essa tradicional mídia, para dar vez a um site como forma de se adaptar aos novos tempos, mas o plano não deu certo. Fundado em 1951, O Estado do Paraná tinha sede própria instalada num dos bairros mais valorizados de Curitiba, com uma infra-estrutura que causou inveja aos concorrentes. Ao completar 59 anos, no dia 17 de julho de 2010, tinha orgulho de possuir 17.928 edições ininterruptas no formato standard, impressas em moderno parque gráfico. Sua produção contou com excelentes e premiados jornalistas, fotógrafos, chargistas, publicitários, gráficos e, em seus melhores dias, chegou a ter uma equipe integrada por mais de cem profissionais. Entre 1970 e 1990 foi o jornal cuja circulação atingia a maior parte de municípios do estado, dando ao veículo conceito e prestígio. Nos últimos dez anos, entretanto, diversos fatores ampliaram sua crise financeira. Entre eles destacaram-se a falta de planejamento e organização, diminuição do número de anunciantes, aumento das dívidas trabalhistas, elevação dos custos gráficos, e principalmente, a queda na venda de exemplares em bancas e a brutal diminuição do número de assinantes. Ao mesmo tempo em que enfrentava momentos difíceis para manter o jornal impresso, a direção da empresa encontrou outra mídia para chegar até seus leitores, com o lançamento do site Paraná OnLine - experiência anterior à do jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul. Desde 16 de junho de 1997 a editora vinha abastecendo o site com as notícias, reportagens e artigos publicados pelo O Estado do Paraná e pela Tribuna do Paraná, outro jornal do grupo que ainda se mantém como impresso.

MELECH, Edgard Cesar 61 O serviço de notícias do site chegava aos e-mails de uma grande clientela e ainda não incomodava a concorrência porque naquele momento a Internet estava apenas em sua fase inicial no Brasil. Alguns importantes jornais regionais e nacionais ainda nem possuíam sites, inclusive seu maior concorrente local, o diário Gazeta do Povo, do grupo Rede Paranaense de Comunicação, vinculado à Rede Globo. Ao encerrar suas atividades, o Estado do Paraná informava uma tiragem média de 40 mil exemplares com 35 páginas nos dias úteis e 40 páginas nos finais de semana, sendo 40% do espaço ocupado com publicidade e 60% com notícias. O lançamento de seu novo endereço www.oestadodoparana.com.br acabou sendo alvo de muitas críticas, pois desconsiderou aspectos técnicos e de bom senso que mereceriam ser observados. Mesmo com todos os problemas advindos da mudança, entretanto, o futuro do veículo dependeria das ações estratégicas a ser realizadas. Segundo seu proprietário, em entrevista publicada na última edição impressa (06 de fevereiro de 2011), essas novas mídias provocaram alterações no perfil dos leitores, que buscam notícias rápidas e instantâneas: Como a mídia impressa vai competir com esse sistema tão rápido de transmissão da notícia? Não há nenhuma possibilidade. E o custo se torna cada vez mais elevado. O jornal impresso depende da chapa, da tinta, do papel, do barbante, do empacotamento, do transporte. Isso tudo está ficando no passado. O presente é a transmissão da notícia rapidamente, com todas as facilidades, com fotos, gráficos e charges em qualidade excepcional e riqueza de detalhes, além da possibilidade de atingir um público maior. (PIMENTEL, 2011) Poucos meses após o fechamento de O Estado do Paraná, o site Paraná OnLine foi vendido ao maior grupo de comunicação do estado retransmissor da Rede Globo, significando não somente o fim de um veículo impresso, mas também a concentração da informação e da opinião em um grupo majoritário. Assim, o atual contexto tecnológico possivelmente incentivará fortes mudanças nas empresas de comunicação, alterando os modos de produção e envio de informações. Novos modos de produção Medina ressalta a importância de entender desde o século XIX as forças históricas, políticas, econômicas e sociais que interferiram no modo de produção e consumo de notícias e comerciais dos jornais, principalmente quanto às características que fundamentavam a importância da organização empresarial no contexto da imprensa: Nesta época, especialmente no Rio de Janeiro (centro de decisões e de movimento econômico), observam-se duas tendências no sentido de transformar a atividade jornalística em exploração comercial e industrial: de um lado, os jornais como a Gazeta de Notícias e o Jornal do Comércio, tradicionais folhas que vêm do tempo do Império, adquirindo equipamento e passando a faturar, principalmente, a venda de espaço publicitário; de outro, surgem novos órgãos já inteiramente estruturados como empresa e voltados, como qualquer negócio, para o lucro como objetivo. (MEDINA, 1978 p. 38)

MELECH, Edgard Cesar 62 Mas no início deste século as mudanças aceleraram bastante: Convergência, interatividade e até mesmo o que muitas organizações de comunicação já temiam, que é a perda do controle da informação centralizada, capitaneada por monopólios e oligopólios do poder midiático. Steven Johnson considera que há necessidade de se avaliar esse impacto: (...) há realmente dois cenários piores que nos preocupam agora, e é importante distinguir entre eles. Primeiro, há o pânico de que os jornais vão desaparecer como empresas. E, depois, há o pânico de que as informações cruciais vão desaparecer com eles, que nós vamos sofrer culturalmente, porque os jornais não serão, por muito tempo, capazes de gerar as informações que temos invocado por tantos anos. (JOHNSON, 2009) Essas violentas alterações na produção e veiculação de conteúdos de mídia, que afetam diretamente a indústria jornalística, também geram ansiedade quanto à obrigação que os jornais têm de se adaptar às novas tecnologias. A pressa em mudar sem um planejamento adequado, para atender às expectativas de usuários da Internet, tem gerado problemas consideráveis para muitos diários, já que não basta apenas e simplesmente mudar do papel para o digital. Pavlik diz que é necessário que as empresas planejem com muito cuidado as escolhas que vão adotar. Ele observa que o conteúdo de notícias online deve evoluir através de três etapas: A primeira etapa envolve a adaptação dos conteúdos do jornal impresso para a edição on-line. Na segunda fase, o conteúdo é ampliado com recursos interativos, como os motores de busca, links e alguma personalização para o usuário que recebe notícias. A terceira fase é caracterizada pela criação de conteúdos originais, concebidos especificamente para o medium. (PAVLIK, 2002, p.43) Além disso, as empresas precisam deixar claro suas posições políticas e mercadológicas, sob o risco de verem desmoronar suas estruturas sob um mundo onde as informações já não podem ser controladas. Neste sentido, os modelos de jornalismo feitos à base de subsídios escusos, muito comum em épocas de autoritarismo, estão condenados ao fracasso e não conseguem intervir neste sistema onde produtor e consumidor tem a mesma importância. A interatividade também criou novas condições e desafios. Uma delas é a nova configuração para profissionais da notícia: Ciberjornalistas - adaptados a trabalhar interativamente com imagem, texto e áudio; e para os ex-consumidores passivos da notícia (antigos leitores ) um pomposo título: jornalistas cidadãos. Trata-se de uma realidade diferente, onde os internautas não são apenas co-produtores passivos da informação, mas também produtores cooperativos dos mundos virtuais (LÉVY, 1999, p.35).

MELECH, Edgard Cesar 63 É compreensível, portanto, que em meio ao caos que toma conta da imprensa mundial, quando o tema é novas tecnologias, busquem-se respostas e posturas às vezes equivocadas e que acabam gerando prejuízos para as empresas de comunicação e, em cascata, para a qualidade do jornalismo. Muitas dessas empresas menosprezam seus leitores ao deixar de oferecer conteúdos não apenas qualitativos, mas principalmente, dialógicos e comunicativos. Trata-se de um equívoco, pois segundo o departamento de telecomunicações da Organização Mundial das Nações Unidas, 57% dos internautas estão em países em desenvolvimento e, para esse novo leitor não basta apenas conteúdos atrativos, já que dispõe de uma gama bastante diversificada de meios para obter informações cada vez mais especializadas.(onu, 2010) Conclusão A história do jornalismo brasileiro vivencia importantes momentos, uma fase não somente de transição entre as antigas tecnologias analógicas e a as novas tecnologias digitais, mas principalmente, de discussão e recuperação da finalidade da imprensa que é a capacidade de informar com rapidez, qualidade e responsabilidade social. Neste sentido, muitas temáticas tratadas aqui ainda estão em nível de suposições devido à velocidade com que essas inovações acontecem, e levam em consideração o papel do jornalismo para a sociedade moderna. Seja com antigas ou novas tecnologias, enquanto houver sociedade sempre haverá um leitor, mas ainda assim, uma razoável vantagem da multimídia são as possibilidades inesgotáveis de um espaço em construção permanente. Importante observar, no entanto, que para Lévy: Não se trata apenas de racionalizar em termos de impacto qual o impacto das infovias na vida política, econômica e cultural, mas também em termos de projeto (com que objetivo queremos desenvolver as redes digitais de comunicação interativa? (LÉVY, 1998, p.13) As previsões quanto ao tempo que ainda restaria para jornais impressos abandonarem por completo o suporte de papel mostram que a situação encontra-se indefinida. São muitas as possibilidades levantadas, várias delas polemizando diferentes perspectivas e que apontam, em geral, para três hipóteses básicas: A primeira hipótese é a de que os jornais podem adotar essas novas tecnologias sem abandonar a versão impressa, adaptando os conteúdos (impresso e online) aos seus públicos. A segunda hipótese apresenta o caminho dos tablets digitais específicos para recepção de jornais e revistas, que mantém a estética tradicional para os leitores acostumados a esses produtos. A terceira hipótese vai em direção a um novo e totalmente diferente conceito, que obriga o jornal a integrarse aos padrões visuais e estéticos das mídias sociais, como Twitter, Facebook, blogs e sites de informação, eliminando assim qualquer vestígio dos padrões e formatos que historicamente marcaram a imprensa. Vale observar que essa empolgação pelas novas tecnologias ainda reflete tendências com determinantes superficiais, pois há dados e pesquisas que revelam situações inovadoras na abordagem do problema. A mais nova perspectiva para jornais e revistas manterem cativos seus públicos vem com o tablet, tela digital portátil em que o leitor acessa através da Internet seu jornal preferido, baixa o arquivo online (através de download) e depois vê offline aquilo que desejar. Provavelmente em alguns anos estaremos falando de tecnologias ainda mais avançadas. Refletir os rumos a ser tomados exigirá avaliar e racionalizar essas novas condições que se impõe sobre os veículos de comunicação impressos. Para isso, Johnson acredita que o espaço da notícia é como um ecosistema, formado pela diversificação, complexidade e interligação presente no espaço de criação: O importante não é o futuro da indústria da notícia, ou o negócio do jornal impresso, mas o futuro da notícia em si. (JOHNSON, 2009)

MELECH, Edgard Cesar 64 REFERÊNCIAS ABRIL, Editora disponível no site www.info.abril.com.br/tecnologia/.../dados. Acessado em 19/07/2012. ANJ Associação Nacional de Jornais disponível no site http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornaisno-brasil/investimento-publicitario Acessado em 03/10/2012. ANJ Associação Nacional de Jornais disponível no site http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornaisno-brasil Acessado em 15/09/2012. ANJ Associação Nacional de Jornais disponível no site http://www.anj.org.br/sala-de-imprensa/noticias/ jornais-nunca-tiveram-tantos-leitores/view Acessado em 03/10/2012. DINES, Alberto disponível no site www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp? Acessado em 10/08/2012. INFO.ABRIL disponível no site http://info.abril.com.br/noticias/mercado/sites-de-noticias-superam-jornais-em -papel-14032011-29.shl Acessado em 23/09/2012. IVC Instituto Verificador de Circulação disponível no site http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/ noticias/2012/07/23/ivc-circulacao-de-jornais-cresce-23-porc.html Acessado em 05/10/2012. JOHNSON, Steven disponível no site http://www.culturadigital.br/ensinodojornalismo/2009/10/ Acessado em 14/08/2012LÉVY, Pierre. Cybercultura. São Paulo, Editora 34, 1999. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo, Loyola, 1998. MEDINA, Cremilda. Notícia Um produto à venda. Ed. Summus, SP, 2007. MEYER, Philip. Vanishing Newspaper Saving Journalism in the. Missouri University, 2006. ONU Organização das Nações Unidas disponível no site www.administradores.com.br/...se/.../onu...acesso.../39222/ Acessado em 18/09/2012 PAVLIK, John V. O futuro do jornalismo online. Columbia Journalism Review, NY, julho/agosto 2007. PIMENTEL, Paulo disponível no site www.paranaonline.com.br/2011/02/09 Acessado em 03/03/2011.