PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PÚBLICA
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- João Lucas Ramires Câmara
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1 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA Caio Cezar Buin Zumioti 1 A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, em seu art. 5º, inciso LXXIV, diz que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. O Poder Constituinte Originário, no Capítulo IV, do Título IV, colocou a Defensoria Pública, ao lado do Ministério Público (arts. 127 a 130), da Advocacia Pública (art. 131 e 132) e da Advocacia (art. 133 da CRFB/88), à categoria de instituição incumbida de exercer uma das funções essenciais à Justiça. A Lei Maior trouxe o conceito de Defensoria Pública, como sendo a instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5, LXXIV (art. 134, caput, Constituição Federal). Como se pode ver, a Defensoria Pública foi eleita pela norma fundamental como o órgão público responsável pela orientação jurídica e pela representação dos economicamente necessitados. Antes da alteração provocada pela Emenda Constitucional nº. 45, o parágrafo único, do art. 134, da Constituição Federal, 1 Defensor Público do Estado de Mato Grosso.
2 dizia que a organização da Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e as normas gerais para sua organização nos Estados, deveriam ocorrer através de Lei Complementar. Assim foi publicada em 12 de janeiro de 1994 a Lei Complementar Federal nº. 80, que organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, e dá outras providências. A Lei Complementar Federal nº 80/94, que recentemente sofreu alterações pela Lei Complementar Federal nº. 132, de 12 de outubro de 2009, define em seu art. 1º a Defensoria Pública como a instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindolhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal. Portanto, podemos dizer de modo mais simples, que a Defensoria Publica é a instituição responsável pela concretização da garantia da assistência jurídica, integral e gratuita, daqueles que não têm condições financeiras de constituírem advogado para resguardar seus direitos, seja na seara administrativa ou judicial. Para que o membro desta Instituição possa concretizar com presteza a garantia constitucional da assistência jurídica, integral e gratuita às pessoas carentes de recuso, o art. 3º da Lei Complementar Federal nº. 80/94 traz os princípios institucionais da Defensoria Pública. Art. 3º. São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.
3 O Princípio da Unidade consiste em entender a Defensoria Pública como um todo orgânico, de maneira que todos os seus membros integram um único órgão, sob a mesma direção, mesmo fundamento e finalidades. Cleber Francisco Alves e Marília Gonçalves Pimenta 2, sobre este princípio, ensinam que a Defensoria Pública é um todo orgânico, sob a mesma direção, os mesmos fundamentos e a as mesmas finalidades. Guilherme Peña de Moraes 3, citando Paulo César Pinheiro Carneiro, ensina que: [...] a unidade da Defensoria Pública não significa que qualquer de seus membros poderá praticar qualquer ato em nome da instituição, mas sim, sendo um só organismo, os seus membros presentam (não representam) a instituição sempre que atuarem, mas a legalidade de seus atos encontra limites no âmbito da divisão de atribuições e demais garantias impostas pela lei. Além do fundamento infraconstitucional (art. 3 da Lei Complementar n 80/94), o princípio institucional da unidade tem sede constitucional no próprio caput do artigo 134 da Constituição Federal, uma vez que tal norma, emanada do Poder Constituinte Originário, reza, no singular: A Defensoria Pública é instituição O art. 2º da Lei Complementar nº. 80/94 passa a idéia deste princípio ao dizer que A Defensoria Pública abrange: I a Defensoria Pública da União; II a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios; III as Defensorias Públicas dos Estados. 2 ALVES, Cleber Francisco; PIMENTA, Marilia Gonçalves. Acesso à Justiça: em preto e branco: Retratos Institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p MORAES, Guilherme Peña de. Instituições da Defensoria Pública. São Paulo: Malheiros, 1999, p MENEZES, Felipe Caldas. Defensoria Pública da União: Princípios Institucionais, Garantias e Prerrogativas dos Membros e um Breve Retrato da Instituição. Texto extraído da internet.
4 Segundo Hugo Nigro Mazzilli este princípio foi importado pela doutrina nacional do Parquet da França, que é um Estado Unitário, ao contrário do brasileiro que é um Estado Federado. 5 Dessa forma, a unidade nacional, tanto no Ministério Público como para Defensoria Pública, só existe abstratamente na lei, haja vista que cada membro dos Ministérios Públicos Estaduais e Defensorias Públicas Estaduais têm sua própria unidade e autonomia, só podendo haver substituição de seus membros dentro de cada um deles. O Princípio da Indivisibilidade, corolário do Princípio da Unidade, significa que a Defensoria Pública consiste em um todo orgânico, não estando sujeita a rupturas ou fracionamentos 6. Esse princípio permite que seus membros se substituam uns aos outros, a fim de que a prestação da assistência jurídica aconteça sem solução de continuidade, de forma a não deixar os necessitados sem a devida assistência. 7 A Defensoria Pública pertence aos Defensores Públicos e aos assistidos, e a sua razão de ser consiste no fato de que as suas normas fundamentais e o funcionamento de seus órgãos não podem sofrer qualquer solução de continuidade. Uma vez deflagrada a atuação do Defensor Público, deve a assistência jurídica ser prestada até atingir o seu objetivo, mesmo nos casos de impedimento, férias, afastamento ou licenças, pois nesses casos, a lei prevê a possibilidade de substituição ou designação de outro Defensor Público, garantindo assim o princípio da eficiência do serviço público introduzido no art. 37 da Carta Magna pela Emenda Constitucional n 19/ MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. São Paulo: Saraiva, Pg MORAES, Guilherme Peña de. Instituições da Defensoria Pública. São Paulo: Malheiros, 1999, p MENEZES, Felipe Caldas. Defensoria Pública da União: Princípios Institucionais, Garantias e Prerrogativas dos Membros e um Breve Retrato da Instituição. Texto extraído da internet. 8 Paulo Galliez. Princípios Institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2009, p. 34.
5 O que melhor caracteriza este princípio é a intimação pessoal do Defensor Público e a contagem em dobro de todos os prazos. Para que este princípio seja preservado o Defensor Público é proibido de exercer a advocacia. Tal vedação vem prevista no art.134, parágrafo primeiro, da Constituição Federal e no art. 130 da Lei Complementar nº. 80/94. Art º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. Art Além das proibições decorrentes do exercício de cargo público, aos membros da Defensoria Pública dos Estados é vedado: I - exercer a advocacia fora das atribuições institucionais; O Superior Tribunal de Justiça entende que a advocacia não é atividade do Estado, ou seja, a Advocacia não se confunde com a Defensoria Pública. DEFENSORIA DATIVA. INTIMAÇÃO. O defensor dativo, nomeado pelo juiz, exerce munus publicum, que não se confunde com a Defensoria Pública. Aquele desempenha atividade de advocacia particular, enquanto esta exerce função pública. Apenas com o advento da Lei n /1996 é que se tornou obrigatória a intimação pessoal do defensor dativo. No caso, o recurso em sentido estrito foi interposto e julgado antes da entrada em vigor da referida norma, não havendo, pois, nulidade no julgamento por falta de intimação pessoal do defensor, uma
6 vez que a lei processual não possui efeito retroativo. Precedentes citados do STF: HC SP, DJ 21/11/1997; do STJ: HC SP, DJ 25/8/2003, e RHC SC, DJ 18/10/1999. (HC 31861/SP Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 9/3/2004.) grifo nosso. RHC - PENAL - FUNCIONARIO PUBLICO - ADVOGADO - O CODIGO PENAL REELABOROU O CONCEITO DE - FUNCIONARIO PUBLICO (ART. 327). COMPREENDE QUEM, EMBORA TRANSITORIAMENTE OU SEM REMUNERAÇÃO, EXERCE CARGO, EMPREGO OU FUNÇÃO PUBLICA. CARGO E LUGAR E CONJUNTO DE ATRIBUIÇÕES CONFIADAS PELA ADMINISTRAÇÃO A UMA PESSOA FISICA, QUE ATUA EM NOME DO ESTADO. EMPREGO E VINCULO DE ALGUEM COM O ESTADO, REGIDO PELAS LEIS TRABALHISTAS. FUNÇÃO PUBLICA, POR SEU TURNO, ATIVIDADE DE ORGÃO PUBLICO QUE REALIZA FIM DE INTERESSE DO ESTADO. A ADVOCACIA NÃO E ATIVIDADE DO ESTADO. AO CONTRARIO, PRIVADA. LIVRE E O SEU EXERCICIO, NOS TERMOS DO ESTATUTO DO ADVOGADO. A ADVOCACIA NÃO SE CONFUNDE COM A - DEFENSORIA PUBLICA. ESTA E INSTITUIÇÃO ESSENCIAL A FUNÇÃO JURISDICIONAL DO ESTADO, INCUMBINDO A ORIENTAÇÃO JURIDICA E A DEFESA, EM TODOS OS GRAUS, DOS NECESSITADOS, NA FORMA DO ART. 5º, LXXXIV (CONST. ART. 134). O DEFENSOR PUBLICO, AO CONTRARIO DO ADVOGADO EXERCE FUNÇÃO PUBLICA. O ADVOGADO, DESIGNADO PARA EXERCER A DEFESA DE ALGUM, EXERCE - "MUNUS PUBLICUM" (LEI N , , ART. 2., PARAGRAFO 2.). ASSIM, NÃO EXERCENDO - FUNÇÃO PUBLICA NÃO E - FUNCIONARIO PUBLICO - PARA OS EFEITOS PENAIS. (RHC 3900/SP - Recurso Ordinário em Habeas Corpus 1994/ Sexta Turma - Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro - DJ 03/04/1995 p. 8148)
7 Por fim, o Princípio da Independência Funcional, enquanto princípio institucional, consiste em dotar a Defensoria Pública de autonomia perante os demais órgãos estatais 9 e impede que seus membros sejam subordinados à hierarquia funcional, ficando os mesmos subordinados apenas à hierarquia administrativa. Tal princípio institucional elimina qualquer possibilidade de hierarquia diante dos demais agentes políticos do Estado, incluindo os magistrados, promotores de justiça, parlamentares, secretários de estado e delegados de polícia 10. Importante consignar que autonomia funcional não se confunde com independência funcional. A autonomia funcional é uma reserva contra a ingerência de outrem em matérias que sejam afetas exclusivamente à instituição em comento, resultando em garantia própria do órgão público. É a independência deste órgão em relação aos demais entes públicos ou privados. Enquanto que a independência funcional é de titularidade do Defensor Público e não da instituição. Nessa mesma esteira, Hugo Nigro Mazzilli (Regime Jurídico do Ministério Público, Pg.196.), afirma que a autonomia funcional diz respeito ao Ministério Público como instituição, e a independência funcional é uma garantia conferida a cada um de seus órgãos, ou cada um de seus membros, enquanto agentes públicos. Dito isso, pode-se afirmar que a autonomia funcional é a liberdade institucional de decidir o que fazer, dentro dos limites da lei, sem se ater a injunções de outros órgãos do Estado, alheios à instituição (...) (MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público, Pg.189), 9 ALVES, Cleber Francisco; PIMENTA, Marilia Gonçalves. Acesso à Justiça: em preto e branco: Retratos Institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p Paulo Galliez. Princípios Institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2001, p. 44.
8 enquanto a independência funcional significa que os membros da instituição não devem obediência intelectual a quem quer que seja, nem mesmo ao superior hierárquico. Agem em nome da Instituição, de acordo com a lei e sua consciência (...) (GONÇALVES, Edílson Santana. O Ministério Público no Estado Democrático de Direito Pg.66). Conclusão Não é a pobreza que garante o acesso à Defensoria Pública, e sim o exercício da cidadania. Entendimento contrário abrirá espaço para o preconceito. Os princípios institucionais da Defensoria Pública possibilitam aos seus membros meios para que durante o exercício de sua função não fique adstrito a uma atuação técnico-jurídica, devendo, também, aconselhar, orientar e conscientizar extrajudicialmente o seu público alvo. Estes axiomas garantem ao Defensor Público instrumentos para que cumpra sua nobre função de agente responsável pela transformação social, buscando sempre a concretização dos direitos e garantias daqueles que há muito ficaram a margem da prestação jurisdicional. Bibliografia: ALVES, Cleber Francisco; PIMENTA, Marilia Gonçalves. Acesso à Justiça: em preto e branco: Retratos Institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
9 BARROS, Guilherme Freire de Melo. Defensoria Pública Lei Complementar nº. 80/1994. Bahia: Editora Juspodivm, GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. Princípios Institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Lumen Juris, no Estado Democrático de Direito Ministério Público. São Paulo: Saraiva, difusos em juízo. São Paulo: Saraiva, GONÇALVES, Edílson Santana. O Ministério Público MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses MENEZES, Felipe Caldas. Defensoria Pública da União: Princípios Institucionais, Garantias e Prerrogativas dos Membros e um Breve Retrato da Instituição. Defensoria Pública. São Paulo: Malheiros, MORAES, Guilherme Peña de. Instituições da
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