O ENSINO DE CIÊNCIAS COMO PRÁTICA TRANSFORMADORA: UMA EXPERIÊNCIA EDUCATIVA DO MUNICÍPIO DE CARIACICA-ES RESUMO
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1 02826 O ENSINO DE CIÊNCIAS COMO PRÁTICA TRANSFORMADORA: UMA EXPERIÊNCIA EDUCATIVA DO MUNICÍPIO DE CARIACICA-ES RESUMO Cristiane Ramos Teixeira - IFES Maria Luiza de Lima Marques - IFES Eduardo Augusto Moscon Oliveira - UFES Analisa as práticas pedagógicas realizadas na Escola do Campo e Estação de Ciências Margarete Cruz Pereira, em Cariacica-ES, discutindo o ensino de ciências como prática transformadora e a relevância deste espaço para a educação do município. A investigação foi realizada a partir de documentos levantados junto ao órgão central do município e à escola, além de visitas à instituição e diálogos com o seu corpo docente e gestor. O ensino de ciências é elemento fundamental no âmbito educacional. Ele não pode deixar de considerar a perspectiva cultural da ciência, contemplando aspectos históricos, ambientais, éticos e políticos, vinculados aos saberes dos estudantes, de modo a contribuir para a formação da cultura científica. A escola, ao promover o ensino de ciências, necessita proporcionar a formação do cidadão, capaz não só de identificar o vocabulário da ciência, mas também de compreender conceitos e utilizá-los para enfrentar desafios e refletir de forma crítica seu contexto. Como Estação de Ciências, aberta a toda rede municipal, vem favorecer práticas de ensino de ciências, sendo a única opção institucionalizada na rede municipal. A partir do que foi observado na escola, é possível constatar a prática do ensino de ciências com atividades diferenciadas que contemplam a formação integral do aluno como sujeito crítico, ativo e transformador de sua realidade. Alguns desafios são enfrentados para a manutenção desse espaço frente a questões políticas e financeiras, bem como a importância do mesmo na dinamização dos espaços escolares, aproximando ciência, cultura, tecnologia e ambiente aos interesses dos estudantes/cidadãos, em uma perspectiva democrática, crítica e emancipatória. Palavras-chave: Ensino de ciências; Transformação social; Políticas públicas educacionais. INTRODUÇÃO Mudanças significativas vêm ocorrendo no ensino de ciências como o incentivo a projetos voltados para a educação científica e transformações curriculares que incorporem abordagens práticas e problematizadoras das ciências, congregando efetivamente a prática e a reflexão científicas na vida escolar e social dos estudantes. Um dos motivos para essas mudanças é que a educação científica, na atualidade, é apontada como uma área fundamental para o desenvolvimento integral dos alunos, tanto ao nível de funções cognitivas, como da preparação para a cidadania. É tida também com uma das mais importantes vias de progresso tecnológico e econômico das sociedades.
2 02827 A educação científica vem ocupando uma importância central nas políticas educativas do país. A Secretaria Municipal de Educação de Cariacica-ES, seguindo as políticas do governo federal, adotou diversas medidas, dentre elas a criação da Escola do Campo e Estação de Ciências Margarete Cruz Pereira. Assim, esse trabalho tem como foco analisar as práticas pedagógicas realizadas na Escola do Campo e Estação de Ciências Margarete Cruz Pereira em Cariacica-ES, discutindo o ensino de ciências como prática transformadora e a relevância deste espaço para a educação do município. O CONTEXTO SOCIAL E POLÍTICO DA ESCOLA DO CAMPO E ESTAÇÃO DE CIÊNCIAS MARGARETE CRUZ PEREIRA É importante contextualizar para o leitor um pouco da história do município de Cariacica. Pertencente à região metropolitana da Grande Vitória-ES, o município de Cariacica é conhecido pela sua história de instabilidade política, vivida nos anos de 1970 a Por 30 anos foram 19 mandatos de prefeito e uma longa história de corrupção política e desmandos (CARIACICA, 2012). Essa instabilidade política pouco contribuiu para o progresso da cidade. A descontinuidade administrativa trouxe prejuízo para a população que amargava com a falta de serviços essenciais básicos. Só a partir dos anos 2000 o município começa a se restabelecer politicamente e os prefeitos eleitos conseguem cumprir integralmente seus mandatos, mas foi, sobretudo, a partir de 2005 que o município toma novos rumos, com grande destaque para a ampliação dos recursos em políticas sociais, principalmente na educação. Destaca-se ainda a implementação de uma série de medidas para ampliar a gestão participativa e o controle social. É nesse novo cenário político que se dá, em 2009, a aquisição de um espaço para criação da Escola do Campo e Estação de Ciências Margarete Cruz Pereira, dando ênfase a novas possibilidades no campo educacional. A Escola do Campo, que iniciou suas atividades em 2011, foi pensada e justificada desde 2005 em vários momentos junto aos órgãos públicos municipais, por solicitação de produtores e moradores das comunidades da zona rural de Cariacica, pelo desejo de formar seus filhos em valores e conhecimentos que os façam sujeitos produtivo e geradores do trabalho do campo (CARIACICA, 2010, s/p). Essa solicitação justifica-se, pois embora Cariacica esteja inserida na região metropolitana da Grande Vitória-ES, ainda conserva traços marcantes de uma cidade desenvolvida a partir de um contexto rural. 54% de sua área geográfica são de zona rural, mais da metade do território do município. Além da Escola do Campo foi prevista para
3 02828 funcionar, também nesse mesmo lugar, uma Estação de Ciências que entrou em funcionamento em 2009, com o objetivo de servir de pano de fundo para pesquisas e visitação das escolas, visando favorecer a materialização de uma educação de qualidade, possibilitada pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa, socialização e divulgação do conhecimento produzido (CARIACICA, 2010). O ENSINO DE CIÊNCIAS COMO PRÁTICA TRANSFORMADORA Durante muito tempo a ciência foi tida como neutra, verdadeira, feita por e para os cientistas, inacessível a população. Chassot (2011), contrapondo ao cientificismo ainda tão marcante nos dias atuais, descreve que a ciência é uma linguagem construída pelo homem para facilitar a leitura do mundo, logo mutável e falível (p. 61). Traz o conceito de alfabetização científica para expressar a exigência do mundo de hoje da compreensão crítica do todo que o cerca. Para ele, ser alfabetizado cientificamente é saber ler a linguagem em que está escrito o mundo, e ainda mais, entender à necessidade de transformá-lo, e transformá-lo para melhor. Marandino e Krasilchik (2007) afirmam, no entanto, que muitos são os desafios para a promoção do acesso da população a informações científicas, de maneira a levá-la à participação e à tomada de decisões. Apontam que é fundamental a articulação entre as políticas de ciência e tecnologia, de educação e de cultura no sentido de enfrentar o desafio de ampliar a alfabetização científica de seus cidadãos (p. 39). Nesse sentido, a escola, ao promover o ensino de ciências, necessita proporcionar a formação do cidadão, capaz não só de identificar o vocabulário da ciência, mas também de compreender conceitos e utilizá-los para enfrentar desafios e refletir de forma crítica em seu contexto. PRÁTICAS EDUCATIVAS DA ESCOLA DO CAMPO E ESTAÇÃO DE CIÊNCIAS A Estação de Ciências possui um dos mais modernos telescópios do estado do Espírito Santo. Recebe escolas e outros visitantes com circuitos no Observatório Astronômico, dentro de trilhas da Mata Atlântica, mirante, nascentes, reservatórios e piscinas naturais, quadra esportiva, fazendinha, horta mandala, e outros. De acordo com seus registros, recebeu nos últimos anos instituições de pesquisa de diversas partes do Brasil para aulas de campo e pesquisas científicas. A Escola, com a proposta de um ensino voltado para o homem do campo, desenvolve um projeto de Vivências
4 02829 Educativas no Campo, que consiste em atividades diárias de manutenção da horta e jardim, alimentação dos animais etc., integrados aos demais projetos desenvolvidos na escola. Esses projetos são trabalhados de forma recorrente a cada ano letivo com temas como: Mata Atlântica e biodiversidade; água fonte de vida; alimentação saudável; permacultura horta mandala e produção de composto orgânico; solo formação, tipos e cuidados; paisagens naturais e modificadas; oficina de lunetas astronômicas; entre outras, contemplando os conteúdos da matriz curricular inerentes a cada área de ensino de modo interdisciplinar. As práticas educativas, em sua maioria, são iniciadas por uma atividade problematizadora ligada à realidade dos alunos. A esse respeito Chassot (2003; 2011) pontua que a escola precisa ter um ensino cada vez mais dinâmico, que possibilite aos alunos se transformarem, tornando-os homens e mulheres mais críticos. Nesse sentido, a Escola do Campo e Estação de Ciências Margarete Cruz Pereira vem se constituindo como um espaço com grande potencial educativo em todas as áreas de ensino, principalmente no ensino de ciências, na medida em que aproxima os estudantes e visitantes da prática científica, reduzindo o conteudismo abstrato. De acordo com Jacobucci (2008), espaços como a Estação de Ciências se constituem como espaços educativos não formais e são aliados das escolas na formação da cultura científica. Nessa perspectiva, a Estação de Ciências vem favorecer práticas de ensino de ciências que possibilitem aos alunos analisar, sintetizar, avaliar e construir/reconstruir os conceitos apreendidos durante as aulas de ciências, dinamizando os ambientes educacionais, aproximando ciência, cultura, tecnologia e ambiente aos interesses dos estudantes/cidadãos, em uma perspectiva democrática, crítica e emancipatória, a partir da realidade dos mesmos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar do grande potencial educativo e a importância desse espaço para o ensino de ciências no município, percebe-se que muitos são os desafios e as dificuldades encontradas para a implementação da Escola do Campo e Estação de Ciências Margarete Cruz Pereira. Os profissionais ainda não têm total conhecimento da proposta de alcance social desse espaço e também dos projetos a serem implementados, o que dificulta ainda mais com a rotatividade dos mesmos a cada final de ano letivo, uma vez que sua maioria é contratada. A escola apresenta mais características de uma
5 02830 escola urbana localizada na zona rural do que uma escola com uma proposta pedagógica voltada para as necessidades da população do campo. Também, há problemas estruturais e de acesso. As estradas são mal conservadas e não recebem a atenção devida. Em dias de chuva, por exemplo, o transporte de alunos e professores fica inviável, o que obriga o deslocamento para outro local, para a realização das aulas, prejudicando os trabalhos em curso e suspensão das atividades da Estação de Ciências. O alto custo financeiro para manutenção da Escola do Campo e Estação de Ciências está causando certa estranheza aos novos governantes, acostumados a custos homogênicos na educação. No último ano não houve investimentos financeiros e em pesquisas pedagógicas para implementação desse espaço. A Estação de Ciências recebeu apenas a visita de três escolas municipais por dificuldade de transporte, entre outras. A Escola do Campo e Estação de Ciências Margarete Cruz Pereira, a partir de políticas públicas educacionais e com investimento financeiro adequado, pode contribuir para mudar a realidade dos alunos, dinamizando os ambientes educacionais, por meio do conhecimento científico que pode ser trabalhado nesse espaço, oportunizando aos alunos a aquisição de conhecimento sobre a ciência para poder entender o meio em que vivem e transformá-lo. REFERÊNCIAS CARIACICA, Secretaria Municipal de Educação de. Escola do Campo: Projeto e Proposta Pedagógica. Cariacica, Prefeitura Municipal de. Cariacica em Dados: Indicadores Socioeconômicos ed. Cariacica: PMC, CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, N.22, jan./abr, Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 5. ed. rev. Ijuí: Unijuí, JACOBUCCI, Daniela Franco Carvalho. Contribuições dos espaços não-formais de educação para a formação da cultura científica. Revista Em extensão, Uberlândia, v.7., p , MARANDINO. Martha; KRASILCHIK, Myriam. Ensino de ciências e cidadania. Cotidiano escolar: ação docente. 2. ed. Moderna: São Paulo, 2007.
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