SETOR SUCROENERGÉTICO: QUESTÕES RELEVANTES PARA OS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (JUNHO 2018)
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- Ana Laura Leveck Cunha
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1 SETOR SUCROENERGÉTICO: QUESTÕES RELEVANTES PARA OS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (JUNHO 2018) QUEM SOMOS: - O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, tendo processado mais de 630 milhões de toneladas na safra 2017/18, por meio de 365 usinas no País e produtores rurais de cana-de-açúcar. - O PIB do setor na safra 2017/2018 foi da ordem de R$ 85 bilhões, gerando cerca de 800 mil empregos diretos em mais de 20% dos municípios do Brasil. - O sucroenergético é o 2º setor agropecuário mais importante para a balança comercial brasileira, gerando cerca de 12 bilhões de dólares anuais em exportações. Além de maior produtor e exportador mundial de açúcar, o Brasil é também o 2º maior produtor e exportador de etanol do mundo. - Do ponto de vista da utilização do etanol no País, a oferta do etanol hidratado no mercado interno permitiu que o Brasil economizasse com importação de gasolina. Já temos uma frota flex da ordem de 27 milhões de veículos (73% da frota de automóveis) e de 4 milhões de motos flex (30% da frota de motocicletas). - O etanol possibilita uma importante redução na pegada de carbono da matriz energética do setor de transportes, em linha com as necessidades do Brasil para cumprimento de seus compromissos firmados em 2015, no Acordo do Clima de Paris (COP 21), de redução na emissão de Gases de Efeito Estufa em 43% até 2030, tendo como referência as emissões em Quando comparado com a gasolina, o etanol evita em até 90% a emissão de gás carbônico (CO2) ao longo de seu ciclo de vida (desde a produção da cana até o uso como combustível), vantagem que nenhum outro combustível produzido e distribuído em escala comercial oferece. Desde 2003, seu uso, seja na forma de anidro (27% misturado à gasolina) ou hidratado (direto na bomba), evitou mais de 450 milhões de toneladas de CO2eq. Em termos de ordem de grandeza, este volume é equivalente às emissões individuais de países como Itália, Espanha e França em Esses ganhos vêm acompanhados de outro formidável benefício ambiental, que é a redução significativa na emissão de outros poluentes atmosféricos, como os óxidos de enxofre, as partículas inaláveis finas e os hidrocarbonetos tóxicos. Essas características qualificam o etanol como o melhor combustível para os veículos flex. - Outra fonte de energia limpa proveniente da cana que também permite evitar emissões é a Bioeletricidade. Produzida a partir do bagaço e da palha da planta, somente em 2017, esta energia ofertada para a rede evitou as emissões de aproximadamente 7,5 milhões de CO₂ na atmosfera, marca que somente seria atingida com o cultivo de 53 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos. - Por fim, a participação dos derivados da cana na matriz energética brasileira representa mais de 17%, sendo atualmente a 1ª fonte dentre as energias renováveis, superior inclusive à hidráulica (aproximadamente 13% da matriz) e a 2ª fonte dentre todas as fontes de energia (renováveis e não-renováveis), inferior apenas ao petróleo e derivados. 1
2 PRINCIPAIS QUESTÕES PARA O SETOR: 1. Política Nacional de Biocombustíveis (Renovabio): Aprovado pelo Congresso Nacional no final de 2017, o RenovaBio representa um dos mais importantes marcos na política pública brasileira, buscando, de forma inédita, estabelecer uma estratégia conjunta entre agentes públicos e privados, no intuito de gerar previsibilidade e valorizar o papel de todos os biocombustíveis como instrumentos para a descarbonização da matriz de transportes, em conformidade com as metas do Brasil no âmbito do Acordo de Paris. Além dos benefícios ambientais, o Programa trará também significativos investimentos, com impactos diretos sobre o emprego e a renda, distribuídos em mais de 30% dos municípios brasileiros. Finalmente, ainda terá como resultado a redução da dependência do petróleo importado e aumento da segurança energética do País. Recentemente, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou a meta de redução de emissões de carbono pela matriz de combustíveis do País em 10,1% até o fim de Vale ressaltar que o RenovaBio é um mecanismo de mercado, e não de subsídio ou novo imposto. Com metas de redução das emissões para distribuidoras, acompanhas pela comercialização de créditos de descarbonização (CBios) em bolsa de valores, haverá maior reconhecimento aos biocombustíveis mais eficientes, impulsionando a inovação tecnológica nos setores de biocombustíveis e de transporte. Esta Política Nacional de Biocombustíveis, instituída pela Lei de 26 de dezembro de 2017, encontra-se na sua fase de regulamentação, que deve se estender, até o final de 2019, quando todos os mecanismos para a sua operacionalização devem estar efetivamente concluídos para início efetivo em Pergunta 1: Qual será o posicionamento do candidato em relação ao Programa RenovaBio? 2. Precificação dos combustíveis fósseis e competitividade do etanol: A partir da recente greve dos caminhoneiros, ganhou evidência uma ampla discussão sobre a precificação da gasolina pela Petrobras, por meio de mecanismos que vão desde a redução da tributação incidentes sobre os combustíveis, impostos flutuantes, e até mesmo subsídios para controle de preços. A equação que envolve, de um lado, a garantia da rentabilidade da empresa e, de outro, a previsibilidade de preços e preços mais baixos ao consumidor, é de difícil solução. Dependendo das medidas consideradas, há um risco de se gerar um desequilíbrio na atual estrutura tributária da matriz, que atualmente reconhece as externalidades positivas do etanol frente ao combustível fóssil, e como consequência, retirar a vantagem competitiva do renovável em relação ao fóssil. Políticas de congelamento de preços da gasolina que vivenciamos no passado causaram um prejuízo sem precedentes ao setor de etanol, levando ao fechamento e/ou pedidos de recuperação judicial de mais de 20% de todas as usinas brasileiras. Pergunta 2: Nesse sentido, qual será o posicionamento do candidato em relação à precificação da gasolina no Brasil e como garantir o diferencial competitivo do etanol frente ao fóssil? 2
3 3. O etanol e a indústria automobilística Os benefícios ambientais e para a saúde pública qualificam o etanol como o melhor combustível para os veículos flex. Entretanto, as vantagens podem ser incrementadas com a melhoria na eficiência energética no uso do biocombustível, viável de ser atingida com calibrações mais refinadas nos motores de geração atual e, especialmente, nos motores em desenvolvimento para os próximos anos. Com a implantação de políticas industriais inteligentes e tecnologicamente inovadoras, os veículos poderão ter um desempenho cada vez melhor com o etanol, fazendo com que a paridade entre o biocombustível e a gasolina chegue a 80%. Outra opção que se vislumbra em curto prazo no mercado automobilístico brasileiro, já anunciada por pelo menos uma montadora, e que certamente será seguida por outras empresas, é a utilização do etanol em veículos híbridos equipados com motores elétricos associados a motores flex. Essa configuração relaciona as excelentes qualidades do etanol com a elevada eficiência energética e baixa emissão de poluentes e gás carbônico desse tipo de veículo. Podese afirmar que um veículo híbrido de alta eficiência operando com etanol pode resultar em menor impacto ambiental que um veículo elétrico a bateria, carregado com energia gerada a partir do carvão mineral ou petróleo, como é comum em muitos países, como os EUA, China e países do leste europeu. No campo da inovação tecnológica voltada para a mobilidade no médio e longo prazos, poderemos ter veículos movidos com células de combustível a etanol. Trata-se de um conceito revolucionário de geração de eletricidade a bordo do veículo a partir do etanol e suprimento dessa energia para um motor elétrico que será o responsável por sua propulsão. Um protótipo já foi apresentado no país em 2016 e vem sendo testado e aprimorado. Testes preliminares apontam para uma autonomia de cerca 630 km com um tanque de 30 litros de etanol. No campo dos veículos pesados, empresas automobilísticas estudam a viabilidade de produção de ônibus híbridos a etanol. Veículos com essas características podem competir com similares convencionais a diesel, entretanto, com menor ruído e menor emissão de poluentes e de gás carbônico. Outra possibilidade de uso do biocombustível nesse segmento é o aprimoramento da tecnologia de veículos bicombustível etanol/diesel, já demonstrada em passado recente e que poderá se tornar viável dependendo de sua competitividade. Semelhante ao que ocorre com a gasolina, o etanol apresenta potencial para substituir parcela considerável do óleo diesel consumido no Brasil e agregar ainda mais vantagens ambientais ao transporte. Pelo visto, as oportunidades para o etanol e os benefícios resultantes de seu uso recomendam ações concretas para que a sua utilização seja otimizada e ampliada. Pergunta 3: Qual será o posicionamento do candidato em relação a políticas voltadas aos automóveis que privilegiem este combustível nacional, limpo e renovável? 4. Bioeletricidade A capacidade atual instalada pela fonte biomassa, em geral, supera à instalada pela usina Itaipu, ocupando a 3ª posição na matriz elétrica brasileira, atrás apenas das hidrelétricas e das termelétricas de combustíveis fósseis. 3
4 Em 2017, 91% da energia gerada pela biomassa da cana para a rede ocorreu entre abril e novembro, quando as hidrelétricas estavam com reservatórios baixos. Esta característica faz da bioeletricidade uma fonte complementar a hidrelétrica. No ano passado, estima-se que a geração de bioeletricidade para a rede tenha poupado o equivalente a 17% da água nos reservatórios do submercado Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) no período mais seco do ano, que é coincidente com a safra sucroenergética. Além disso, permite significativa redução das perdas de transporte da energia e economia de investimentos em transmissão, pois a geração de bioeletricidade ocorre predominantemente próxima aos grandes centros consumidores e de forma distribuída, reduzindo as perdas técnicas do sistema. Em 2017, 84% da geração de bioeletricidade para a rede se concentrou no submercado SE/CO, responsável por quase 60% do consumo nacional. Finalmente, a geração de bioeletricidade é bastante estável e previsível ao longo do ano, sobretudo pela predominância da biomassa da cana como fonte. Por isso é classificada como sazonal. Agregar bioeletricidade ao sistema significa contribuir para sua confiabilidade e para a mitigação dos efeitos da expansão das fontes intermitentes na matriz elétrica brasileira. Ainda assim, considerando o aproveitamento pleno da biomassa existente (bagaço, palha e do biogás), exploramos menos de 15% do potencial técnico de geração de bioeletricidade para a rede. Na última safra de cana, esse potencial era de 145 TWh, algo como quase quatro usinas do porte de Belo Monte. Entretanto, em 2017, exportou-se para a rede apenas 21 TWh, mostrando que existe ainda uma boa margem para melhorar o aproveitamento dessa fonte renovável e sustentável, a partir de uma biomassa já existente nos canaviais. Para reduzir este hiato entre a geração efetiva de bioeletricidade e seu potencial, é importante estabelecer uma política setorial estimulante e de longo prazo, com diretrizes claras e de continuidade, buscando garantir o uso eficiente deste recurso energético renovável. Pergunta 4: Qual o posicionamento do candidato em relação ao papel da bioeletricidade e biogás sucroenergéticos e como estimular o aproveitamento do potencial de geração de energia desses recursos renováveis e sustentáveis? 5. Açúcar e saúde: Outro importante produto de nossa cadeia produtiva é o açúcar, que atualmente sofre uma vilanização e categorização como alimento danoso à saúde, desconsiderando sua relevância na dieta do brasileiro, de forma equilibrada, como fonte barata de energia. Medidas restritivas e proibitivas ao consumo desse alimento essencial e atrativo ao paladar não têm se mostrado eficazes no combate a doenças crônicas não transmissíveis. Também não promovem mudanças estruturais no estilo de vida do consumidor e ainda ferem o direito fundamental de escolha. Entendemos ser necessário, portanto, a ampliação de ações intersetoriais que repercutam positivamente sobre os diversos determinantes da saúde e nutrição, envolvendo todos os setores da sociedade na discussão de políticas e propostas que estimulem a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população. Questão 5. Qual é a posição do candidato em relação a essa discussão entre consumo equilibrado e vida saudável vis à vis a vilanização de determinados alimentos e ingredientes? 4
5 6. Barreiras e oportunidades para açúcar e etanol de cana no mercado internacional O Brasil é responsável por 45% do mercado global de açúcar. Entretanto, este é um dos mercados mais protegidos por barreiras tarifárias e não-tarifárias. O Brasil tem sido um dos países mais prejudicados e penalizados por muitas destas práticas distorcivas de comércio. Nesse sentido, espera-se que o governo brasileiro possa atuar na esfera política e, quando necessário, no âmbito do órgão de solução de controvérsias da OMC em relação a diversos países, tais como Tailândia (subsídios diretos e cruzados), China (salvaguardas), Paquistão (subsídios à exportação) e outros, que atualmente adotam políticas questionáveis sob a ótica das regras internacionais. Sendo também o maior produtor de etanol de cana do mundo, o Brasil deve buscar oportunidades de abertura de mercado para este produto. O objetivo é promover maior cooperação e comércio via programas de incentivo ao uso de biocombustíveis e energias renováveis em diversos mercados como Estados Unidos, em especial Califórnia, União Europeia, Japão e China. Ainda enfrentamos barreiras tarifárias, regulatórias e de imagem que dificultam as exportações. Por isso, o apoio do governo brasileiro para reforçar os benefícios e a sustentabilidade do etanol de cana nos potenciais mercados é fundamental. Além disso, é fundamental a inclusão do açúcar e do etanol nos diversos acordos atualmente em andamento ou em fase inicial - com outros mercados no âmbito do Mercosul, a exemplo da União Europeia, Japão, Canadá e Coreia. Pergunta 6. Qual é a posição do candidato em relação às barreiras comerciais, especialmente referentes ao açúcar, um dos produtos mais importantes da nossa pauta de exportação e as oportunidades para o etanol em novos acordos bilaterais de comércio? 5
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