Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2007/ ) (f) RELATOR RECORRENTE ADVOGADOS RECORRIDO ADVOGADO INTERES. PROCURADOR INTERES. ADVOGADO INTERES. ADVOGADO : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO : BANCO ABN AMRO REAL S/A : SIRLEI MARIA RAMA VIEIRA SILVEIRA E OUTRO(S) LUIZ CARLOS STURZENEGGER E OUTRO(S) : MARGO DE OLIVEIRA MULLER : VERA CONCEIÇÃO PACHECO E OUTRO(S) : BANCO CENTRAL DO BRASIL - "AMICUS CURIAE" : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS FEBRABAN - "AMICUS CURIAE" : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S) : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR IDEC : MARIA ELISA CESAR NOVAIS E OUTRO(S) EMENTA RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. BANCÁRIO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. VIOLAÇÃO ART. 535 CPC. NÃO OCORRÊNCIA. DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS. SÚMULA 382/STJ. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. AFASTAMENTO. MANUTENÇÃO DE OUTROS ENCARGOS MORATÓRIOS. 1. Não há que se falar em violação ao artigo 535 do CPC pois o Tribunal de origem dirimiu as questões pertinentes ao litígio, afigurando-se dispensável que venha examinar uma a uma as alegações e fundamentos expendidos pelas partes. 2. Apesar da incidência do CDC na relação entre o contratante e a instituição financeira, é firme o entendimento de que o julgamento realizado de ofício pelo Tribunal de origem ofende o art. 515 do CPC. Precedentes. 3. Não demonstrada a cabal abusividade na pactuação dos juros remuneratórios, mantém-se a taxa pactuada e afasta-se a limitação em 12% ao ano. Súmula 382/STJ. 4. Verificada a presença de outros encargos moratórios, afasta-se a comissão de permanência. Súmulas 30, 294 e 296/STJ. 5. Recurso especial provido, em parte. DECISÃO 1. Cuida-se, na origem, de ação revisional de contrato de financiamento ajuizada por Margo de Oliveira Muller em face de Banco ABN AMRO Real S/A, objetivando a declaração da nulidade de cláusulas supostamente abusivas, referentes à taxa de juros remuneratórios e à capitalização mensal de juros. Na inicial, a autora buscou a limitação da taxa de juros em 12% ao ano, a Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 10/09/2012 Página 1 de 6

2 declaração da vedação ao anatocismo e o reconhecimento da possibilidade de repetição do indébito. Requereu antecipação de tutela com o intuito de fazer prevalecer a taxa de juros remuneratórios de 12% ao ano. Solicitou, ainda: "Concedida a tutela, caso a Requerida negue-se a receber o valor das prestações considerando o valor com aplicação de juros de 12% ao ano, ou ainda caso não concedida a tutela jurisdicional antecipada, e com o intuito de evitar atrasos nos pagamentos das prestações, PRETENDE o Autor consignar em Juízo o valor das prestações a partir do vencimento em e as vincendas, com juros de 12% ao ano, até decisão final" (fl. 09). Após concedido o benefício da assistência judiciária gratuita, foi deferido o pedido de depósito da prestação vencida e das vincendas, por risco e conta da autora, por se tratar de valor que não corresponde à integralidade (fl. 15). A instituição financeira apresentou contestação às fls A autora, em réplica, reiterou o pedido de procedência dos pleitos suscitados na exordial (fls ). Na tréplica, o Banco réu salienta que, apesar da oferta inicial e da existência de parcelas vencidas, a autora não efetuou qualquer depósito. Assim, requereu a intimação dessa para realizar o mencionado depósito, bem como para firmar termo de fiel depositária. Pugnou pelo julgamento antecipado da lide e pela improcedência do pedido inicial (fls ). Depois de demonstrados os depósitos (fls ), foi prolatada sentença julgando procedentes os pleitos nos seguintes termos: Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE para determinar à parte ré que compense ou devolva os valores que ultrapassaram o devido, determinando: a) a taxa dos juros compensatórios em 12%; b) a capitalização anual; c) a utilização do IGP-M como índice de correção; d) o afastamento da comissão de permanência; e) limitar os juros moratórios em 1% ao ano e f) permitir a cobrança de multa moratória em 2%. A sentença deverá ser liquidada através de arbitramento por perícia (art. 606 do CPC), considerando todos os valores pagos pela parte autora. Condeno a parte ré ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. Arbitro os honorários advocatícios ao patrono da parte autora em 15% sobre o excesso cobrado. (fl. 71) A apelação interposta em face desse decisum não foi provida, conforme acórdão assim resumido: APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, POSSIBILIDADE DE REVISÃO DO CONTRATO E DECLARAÇÃO EX OFFICIO DA NULIDADE DE CLÁUSULAS ABUSIVAS. O Código de Defesa do Consumidor é norma de ordem pública, que autoriza a revisão contratual e a declaração de nulidade de pleno direito de cláusulas contratuais abusivas, o que pode ser feito até mesmo de ofício pelo Poder Judiciário. JUROS REMUNERATÓRIOS. Sendo inadmissível a excessiva onerosidade do contrato, a cobrança de juros abusivos é nula, especialmente em período Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 10/09/2012 Página 2 de 6

3 de estabilidade econômica. Juros reduzidos para 12% ao ano. Aplicação do art. 51, IV, do CDC. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. O anatocismo é vedado em contratos da espécie, por ausência de permissão legal, ainda que expressamente convencionado. Disposição de ofício. ENCARGOS MORATÓRIOS. - Comissão de Permanência. É vedada a cumulação de comissão de permanência com correção monetária, juros remuneratórios, juros de mora e multa contratual. Também proibida a cobrança de comissão de permanência sem prévia estipulação de índice, em especial quando a sua apuração é contratualmente franqueada à instituição financeira. - Base de cálculo da multa. A multa contratual de 2% deve ser calculada sobre o valor da prestação efetivamente em atraso. - Inocorrência de Mora Debendi. Em virtude da não configuração da mora do devedor, são inexigíveis os ônus a título de mora. Disposição de ofício. COMPENSAÇÃO E REPETIÇÃO DE INDÉBITO. Diante da excessiva onerosidade e abusividade do contrato, é cabível a repetição simples de indébito ainda que não haja prova de que os pagamentos a maior tenham sido ocasionados por erro. Disposição de ofício. Apelação desprovida, com disposições de ofício. (fl. 106). Os embargos de declaração opostos pelo banco réu não foram conhecidos, consoante revela a ementa a seguir: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA DE MÉRITO. OMISSÕES, OBSCURIDADES E CONTRADIÇÕES NÃO CONFIGURADAS. A ausência de menção a dispositivo legal, por si só, não é suficiente para embasar a interposição dos embargos declaratórios. Questões amplamente discutidas quando do julgamento do recurso. Impossibilidade de rediscussão da matéria de mérito. Inexistência de obscuridade, omissão ou contradição. Embargos de declaração não-conhecidos (fl. 124). Irresignado, o Banco ABN AMRO Real S/A interpõe o presente recurso especial fundado no art. 105, III, "a" e "c", da Constituição Federal de Aponta como contrariados os arts. 128, 460, 512, 515 e 535 do CPC; 4º da Lei n /64 e 5º da MP /2001, além de suscitar dissídio com a jurisprudência desta Corte, bem como com a Súmula 596/STF. Sustenta que, malgrado tenham sido opostos embargos declaratórios, o Tribunal a quo quedou-se silente quanto à alegada impossibilidade de julgamento de ofício acerca de questões não arguidas na apelação. No tocante à taxa de juros remuneratórios, argumenta que a Lei de Usura não se aplica à espécie, como preconiza a Súmula 596/STF. Salienta que o art. 406 do novo Código Civil revogou os arts e do anterior, não mais existindo no mencionado Codex limitação da taxa de juros em 12% e ressalta que "o artigo 406 versa expressamente sobre taxa de juros moratórios, de forma que não se presta para embasar a limitação dos juros remuneratórios" (fl. 141). Cita precedente desta Corte a fim de corroborar a assertiva de que o art. 406 e 691 do CC/2002 não são aplicáveis nos contratos de mútuo bancário. Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 10/09/2012 Página 3 de 6

4 Defende a possibilidade de capitalização mensal de juros, nos termos do art. 5º da MP /2001, que continuaria em vigor por força do art. 2º da EC 32/01. Observa que essa norma, por ser especial, deve prevalecer em relação à Lei de Usura e ao art. 591 do CC/2002. Assevera que quanto "à alegação de inexistir previsão contratual da capitalização dos juros em periodicidade mensal, esta não procede, tendo em vista que, conforme se depreende do contrato juntado aos autos, onde se lê, no campo 'Taxa Efetiva Juros Ano', e no campo 'Taxa Efetiva Juros Mês', verifica-se que houve aplicação expressa da capitalização mensal dos juros" (fl. 143). Mais adiante, afirma que no contrato, "na cláusula IV - Especificações do Crédito, consta a indicação da 'Taxa de Juros Mês' (2,44%) e da 'Taxa de Juros Ano' (33,55%)" (fl. 190). No que se refere à comissão de permanência, diz que essa foi devidamente estipulada, tendo como índice a taxa média de mercado, calculada e apontada pelo Banco Central. Indica precedentes que consideram possível a cobrança da aludida comissão em caso de mora, desde que não cumulada com a correção monetária, os juros remuneratórios, a multa contratual ou os juros moratórios. Ao final, insurge-se contra as disposições de ofício efetuadas pelo Tribunal a quo, por não serem permitidas. Não foram apresentadas contrarrazões (fl. 195). Admitido o recurso (fls ), subiram os autos a esta Corte e, diante da multiplicidade de recursos acerca do tema, foi afetado o seu julgamento à Segunda Seção, procedendo-se de acordo com o art. 543-C do CPC e com a Resolução nº 08/2008 do STJ. As partes interessadas manifestaram-se às fls Parecer do Ministério Público Federal às fls Na sessão da Segunda Seção realizada em 25/4/2012, em questão de ordem suscitada por esta relatoria, o presente recurso foi desafetado do rito previsto no art. 543-C do Código de Processo Civil, voltando a tramitar perante a Quarta Turma. É o relatório. DECIDO. 2. Inicialmente, não merece prosperar o recurso especial em relação à letra c, do inciso III, do artigo 105 da Constituição da República. O recorrente se ateve à transcrição de julgados, sem efetuar o necessário cotejo analítico, identificando as similitudes fáticas e confrontando as diferentes teses jurídicas efetivamente decididas, além do que deixou de colacionar cópia autenticada dos julgados discrepantes, de modo que não restou comprovada a alegada divergência jurisprudencial. 3. O acórdão embargado não possui vício a ser sanado por meio de embargos de declaração, uma vez que o Tribunal de origem se manifestou acerca de todas as questões relevantes para a solução da controvérsia, tal como lhe fora posta e submetida. Ademais, não cabe alegação de violação do artigo 535 do CPC, quando a Corte de origem aprecia a questão de maneira fundamentada, apenas não adotando a Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 10/09/2012 Página 4 de 6

5 tese da recorrente. 4. Não obstante a relação jurídica existente entre o contratante e a instituição financeira ser disciplinada pelo Código de Defesa do Consumidor, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça entende que o julgamento realizado de ofício pelo Tribunal de origem ofende o princípio tantum devolutum quantum appellatum, previsto no artigo 515 do CPC, conforme manifestado pelo Min. Cesar Asfor Rocha no julgamento do Resp /RS: "não se tratando de questões relacionadas às condições da ação, as matérias que não foram objeto da apelação não podem ser examinadas pelo tribunal". Precedentes: Eresp /RS, Rel. para acórdão Min. Humberto Gomes de Barros; AgRg no REsp /RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em , DJe ; REsp /RS, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em , DJe ; AgRg no REsp /RS, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, julgado em , DJe Compulsando os autos, verifica-se a existência de disposições realizadas de ofício pelo Tribunal de origem referente à proibição da capitalização dos juros em qualquer periodicidade, à não ocorrência de mora debendi, e à possibilidade de compensação e repetição de indébito, o que torna prejudicado o exame do mérito das matérias trazidas no especial no tocante a tais disposições. 5. A jurisprudência desta Corte é assente no sentido de que os juros remuneratórios cobrados pelas instituições financeiras não sofrem a limitação imposta pelo Decreto n /33 (Lei de Usura), a teor do disposto na Súmula 596/STF, de forma que a abusividade da pactuação dos juros remuneratórios deve ser cabalmente demonstrada em cada caso, com a comprovação do desequilíbrio contratual ou de lucros excessivos, sendo insuficiente o só fato de a estipulação ultrapassar 12% ao ano ou de haver estabilidade inflacionária no período, o que não ocorreu no caso dos autos. No mesmo sentido, vale destacar os seguintes julgados desta Corte: AgRg no REsp /SC, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em , DJe ; AgRg no Ag /DF, Rel. Ministro Fernando Gonçalves, Quarta Turma, julgado em , DJ , p. 331; AgRg no REsp /RS, Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa, Quarta Turma, julgado em , DJ , p Consoante entendimento assente na 2ª Seção desta Corte Superior, admite-se a comissão de permanência durante o período de inadimplemento contratual, à taxa média dos juros de mercado, limitada ao percentual fixado no contrato (Súmula 294/STJ), desde que não cumulada com a correção monetária (Súmula 30/STJ), com os juros remuneratórios (Súmula 296/STJ) e moratórios, nem com a multa contratual. Dentre inúmeros, observe-se os seguintes julgados: AgRg no REsp /MS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em , DJe ; AgRg no REsp /RS, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em , DJe ; REsp /RS, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, julgado em , DJe ; e AgRg no REsp /RS, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, julgado em , DJe ). Nesta esteira, há de ser afastada a incidência da comissão de permanência, tendo em vista ter sido constatada no caso concreto a presença dos demais encargos moratórios para o período de inadimplência e, com isso, conformando-se ambas as Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 10/09/2012 Página 5 de 6

6 partes. Portanto, a decisão, quanto ao ponto, fica acobertada pelo trânsito em julgado, na medida em que foram admitidos tais encargos moratórios pelas instâncias ordinárias sem interposição de recurso a esse respeito. 7. Ante o exposto, dou parcial provimento ao recurso especial para afastar as disposições analisadas de ofício pelo Tribunal de origem, bem como a limitação dos juros remuneratórios à taxa de 12% ao ano. Custas e honorários advocatícios, observado quanto a estes o percentual fixado na origem, a serem suportados pelo autor, ressalvado o disposto no art. 12 da Lei n /50. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 17 de agosto de MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO Relator Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 10/09/2012 Página 6 de 6