Comunicação ENSINO INTEGRADO DE ARTES: UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL. Palavras-Chave: Ensino de Arte; Artes integradas; Arte na escola

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1 Comunicação ENSINO INTEGRADO DE ARTES: UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL Profª Drª Denise Álvares Campos (Coord.) Profª Mara Veloso de Oliveira Barros Prof. Esp. Wanderley Alves dos Santos Universidade Federal de Goiás Palavras-Chave: Ensino de Arte; Artes integradas; Arte na escola INTRODUÇÃO Um dos grandes desafios pedagógicos para o ensino de arte na contemporaneidade é a busca por torná-lo significativo para o aluno. Torna-se necessária uma prática que favoreça o reconhecimento do contexto cultural da comunidade onde se encontram inseridos os sujeitos para os quais esses currículos de ensino de arte estão destinados. Daí o currículo de ensino de arte deve estar adequado a uma realidade social, resgatando os valores artísticos de determinada comunidade e, também, favorecendo a compreensão e o acesso a outras produções de outras comunidades, sociedades e, porque não, do universo artístico apresentado pela história da arte mundial. História da arte mundial que apresenta documentos artísticos que retratam sociedades e povos, tempos e conquistas, preconceitos e interesses de todo o gênero, captados pelos mestres das artes em todas as suas modalidades. Um currículo de ensino de artes contemporâneo deve, assim, procurar uma abordagem integrada entre as diversas linguagens artísticas que compõem o ensino de artes na educação básica. Essa integração parte da questão da interdisciplinaridade, tão discutida e estimulada atualmente. A razão do interesse dos educadores por este tema decorre de que O enfoque interdisciplinar consiste num esforço de busca da visão global da realidade, como superação das impressões estáticas, e do hábito de pensar fragmentador e simplificador da realidade (LÜCK, 1994, P.72).

2 Mas, antes de avançarmos em busca de uma integração entre diferentes áreas de conhecimento, vemos que nem mesmo na área do ensino de arte temos conseguido tal integração. Dentre os autores relacionados a essa área, no entanto, há alguma preocupação nesse sentido. Murray Schafer, músico e educador canadense, preocupa-se com esta fragmentação da experiência artística, a qual ele chama de fragmentação do sensorium : (...) uma total e prolongada separação dos sentidos resulta em fragmentação da experiência. (...) Em um determinado momento, poderíamos ainda isolar as artes individuais como estudos separados, mas tendo sempre em mente que fazemos isso com o propósito de desenvolver acuidades sensoriais específicas. Este seria o período central de estudos. Finalmente, havendo já limpado cada uma das lentes da percepção, voltaríamos a uma reconfiguração de todas as formas de arte, dentro da obra de arte total uma situação na qual arte e vida seriam sinônimos. (SCHAFER, 1991, p.291). Nesse viés é que o grupo de educadores em arte, do Cepae/Ufg (Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás), colocou seu interesse investigatório, procurando respostas para algumas perguntas, tais como: de que forma conseguir uma prática integrada de ensino de arte significativa para os alunos? Quais possibilidades reais existem para que isso ocorra no espaço escolar? Não há uma busca pela polivalência, abordagem na qual um único professor trabalha todas as linguagens artísticas. Tal experiência, comum em outros momentos da história do ensino de arte no Brasil, segundo Ana Mae, apresentou-se inadequada, porque resultou em um... ensino inócuo, uma educação estética descartável, um fazer artístico pouco sólido... (BARBOSA, 1984, p.88). A interdisciplinaridade que o grupo busca estaria mais próxima de uma integração alocêntrica, que (...) é a exploração dos princípios organizadores e da gramática articuladora da obra de arte na música, na expressão corporal, nas artes visuais e no teatro separadamente, levando, entretanto o aluno a perceber o que há de similar e de diferente entre as linguagens artísticas (BARBOSA, 1984, p. 88). A pesquisa, portanto, caracteriza-se, metodologicamente, como uma investigação que os próprios professores fazem de sua prática. Nesse sentido, poderia ser chamada de pesquisa-ação que ocorre, por exemplo,... quando professores trabalham em conjunto ou, ainda, quando trabalham junto aos alunos

3 para melhorar os processos de ensino e aprendizagem na sala de aula (PEREIRA e ZEICHNER, 2002, P. 46). Tem como objetivo geral associar linguagens artísticas, estabelecendo conexões entre a equipe de professores de Arte do Cepae e os programas específicos de cada linguagem, visando à construção de uma proposta curricular integrada, que resulte na melhor formação dos alunos. Os objetivos específicos são: Integrar a equipe de professores do ensino de Arte do Cepae; atualizar a bibliografia utilizada pela equipe: pesquisa, aquisição e leitura de obras relacionadas ao tema da pesquisa; propiciar um espaço de reflexão, interação e discussão sobre as múltiplas relações das diversas linguagens artística; realizar estudos empíricos específicos, visando uma síntese posterior; iniciar reflexões sobre a possibilidade da organização de estágios interdisciplinares no âmbito do Cepae e refletir, a partir dos dados coletados, sobre a melhor forma de integração entre as linguagens. Para a realização da pesquisa, dentre os procedimentos que vêm sendo desenvolvidos estão à pesquisa bibliográfica e os encontros da equipe para planejar, refletir e re-planejar as ações pedagógicas. Tais ações são os estudos empíricos planejados e executados em cada ano letivo (no período compreendido entre 2006 e 2009) de diferentes maneiras. Dentre esses estudos empíricos, já é possível apresentar os resultados da experiência desenvolvida em A proposta era que houvesse uma atuação conjunta dos professores de artes visuais, teatro e música nas 8ªs séries da 2ª Fase do Ensino Fundamental. A partir de um tema gerador comum - o período da ditadura militar no Brasil- cada professor atuou individualmente em sala de aula, tendo um bimestre para desenvolver atividades com sua linguagem artística específica. No último bimestre do ano letivo, a equipe de professores atuou simultaneamente, coordenando, a partir dos conteúdos desenvolvidos e da criação dos alunos, a produção de um trabalho artístico integrado. No decorrer da pesquisa alguns aspectos foram evidenciados: A valoração dos professores e das linguagens especifica: música, artes visuais e teatro;

4 Um planejamento integrado, uma negociação de uso do espaço da sala de arte, igualmente integrado; Os alunos começaram a entender que poderiam se dirigir a qualquer dos três professores: teatro, artes visuais e musica, para questões de regência de sala, o que implicou em uma necessidade de os professores previamente definirem o que seriam as posturas comuns; Tais posturas comuns tiveram que ser negociadas, principalmente quanto à regência de sala, para não haver contra-ordens no decurso das aulas de arte. Houve momentos em que a equipe trabalhou em conjunto e momentos em que cada professor trabalhou sua linguagem específica. Ao final, os alunos se dividiram em grupos para a elaboração, em equipe, de uma proposta de apresentação que contemplasse as linguagens artísticas trabalhadas. Neste momento os professores ficaram a disposição na sala para supervionar os grupos em qualquer das modalidades em que precisassem de acompanhamento. A equipe de professores sentiu-se gratificada ao ver que os alunos elaboraram e executaram diversas apresentações integradas, mostrando que entenderam a proposta. Eles conseguiram, ao final dessa etapa, integrar teatro, música e artes visuais numa produção escolar e este era o objetivo inicial das atividades propostas. DISCUSSÕES Essa proposta interdisciplinar para o ensino de arte favoreceu o trabalho com um tema único visto de várias formas específicas. O tema escolhido -Ditadura Militar no Brasil- abriu oportunidades para se avaliar a importância da liberdade de expressão. Liberdade de expressão conquistada que se deve valorizar e utilizar com responsabilidade. Ao artista cabe essa capacidade de mobilizar as multidões através de sua produção.

5 Pode-se perceber, na primeira etapa da pesquisa, que o grupo de professores de artes, música, teatro e artes visuais se aproximaram mais ao compartilhar, efetivamente, o mesmo espaço pedagógico. Esse aspecto trouxe, inicialmente, um benefício no sentido de compreender o espaço de cada linguagem e a dinâmica da ação didática de cada um. Os alunos se beneficiaram das discussões abrangendo as linguagens artísticas integradas e tiveram uma participação ativa no processo, organizando, criando e produzindo. A ação integrada de ensino de arte com alunos de 8 ano do ensino fundamental, no recorte feito, produziu trabalhos interessantes. Ficou claro que, para a didática nessa linha de ação de ensino de artes, há que existir um planejamento integrado e uma avaliação da participação dos alunos também integrada. Tudo indica que a abordagem integrada do ensino de artes fortalece a relação professor-professor da área e favorece a formação dos alunos por vivenciarem um trabalho que integra, na prática e na teoria, as linguagens artísticas. Tais linguagens, na vida social contemporânea, se apresentam de forma integrada, através das novas tecnologias midiáticas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação: conflitos/acertos. São Paulo: Max Limonad, BARBOSA, Ana Mae (org). Arte/Educação Contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo:Cortez,2005. LUCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: Fundamentos teórico-metodológicos. 3ª Ed.. Petrópolis: Vozes, PEREIRA, J.E. D. e ZEICHNER, K.M. A pesquisa na formação e no trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2002, p.46. SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: UNESP, 1991.