O ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
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- Maria dos Santos Pereira Barbosa
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1 O ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Profª. Esp. Margareth Guitarrara Nirschl Crozara E. M. Domingos Pimentel de Ulhôa UDI - margarethcrozara@hotmail.com Profª. Esp. Marina Ferreira de Souza Antunes E. M. Amanda Carneiro Teixeira - UDI marinaferr@terra.com.br Profª. Ms. Gislene Alves do Amaral E. M. Otávio Batista Coelho Filho - UDI giamaral@terra.com.br Resumo Apresentamos reflexões acerca do esporte e a descrição de uma Estratégia de Ensino construída coletivamente e experimentada com alunos de 5ª série, da E. M. Prof. Domingos Pimentel de Ulhôa, que tem como objetivo favorecer o desenvolvimento dialético tanto do professor quanto do aluno, promover a elevação progressiva de sua consciência crítica e sua inserção no mundo, utilizando e transformando esta e outras manifestações culturais. Introdução A E.M. Prof. Domingos Pimentel de Ulhôa, é uma instituição de ensino que atende cinqüenta e nove turmas de alunos do ensino fundamental e situa-se no bairro Santa Mônica, na cidade de Uberlândia. Atualmente esta escola possui em seu quadro de funcionários, três professores efetivos e quatro professores contratados atuando na área de Educação Física. O espaço físico destinado às aulas de Educação Física consta de duas quadras poliesportivas e uma parte cimentada, sendo todas descobertas. Os materiais são escassos e insuficientes para atender todas as turmas e seus respectivos professores. Nesta escola, não existe tempo pedagógico destinado à reuniões de professores por área, o que impossibilita o trabalho de planejamento coletivo. Cada professor trabalha de maneira isolada e poucos participam das discussões e reuniões para a construção e implementação da Proposta Curricular de Educação Física da rede municipal. 69
2 O presente trabalho é fruto de um processo de intervenção crítica, que iniciou-se no ano de 1996, na Rede Municipal de Ensino da cidade de Uberlândia PMU/RME/UDIA -, através do trabalho de assessoria do NEPECC/UFU 1, com o intuito de contribuir para a elaboração e implementação de uma Proposta Curricular de Educação Física na rede, que avançasse numa perspectiva crítica de Educação, a qual recebeu o nome de Plano Básico de Ensino - PBE. Desta forma, este trabalho tem como objetivo apresentar uma Estratégia de Ensino que foi construída coletivamente no contexto do PCTP, relacionada ao Eixo Temático Esporte Indivíduo e Sociedade, contido no PBE/UDI, de acordo o esboço da microcurricularidade em construção. 2 A referida Estratégia foi aplicada à alunos de 5ª série, que estão inseridos na Zona de Desenvolvimento n 4 ; nesse período de desenvolvimento, o aluno deve ser capaz de organizar o saber escolar e outros dados da realidade social e natural, estabelecendo relações por associação, categorias e/ou quadros de classificação. No campo da linguagem, deverá estar descrevendo categoricamente a natureza gramatical das palavras, além de ser capaz de raciocinar criticamente por meio de comparações entre a percepção da realidade natural e social e o significado das palavras, das opiniões e dos questionamentos relacionados a um determinado assunto. Em termos de aprendizagem social, o aluno passa a manifestar capacidade em diferenciar o sentido e significado do conceito de norma e regra, interpretando, generalizando, e relativizando sua utilização na prática dos direitos e dos deveres individuais e coletivos.o salto qualitativo de desenvolvimento transparece quando o aluno demonstra competência para raciocinar abstratamente e agir comunicativamente, de forma semelhante aos processos de pensamento e ação adulta. Pretende-se, por meio desta Estratégia de Ensino permitir ao aluno a aquisição e utilização de Competências Educacionais e prática social relacionadas às dimensões instrumental, social e comunicativa desenvolvidas em três momentos interligados: da reprodução de determinadas práticas sociais, de sua modificação, à partir da análise e reformulação de suas regras constitutivas e/ou regulativas, e finalmente de sua recriação-criação na forma de novos jogos e esportes que atendam os interesses consensualmente construído pela coletividade. O conhecimento e a prática social, numa perspectiva crítica e emancipatória, podem ser adquiridos por meio de metodologias que estimulem a produção coletiva de normas sociais e a reflexão sobre as regras ideologicamente instituídas. O aluno, portanto, sendo o sujeito do processo, deverá ser capaz de dialogar e refletir sobre suas ações, aprendendo a superar os conflitos, valorizando a importância da cooperação e a necessidade de mediar seus interesses individuais com os coletivos. Neste contexto, o professor situa-se na qualidade de orientador e facilitador do processo. 1 2 NEPECC/UFU Núcleo de Estudos e Planejamento e Metodologias do Ensino da Cultura Corporal da Universidade Federal de Uberlândia De acordo com a Teoria Crítica do Currículo, seu processo de produção apresenta níveis Macro e Microcurriculares. A Microcurricularidade representa a organização dos conteúdos de ensino de um determinado componente curricular. Foram definidos no PBE/UDI cinco Eixos Temáticos para o ensino da Educação Física nos níveis infantil e fundamental: 1) Escola e Educação Física; 2) Jogo; 3) Esporte, Indivíduo e Sociedade; 4) Expressão Corporal e, 5) Exercício, Lazer e Qualidade de Vida. 70
3 Eixo Temático: Esporte, Indivíduo e Sociedade As modalidades esportivas ministradas nas escolas tem sido reproduzidas em conteúdos normatizados e padronizados, em que o jogo é realizado por meio de suas regras e espaços apropriados. Atuando nesse sentido, impede-se a construção de outros movimentos, que podem ser desenvolvidos criativamente entre os alunos. Por essa razão, faz-se necessário contextualizar o esporte enquanto prática social nas aulas de Educação Física, procurando enfoca-lo, como sendo uma fonte de conhecimento que deve ser apropriado pelo aluno, em toda sua magnitude. Desta forma, o ensino do esporte na escola não pode mais pautar-se apenas nos conteúdos das técnicas, táticas e regras do jogo. (TERRA, 1996). Sendo assim, deve-se buscar uma definição política para modificar nossos ambientes de ensino e caminhar coletivamente para transformar a visão culturalmente restrita e imediatista que se tem deste componente curricular; para que o aluno possa, além de dominar a técnica e a tática, conhecer regras, como o esporte é organizado e institucionalizado conhecimento técnico instrumental ou seja, desenvolver a Competência Instrumental, deve-se procurar também ampliar estes conhecimentos e torná-lo conhecedor crítico e ativo do seu mundo e de suas interações, sejam sociais, políticas ou econômicas, visando desenvolver formas de gestão e organização coletivo-alternativa para a práxis de atividades vinculadas ao esporte, baseadas em relações humanas pautadas pela equidade, a democracia e a solidariedade Competência Social. Ao aluno deve-se possibilitar aprender a expressar suas idéias, reflexões e conclusões perante um grupo, seja materializando através da fala, escrita, desenho ou utilizando da expressão corporal e não verbal Competência Comunicativa. Esta interação e linguagem na estrutura comunicativa da educação, não deve se concentrar apenas sobre o conteúdo informativo do treinamento de habilidades ao esporte, mas principalmente, sobre as formas de relacionamento social entre os participantes (KUNZ, 1994). O estudo acerca da prática cultural denominada Esporte na Educação Física deve ter como finalidade que os alunos adquiram, de forma crítica e prazerosa, competências de caráter instrumental, social e comunicativa, em situações dinâmico-dialógicas de ensino, tomando coletivamente consciência das diferentes e variadas formas de comportamento e de participação social, na medida em que se procura refletir e internalizar o resultado do que se faz e do que se fala, assim como suas implicações sociais e individuais. Para atingir essas competências, torna-se necessária a busca de uma relação ensino-aprendizagem com caráter problematizador, com utilização de metodologias de ensino que sejam coletivamente construídas e se procure dar aos alunos maior independência e espontaneidade para favorecer um ensino crítico-social. (MUÑOZ PALAFOX, 1991). 71
4 Sequenciador de aulas - Eixo Temático: Esporte, Indivíduo e Sociedade: Teoria e Prática (5 as séries) OBJETIVOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS OBSERVAÇÕES/CONTINGÊNCIAS OBJETIVO GERAL: A partir de conhecimentos acumulados, os alunos, coletivamente, deverão reproduzir, modificar e criar seqüências pedagógicas de determinadas modalidades esportivas, refletindo criticamente sobre suas ações, adquirindo competências instrumental, social e comunicativa, elevando assim, sua consciência e superando o individualismo através do diálogo e da construção de regras que atendam aos interesses de todos. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Identificar os conhecimentos que os alunos possuem sobre a modalidade esportiva a ser desenvolvida, advindos de vivências na escola ou em outro contexto social. Preparação do processo: Adquirir giz, pincéis atômicos, papel para cartazes e fita adesiva para registrar as respostas dos alunos. 1ª Aula: Apresentar à turma a estratégia de ensino a ser desenvolvida; Relembrar as diferenças do conceito de Jogo e Esporte; Colocar para o aluno qual modalidade esportiva será desenvolvida; Em grupos os alunos responderão às seguintes perguntas: Sobre qual esporte vamos estudar? Quais são os elementos constitutivos desse esporte? Com que regras vamos jogar? Que materiais iremos utilizar? Como deve ser o local do jogo? A estratégia é referente ao eixo temático Esporte Indivíduo e Sociedade e diz respeito à reprodução, modificação e criação de regras de determinada modalidade esportiva. Os conceitos de jogo e esporte foram trabalhados anteriormente na estratégia do jogo e aprendizagem sócio-critica. A escolha da modalidade se dará levando em consideração os materiais e locais disponíveis na escola. Cada aluno registrará as respostas do seu grupo em seu caderno. Elementos constitutivos são as ações que caracterizam o jogo da modalidade esportiva. 72
5 Reproduzir a modalidade esportiva de acordo com a experiência da turma. Refletir criticamente, com a mediação do professor, sobre os elementos constitutivos da modalidade esportiva em questão, 2ª Aula: Cada grupo fará a leitura das respostas das perguntas realizadas na aula anterior; Durante cada exposição o professor deverá registrar as informações apresentadas pelos grupos; Após ter registrado as informações, o professor fará uma síntese em um painel e apresentará aos alunos. 3ª e 4ª Aulas: Respeitando a síntese construída os alunos vivenciarão o jogo da modalidade esportiva tal como foi lembrado. O professor afixará o painel em local acessível durante o jogo, contendo a síntese construída pelos alunos. Enquanto duas equipes jogam, os outros alunos juntamente com o professor observam o jogo identificando se as regras, os elementos constitutivos, os materiais e espaços físicos definidos pelos alunos estão sendo respeitados, registrando essas observações no painel da síntese. Em seguida trocam-se os papeis, quem jogou irá observar e vice-versa. 5 as e 6 as Aulas: Em sala de aula, após a vivência do esporte, e à partir dos registros realizados pelos alunos no Neste momento o professor deverá abrir espaço para que os alunos exponham o conhecimento que já haviam acumulado sobre a modalidade esportiva em questão, sendo assim poderá haver controvérsias de opinião, que serão debatidos no grupo. As equipes serão organizadas de acordo com as sugestões dos alunos e respeitando o que já fora estabelecido nas regras (número de jogadores, equipe mista, masculino separado do feminino, etc.). Todos os alunos deverão participar do jogo e da observação. Poderá ocorrer situações no jogo que não estavam previstas na síntese, nessas ocasiões o professor solicitará que os alunos apresentem sugestões para solucionar os problemas. É importante que essas situações sejam registradas no painel da síntese. O professor deverá afixar o painel da síntese no quadro, pois nele contém as observações feitas pelos 73
6 considerando as dificuldades encontradas no momento de sua execução. painel da síntese o professor e os alunos deverão refletir: Houve diferença entre as regras combinadas e as regras jogadas? Quais regras devemos incluir, modificar ou abolir? Todos participaram ativamente? As situações ocorridas no jogo e não previstas nas síntese foram resolvidas a contento? Todos os elementos constitutivos citados estiveram presente no jogo? O material e local utilizado foram os mesmos que nós idealizamos? A partir destas reflexões a síntese é reformulada procurando atender as reais necessidades do grupo. Vivência do esporte de acordo com as novas normas estabelecidas. alunos, o que facilitará a lembrança do jogo no momento do debate. No decorrer das discussões o professor deverá registrar as respostas dos alunos para refazer a síntese. Quando houver opiniões contraditórios, o impasse será resolvido por meio de votação. Nesses momentos pode acontecer dos alunos perguntarem como é a regra oficial. O professor deverá informa-los, mas ressaltar que não é necessário que seja cumprida a regra oficial, ou seja, eles podem alterá-la, de acordo com a vontade do grupo. Modificar e criar seqüências pedagógicas que possibilitem a prática da modalidade esportiva no âmbito escolar, garantindo a participação de todos, minimizando os efeitos e os valores decorrentes do esporte de rendimento. 7ª `a 12ª Aulas: Identificar junto com os alunos a principais dificuldades relacionadas à execução dos elementos constitutivos. Em grupos, solicitar que os alunos apresentem solução para as dificuldades. A turma vivência o jogo de acordo com sugestões apresentadas. Avaliação para verificação da solução ou não da dificuldade, e/ou apresentação de uma nova problematização O professor pergunta : o que está sendo mais difícil para realizar o jogo? Como podemos solucionar essas dificuldades? Exemplo: Modalidade esportiva Handebol. Dificuldade identificada pelo aluno: Não está ocorrendo passes no jogo. Sugestão apresentada pelos alunos: A equipe só poderá arremessar ao gol após trocar 6 passes. 74
7 Desenvolver as competências instrumental, comunicativa e social, propiciando aos alunos/as a utilização do conhecimento adquirido (regras/ normas, fundamentos, elementos técnicos/ táticos), na organização e participação de um campeonato interno. Materializar, por meio da escrita, os conhecimentos obtidos durante o processo. 13ª à 17ª Aulas: Preparação e realização de um campeonato da modalidade esportiva desenvolvida. 1- Fase inter-aula: Definir com cada classe como será realizado a divisão das equipes, o sistema de jogo, a arbitragem, a duração das partidas e a premiação. Realização da competição. 2- Fase inter-classe: A equipe vencedora de cada classe representará a mesma no campeonato inter-classe. Eleger um representante de cada equipe. Reunir com os representantes para elaborar o regulamento dessa fase (unificar as regras). Realização da competição. 18ª Aula: O professor solicitará aos alunos a elaboração de um texto sobre a modalidade desenvolvida, obedecendo o Seguinte roteiro: O que eu aprendi sobre o esporte. O que mais gostei. O que eu não gostei. Como foi a participação da turma. Principais dificuldades da turma. Você gostaria de trabalhar essa estratégia em outras modalidades esportivas? Quais? Por que? O campeonato é apresentado pelo professor como parte do processo de avaliação do trabalho realizado. A participação é garantida à todos os alunos que desejarem. 75
8 Considerações Finais No decorrer da aplicação da estratégia de ensino pode-se observar que os alunos adquiriram progressivamente capacidade de refletir, discutir, organizar, planejar e superar conflitos, assumindo criticamente a responsabilidade das conseqüências daquilo que se faz individual e socialmente. As modificações das normas sugeridas pelos alunos buscando sempre atender o desejo da maioria do grupo, evidencia a mudança de comportamento social, antes carregados de desigualdades, preconceitos e princípios individualistas. Esperamos com esse trabalho poder contribuir no debate acerca das dificuldades da área em implementar Propostas Curriculares baseadas numa perspectiva crítica de Educação. Referências Bibliográficas CAMARGO, A. S.F., AMARAL, G.A., MUÑOZ PALAFOX, G.H. Jogo e agir comunicativo: construindo uma estratégia de ensino na educação física escolar no contexto do PCTP da Secretaria Municipal de Educação/UDI/MG. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Anais do XI, Goiânia: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, 1999, P , Caderno 2. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do Esporte. Injuí: Unijuí, MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H., TERRA, Dinah V., PIROLO, Alda L.: Educação Física: Uma Abordagem Dinâmico-Dialógica. Revista da Educação Física/UEM 8(1),1997. MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H.: Educação Física e Ciências do Esporte: Intervenção e Conhecimento na Escola. In: CONGRESSO GOIANO DO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE: JORNADA PRÉ-CONBRACE, 1. Goiânia: FEF/UFG, Anais, p , MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H.: Intervenção Político-Pedagógica: a necessidade do planejamento de currículo e da formação continuada para a transformação da prática educativa. Tese de doutorado, São Paulo: PUC/SP, PBE/SME/UDI Plano Básico de Ensino da Educação Física Escolar. Uberlândia, Proposta curricular da Rede Municipal de Ensino, TERRA, D.V. Ensino crítico-participativo das disciplinas técnico-desportivas nos cursos de licenciatura em Educação Física: análise do impacto de ensino no handebol. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho. Dissertação de Mestrado, UBERLÂNDIA. Secretaria Municipal de Educação. Plano Básico e Ensino educação Física. Uberlândia: mimeo,
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