PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Direito A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Direito A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Gabriela Maciel Lamounier Belo Horizonte 2008

2 Gabriela Maciel Lamounier A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito Público. Orientador: José Luiz Quadros de Magalhães Belo Horizonte 2008

3 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais L236a Lamounier, Gabriela Maciel A atuação do Ministério Público no Tribunal Penal Internacional / Gabriela Maciel Lamounier. Belo Horizonte, f. : Il. Orientador: José Luiz Quadros de Magalhães Dissertação (Mestrado) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Direito 1. Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. 2. Ministério Público. 3. Organização das Nações Unidas. 4. Conselho de segurança. 5. Independência. I. Magalhães, José Luiz Quadros de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Direito. III. Título. CDU: 341.4

4 Gabriela Maciel Lamounier A atuação do Ministério Público no Tribunal Penal Internacional Trabalho apresentado à banca de mestrado em Direito Público com linha de pesquisa em Direitos Humanos, Processo de Integração e Constitucionalização do Direito Internacional da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, José Luiz Quadros de Magalhães (orientador) PUC/MG Bruno Wanderley Júnior PUC/MG Arthur José Almeida Diniz - UFMG Leonardo Isaac Yarochewsky (suplente) PUC/MG

5 Ao João Lucas e ao Filipe, por serem crianças iluminadas em minha vida. Aos meus pais, minha imensa gratidão por permitirem mais esta conquista acadêmica.

6 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Professor Doutor José Luiz Quadros de Magalhães pelo incentivo, ensino, paciência e exemplo acadêmico. Ao Professor Doutor Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva por alertar-me para a importância do tema desenvolvido. Ao Arnaldo, Joyce, Ludmilla e Diego por fazerem diferença em minha vida. À Veridiana, por me ajudar a sentir vontade de viver novamente. Aos funcionários da Secretaria do Mestrado Rafael, Jackson, Nicolas, Lorraine e André, por toda atenção e carinho. Ao Elísio Júnior pelas palavras de conforto e por todo apoio incondicional. Aos alunos do Instituto Belo Horizonte de Ensino Superior, formandos de dezembro de 2010, por tornarem a atividade acadêmica cada vez mais agradável e por serem, sem dúvida, a primordial razão de minha dedicação a esta pesquisa. E, em especial, às amigas (não somente colegas) de mestrado Maria Bueno e Juliana Marchesani por toda amizade, pela convivência prazerosa e pelas conquistas durante esses anos.

7 "O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer." Albert Einstein E a questão da culpa ou inocências individuais, o ato de aplicar a justiça tanto ao acusado quanto à vítima, são as únicas coisas que estão em jogo numa corte criminal. Hannah Arendt

8 RESUMO Esta dissertação realizou um estudo sobre a importância do Tribunal Penal Internacional, cujo objetivo é julgar indivíduos que cometeram crimes internacionais (genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes de agressão), impedindo que esses acusados fiquem sem julgamento por razões políticas ou interesses econômicos e, possibilitando um julgamento livre de pressões políticas. Mais especificamente, o presente trabalho versa sobre uma reflexão do papel desempenhado pelo Ministério Público como órgão independente do referido tribunal. O Ministério Público é denominado no Estatuto de Roma como Gabinete do Procurador, o qual é chefiado pelo Procurador. Sua função primordial é instaurar o inquérito. Palavras chave: Estatuto de Roma; Tribunal Penal Internacional; Ministério Público; Organização das Nações Unidas; Conselho de Segurança; independência.

9 ABSTRACT This dissertation conducted a study on the importance of Internacional Criminal Court, whose goal is to judge individuals who have committed international crimes (genocide, war crimes, crimes against humanity and crimes of aggression), preventing those accused are without trial for political reasons or and economic interests, allowing a trial free from political pressure. More specifically, the present work is about a reflection of the role of the Public Prosecutor as a body independent of the Court. The Public Prosecutor is called to the Rome Statute as "Office of the Prosecutor", which is headed by the Prosecutor. Its primary function is to initiate the investigation. Key-words: Rome Statute International Criminal Court; Public Prosecutor; United Nations; Security Council; independence.

10 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO DIREITOS HUMANOS Conceitos e características A internacionalização dos Direitos Humanos considerações básicas ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Tribunal Internacional Militar de Nuremberg Tribunal Internacional Militar para o Extremo Oriente (Tóquio) Tribunal Penal ad hoc para a antiga Iugoslávia Tribunal Penal ad hoc para Ruanda TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: ASPECTOS COMPETENCIAIS E PRINCIPIOLÓGICOS Soberania evolução do conceito A soberania dos Estados e o Tribunal Penal Internacional Competência do Tribunal Penal Internacional Competência material Competência pessoal Competência temporal Competência territorial Competência para conhecer as infrações contra a Administração da Justiça Princípios do Tribunal Penal Internacional Princípio da Legalidade Princípio da Irretroatividade Princípio da Responsabilidade penal individual Princípio da Exclusão da jurisdição relativamente a menores de 18 (dezoito) anos Princípio da Irrelevância da qualidade oficial Princípio da Responsabilidade dos Chefes Militares e Outros Superiores Hierárquicos... 59

11 4.3.7 Princípio da Imprescritibilidade Princípio ne bis in idem Princípio da Complementaridade Das Penas O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E SUA COMPOSIÇÃO Presidência Câmaras Câmara de Questões Preliminares ou Câmara de Pré-Julgamento Câmara de Julgamento ou Câmara de Primeira Instância Câmara de Recursos ou Câmara de Apelações Assembléia dos Estados-partes Secretaria Promotoria ou Ministério Público COOPERAÇÃO E OPINIÃO PUBLICA INTERNACIONAL Disposições Gerais sobre a Cooperação Internacional Opinião Pública Internacional Conceito Importância da opinião pública internacional no Tribunal Penal Internacional MINISTÉRIO PÚBLICO Competências Princípios Princípio da independência do Gabinete do Procurador Princípio da oficialidade Candidatura, eleição, mandato e remuneração Deveres e poderes Incompatibilidades e impedimentos Responsabilidade disciplinar Atuação Investigação e propositura da ação penal Julgamento... 86

12 7.7.3 Legitimidade para recorrer Da coisa julgada Execução da pena O CONSELHO DE SEGURANÇA E A LEGITIMIDADE DE AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Autonomia versus Independência CASOS INVESTIGADOS PELO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Uganda República do Congo Darfur África central CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ANEXO I

13 11 1. INTRODUÇÃO A presente dissertação procura compreender a atuação do Ministério Público no Tribunal Penal Internacional, verificando a efetividade da mesma frente a sociedade internacional, através de uma análise crítica do exercício da ação penal por este órgão nos casos submetidos ao referido Tribunal. Foram analisadas as atribuições do Tribunal Penal Internacional e realizado um estudo sobre os deveres e poderes do Ministério Público, verificando sua autonomia e independência no próprio Tribunal. Pode-se considerar que o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional é um tratado internacional de proteção dos direitos humanos. O Tribunal Penal Internacional responsabiliza os indivíduos, e não os Estados, pelas violações mais cruéis contra os direitos humanos. Assim, procurou-se aplicar de forma mais efetiva o princípio da justiça universal, cuja teoria foi imortalizada por Emmanuel Kant. Tais argumentos foram trabalhados no segundo capítulo desta dissertação.. No decorrer do terceiro capítulo, foram analisados os antecedentes históricos do Tribunal Penal Internacional e a importância da atuação do Ministério Público nos Tribunais ad hoc de Nuremberg, Tóquio, Ruanda e da antiga Iugoslávia. No quarto capítulo, foi feito um estudo analítico sobre soberania e sobre a principiologia do Direito Penal frente ao Direito Internacional. No quinto capítulo foi feita uma análise da composição do Tribunal Penal Internacional, sendo que no sexto capítulo, verificou-se a importância da opinião pública internacional em defesa dos direitos humanos e a importância da cooperação dos Estados-partes para o bom funcionamento do Tribunal Penal Internacional. No sétimo capítulo, analisou-se as atribuições, características e poderes conferidos ao órgão do Ministério Público. No oitavo capítulo uma análise crítica às atribuições do Conselho de Segurança no procedimento criminal a ser instaurado. Ao final, foram apresentados os primeiros quatro casos que, atualmente, estão sendo investigados pelo Tribunal Penal Internacional, observando-se que ainda não há um julgamento feito por este tribunal permanente. Quanto ao procedimento metodológico adotou-se o método dedutivo (método utilizado pelos racionalistas Spinoza e Descartes), como instrumento para a

14 12 delimitação do tema a ser debatido. O argumento dedutivo está ligado ao racionalismo cartesiano. Como ensina Miracy Barbosa: O raciocínio dedutivo é o processo que faz referência a dados de nossa experiência ou a normas e regras em relação a leis e princípios gerais e ao maior número de casos que a eles possam ser referidos. Esse raciocínio trabalha com a suposição de subordinação, ou seja, uma regularidade subordina-se a uma regularidade geral. 1 No que tange ao procedimento técnico, foram feitas análises dos precedentes históricos do Tribunal Penal Internacional e análises temáticas e teóricas dos institutos e princípios adotados pelo ordenamento jurídico internacional. Foram realizadas pesquisas teórico-bibliográficas através de livros, dissertações, teses e revistas jurídicas de diversos autores, nacionais e estrangeiros. 2 A luta da sociedade internacional contra a impunidade, com o objetivo de buscar a paz, a segurança e o bem estar da humanidade, fez com que, em 1998, delegações de 160 (cento e sessenta) países, 17 (dezessete) organizações intergovernamentais, 14 (quatorze) agências especializadas e fundos das Nações Unidas e 124 (cento e vinte e quatro) Organizações Não Governamentais se reunissem em Roma para discutir a criação de um tribunal penal internacional permanente. No dia 17 de Julho de 1998, na sede da FAO (Food and Agriculture Organization), durante a Conferência de Plenipotenciários das Nações Unidas, criou-se o Tribunal Penal Internacional, através do Estatuto de Roma, cujo texto foi aprovado pelos votos favoráveis de 120 (cento e vinte) nações, contra 7 (sete) votos desfavoráveis. 3 1 DIAS, Maria Tereza Fonseca; GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa. (Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p Também foram feitas pesquisas em vários sites, como, por exemplo, e 3 A votação foi secreta, mas Estados Unidos, China e Israel declararam suas razões por votarem contra a criação do TPI.

15 13 Em 11 de abril de 2002 foi depositado o 60º instrumento de ratificação. O Estatuto entrou em vigor em 1º de julho de 2002, data em que o número mínimo para a sua entrada em vigor foi atingido. 4 Até dezembro de 2007, cento e trinta e nove Estados assinaram o tratado e cento e cinco o ratificaram, sendo que o último Estado a ratificar o tratado foi o Japão em 17 de julho de O Tribunal Penal Internacional é um tribunal permanente, cujo objetivo é julgar indivíduos que cometeram crimes internacionais (genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes de agressão), impedindo que esses acusados fiquem sem julgamento por razões políticas ou interesses econômicos e, possibilitando um julgamento livre de pressões políticas. Este Tribunal tem personalidade internacional e é sediado em Haia, na Holanda. É composto por 18 (dezoito) juízes de elevada idoneidade moral, eleitos por maioria absoluta pela Assembléia de Estados Partes para um mandato de 9 (nove) anos, não podendo ser reeleitos, em regime de dedicação exclusiva. Os idiomas oficiais são: árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo. Os crimes da competência do Tribunal Penal Internacional são imprescritíveis, podendo seus autores serem investigados e julgados a qualquer momento. Possuindo personalidade jurídica internacional, o Tribunal Penal Internacional, ao reprimir os crimes de sua competência (crimes de extrema crueldade), protege a dignidade da pessoa humana e busca a paz mundial. Exerce uma jurisdição complementar aos vários sistemas jurídicos existentes. Esta nova jurisdição não é estrangeira, e sim internacional, da qual todo Estado-parte é titular. Ao admitir essa jurisdição, o Estado não sacrifica sua soberania nacional, ele a complementa, efetivando os direitos humanos muito valorizados pela comunidade internacional, assim como na Constituição da República Federativa do Brasil de O Ministério Público é denominado no Estatuto de Roma como Gabinete do Procurador, o qual é chefiado pelo Procurador, eleito pelo voto secreto da maioria 4 O Brasil aprovou o Estatuto de Roma em 06 de junho de 2002, por meio de Decreto Legislativo 112/2002 e promulgou-o pelo Decreto presidencial nº 4.388/2002 em 25 de setembro de 2002, assumindo a obrigação de aceitá-lo em todo o seu conteúdo, uma vez que o referido Estatuto não admite reservas, conforme seu artigo Dados coletados do site em 17 de janeiro de 2008.

16 14 absoluta dos votos da Assembléia dos Estados Partes do Tribunal Penal Internacional para exercer um mandato de até 9 (nove) anos. É função do Ministério Público instaurar o inquérito. Para tanto, ele participa da primeira fase do processo que é a fase investigatória 6, realizada pelo levantamento de fatos e provas. Deste modo, o Procurador, representante do Ministério Público, decide se inicia/prossegue ou não o procedimento, dependendo da existência suficiente de indícios criminais. 7 A investigação criminal pode ser iniciada pelo Ministério Público de três maneiras: a) ao receber comunicação de qualquer Estado Parte a respeito de situações em que, possivelmente, ocorrem crimes da jurisdição do Tribunal Penal Interncional. b) Ex officio baseando-se em informações de diferentes fontes a respeito também de situações em que, possivelmente, ocorrem crimes da jurisdição do Tribunal Penal Internacional, tendo para tanto, obtido aprovação da Câmara de Questões preliminares do Tribunal a fim de que não haja uma sobrecarga de infundadas denúncias. c) o Conselho de Segurança pode comunicar uma situação ao Ministério Público, baseando-se no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. O Estatuto de Roma (artigo 42.1) assegura a atuação independente do Ministério Público, ou seja, o Ministério Público não deve agir subordinado a um Estado ou outro órgão do Tribunal ou a uma organização internacional, por exemplo. 8 Precisa ser um órgão forte e atuante para combater a ameaça à paz e segurança entre os povos, sem, contudo, desobedecer os princípios processuais, como por exemplo, o devido processo legal. Segundo o artigo 16 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, o Conselho de Segurança pode impedir ou interromper qualquer investigação ou processo por um período de 12 (doze) meses, renováveis. Diante disso, como se procede as investigações pelo Ministério Público sobre um crime da competência do Tribunal Penal Internacional cometido por um nacional 6 A segunda fase do processo é a jurisdicional. 7 Segundo Cristina Caletti, cabe ao Procurador recolher informações e examiná-las, investigar e exercer a ação penal junto ao tribunal. In CALETTI, Cristina. Os precedentes do Tribunal Penal Internacional, seu Estatuto e sua relação com a legislação brasileira. Disponível em: Acesso: 30 de março de General Organizations. Disponível em Acesso 22 de abril de 2007.

17 15 de um dos 5 (cinco) Estados-membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas? Por uma razão política, a paralisação das investigações pode vir a desmoralizar a atuação funcional do Ministério Público? Como a independência do Ministério Público em iniciar o processo, ainda que o processo seja suspenso, pode criar na opinião pública internacional uma reação em defesa aos direitos humanos? Qual seria a importância da opinião pública internacional em um caso concreto? Não se pode olvidar que o Procurador é eleito pelo voto secreto da maioria absoluta dos votos da Assembléia dos Estados Partes do Tribunal Penal Internacional e não pela Assembléia da Organização das Nações Unidas. Apesar da intervenção do Conselho de Segurança, o Ministério Público é um órgão autônomo e independente efetivamente? As indagações acima descritas foram trabalhadas nos capítulos sétimo e oitavo da presente dissertação.

18 16 2. DIREITOS HUMANOS 2.1 Conceito e características O Direito Internacional dos Direitos Humanos é um ramo do Direito Internacional Público que tem seus próprios princípios, autonomia e especificidade. Segundo Noberto Bobbio, os direitos humanos estão sujeitos às atividades de promoção, controle e garantia. Atividades de promoção são conjuntos de ações visando introduzir a disciplina específica de direitos humanos nos Estados ou aperfeiçoá-la nos Estados que já a possui. Atividades de controle são medidas através das quais os organismos internacionais verificam se os Estados estão cumprindo suas obrigações para com os direitos humanos. Atividades de garantia consistem na criação de uma nova jurisdição e implementação da garantia inrternacional quando a nacional não for suficiente ou não existir. 9 Diversos foram os conceitos atribuídos aos direitos humanos ao longo de sua história. Esta diversidade de conceitos justifica-se pelas perspectivas nas quais são considerados. São elas: 10 1ª) Perspectiva filosófica ou jusnaturalista: direitos humanos são direitos naturais, inerentes à pessoa humana em qualquer tempo e lugar. São absolutos e imutáveis. Para José Luiz Magalhães, a naturalização dos direitos humanos é algo arriscado, uma vez que dá ao Poder a legitimidade de dizer o que é natural. Sendo os direitos humanos históricos, e não naturais, o homem é o autor da história, responsável pela construção do conteúdo de desses direitos de acordo com suas lutas sociais BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 39. In MOISÉS, Cláudia Perrone. O princípio da complementaridade no Estatuto do Tribunal Penal Internacional e a soberania contemporânea. Revista Política Externa. São Paulo. Volume 8, nº 4, p. 03 a 11, Mar/Abr/Mai 2000, p BORGES, Alci Marcus Ribeiro. Direitos Humanos: Conceitos e Preconceitos. Disponível em Acesso em 10 de janeiro de MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. A Busca do Real: ideologia, economia e política na contemporaneidade. Material disponibilizado durante as aulas do mestrado no 2º semestre de 2007 na PUC/MG.

19 17 2ª) Perspectiva universalista: direitos humanos são direitos de todas as pessoas em qualquer lugar, presentes em tratados, pactos ou convenções, para legitimar sua proteção. 3ª) Perspectiva constitucionalista: direitos humanos são direitos de certos grupos de pessoas em um determinado lugar e tempo. São direitos positivados nas Constituições com status de direitos fundamentais. São características dos direitos humanos: a universalidade e a indivisibilidade. Os direitos humanos são universais porque basta ser pessoa para ser titular desses direitos. São indivisíveis porque os direitos civis e políticos hão de ser somados aos direitos econômicos, sociais e culturais. Não há hierarquia entre esses direitos. O relativismo cultural não pode ser usado para justificar as violações aos direitos humanos. As diversas culturas contribuem para a universalidade dos direitos humanos. Nos dizeres de Cançado Trindade: A diversidade cultural, bem entendida, não se configura, pois, como um obstáculo à universalidade dos direitos humanos; do mesmo modo, afigurase-nos insustentável evocar tradições culturais para acobertar, ou tentar justificar, violações dos direitos humanos universais. Assim como todo ser humano busca a realização de suas aspirações, busca a sua verdade, cada cultura é uma expressão em comunicação de cada ser humano com o mundo exterior. Assim, nenhuma cultura é detentora da verdade última, dão que todas ajudam os seres humanos na compreensão do mundo que os circunda e na busca de sua autorealização A internacionalização dos Direitos Humanos considerações básicas O processo de internacionalização dos direitos humanos iniciou-se após a Segunda Guerra Mundial, tendo como marco inicial a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos de Os acordos que visam resguardar e proteger os direitos da pessoa humana nasceram em resposta às atrocidades cometidas pelos nazistas na era Hitler. 13 Os 12 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Vol. III. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2003, p Foi criado o Tribunal de Nuremberg para julgar os responsáveis pelas atrocidades cometidas na Alemanha.

20 18 Estados foram obrigados a criar normas internacionais protetivas dos direitos humanos, o que se tornou um dos principais objetivos da sociedade internacional. 14 Direitos Humanos em âmbito internacional é o conjunto de normas subjetivas e adjetivas do Direito Internacional que visa assegurar ao indivíduo, de qualquer nacionalidade, os instrumentos e mecanismos de defesa contra os abusos de poder de um Estado. 15 Com o surgimento da Organização das Nações Unidas em 1945 e com a proclamação Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, o processo de internacionalização dos direitos humanos começou a se desenvolver. Surgiram inúmeros tratados internacionais visando proteger os direitos fundamentais do homem. As normas internacionais começaram a proteger os direitos humanos contra o próprio Estado. A finalidade precípua dos direitos humanos em âmbito internacional é a proteção efetiva da dignidade da pessoa humana. A Segunda Guerra Mundial foi o fato histórico que impulsionou o processo de internacionalização dos direitos humanos ao demonstrar a necessidade de uma ação internacional que protegesse de forma eficaz os direitos humanos. Buscou-se a reconstrução de um novo paradigma, onde a soberania estatal deixa de ser absoluta. Neste sentido, Flávia Piovesan afirma que, A necessidade de uma ação internacional mais eficaz para a proteção dos direitos impulsionou o processo de internacionalização desses direitos, culminando na criação da sistemática normativa de proteção internacional, que faz possível a responsabilização do Estado no domínio internacional, quando as instituições nacionais se mostram falhas ou omissas na tarefa de proteção dos direitos humanos. 16 As fontes históricas do processo de internacionalização dos direitos humanos são: o Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho. Foram importantes porque o Direito Humanitário tratou, em âmbito internacional, da proteção humanitária em casos de guerra. A Liga das Nações, além de buscar a paz e a cooperação internacional, expressou disposições 14 MAZZUOLI, Valério. Direitos Humanos, cidadania e educação. Uma nova concepção introduzida pela Constituição Federal de Disponível em Acesso em 11 de dezembro de BORGES, Alci Marcus Ribeiro. Breve introdução ao Direito Internacional dos Direitos Humanos. Disponível em Acesso em 04 de fevereiro de PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 6ª edição. São Paulo: Max Limonad, 2004, p. 141.

21 19 referentes aos direitos humanos. A Organização Internacional do Trabalho promulgou inúmeras convenções internacionais, buscando a proteção da dignidade da pessoa humana no direito trabalhista BORGES, Alci Marcus Ribeiro. Breve introdução ao Direito Internacional dos Direitos Humanos. Disponível em Acesso em 04 de fevereiro de 2007.

22 20 3. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL A idéia de criar uma instância internacional para julgar os crimes mais graves contra os direitos humanos surgiu pela primeira vez através de Gustave Moynier, um dos fundadores da Cruz Vermelha, em 1872, 18 ao encontrar-se estarrecido com as atrocidades cometidas durante a Guerra Franco-Prussiana. 19 Contudo, sua proposta não obteve êxito. Alguns autores, como Cristina Caletti, David Fernandes, Ángel Legido e Enrique Lewandowski, alegam que o primeiro tribunal penal internacional ocorreu em 1474, em Breisach, quando do julgamento e condenação de Peter von Hagenbach. Peter von Hagenbach havia sido nomeado Governador da cidade de Breisach pelo Duque Charles de Borgonha e instituiu nessa cidade um reino de terror. Foi julgado e condenado à pena de morte por violar as leis humanas e divinas ao autorizar que suas tropas estuprassem e assassinassem civis inocentes durante a ocupação de Breisach. Compunham o tribunal ad hoc juízes austríacos, alemães e suíços. 20 Carlos Eduardo Japiassú esclarece que este não foi um tribunal internacional e sim um tribunal confederado, pois os juízes estavam ligados ao Sacro Império Romano Germânico. E tal tribunal não serviu de precedente para a criação do Tribunal Penal Internacional permanente. 21 A primeira tentativa de responsabilização penal individual restou frustrada. Foi a tentativa de julgamento do Kaiser Guilherme II de Hohenzollern, ex-imperador da Alemanha, condenado à forca por ofensa à moralidade, à inviolabilidade dos tratados e aos costumes de guerra, de acordo com o artigo 227 do Tratado de 18 PIOVESAN, Flávia. (Org.), IKAWA, Daniela Ribeiro; PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. O Tribunal Penal Internacional e o Direito Brasileiro. 2ª edição. São Paulo: Max Limonad, 2003, p JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 38.

23 21 Versalhes. Para seu julgamento seriam nomeados cinco juízes, designados pelos Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão. 22 O artigo 227 do Tratado de Versalhes determinava que Guilherme II, eximperador da Alemanha, será julgado por ofensa suprema contra a moral internacional e a autoridade sagrada dos tratados. 23 Em 1918 o Kaiser Guilherme II refugiou-se em Doorn, na Holanda, e este Estado não o extraditou por não haver previsão legal em seu ordenamento nesse sentido, concedendo-lhe asilo por intermédio da Rainha Guilhermina. A rainha ainda afirmou que se existisse uma jurisdição internacional validamente organizada, o Estado holandês dela participaria. 24 Com as inúmeras atrocidades que estavam ocorrendo contra a humanidade, uma série de tratados multilaterais foram firmados entre os Estados, prevendo a penalização das graves violações aos direitos humanos do direito internacional humanitário. 25 A sociedade internacional passou a lutar pela proteção de seus direitos. A Liga das Nações convocou um comitê jurídico para a elaboração de um projeto de convenção que tratasse da repressão e prevenção do terrorismo e um outro projeto sobre um tribunal penal internacional. Assim, no final do ano de 1937, a Sociedade das Nações adotou uma convenção sobre o Terrorismo, onde havia um estatuto de um tribunal criminal, mas só a Índia o ratificou, não entrando tal estatuto em vigor. 26 Em 1948 a prática de genocídio foi tipificada através da Convenção para Prevenção e Repressão do Genocídio. Iniciou-se a tipificação dos crimes internacionais através de tratados e convenções internacionais e do reconhecimento dos princípios de Direito Internacional. 22 LEGIDO, Angel Sánchez. Jurisdición Universal Penal y Derecho Internacional. Valencia: Tirantlo Blanch, 2003, p ANDRADE, Roberto de Campos. Estatuto de Roma e a Ordem Pública Internacional f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Direito, p Curiosamente, Vittorio Emanuele Orlando, representante da Itália, apesar de favorável ao julgamento do Kaiser Guilherme, receava que ele se tornasse um herói-mártir e não um criminoso condenado. CASTRO, Tony Gean Barbosa de. Consolidação da Responsabilidade Penal Internacional do Indivíduo com o advento do Tribunal Penal Internacional Permanente. Disponível em Acesso 01 de abril de HERDEGEN, Mathias. Derecho Internacional Público. México: Fundación Konrad Adenaer Stiftung, 2005, p JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 42.

24 22 Foi a partir daí que se iniciou o processo de internacionalização dos direitos humanos, tendo como marco inicial a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos de Segundo Valério Mazzuoli, os Estados foram obrigados a criar normas internacionais protetivas dos direitos humanos, o que se tornou um dos principais objetivos da sociedade internacional, 27 uma vez que não existia uma justiça penal internacional permanente. Com o desfecho da 2ª Guerra Mundial e com a formação dos tribunais penais internacionais ad hoc 28, acelerou-se o processo de criação de um Tribunal Penal Internacional permanente. O projeto de um estatuto que regulasse a criação de um tribunal penal internacional permanente foi dirigido à Assembléia Geral das Nações Unidas pela Comissão de Direito Internacional. 29 A aprovação do referido estatuto concretizou-se em 17 de julho de 1998, em Roma. Os tribunais ad hoc ou tribunais de exceção foram severamente criticados, devido à inobservância dos princípios da legalidade e da irretroatividade da lei penal maléfica. Todavia, foram necessários e de grande importância, pois foi a forma mais eficaz de se fazer justiça naquelas situações, e serviram de precedentes para a criação de um tribunal penal internacional permanente. Naquela época, não havia meios legais e institucionais para combater as atrocidades que ofendiam os direitos humanos 30. Nos dizeres de Pedro Caeiro, foi um meio adequado para que o Conselho de Segurança pudesse cumprir a sua função de fazer cessar os conflitos e restabelecer a paz MAZZUOLI, Valério. Direitos Humanos, cidadania e educação. Uma nova concepção introduzida pela Constituição Federal de Disponível em Acesso em 11 de dezembro de A legitimidade do Conselho de Segurança para criar tribunais penais internacionais ad hoc está amparada pelos artigos 29 e 41 da Carta das Nações Unidas. Foram criados os Tribunais Penais para a antiga Iugoslávia e para Ruanda. 29 MIRANDA, João Irineu de Resende. O Tribunal Penal Internacional frente ao princípio da soberania f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Direito, p LEWANDOWSKI, Enrique Ricardo. O Tribunal Penal Internacional: de uma cultura de impunidade para uma cultura de responsabilidade. Revista Estudos Avançados. São Paulo. Volume 16, nº 45, p. 188, Mai/Ago CAEIRO, Pedro. Tribunais Penais Internacionais: Etapas de um caminho ou astros em constelação?. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 10, nº 37, p. 101, Jan/Mar 2002.

25 23 O século XX foi o século das duas Guerras Mundiais, todavia, foi também o século da positivação dos direitos humanos no âmbito internacional Tribunal Militar Internacional de Nuremberg Entre 1933 e 1945, os nazistas mantiveram em campos de concentração judeus, comunistas, ciganos e homossexuais. Os principais campos de concentração foram Auschwitz e Treblinka, onde mais de seis milhões de judeus foram mortos. 33 Winston Churchill, primeiro Ministro Britânico, era favorável à execução dos líderes nazistas. Joseph Stálin, premier soviético, também possuía a mesma posição de Churchill, assim como Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos da América. Contudo, Roosevelt faleceu e seu substituto Harry Truman não estava de acordo com o plano de execução acima mencionado. Sua intenção era a criação de um Tribunal Penal Internacional para julgar os nazistas alemães. 34 As potências aliadas Estados Unidos, Ex-União Soviética, Inglaterra e França reniram-se durante os dias 17 de julho a 08 de agosto de 1945, na Conferência de Postdam, em Londres. Foi então criado o Tribunal Militar Internacional de Nuremberg. Este foi o marco inicial da existência dos tribunais internacionais penais. Em 08 de agosto de 1945 foi assinado o Acordo Quadripartido de Londres 35 para a criação de um Tribunal Militar Internacional, buscando punir os criminosos de guerra, ligados ao 32 COSTA, Érica Adriana. O Tribunal Penal Internacional em face da Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p KRIEGER, César Amorim. Direito Internacional Humanitário: o precedente do comitê internacional da Cruz Vermelha e o Tribunal Penal Internacional. 2ª edição. Curitiba: Juruá, 2005, p KRIEGER, César Amorim. Direito Internacional Humanitário: o precedente do comitê internacional da Cruz Vermelha e o Tribunal Penal Internacional. 2ª edição. Curitiba: Juruá, 2005, p O Acordo de Londres também foi chamado de Acordo para Persecução e Punição dos Principais Criminosos de Guerra do Eixo Europeu. In MORE, Rodrigo Fernandes. A prevenção e solução de litígios internacionais no direito penal internacional: fundamentos, histórico e estabelecimento de uma Corte Penal Internacional. Disponível em Acesso: 22 de abril de 2007.

26 24 regime nazista, dos países do leste europeu. 36 O Tratado de Londres foi subscrito pelas potências aliadas Estados Unidos, Ex-União Soviética, Inglaterra e França. Em 11 de dezembro de 1946 foi aprovada a resolução nº 95 pela Assembléia das Nações Unidas reconhecendo o conteúdo do Estatuto do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, composto por 30 (trinta) artigos. Carlos Eduardo Japiassú afirma que o Tribunal de Nuremberg Certamente foi um Tribunal de vencedores que julgavam vencidos. Mas, apesar disso e apesar da opinião pública mundial ter desenvolvido imensa repulsa pelos atos praticados pelo Estado nazista, tentou-se, na medida do possível fazer de Nuremberg um julgamento e não um exercício de vingança internacional. 37 Afirma Fernanda Nepomuceno que foi denominado Tribunal Internacional porque seria aplicado em nome das 19 (dezenove) nações que aderiram ao Acordo de Londres e recebeu a qualidade de Militar porque julgaria crimes cometidos com relação a um plano bélico. 38 O Tribunal de Nuremberg era competente para julgar os crimes contra a paz, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade, de acordo com o artigo 6º do Estatuto. 39 Segundo Maria Anaides Soub: Os crimes contra a paz foram definidos na alínea a do referido artigo 6º, como a preparação, o desencadeamento ou a continuação de uma guerra de agressão ou uma guerra que tivesse violado tratados ou acordos internacionais, a participação em um acordo ou conspiração visando a invasão de outro país ou qualquer dos atos que a procedessem. Os crimes de guerra foram definidos na alínea b como aqueles que provocavam violações das leis e costumes de guerra, compreendendo o assassinato, maus-tratos, deportação para trabalhos forçados, ou para qualquer outro objetivo contra populações civis dos territórios ocupados, assassinatos e maus-tratos dos prisioneiros de guerra, a execução de reféns, a pilhagem de bens públicos ou privados, a destruição sem motivo de cidades e aldeias, a devastação não justificada pelas exigências militares. 36 AMBOS, Kai. Impunidade por violação dos direitos humanos e o direito penal internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 12, nº 49, p. 73, Jul/Ago JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p SOUSA, Fernanda Nepomuceno de. Jurisdição Internacional Penal nos crimes contra a humanidade f. Dissertação (Mestrado) Faculdade Mineira de Direito da Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais PUCMinas, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p O Tribunal Militar de Nuremberg também julgou organizações criminosas, como por exemplo, as S.S, S.A., Alto Comando das forças armadas alemãs.

27 25 Os crimes contra a humanidade foram elencados na alínea c, como assassinato, exterminação, redução à escravidão, deportação ou qualquer outro ato desumano contra a população civil, antes ou durante a guerra, as perseguições por motivos raciais ou religiosos, outros atos de perseguição que constituam ou não uma violação ao direito internacional interno do país onde foi perpetrado. 40 (grifo nosso) Foram nomeados 4 (quatro) juízes, representantes das quatro potências, cada um com seus respectivos suplentes, conforme artigo 2º do Estatuto. Eram eles: General Nikitchenko e Tenente Coronel A.F. Volchkov (Ex União Soviética); Donnedieu de Vabres e Robert Falco (França); Francis Biddle e Jonh Parker (Estados Unidos) e Geoffrey Lawrence e Norman Birkett (Inglaterra). Geoffrey Lawrence foi nomeado Presidente do Tribunal Millitar de Nuremberg. 41 Não era permitido que os juízes fossem contestados pelos governos de seus países. 42 Quanto ao Ministério Público, objeto de estudo desta dissertação, cada Estado signitário do Acordo de Londres nomeou um representante para formá-lo. Foi composto também por representantes das potências que assinaram o Acordo de Londres. Robert H. Jackson representou os Estados Unidos; Auguste Charpetier de Ribes, e posteriormente, François Menthon que o substituiu, representaram a França; Lord Hartley Shawcross, e depois David Maxwell Fyfe, representaram a Inglaterra e o Tenente General Roman A. Rudenko representou a Ex União Soviética. 43 O Ministério Público do Tribunal de Nuremberg tinha alguns poderes, 44 podendo destacar entre eles, o poder de decidir quais indivíduos seriam julgados, aprovar a ata de acusação e os documentos nela contidos, investigar a apresentar as provas necessárias ao feito, interrogar as testemunhas e os acusados, etc. 45 A acusação baseava-se no fato de que os réus associaram-se às organizações criminosas por livre e espontânea vontade e que tinham consciência 40 SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 104 e SOUSA, Fernanda Nepomuceno de. Tribunais de guerra. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p BARBOSA, Salomão Almeida. Tribunal Penal Internacional: afirmação contemporânea de uma idéia clássica e sua recepção na Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) Centro Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p Os poderes conferidos ao Ministério Público do Tribunal de Nuremberg foram previstos nos artigos 14, 15, 23 e 24 do referido Estatuto. 45 SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 109.

28 26 das tarefas que desempenhariam, dos objetivos das organizações e da essência das mesmas, que era o racismo. A defesa era composta por advogados alemães, entre eles, Hans Marx, Otto Stahmer, Fritz Sauter e Gunther Von Rohscheidt. A defesa baseava-se no fato de que o Tribunal Militar era um tribunal de exceção, constituído pelos vencedores que puniam os vencidos. Argumentou a defesa que tal tribunal violava o princípio da legalidade, por ser criado após a ocorrência dos fatos criminosos estipulando seus crimes e suas penas. 46 Afirma Carlos Canêdo que de acordo com o artigo 3º a competência e a jurisdição do Tribunal não poderiam ser objeto de contestação pela acusação ou pela defesa. 47 O Tribunal de Nuremberg foi responsável pelo julgamento dos nazistas alemães pela prática de genocídio contra os judeus. Foram julgados 22 (vinte e dois) réus, todos alemães. O julgamento durou 10 (dez) meses. Foram ouvidas 94 (noventa e quatro) testemunhas, sendo 33 (trinta e três) de acusação e 61 (sessenta e uma) de defesa, e foram lidos mais de mil documentos. 48 Dos 22 (vinte e dois) acusados, 19 (dezenove) foram condenados e 3 (três) absolvidos. As condenações não foram iguais para todos, como se observa a seguir : 1- Frans Von Papen foi Chanceler do Reich e, posteriormente, embaixador. Acusado de conspiração e de praticar crimes contra a paz, foi absolvido; 2- Hjalmar Schacht foi Presidente do Reichsbank. Acusado de conspiração e de praticar crimes contra a paz, foi absolvido; 3- Hans Fritzsche foi Diretor Ministerial e chefe da Seção de Radiodifusão do Ministério da Propaganda. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi absolvido; 46 SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p SILVA, Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da. O Genocídio como crime internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p SILVA, Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da. O Genocídio como crime internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 50 a SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 112 a115.

29 27 4- Hermann Goering foi Chefe da Força Aérea e homem de confiança de Hitler. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte, mas cometeu suicídio pela ingestão de cianureto, no dia 15 de outubro, horas antes de sua execução, na prisão; 5- Hans Frank foi conselheiro pessoal de Hitler, Presidente da Academia de Direito Alemã e Governador-Geral da Polônia ocupada. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi condenado à morte. 6- Wilhelm Frick foi Ministro do Interior e Protetor da Boémia-Morávia. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte. 7- Alfred Jold foi Chefe do Estado Maior da O.K.W. e Conselheiro militar de Füher. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte. 8- Ernest Kaltenbrunner foi Chefe do Escritório de Segurança Principal do Reino. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi condenado à morte. 9- Wilhelm Keitel foi Chefe do Alto Comando das Forças Armadas. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte. 10- Alfred Rosenberg foi Ministro dos Territórios do leste ocupados. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte. 11- Fritz Sauckel foi líder trabalhista da classe operária e responável pela deportação e morte de milhões de trabalhadores. Acusado pela prática de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi condenado à morte. 12- Arthur Seyss-Inquart foi Conselherio de Estado, Ministro do Interior e Governador do III Reich na Áustria. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte. 13- Julius Streicher foi Diretor do Comitê Central para a Defesa contra Atrocidades dos Judeus e Boicote de Propaganda, defendia a exterminação dos judeus. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte.

30 Joachim Von Ribbentrop foi Conselheiro Diplomático do Füher, Embaixador em Londres e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte. 15- Martin Bormann foi membro do Estado Maior e do Alto Comando das Seçoes de Assalto, Chefe da Chancelaria do Partido, Secretário do Füher, Comandante-Chefe do Volkssturm e General das SS. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi julgado à revelia e também condenado à morte. Posteriormente foi considerado morto; 16- Rudolf Hess foi Secretário e Adjunto de Hitler. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à prisão perpétua, mas cometeu suicído na prisão de Spandau, onde cumpria pena; 17- Walther Funk foi Conselheiro Pessoal do Füher e animdor das perseguiçoes econômicas contra os judeus. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à prisão perpétua. 18- Raeder, membro do Conselho de Defesa do Reich, foi condenado à prisão perpétua, sendo libertado em 1955 por motivo de saúde; 19- Albert Speer também foi condenado à pena de prisão perpétua; 20- Karl Doenitz foi Almirante-Chefe e Vice-Almirante. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a paz, foi condenado a 10 (dez) anos de prisão. 21- Von Neurath foi Ministro dos Negócios Estrangeiros. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado a 15 (quinze) anos de prisão; 22- Balbur Von Schirach foi líder da Juventude do Reino e Gauleiter de Viena. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado a 20 anos de prisão, sendo libertado em 1966 após o cumprimento integral da pena. Foram também indiciados, mas não julgados pelo Tribunal de Nuremberg, Gustav Krupp Von Bohlen und Halbach e Robert Ley. Aquele sofreu um acidente

31 Não cabia recurso contra as decisões do Tribunal Militar Internacional de 29 circulatório e tornou-se inimputável e este cometeu suicídio em 26 de outubro de Nuremberg. 52 Os condenados às penas privativas de liberdade cumpriram suas penas na prisão de Spandau e os condenados à pena de morte por enforcamento foram executados na madrugada do dia 16 de outubro de 1946, entre uma e três horas da manhã. Já os acusados que foram absolvidos pelo Tribunal de Nuremberg, foram julgados por tribunais alemães de desnazilização e condenados à pena de 8 (oito) anos de trabalhos forçados e seus bens foram confiscados Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente (Tóquio) No dia 1º de dezembro de 1943, durante a Conferência de Cairo, representantes da China, Estados Unidos e da Inglaterra, declararam possuir vontade de punir os criminosos de guerra japoneses. 54 Milhares de coreanos haviam sido levados ao Japão e explorados como mão-de-obra escrava. Foram usados como cobaias em experimentos bacteriológcos e as mulheres coreanas, filipinas, indonésias, tailandessas e maláias eram obrigadas a se prostituírem para os militares. 55 Em 19 de janeiro de 1946, foi promulgada a Carta de Tóquio, composta de 17 (dezessete) artigos, que instituiu o Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, para julgar os criminosos da guerra japoneses. Através de uma proclamação do General MacArthur foi instituído o referido Tribunal. 51 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p BARBOSA, Salomão Almeida. Tribunal Penal Internacional: afirmação contemporânea de uma idéia clássica e sua recepção na Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) Centro Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p SOUSA, Fernanda Nepomuceno de. Jurisdição Internacional Penal nos crimes contra a humanidade f. Dissertação (Mestrado) Faculdade Mineira de Direito da Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais PUCMinas, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 49.

32 30 Fortaleceu-se ainda mais a necessidade de proteção dos Direitos Humanos no plano internacional. Esta foi a segunda experiência de uma justiça penal internacional. O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente funcionou de 03 de maio de 1946 a 12 de novembro de 1948 (o julgamento durou um pouco mais de dois anos e meio). Foram ouvidas 419 (quatrocentas e dezenove) testemunhas. Sua composição foi mais ampla que a de Nuremberg, sendo os países que compuseram o Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente: Austrália, Canadá, China, Estados Unidos, França, Filipinas, Índia, Inglaterra, Nova Zelândia, Países Baixos e ex-união Soviética. 56 Em relação à competência material, de acordo com o artigo 5º da Carta de Tóquio, o Tribunal para o Extremo Oriente foi competente para julgar os crimes de guerra, os crimes contra a paz e os crimes contra a humanidade. Novamente, citando Maria Anaides Soub, eram considerados crimes contra a paz a participação de pessoas em um plano ou na conspiração do planejamento, início ou empreendimento da guerra de agressão e da guerra realizada com a violação dos tratados, acordos ou garantias internacionais. Os crimes de guerra consistiam na violação das leis e costumes de guerra. Por fim, os crimes contra a humanidade consistiam em assassinatos, extermínio, escravidão, deportação e outros atos desumanos contra a população civil, a perseguição de pessoas por motivos raciais ou políticos. 57 Aos acusados cabia a assistência de um advogado para a defesa, que seria comunicado em tempo hábil do conteúdo da acusação, para arrolar testemunhas e interrogá-las e acompanhar inteiramente o processo. 58 Onze juízes das nações aliadas 59 compunham o referido Tribunal: Sir. Willian F. Webb (Austrália) que era o presidente do tribunal; Edward Stuart McDougal (Canadá); Mei Ju-ao (China); John P. Higgins e, posteriormente, Cramer Replaced (Estados Unidos); Delfin Jaranilla (Filipinas); Henri Bernard (França); Lord Patrick (Inglaterra); Bernard Victor A. Roling (Países Baixos); Erima Harvey 56 SILVA, Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da. O Genocídio como crime internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p As nações aliadas eram: Austrália, Canadá, China, Estados Unidos, França, Inglaterra, Países Baixos, Nova Zelândia, Filipinas, Ex União Soviética e Índia.

33 31 Northcroft (Nova Zelândia); I. M. Zarayanov (ex-união Soviética) e Radhabinod M. Pal (Índia). 60 Quanto ao Ministério Público, diferentemente do Tribunal Militar de Nuremberg, os procuradores das nações aliadas apenas atuavam como assistentes do procurador-chefe dos Estados Unidos, Joseph B. Keenan, que era o chefe da acusação. 61 Eram os procuradores assistentes: S.A. Golunsky (ex União Soviética), Arthur Comyns-Carr (Inglaterra), W.G. Frederick Borgerhoff-Mulder (Países Baixos), Alan Mansfield (Austrália), Henry Nolan (Canadá), Hsiang Che-Chung (China), Robert L. Oneto (França), Pedro Lopez (Filipinas), Ronaldo Quilliam (Nova Zelândia) e Menon (Índia). 62 Segundo o artigo 8º da Carta de Tóquio, o Ministério Público era responsável pela investigação e oferecimento da denúncia contra os crimininosos, podendo utilizar todos os tipos de provas que comprovassem a culpabilidade dos acusados. Afirma Maria Anaides Soub que a acusação baseava-se na tese de que os japoneses executaram um plano que consistia na realização de um programa de mortes, de submissão de prisioneiros de guerra e de presos civis a experiências médicas, de trabalhos forçados em consdiçoes desumanas, de pilhagens de bens públicos e privados, de destruição de cidades e vilarejos e de violações e de barbáries cometidas em todo os territórios invadidos. 63 Cada acusado teve dois advogados: um norte-americano e um japonês. Foram acusadas somente pessoas físicas, sendo 28 (vinte e oito) o número de criminosos. Eram eles : 1- Ideki Tojo, Koki Hirota, Kenji Doihara, Seishiro Itagaki, Heitaro Kimura, Iwane Matsui, Akio Muto: todos condenados à pena de morte por enforcamento; 60 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p BARBOSA, Salomão Almeida. Tribunal Penal Internacional: afirmação contemporânea de uma idéia clássica e sua recepção na Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) Centro Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 62 a SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 125 a 130.

34 32 2- Sadao Araki foi Ministro da Guerra e da Educação. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Baron Kiichiro Hiranuma foi Presidente do partido patriota Kokuhonsha, Primeiro Ministro, Minstro do Interior e Presidente do Conselho Privado. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra, Ex-União Soviética e Países Baixos, omissão do dever de prevenir atrocidades e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua. 4- Kingoro Hashimoto ocupou vários cargos de comando. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Shunroku Field Marshal Hata foi Comandante da Força Expedicionária Chinesa e Ministro da Guerra. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão do dever de prevenir atrocidades e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Naoki Hoshino foi Chefe de Assuntos Finaceiros da Manchúria, Diretor de Assuntos Gerais na Manchúria e Secretário-Chefe do gabinete do Primeiro Ministro. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Okinori Kaya foi Ministro das Finanças e Presidente da Companhia para Desenvolvimento do Norte da China. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Marquis Kouchi Kido foi Secretário Chefe da Defesa do Brasão, Ministro da Educação, do Interior e do Bem-Estar. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Kuniaki Koiso foi Vice-Ministro da Guerra, Governador da Coréia, e Primeiro Minstro. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão do dever de prevenir

35 33 atrocidades e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua. Devido à sua brutalidade era conhecido como tigre da Coréia. 10- Jiro Minami foi Ministro da Guerra, Governador-geral da Coréia e Conselheiro Privado. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Takasumi Oka foi Chefe do Departamento Naval e Vice-Ministro da Marinha. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Hiroshi Oshima foi Embaixador na Alemanha. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Kenryo Sato foi Chefe do Departamento de casos militares, Chefe-Assistente da Força Expedicionária Chinesa e comandante do Exército na Indochina. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Toshio Shiratori foi Diretor do Departamento da Informação, Ministro Estrangeiro e Embaixador na Itália. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão, foi condenado à prisão perpétua. 15- Teiichi Suzuki foi Chefe do Departamento de Assuntos da China, Presidente da pasta do Planejamento. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em Yoshijiro Umezu foi Chefe-geral da Seção de funcionários, Comandante da Força Expedicionária Chinesa Vice-Ministro da Guerra e Chefe da Guarda do Exército. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua. 17- Shigetaro Shimada também foi condenado à pena de prisão perpétua; 18- Hideki Togo foi Embaixador na Alemanha e na Ex- União Soviética e Ministro de Assuntos Exteriores. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de

36 34 agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à pena privativa de 20 (vinte) anos de prisão; 19- Mamoru Shigemitsu foi Embaixador na China, na Ex- União Soviética e na Inglaterra e Ministro de Assuntos Estrangeiros. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão do dever de prevenir atrocidades e crimes de guerra, foi condenado a pena privativa de liberdade de 7 (sete) anos de prisão; 20- Yosuke Matsuoka e Osami Nagano faleceram de causas naturais durante o processo; 21- Shumei Okawa foi hospitalizado em um sanatório no início do processo e libertado 2 (dois) anos depois. Os condenados à pena de morte por enforcamento foram executados no dia 23 de dezembro de 1946, na prisão de Sugano, em Tóquio. 66 Por questões políticas, o Japão aceitou a jurisição do Tribunal desde que essa não recaísse sobre o Imperador Hirohito. 67 Além disso, a tragédia causada pelos lançamentos das bombas atômicas que caíram sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki também não foi examinada pelo Tribunal. 68 Não havia recurso, mas era permitido ao Comandante-Chefe das potências aliadas interpor um tipo de apelação contra a decisão do Tribunal desde que fosse para atenuar ou alterar a sentença sem agravá-la. 69 Assim como o Tribunal de Nuremberg, o Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente também foi um tribunal de vencedores julgando vencidos. 66 SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p CAEIRO, Pedro. Tribunais Penais Internacionais: Etapas de um caminho ou astros em constelação?. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 10, nº 37, p. 103, Jan/Mar ANDRADE, Roberto de Campos. Estatuto de Roma e a Ordem Pública Internacional f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Direito, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 119.

37 Tribunal Penal ad hoc para a antiga Iugoslávia Por volta de 1987, o governo do partido comunista da Iugoslávia 70 passou por uma crise econômica muito forte, agravada pelos conflitos étnicos entre as populações locais. Neste ano, Slobodan Milosevic assumiu o comando do Partido Comunista Sérvio. As diversas etnias enfrentavam dificuldades de conviver entre si, o que ocasionou as lutas pelo poder e o desejo de desintegração do território. Diante de tal situação, ocorreu a independência da Eslovênia e da Croácia em 1991, cujo reconhecimento foi dado pela União Européia. 71 Logo em seguida, a Macedônia declarou sua independência. Em 1992 foi a vez da Bósnia-Herzegóvina declarar sua independência. Os sérvios da Bósnia isolaram cidades e conquistaram parte do território da Bósnia Ocidental. E assim, os conflitos foram aumentando e tornando-se cada vez mais violentos. A comunidade internacional ficou estarrecida com as informações sobre a violência brutal que estava ocorrendo naquele território. Então, em 17 de novembro de 1993 o Conselho de Segurança criou um Tribunal Penal ad hoc para a antiga Iugoslávia. O Secretário-Geral das Nações Unidas elaborou o Estatuto do Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia, mediante a Resolução 827, de 25 de maio de 1993, que trouxe medidas para julgar os responsáveis pelo grande massacre de civis (assassinatos e estupros), ocorridos naquele território desde Foi o primeiro tribunal a reconhecer o estupro praticado em grande escala como crime contra a humanidade. 74 Este Tribunal, sediado em Haia, abriu precedente ao ser composto apenas por juízes selecionados em toda a comunidade internacional e foi o primeiro 70 No Comunismo não há mais Estado. A Iugoslávia viveu uma forma de socialismo real deturpada no seu final e a crise econômica ocorreu porque a ajuda norte-americana, que queria dividir o mundo, cessou. 71 MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 6ª edição. São Paulo: Max Limonad, 2004, p A Iugoslávia era formada por seis repúblicas: Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia. 74 ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p. 337.

38 36 Tribunal especial penal não-militar da história. Foi também o primeiro tribunal a admitir recurso contra a decisão de seus magistrados. Quanto à competência material, o Tribunal Penal ad hoc para a antiga Iugoslávia era competente para julgar os seguintes crimes, de acordo com seu Estatuto 75 : - artigo 2º: graves violações às Convenções de Genebra (por exemplo: homicídio, tortura ou atos desumanos); - artigo 3º: violações às leis ou costumes de guerra (por exemplo: emprego de armas venenosas, destruição injustificada de cidades, vilas ou vilarejos, assassinatos e tratamento cruel); - artigo 4º: genocídio (ato contra um grupo nacional, étnico, racial ou religioso para destruí-lo no todo ou em parte); - artigo 5º: crimes contra a humanidade (por exemplo: escravidão, deportação, homicídio, estupro e outros atos contra a população civil). Quanto à competência pessoal, cabe a este Tribunal julgar somente pessoas físicas maiores de 18 (dezoito) anos. É vedado o julgamento por tribunal nacional de indivíduo já julgado pelo Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia, evitando assim o bis in idem. Sua composição é de 16 (dezesseis) juízes, assim distribuídos: 3 (três) juízes para cada sala de Primeira Instância ou Câmaras de Julgamento (eram três salas 76 ); 7 (sete) juízes para a Câmara de Apelações. Composto também pela Secretaria e Promotoria. São juízes dessa Corte: Theodor Meron - presidente da Corte (Estados Unidos), Fausto Pocar Vice-Presidente da Corte (Itália), Claude Jorda (França), Mohamed Shahabuddeen (Guiana), Richard Geroge May (Inglaterra), Wolfgang Schomburg (Alemanha), Liu Daquin (China), Florence Ndepele Mwachande Mumba (Zambia), David Anthiny Hunt (Austrália), Patrick Lipton Robinson (Jamaica), Mehmet Güney (Turquia), Asoka de Zoysa Gunawardana (Sri Lanka), Amin El 75 KRIEGER, César Amorim. Direito Internacional Humanitário: o precedente do comitê internacional da Cruz Vermelha e o Tribunal Penal Internacional. 2ª edição. Curitiba: Juruá, 2005, p Alguns juízes foram: Gabrielle Kirk Mc Donald (Estados Unidos); Antonio Cassesse (Itália); Lal Chand Vohrah (Austrália), Li Haopei (China), entre outros.

39 37 Mahdi (Egito), Carmel Agitus (Malta), Alphonsus Martinus Maria Orie (Países Baixos) e O-gon Kwon (Coréia do Sul). 77 A Promotoria é um órgão independente quanto às suas funções e administrativamente, responsável pelas investigações e acusações. O Procurador goza das mesmas imunidades conferidas aos diplomatas e é designado pelo Conselho de Segurança e nomeado pelo Secretário-Geral. 78 O primeiro Procurador desse Tribunal foi Richard Goldstone. 79 Hoje, o Ministério Público é chefiado por Carla Del Ponte (Suíça) e por seu procuradoradjunto Grahan Blewit (Austrália) desde 15 de setembro de Foram acusados 78 (setenta e oito) indivíduos, sendo 57 (cinqüenta e sete) sérvios, 18 (dezoito) croatas e 3 (três) mulçumanos. As penas do condenado variaram. Os principais julgamentos realizados por este Tribunal foram: 1- Milor Stakic era Vice-Presidente da Assembléia Municipal de Prijedor e Vice- Presidente da Comissão Municipal do Partido democrata Sérvio. Acusado de crimes contra a humanidade e violações às leis e costumes de guerra, foi condenado à prisão perpétua. 2- Goran Jelisic era membro da polícia e membro do Luka Camp. Acusado de genocídio e crimes contra a humanidade, foi condenado à pena de prisão perpétua. 3- Dusko Tadic era representante da Assembléia Municipal de Prijedor e Secretário da Comuna Local de Srpski Kozarac. Foi preso na Alemanha e acusado de cometer graves transgressões às Convenções de Genebra e às leis ou costumes de guerra e crimes contra a humanidade (ele participou da carnificina ocorrida no campo de concentração Omarska). Condenado a 20 (vinte) anos de prisão, foi transferido para a Alemanha para cumprir a pena; 4- Anto Furundzija era Comandante local dos Jokers. Acusado de violar as leis e costumes de guerra e pela prática de tortura foi condenado a 18 (dezoito) anos de prisão; 77 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p CAEIRO, Pedro. Tribunais Penais Internacionais: Etapas de um caminho ou astros em constelação?. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 10, nº 37, p. 101, Jan/Mar MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 109 e SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 144 a 154.

40 38 5- Blagoje Simic era Presidente da Equipe de Crise de Bosanski Samac. Acusado de crimes contra a humanidade, graves violações às Convenções de Genebra e genocídio, foi condenado a 17 (dezessete) anos de prisão. 6- Esad Landzo foi condenado a 15 (quinze) anos de prisão por violar as Convenções de Genebra, as leis e costumes de guerra; 7- Dusko Sikirica era Comandante do Keraterm Camp. Acusado de crime genocídio, crimes contra a humanidade, graves violações às Convenções de Genebra e às leis ou costumes de guerra, foi condenado a 15 (quinze) anos de prisão. Cumpriu pena na Áustria. 8- Milan Simic era Presidente da Comissão Executiva da Assembléia Municipal de Bosanski Samac e membro da Comissão de Crise Sérvia. Acusado de crimes contra a humanidade, foi condenado a 10 (dez) anos de prisão. 9- Stevan Todorovic era Chefe da Polícia de Bonsanski Samac e membro da comissão para a crise. Acusado de crimes contra a humanidade, foi condenado a 10 (dez) anos de prisão. 10- Miroslav Tadic era Chairman da Comissão de Câmbio. 82 Acusado de crimes contra a humanidade, foi condenado a 8 (oito) anos de prisão. 11- Admire Dozen, assim como Sikirica, era Comandante da tropa de Keraterm Camp. Acusado de crimes contra a humanidade e violações às Convenções de Genebra e às leis e costumes de guerra, foi condenado a 5 (cinco) anos de prisão em novembro de 2001, mas foi libertado em fevereiro de Dragan Kolundzija também era Comandante no Keraterm Camp. Acusado de crimes contra a humanidade e violações às leis e costumes de guerra, foi condenado a 3 (três) anos de prisão. 13- Dragan Papic era membro da HVO. Acusado de crimes contra a humanidade, foi absolvido. 14- Zejnil Dalelic era Comandante do Primeiro Grupo de Tática e do Grupo Bósnio. Acusado de violar as leis e costumes de guerra foi absolvido. Segundo o estatuto deste Tribunal, não há julgamento à revelia do acusado, pois é necessário que este esteja presente para iniciá-lo. A maior pena que pode ser imposta é a de prisão perpétua Era responsável pela troca de prisioneiros na qual cidadãos civis não sérvios eram expulsos de suas casas. 83 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 99.

41 39 O Ministério Público pode interpor apelação contra a decisão que absolve o réu. 84 Tanto o acusado quanto o Ministério Público podem requerer revisão da sentença quando da descoberta de fato novo após o julgamento e que seja capaz de mudar a decisão. 85 Em 1999, o então presidente da antiga Iugoslávia, Slobodan Milosevic, foi acusado pela prática de 66 (sessenta e seis) crimes. Foi a primeira vez que um chefe de Estado, que estava no poder, sofreu uma acusação. Foi acusado de expulsar os kosovares de origem albanesa da Província sérvia de Kosovo e de assassinar os habitantes dos vilarejos de Racak, Bela Crkva e Velika Krusa. 86 Seu julgamento iniciou-se em fevereiro de 2002, porém não chegou ao fim. Milosevic veio a falecer em sua cela na unidade de detenção do Tribunal em Haia, no dia 11 de março de Tribunal Penal ad hoc para Ruanda Os indivíduos que detinham o poder em Ruanda, pequena nação situada na África Oriental, instigaram as atrocidades que ocorreram naquela região durante a guerra civil. A violência atingiu o ápice em 1994, era uma guerra entre etnias, de um lado os hutus e do outro os tutsis e hutus moderados. Narra Salomão Barbosa que, no dia 06 de abril de 1994, um avião foi abatido sobre Kigali, matando o Presidente Juvenal Habyarimana da Ruanda e o Presidente Ceyprien Ntaryamira do Burundi. Até hoje não se tem certeza da autoria desse acidente. Porém, aproveitando-se da situação, a guarda presidencial e os extremistas hutus responsabilizaram os tutsis e hutus moderados, que eram a população minoritária, pelo atentado, iniciando o genocídio AMBOS, Kai. Es el procedimiento penal internacional adversarial, inquisitivo o mixto? Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 13, nº 57. Nov/Dez 2005, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p HISTORIANET. A morte de Milosevic. Disponível em: conteudo/default.aspx?codigo=341. Acesso em 18 de novembro de BARBOSA, Salomão Almeida. Tribunal Penal Internacional: afirmação contemporânea de uma idéia clássica e sua recepção na Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) Centro Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 73.

42 40 Neste ano, o Conselho de Segurança resolveu criar um tribunal para julgar as violações humanitárias internacionais ocorridas, inclusive nos Estados limítrofes, praticadas por cidadãos ruandeses, através da Resolução 955 de 08 de novembro de Para essa criação, o Conselho de Segurança baseou-se na solicitação feita pelo governo ruandense e no relatório publicado pela Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas que informava a ocorrência de genocídio naquela região. 88 Cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados foram massacrados por pessoas de etnia hutu. Milhares de mulheres foram estupradas e mutiladas. Mais de 2 (dois) milhões de ruandeses refugiaram-se na Tanzânia e no Zaire (hoje, República Democrática do Congo). 89 A comunidade internacional e as Nações Unidas permitiram uma intervenção militar em Ruanda, denominada Operação Turquesa, mas esta não obteve êxito. 90 A sede do referido tribunal fica em Arusha, na Tanzânia, uma vez que Ruanda não possui infra-estrutura suficiente e adequada para o processamento dos criminosos. 91 Este Tribunal tem competência para julgar: - artigo 2º: crimes de genocídio; - artigo 3º: crimes contra a humanidade; - artigo 4º: violações ao artigo 3º da Convenção de Genebra e de seu Protocolo Adicional II. A jurisdição do Tribunal Penal para Ruanda recai sobre as pessoas físicas e estende-se aos territórios de Estados vizinhos em relação aos crimes cometidos por cidadãos ruandeses durante todo o ano de O idioma oficial é o inglês e o francês. É composto de 3 (três) Câmaras de Julgamento, uma Câmara de Apelação, o Ministério Público e a Secretaria. São 14 (quatorze) juízes, sendo que a Câmara 88 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p BARRAL, Welber (Organizador), DELGADO, José Manoel A. de Pina; TIUJO, Liriam Kiyomi. Tribunais Internacionais: mecanismos contemporâneos de solução de controvérsias. Tribunais Penais Internacionais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 54.

43 41 de Apelações possui juízes em comum com os do Tribunal Penal para a antiga Iugoslávia. A Secretaria é responsável pela parte administrativa. O Ministério Público também é chefiado por Carla Del Ponte, como no Tribunal Penal para a antiga Iugoslávia, e o procurador-adjunto fica em Kigali. Este órgão, responsável pelas investigações e acusações, tem independência funcional e administrativa. É dividido em duas seções, a Seção de Investigação e a Seção de Persecução. 92 Até o dia 30 de novembro de 2003, o Tribunal para a antiga Iugoslávia julgou indivíduos. Os principais julgamentos desse tribunal foram: 1- Jean Paul Akayesu era Brugomestre de Taba. Acusado de praticar genocídio e crimes contra a humanidade (seqüestro, estupro e outras formas de violência sexual), foi condenado à pena de prisão perpétua. 2- Jean Kambanda era Primeiro-Ministro. Acusado pela prática de genocídio e crimes contra a humanidade, como extermínio de civis e atentados à integridade física e psíquica da população tutsi, foi condenado à pena de prisão perpétua. 3- Clément Kayishema era Prefeito de Kibuye. Acusado de praticar genocídio e crimes contra a humanidade, foi condenado à prisão perpétua. 4- George Rutaganda era homem de negócios e segundo Vice-Presidente de Interahamwes. Acusado pela prática de crimes contra a humanidade, genocídio e violações ao artigo 3º da Convenção de Genebra, foi condenado à prisão perpétua; 5- Eliezer Niyitegeka era Ministro das Comunicações. Acusado pela prática de genocídio, crimes contra a humanidade e violações ao artigo 3º da Convenção de Genebra, também foi condenado à prisão perpétua; 6- Omar Serushago era líder de Interahamwes na Prefeitura de Gisenyi. Acusado pela prática de crimes contra a humanidade e genocídio, entregou-se voluntariamente para ser julgado pelo Tribunal, sendo condenado a 15 (quinze) anos de prisão; 92 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 165 a 169.

44 42 7- Gerard Ntakirutimana era médico. Acusado pela prática de genocídio, e violações ao artigo 3º da Convenção de Genebra e de seu Protocolo Adicional II, foi condenado a 25 (vinte e cinco) anos de prisão; 8- Laurent Semanza era Burgomestre de Bicumbi. Acusado de praticar genocídio, crimes contra a humanidade e violações ao artigo 3º da Convenção de Genebra, foi condenado a 25 (vinte e cinco) anos de prisão; 9- Elizaphan Ntakirutimana era pastor da Igreja Adventista do 7º Dia em Kibuye. Também acusado pela prática de genocídio e violações ao artigo 3º da Convenção de Genebra e de seu Protocolo Adicional II, foi condenado a 10 (dez) anos de prisão; 10- Bernard Ntuyahaga era Major do Exército Ruandês. Acusado de praticar genocídio e graves violações ao artigo 3º da Convenção, teve retirada a denúncia, sendo o processo arquivado.

45 43 4. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: ASPECTOS COMPETENCIAIS E PRINCIPIOLÓGICOS O Estatuto do Tribunal Penal Internacinal compõe-se de preâmbulo e 13 partes (I-estabelecimento do Tribunal; II- Competência, admissibilidade e direito aplicável; III- Princípios gerais de Direito Penal; IV- Composição e administração do Tribunal; V- Inquérito e ação penal; VI- Processo; VII- Penas; VIII- Recurso e revisão; IX- Cooperação internacional e auxílio judiciário; X- Execução da pena; XI- Assembléia dos Estados Partes; XII- Financiamento; XIII- Cláusulas finais, perfazendo um total de 128 (cento e vinte e oito) artigos. Para Fernanda Nepomuceno, o Tribunal Penal Internacional exerce jurisdição sobre os nacionais dos Estados Partes, acusados pela prática dos crimes internacionais de sua competência em seus Estados, ou em outro Estado Parte. 95 Nas palavras de Alain Pellet, o Tribunal Penal Internacional fornece uma garantia jurisdicional mais sistemática e reduz o risco de jurisprudências contraditórias. 96 O preâmbulo determina a criação de um Tribunal Penal Internacional, pelos Estados, com caráter permanente e independente, complementar das jurisdições penais nacionais, que exerça competência sobre indivíduos, no que se refere aos crimes mais graves que afetam toda a sociedade internacional. 4.1 Soberania evolução do conceito É muito importante abordar neste trabalho científico o conceito de soberania, já que é um dos elementos essenciais para a existência do Estado, podendo assim entender melhor a aplicação do princípio da complementaridade no Estatuto de Roma. Este conceito sofreu várias modificações ao longo dos séculos, desde a Antiguidade. 95 SOUSA, Fernanda Nepomuceno de. Tribunais de guerra. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p PELLET Alain; DIHN, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick. Direito Internacional Público. Tradução: COELHO, Vítor Marques. 2ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p.740.

46 44 A palavra soberania vem do latim superanus, que significa grau supremo da hierarquia política. 97 Mas antes de existir a expressão soberania, a idéia de um poder supremo era pensada nas palavras do apóstolo São Paulo, referindo-se à onipotência de Deus (Nulla potestatas nisi Deo). 98 Na Antiguidade e na Idade Média, o conceito de soberania estava ligado à posição hierárquica. Na Idade Média, o poder não era unitário, e sim dividido entre os reis e os senhores feudais. Os monarcas impunham uma tributação alta aos senhores feudais, e estes, cansados dessa situação que lhes trazia prejuízo econômico e social, passaram a se conscientizar que deveriam buscar um poder soberano. 99 Jean Bodin, economista e jurista francês, estabeleceu o conceito de soberania em sua obra Os Seis Livros da República (1576). Para ele soberania é poder absoluto e perpétuo de uma República, 100 um poder de fazer e anular leis. Era tida como elemento essencial à noção de Estado Moderno. Thomas Hobbes, por sua vez, consagrou a teoria do poder ilimitados dos reis em sua obra, Leviatã, onde assegurava que os homens, em troca de segurança, alienaram seus direitos naturais ao monarca. 101 Para este filósofo, o Estado-Leviatã possuía o poder soberano e era tido como um deus mortal que guarda a essência da república. 102 Esse poder permitia o uso da coerção física ou da força para a execução das leis, a imposição de determinados comportamentos. 103 Com a Paz de Westfália, em 1648, o conceito de soberania passou a relacionar-se com a construção do Estado Moderno. 97 MELLO, Celso de Albuquerque. Anuário Direito e Globalização: A soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p GOYARD-FABRES, Simone. Os princípios filosóficos do Direito Político Moderno. Tradução: PATERNOR, Irene A. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 19ª edição. São Paulo: Saraiva, 1995, p MELLO, Celso de Albuquerque. Anuário Direito e Globalização: A soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p LEWANDOWSKI, Enrique Ricardo. O Tribunal Penal Internacional: de uma cultura de impunidade para uma cultura de responsabilidade. Revista Estudos Avançados. São Paulo. Volume 16, nº 45, p. 188, Mai/Ago GOYARD-FABRES, Simone. Os princípios filosóficos do Direito Político Moderno. Tradução: PATERNOR, Irene A. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 151.

47 45 Consolidado pelo absolutismo e graças ao desenvolvimento do capitalismo, surge o Estado Moderno. Os Estados foram unificados e afirmou-se o poder do monarca sobre um determinado território e seu respectivo povo. Os reis eram reconhecidos como representantes de Deus na Terra. Era o chamado poder divino dos reis em que o poder emanado dos Céus era interpretado pelo monarca e este deveria justificar seus atos tão somente a Deus. 104 A noção de soberania como poder uno e inalienável foi construída para o Estado Nacional. 105 Os Estados Nacionais soberanos reuniram-se e formaram uma ordem internacional, fundamentando-se na afirmativa de que eles eram os únicos detentores de direitos e deveres no Direito Internacional. 106 Interessante citar o conceito de soberania dado pelo doutrinador Jellinek: (...) a soberania é uma vontade que não se determina jamais senão por si mesma, sem obedecer a influências estranhas. Mas o Estado não determina arbitrariamente a sua competência, porque ele não pode dilatar livremente o âmbito de sua ação. A competência do Estado encontra seus limites internamente na personalidade reconhecida do indivíduo e externamente no direito internacional por ele reconhecido. O Estado, por força desse reconhecimento, impõe limites a si mesmo, sem que possa, em seguida, juridicamente, libertar-se, por um ato de vontade própria e exclusiva, das obrigações que a si mesmo se impôs. 107 Durante a Revolução Francesa ( ), influenciada pelo Iluminismo, que deu início à Idade Contemporânea, discutiu-se quem era o titular da soberania, surgindo, então, a soberania nacional, cujo titular era o Estado, e a soberania popular, onde cada cidadão era titular de uma parcela da soberania. 108 A maioria dos autores, como descreve Dallari, reconhece quatro características da soberania, que são: unidade, indivisibilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade. A soberania é una porque em um mesmo Estado só se admite uma soberania, não havendo poder superior a ela; é indivisível por se aplicar a 104 TIVERON, Raquel. Aspectos históricos, jurídicos, filosóficos e políticos do Tribunal Penal Internacional e seu impacto no ordenamento jurídico brasileiro f. Dissertação (Mestrado) Centro de Ensino Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós- Graduação em Direito, p MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Direito Constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p JELLINEK, G. L État Moderne et son Droit. In MARTINS, Pedro Baptista. Da unidade do Direito e da supremacia do Direito Internacional. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p MELLO, Celso de Albuquerque. Anuário Direito e Globalização: A soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p.13.

48 46 todos os fatos que ocorrem no Estado; é inalienável porque não pode ser transferida; e é imprescritível porque não tem prazo para a sua duração, já que é superior a qualquer outro poder. 109 A unidade e a indivisibilidade são características que Jean-Jacques Rousseau já reconhecia. Para este filósofo, soberania era o exercício da vontade geral do povo e esta vontade não poderia ser dividida e nem representada, a não ser pelo próprio povo. A idéia de representação implicaria em divisão da vontade geral, o que faria desaparecer a idéia de soberania. 110 Leciona José Luiz Quadros que a soberania pode ser analisada sob dois aspectos: o interno e o externo: A construção conceitual de soberania no ocidente teve origem nos fatos históricos traduzidos nas lutas travadas pelos reis franceses contra os barões feudais, para impor a sua autoridade, o que poderíamos chamar, então, de soberania interna, como também para se emanciparem da tutela do Santo Império Romano, primeiro, e do Papado, depois, o que poderíamos chamar de soberania externa. 111 Portanto, a soberania interna é o poder supremo do Estado que se encontra acima de qualquer outro em sua ordem interna. Manifesta-se pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, consagrando, assim, o direito de autodeterminação. 112 A soberania externa conceitua o Estado como um ator unitário, racional e autônomo, que não se submete às normas impostas por um ente supra-estatal. 113 É a relação de independência entre os Estados no âmbito internacional e, ao mesmo tempo, a posição de igualdade entre eles. Importante observação faz o doutrinador José Luiz Quadros quando afirma que a soberania não é um poder do Estado, mas sim uma qualidade deste poder, que poderá ser ou não soberano DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 19ª edição. São Paulo: Saraiva, 1995, p GOYARD-FABRES, Simone. Os princípios filosóficos do Direito Político Moderno. Tradução: PATERNOR, Irene A. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Direito Constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p MELLO, Celso de Albuquerque. Anuário Direito e Globalização: A soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Direito Constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 127.

49 47 Para César Krieger, a soberania legal é exercida internamente, através da racionalização jurídica da força e do poder pelo governo, e externamente, quando interage com outros Estados (...) A soberania dos Estados e o Tribunal Penal Internacional Segundo César Krieger, a soberania efetiva é o resultado de todos os vetores que individualizam determinado Estado no concerto internacional, tornando uns poucos Estados fortes, e a grande maioria debilitada e dependente. 115 O reconhecimento de jurisdição penal internacional ao Tribunal Penal Internacional foi dado pelo consentimento dos Estados através de um tratado multilateral, o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Francisco Rezek esclarece que o fato de se participar da criação de um Tribunal Internacional ou de assinar um tratado é um exercício da soberania, não de sua perda. 116 Nos dizeres de Maria Anides Soub, Essa proteção internacional dos direitos humanos enseja uma revisão na noção tradicional de soberania absoluta do Estado, que sofreu um processo de relativização e flexibilização, onde o Estado moderno não se encontra mais isolado, mas se torna membro da comunidade e do sistema internacional. Assim, o Estado que ratificar o Estatuto, o faz no livre exercício da sua soberania, e desta forma aceita o monitoramento internacional em relação à proteção aos direitos humanos (...) 117 Não há hierarquia entre os Estados no plano internacional, então um Estado não tem poder sobre outro. É uma relação horizontal onde os Estados, buscando um melhor relacionamento, fazem acordos bilaterais ou multilaterais entre si. Para Rodrigo More, 115 KRIEGER, César Amorim. Direito Internacional Humanitário: o precedente do comitê internacional da Cruz Vermelha e o Tribunal Penal Internacional. 2ª edição. Curitiba: Juruá, 2005, p. 62 e BUZAGLO, Samuel Auday. Considerações sobre a criação do Tribunal Penal Internacional. Carta Mensal. Volume 45, nº 540. Rio de Janeiro, Mar/2000, p SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. XXI.

50 48 Há sim, a harmonização natural de poderes, no que se pode denominar de pacto de soberanias, onde nenhum Estado deixa de ser mais ou menos soberano ao permitir que decisões estrangeiras produzam efeitos em seus territórios, já que o próprio ato permissivo é um exercício de soberania. 118 Segundo a lição de Ángel Legido, (...) o princípio da territorialidade do direito penal encontra-se na base de todos os ordenamentos jurídicos, não se trata de um princípio absoluto de direito internacional. O ponto de partida, seria, pois, a liberdade dos Estados para estender sua legislação penal e a jurisdição de seus tribunais sobre feitos ocorridos fora de seu território. 119 A jurisdição internacional ocorre com o consentimento dos Estados para a solução de um litígio entre esses sujeitos. Isto não significa perda da soberania para um organismo internacional. 4.2 Competência do Tribunal Penal Internacional Quanto à competência do Tribunal Penal Internacional, esta divide-se em competência material, pessoal, temporal e territorial. Há também a competência para conhecer as infrações contra a Administração da Justiça. O elemento subjetivo dos crimes de competência do Tribunal Penal Internacional é o dolo (intenção, vontade de cometer o delito). 118 MORE, Rodrigo Fernandes. A prevenção e solução de litígios internacionais no direito penal internacional: fundamentos, histórico e estabelecimento de uma Corte Penal Internacional. Disponível em Acesso: 22 de abril de LEGIDO, Angel Sánchez. Jurisdición Universal Penal y Derecho Internacional. Valencia: Tirantlo Blanch, 2003, p. 29. Tradução própria:... el pricipio de territorialidad del derecho penal se encuentra en la base de todos los ordenamientos, no se trata de un principio absoluto del derecho internacional. El punto de partida sería, pues, la libertad de lis Estados para extender su legislación penal y la jurisdicción de sus tribunales sobre hechos acaecidos fuera de su territorio.

51 Competência material Quanto à matéria, a competência do Tribunal Penal Internacional restringese, basicamente, aos crimes de agressão (art. 5º), genocídio (art.6 º), crimes contra a humanidade (art. 7º) e aos crimes de guerra (art.8º). Os bens jurídicos tutelados pertencem a toda a humanidade e o objetivo é manter a paz mundial. O tráfico de drogas e o terrorismo, também crimes internacionais, não foram incluídos no rol de competência trazido pelo Estatuto de Roma. Segundo João Miranda, tais crimes não foram previstos no Estatuto porque, além de não terem sido considerados suficientemente graves para ali estarem previstos, há no ordenamento jurídico internacional tratados de cooperação entre os Estados tratando desses crimes. 120 O crime de agressão está condicionado à posterior tipificação, pois não houve consenso na Convenção de Roma a esse respeito. Para Flávia Piovesan, esse conceito poderá ser incluído na Conferência de Revisão do Estatuto do Tribunal Penal Internacional, prevista para ocorrer em O crime de agressão foi definido como um crime internacional, particularmente, a agressão representa os crimes contra a paz 122 e é responsabilidade do Conselho de Segurança mantê-la, como designado pelo Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. Agressão, nos dizeres de Marcelo Biato, é conceito com densa imbricação política e forte carga ideológica, o que dificulta a tipificação juridicamente precisa e rigorosa indispensável em matéria penal. 123 Segundo Mohammed Gomaa, o crime de agressão é cometido por uma coletividade e não por um indivíduo 124, sendo que o Tribunal Penal Internacional prima pelo princípio da responsabilidade individual. 120 MIRANDA, João Irineu de Resende. O Tribunal Penal Internacional frente ao princípio da soberania f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Direito, p PIOVESAN, Flávia. (Org.), IKAWA, Daniela Ribeiro; PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. O Tribunal Penal Internacional e o Direito Brasileiro. 2ª edição. São Paulo: Max Limonad, 2003, p NESI, Giuseppe; POLITI, Mauro (Org.); LEANZA, Umberto. The International Criminal Court and the Crime of Aggression. The Historical Background. Inglaterra/Aldershot: Ashgate, 2005, p BIATO, Marcelo. O Tribunal Penal Internacional e a segurança coletiva. Revista Política Externa. Volume 10, nº 3, p. 139, Dez/Jan/Fev-2001/ NESI, Giuseppe; POLITI, Mauro (Org.); GOMAA, Mohammed M. The International Criminal Court and the Crime of Aggression. The Definition of the Crime of Aggression and the ICC Jurisdiction over that crime. Inglaterra/Aldershot: Ashgate, 2005, p. 77.

52 50 A definição do crime de genocídio trazida no Estatuto, encontra-se em conformidade com o conceito previsto na Convenção para Prevenção e Repressão do Genocídio de O crime de genocídio é identificado como qualquer ato, em tempo de paz ou de guerra, com a intenção de destruir, completa ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, assassinando ou causando ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo; 125 sujeitar intencionalmente os membros do grupo a condições de vida com o intuito de provocar a sua destruição física, total ou parcial; impor medidas que visem impedir nascimentos no seio do grupo e tranferir, à força, crianças do grupo para outro grupo. 126 O conceito de crimes contra a humanidade assume o status de norma costumeira, de caráter imperativo (jus cogens), reportando-se a graves violações da dignidade humana. 127 É crime contra a humanidade o ato cometido contra qualquer população civil de modo generalizado ou sistemático: homicídio; extermínio; escravidão; deportar ou transferir forçadamente uma população; prender ou realizar outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional; torturar; agredir sexualmente, escravizar sexualmente, forçar a prostituição, gravidez forçada, esterilização forçada ou praticar qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável; perseguir um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, desaparecimento forçado de pessoas; cometer crime de apartheid; cometer outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental. 128 Os crimes de guerra são os mais antigos dos crimes da competência do Tribunal Penal Internacional. Em seu artigo 8º, o Estatuto consagra a longa 125 O Tribunal de Nuremberg reconheceu esse tipo de violações, confirmado sobre a forma de princípio pela resolução da Assembléia Geral na resolução 95 (I) de 11 de dezembro de In JARDIM, Tarciso Dal Maso. O Tribunal Penal Internacional e sua Importância para os Direitos Humanos. Data de acesso: 03 de novembro de UNITED NATIONS. Rome Statute. Disponível em Acesso: 02 de abril de JARDIM, Tarciso Dal Maso. O Tribunal Penal Internacional e sua Importância para os Direitos Humanos. Acesso: 03 de novembro de UNITED NATIONS. Rome Statute. Disponível em Acesso: 02 de abril de 2007.

53 51 evolução do direito internacional humanitário que, desde o século passado, vem sendo impulsionado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Os crimes mencionados neste artigo são "infrações graves consagradas nas quatro Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949, violações graves a leis e costumes pertinentes a conflitos armados internacionais e, violações graves em conflitos de caráter não internacional. 129 Alguns desses crimes, descritos no próprio Estatuto de Roma são: homicídio doloso; tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas; destruição ou a apropriação de bens em larga escala, injustificadamente; privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob proteção do seu direito a um julgamento justo e imparcial; deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade; tomada de reféns; submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar; utilizar veneno, armas envenenadas ou gases asfixiantes ou dispositivo análogo; provocar deliberadamente a inanição da população civil como método de guerra; recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades; etc Competência pessoal A competência quanto à pessoa é a ratione personae. Neste aspecto, a competência do Tribunal Penal Internacional restringe-se às pessoas físicas que agirem ou não em nome do Estado. Geoffrey Robertson critica a posição do Tribunal Penal Internacional de somente julgar e punir indivíduos, enquanto pessoas naturais, e não julgar as pessoas jurídicas. Segundo este autor: 129 JARDIM, Tarciso Dal Maso. O Tribunal Penal Internacional e sua Importância para os Direitos Humanos. Acesso: 03 de novembro de UNITED NATIONS. Rome Statute. Disponível em Acesso: 02 de abril de 2007.

54 52 Por que uma multinacional química não deveria ser processada (assim como seus diretores) por fornecer gás venenoso, sabendo que este será utilizado no crime contra a humanidade? Por que essa conpanhia, se condenada, não deveria ser obrigada a pagar reparações aos sobreviventes e às famílias das vítimas? 131 Com razão o referido autor ao utilizar o argumento acima descrito. Uma indústria química que fabrica e/ou vende um produto que será usado contra a humanidade, tendo consciência disso, deveria ser também responsabilizada a título de participação pelo auxílio material que fornece. Segundo William Schabas, a delegação francesa havia proposto a inserção da responsabilidade das pessoas jurídicas no Estatuto de Roma, mas esta proposta foi retirada alegando-se que muitos Estados não têm esse tipo de responsabilidade prevista em seus ordenamentos jurídicos. 132 Contudo, o Tribunal Penal Internacional não terá jurisdição sobre os crimes praticados por menores de 18 anos, conforme o disposto no artigo Isto não é causa de inimputabilidade como ocorre no direito penal brasileiro, o que ocorre é a exclusão da jurisdição do Tribunal Competência temporal Quanto à temporalidade, a competência é ratione temporis, isso quer dizer que o Tribunal Penal Internacional exerce sua jurisdição sobre os crimes cometidos após a entrada em vigor de seu Estatuto, conforme artigos 11 e 26. A exceção à competência em razão do tempo diz respeito aos crimes de guerra (artigo 124 do referido Estatuto). O Estatuto do Tribunal Penal Internacional entrou em vigor em 1º de julho de 2002, quando o número mínimo de 60 Estados Partes foi atingido. 131 ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p Tradução própria: Why should a multinacional chemical corporation not be prosecuted (as well as its directors) for supplying poison gas in the knowledge that it will be used for a crime against humanity? Why should that company, if convicted, not be ordered to pay massive reparations to survivors and to victm s families? 132 SCHABAS William A., In FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p Art. 26: O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data da alegada prática do crime, não tenham ainda completado 18 anos de idade.

55 53 O Tribunal Penal Internacional tem jurisdição somente sobre os crimes cometidos a partir de sua vigência, ou, então, para os Estados que se tornaram partes posteriormente, a jurisdição recai sobre os crimes praticados após sua adesão. É importante também ressaltar que os crimes de competência do Tribunal Penal Internacional são imprescritíveis, podendo ser investigados a qualquer momento Competência territorial Quanto ao aspecto da territorialidade, para que o Tribunal seja competente, é preciso que o crime tenha ocorrido no território de um Estado Parte ou a bordo de aeronave ou navio registrado em seu nome ou o acusado ser um de seus cidadãos, conforme o artigo 12, 2, a e b do Estatuto de Roma. A jurisdição poderá ser estendida a um Estado que não é parte quando o crime for praticado por um nacional de um dos Estados-partes. 134 Contudo, há exceções a essas disposições. Quando a jurisdição do Tribunal Penal Internacional for provocada pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, ela não será limitada ao território em que o crime ocorreu ou à nacionalidade do suposto autor do fato criminoso. Neste caso, o próprio Conselho de Segurança pode solicitar que o Ministério Público inicie uma investigação acerca do caso sobre o qual foi feita a comunicação. 135 Além disso, o Tribunal Penal Internacional não tem competência exclusiva. Segundo o artigo 1º do Estatuto, ele é complementar das jurisdições penais nacionais BARRAL, Welber (Organizador), DELGADO, José Manoel A. de Pina; TIUJO, Liriam Kiyomi. Tribunais Internacionais: mecanismos contemporâneos de solução de controvérsias. Tribunais Penais Internacionais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p MIRANDA, João Irineu de Resende. O Tribunal Penal Internacional frente ao princípio da soberania f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Direito, p PELLET Alain; DIHN, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick. Direito Internacional Público. Tradução: COELHO, Vítor Marques. 2ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 741.

56 Competência para conhecer as infrações contra a Administração da Justiça Por fim, é também competência do Tribunal Penal Internacional conhecer dos crimes internacionais que atentem contra o bom funcionamento da Administração de sua justiça. Alguns exemplos desses crimes ou infrações são: apresentação de provas falsas, prestação de falso testemunho, suborno ou ameaças às testemunhas ou funcionários do Tribunal e alteração ou destruição de provas Princípios do Tribunal Penal Internacional O Tribunal Penal Internacional rege-se pelos princípios gerais de direito penal, apresentados nos artigos 22 a 29 de seu Estatuto. O Estatuto também traz implicitamente outros princípios gerais de direito. São eles: Princípio da Legalidade (arts. 22 e 23). Apesar de sua formulação em latim, o princípio nullum crimen nulla poena sine lege não tem origem romana. Tal princípio surge como consequência do liberalismo do século XVIII. É a base do Estado Democrático de Direito. Foi afirmado pela primeira vez por Anselmo von Feuerbach, fundador do direito alemão, por volta de 1810, com alcance meramente científico. Para ele, a 137 BARBOSA, Salomão Almeida. Tribunal Penal Internacional: afirmação contemporânea de uma idéia clássica e sua recepção na Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) Centro Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 107.

57 55 pena imposta pelo Estado é a conseqüência jurídica de uma lei fundada na necessidade de proteção e conservação de um direito ameaçado de lesão. 138 De acordo com os ensinamentos de Alicia Gil Gil, o princípio da legalidade é um princípio fundamental do Direito Penal dos países civilizados e forma parte, hoje em dia, sem dúvida alguma, do Direito Internacional geral. 139 Segundo este princípio, ninguém será julgado por um crime sem prévia cominação legal e o indivíduo condenado pelo Tribunal, será punido segundo as disposições do Estatuto já em vigor (Nullum crimen nulla poena sine lege praevia). 140 É uma forma de controlar o jus puniendi e ter segurança jurídica, evitando a arbitrariedade. Deste modo, não se pode criminalizar uma conduta através dos costumes. Este princípio dá origem a três outros postulados: reserva legal, determinação taxativa e irretroatividade. O princípio da irretroatividade será estudado separadamente. - Reserva Legal - Nullum crimen nulla poena sine lege scripta A maioria doutrinária defende que o postulado da reserva legal teve seu fundamento na Teoria do Contrato Social do Iluminismo, através da qual o Estado é tido como um instrumento de garantia dos direitos do homem, tendo seu poder limitado. 141 Por este princípio, entende-se que uma pessoa só poderá ser condenada por ato já tipificado quando de sua prática. - Determinação Taxativa nullum crimen nulla poena sine lege certa É também conhecido como Princípio da Taxatividade. As leis penais trazidas pelo Estatuto de Roma devem ser claras e precisas, mostrando exatamente a conduta que querem punir, evitando, assim, expressões ambíguas, equívocas e vagas. Procura-se evitar interpretações conflituosas ou mesmo divergentes, onde é vedada tipificação de um crime por analogia. 138 ASÚA, Luis Jiménez. Tratado de Derecho Penal. Tomo II Filosofia e ley penal. 2ª edição. Buenos Aires: Losada, S.A., 1964, p. 382 e GIL GIL, Alicia. Derecho Penal Internacional. Madrid: Tecnos, 1999, p. 73. Tradução própria: El principio de legalidad es um principio fundamental del Derecho Penal de los países civilizados y forma parte hoy em dia, sin duda alguna, del Derecho Internacional general. 140 AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), AMBOS, Kai. Tribunal Penal Internacional. Os princípios gerais de direito penal no Estatuto de Roma. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p LUISI, Luiz. Os Princípios Constitucionais Penais. 2ª edição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2003, p. 19 e 20.

58 Princípio da Irretroatividade (art. 24): É a exigência da atualidade da lei, ou seja, a lei alcança só os fatos cometidos depois que ela entra em vigor até o momento em que cessa a sua vigência - nullum crimen nulla poena sine lege praevia. Se surgir lei mais severa que a anterior (lex gravior), ela não alcançará o fato praticado anteriormente. Segundo Mirabete, é o princípio da ultratividade da lei mais benigna, onde a lei anterior (menos severa que a posterior) aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência, ainda que a ação penal se desenvolva na vigência da lei nova. 142 De acordo com este princípio, ninguém será condenado por um ato anterior à entrada em vigor do Estatuto. A exceção a este princípio está no artigo 24.2 que é a retroatividade da norma quando favorável ao réu (retroatividade benigna). Se a lei penal, contida no Estatuto de Roma, mudar antes de terminar um julgamento, será aplicada ao acusado a lei mais favorável Princípio da Responsabilidade penal individual (art. 25): A pretensão de consagrar o princípio da responsabilidade penal individual existe desde o final da Primeira Guerra Mundial, quando pretendeu julgar o Kaiser Guilherme II. Deste modo, visando alcançar a ordem pública internacional, iniciou-se a responsabilização das pessoas naturais no âmbito internacional. 144 Esta consagração é, hoje, uma vitória da humanidade. 145 É também conhecido no Direito Penal brasileiro como Princípio da Pessoalidade ou da Intranscedência. 146 Tal princípio também foi adotado pelo 142 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2001, p. 99 e AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), AMBOS, Kai. Tribunal Penal Internacional. Os princípios gerais de direito penal no Estatuto de Roma. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p BRINA, Marina Martins da Costa; LIMA, Renata Mantovani. O Tribunal Penal Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p 550.

59 57 Tribunal Penal Militar de Nuremberg e recepcionado pelo ordenamento jurídico internacional de forma pacífica. 147 Os indivíduos podem fazer parte tanto do pólo ativo quanto do pólo passivo nas relações jurídicas internacionais. No pólo ativo, podem peticionar para Tribunais Internacionais, por exemplo, podendo reclamar direitos dos quais são detentores no plano internacional. No pólo passivo, podem ser internacionalmente responsabilizados por cometerem violações às normas penais internacionais. É o que ocorre no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Segundo a doutrina de Valério Mazzuoli: A criação do Tribunal Penal Internacional, por meio do Estatuto de Roma de 1998, representou um grande impulso à teoria da responsabilidade internacional dos indivíduos, na medida em que o Estatuto prevê punição individual àqueles praticantes dos atos ilícitos nele previstos. 148 Um Estado só pode cometer um crime por ato de um indivíduo. Por isso, somente este é punido criminalmente no âmbito internacional. Significa que somente aquele que praticou a infração penal pode responder por ela. A pena não pode passar da pessoa do condenado. O indivíduo poderá ser condenado por autoria imediata ou direta, onde ele mesmo realiza a conduta descrita no tipo penal; autoria mediata, onde ele responde por ato praticado por outra pessoa, sendo ele autor intelectual (mandante); e por coautoria, onde ele pratica a conduta descrita juntamente com outros indivíduos, cada um contribuindo com uma conduta para o cometimento do crime. E, pode também ser condenado a título de participação por induzir, instigar ou prestar auxílio material para a realização do delito, conforme artigo 25.3 b, c, do Estatuto de Roma. Conclui-se, então, que perante a jurisdição do Tribunal Penal Internacional, o indivíduo responde pessoalmente por seus atos, sem prejuízo da responsabilidade do Estado e que o Tribunal Penal Internacional julga e pune os indivíduos e não os Estados. 146 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 2ª edição. Rio de Janeiro: Impetus, 2003, p BARRAL, Welber (Organizador), DELGADO, José Manoel A. de Pina; TIUJO, Liriam Kiyomi. Tribunais Internacionais: mecanismos contemporâneos de solução de controvérsias. Tribunais Penais Internacionais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p 545.

60 Princípio da Exclusão da jurisdição relativamente a menores de 18 (dezoito) anos (art. 26). Como já foi dito anteriormente, o Tribunal não terá jurisdição sobre crimes praticados por menores de 18 (dezoito) anos. A criança e o adolescente são considerados pelo Tribunal seres humanos em desenvolvimento. 149 Nota-se que o Tribunal Penal Internacional adotou o sistema Biológico. 150 Mais uma vez, Geoffrey Robertson critica a posição do Tribunal Penal Internacional. Para ele há uma discrepância, uma vez que os soldados que são jovens entre 16 (dezesseis) e 17 (dezessete) anos têm idade suficiente para participarem da guerra, deveriam também ter capacidade de ocuparem o pólo passivo e responderem pelas atrocidades que cometem. A razão disso é a diferença entre os sistemas jurídicos dos diversos países no que tange a menoridade. E há que se observar que muitas crianças e adolescentes são seqüestrados e obrigados a lutar contra a própria população, como vem ocorrendo na Uganda, por exemplo. Entende-se, portanto, que se considera somente a idade do agente, cuja premissa é de que o menor de 18 (dezoito) anos tem desenvolvimento mental incompleto ou retardado, sendo incapaz de entender o caráter ilícito de seus atos ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. É a imaturidade natural. 149 MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p TIVERON, Raquel. Aspectos históricos, jurídicos, filosóficos e políticos do Tribunal Penal Internacional e seu impacto no ordenamento jurídico brasileiro f. Dissertação (Mestrado) Centro de Ensino Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós- Graduação em Direito, p ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p Israel, Estados Unidos e Áustria argumentaram que a maioridade penal internacional deveria ser entre dezesseis e dezoito anos de idade.

61 Princípio da Irrelevância da qualidade oficial (art. 27): Não importa se o agente ocupa ou ocupava uma função oficial no momento do crime, pois as imunidades previstas no Estatuto dizem respeito à responsabilidade penal no âmbito internacional. 153 Nos dizeres de Flávia Piovesan: (...) o cargo oficial de uma pessoa, seja ela Chefe de Estado ou Chefe de Governo, não eximirá de forma alguma sua responsabilidade penal e nem tampouco importará em redução da pena. Aos acusados são asseguradas as garantias de um tratamento justo em todas as fases do processo, de acordo com os parâmetros internacionais. 154 Este princípio busca alcançar a igualdade entre os indivíduos. É irrelevante o cargo ocupado (Ministro, Chefe de Estado, Parlamentar ou outra autoridade) para fins de responsabilidade penal. Nem mesmo há diminuição de pena por causa do cargo ou função ocupada Princípio da Responsabilidade dos Chefes Militares e Outros Superiores Hierárquicos (artigo 28): A maioria dos crimes de competência do Tribunal Penal Internacional é cometida por pessoas que detêm um determinado poder de um Estado. São pessoas que no âmbito interno de seus Estados, têm algum tipo de imunidade. Para que seja responsabilizado criminalmente, o militar deve ou deveria saber do cometimento de um crime por seus subordinados. 155 É a responsabilidade desses indivíduos (militares/comandantes) em relação às ações das forças sob seu comando e controle, incluindo a responsabilidade por 153 MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 6ª edição. São Paulo: Max Limonad, 2004, p AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.); SCHABAS, Willian A. Tribunal Penal Internacional. Princípios Gerais de Direito Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 175.

62 60 omissão, 156 ainda que não se encontrem fisicamente nos locais dos crimes quando de sua ocorrência Princípio da Imprescritibilidade (art. 29). Os crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crime de agressão não prescrevem. O princípio da imprescritibilidade baseia-se na gravidade dos crimes de competência do Tribunal Penal Internacional. É inviável fixar um prazo que venha limitar a legitimidade para aplicação de uma pena Princípio ne bis in idem (art. 20): É um princípio que procura evitar o conflito de normas penais. De acordo com este princípio, ninguém pode ser julgado mais de uma vez pelo mesmo fato. Poderá haver novo julgamento quando o primeiro não tiver observado as garantias processuais ou não tiver sido conduzido imparcialmente 158 ou de outra maneira que comprometa sua efetividade e eficácia, tais exceções encontram-se no artigo Princípio da Complementaridade Este é o princípio norteador do relacionamento entre as jurisdições interna e internacional, consagrado pelo Estatuto do Tribunal Penal Internacional. 156 MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p BRINA, Marina Martins da Costa; LIMA, Renata Mantovani de. O Tribunal Penal Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 169.

63 61 Segundo este princípio, previsto no parágrafo 10 do preâmbulo e nos artigos 1 e 17 do Estatuto de Roma, o Tribunal deve dar p recedência aos tribunais nacionais, quando estes o quiserem e estiverem em situação de dar seguimento aos processos. 159 Constata-se que a jurisdição nacional de um Estado não é confiável ou se manifesta de forma ineficaz, aspectos que podem indicar a inépcia do seu sistema judicial. De acordo com o princípio da complementaridade, e nos dizeres de Marcelo Biato, o direito internacional penal estimula a harmonização de medidas internacionais para coibir os mais graves crimes contra os direitos humanos. Especialmente no caso de conflito que tem na sua origem graves carências materiais, cumpre buscar respostas centradas não na imposição da paz, mas na sua construção mediante a identificação de soluções de longo prazo para problemas estruturais. 160 O Tribunal Penal Internacional tem jurisdição nos casos em que os Estados forem incapazes ou estiverem mal intencionados para julgar os crimes previstos no Estatuto de Roma. 161 Mas se o Estado, quando investigar o crime, decidir não processar o indivíduo, o Tribunal poderá exercer sua jurisdição, se constatar que há falta de interesse ou impossibilidade do Estado Parte em fazê-lo. 162 Cabe ao próprio Tribunal decidir sobre essa falta de capacidade do Estado ou o seu desinteresse em processar o acusado. O Estado tem um mês para comunicar ao Ministério Público do Tribunal Penal Internacional se já está investigando ou não à situação objeto da denúncia. Não havendo tal comunicação, o Ministério Público assume a investigação do caso. 159 AMBOS, Kai. Impunidade por violação dos direitos humanos e o direito penal internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 12, nº 49, p. 75, Jul/Ago BIATO, Marcelo. O Tribunal Penal Internacional e a segurança coletiva. Revista Política Externa. Volume 10, nº 3, p. 142, Dez/Jan/Fev-2001/ BARRAL, Welber (Organizador), DELGADO, José Manoel A. de Pina; TIUJO, Liriam Kiyomi. Tribunais Internacionais: mecanismos contemporâneos de solução de controvérsias. Tribunais Penais Internacionais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p COSTA, Érica Adriana. O Tribunal Penal Internacional em face da Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 40.

64 62 Como assevera Cláudia Perrone-Moisés, o Tribunal Penal Internacional não substitui os Tribunais nacionais, mas opera na ausência de atuação destes ou se verificada sua incapacidade. 163 É importante mencionar que o princípio da complementaridade encontra inspiração no princípio da justiça universal, uma vez que o fundamento primordial do Tribunal Penal Internacional é evitar que os acusados pela prática dos crimes contra a própria humanidade fiquem sem um efetivo julgamento por razões políticas ou mesmo interesses econômicos Das Penas Qualquer tipo de prisão deve ser feita após expedição de mandado pela Câmara de Questões Preliminares. Neste momento o Estado Parte deve efetuar a prisão do indivíduo obedecendo a lei do Estado onde ele ser encontre 165 e entregálo ao Tribunal. Os condenados estão sujeitos às seguintes penas: pena privativa de liberdade pelo prazo máximo de 30 anos; pena de prisão perpétua; multa e confisco de bens procedentes da prática do crime. As penas são fixadas de acordo com a gravidade do crime e as condições pessoais do condenado. Serão cumpridas em um dos Estados Partes que declararem expressamente que aceitam que os prisioneiros cumpram as penas em seu território. É importante observar que o lugar do crime e a nacionalidade do condenado não são fatores decisivos para se escolher o Estado em que a pena será cumprida PERRONE-MOISÉS, Cláudia. O princípio da complementaridade no Estatuto do Tribunal Penal Internacional e a soberania contemporânea. Revista Política Externa. São Paulo. Volume 8, nº 4, p. 05, Mar/Abr/Mai PERRONE-MOISÉS, Cláudia. O princípio da complementaridade no Estatuto do Tribunal Penal Internacional e a soberania contemporânea. Revista Política Externa. São Paulo. Volume 8, nº 4, p. 04, Mar/Abr/Mai AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), BEHRENS, Hans-Jörg. Tribunal Penal Internacional. Investigação, Julgamento e Recurso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), KREB, Claus. Tribunal Penal Internacional. Penas. Execução e Cooperação no Estatuto para o Tribunal Penal Internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 131.

65 pena. 167 No caso das penas de prisão perpétua, estas poderão sofrer redução depois 63 O Estado onde a pena estiver sendo cumprida será o responsável pela custódia do condenado e por sua integridade física e moral. Em caso de fuga, o Tribunal informará a todos os Estados Partes o ocorrido e todos ficarão comprometidos com a prisão e devolução do fugitivo ao local de cumprimento da do cumprimento de 25 (vinte e cinco anos), ou, no caso das demais penas privativas de liberdade, estas poderão ser reduzidas quando cumprido 2/3 (dois terços) delas VIEIRA, Alexandre Augusto de Andrade. TPI: Tópicos importantes sobre o Estatuto de Roma. Disponível em direito/revista/revista2/artigo20.htm. Acesso: 21 de abril de LEWANDOWSKI, Enrique Ricardo. O Tribunal Penal Internacional: de uma cultura de impunidade para uma cultura de responsabilidade. Revista Estudos Avançados. São Paulo. Volume 16, nº 45, p. 194, Mai/Ago 2002.

66 64 5. O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E SUA COMPOSIÇÃO Como já foi mencionado, depois de cinco semanas de negociações, o Tribunal Penal Internacional foi criado em 17 de julho de 1998 através do Estatuto de Roma, entrando em vigor em 1º de julho de Sua sede é em Haia, na Holanda. O modelo de persecução seguido é o acusatório, onde a acusação, a defesa e a senteça são atribuídas a sujeitos processuais diferentes. 169 Os crimes da competência do Tribunal Penal Internacional (genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes de agressão) são imprescritíveis. Segundo o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, O Tribunal Penal Internacional promete, finalmente, suprir o que tem sido há muito tempo um elo desaparecido no sistema legal internacional, um tribunal permanente para julgar os crimes mais graves contra a sociedade internacional como um todo - genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. 170 É composto por 18 (dezoito) juízes que possuem elevada idoneidade moral, eleitos pela maioria absoluta da Assembléia de Estados Partes para um mandato de 9 (nove) anos, em regime de dedicação exclusiva, sendo vedada a reeleição. Tais juízes tomaram posse em 11 de março de Devem ter reconhecida competência em Direito Penal e Processual Penal, e experiência como juiz, promotor ou advogado, ou ter competência no âmbito de direito internacional humanitário e dos direitos humanos. São eles: Sylvia Helena de Figueiredo Steiner (Brasil); karl Hudson-Phillips (Trindad e Tobago); Claude Jorda (França); Georghios Pikis (Chipre); Elizabeth Odio Benito (Costa Rica); Tuiloma Neroni Slade (Saamoa); Sang-hyun Song (Coréia); Maureen Harding Clark (Irlanda); Fatoumata Dembele Diarra (Mali); Adrian Fulford (Inglaterra); Navanethem Pillay (África do Sul); Hans-Peter Kaul (Alemanha); 169 CALABRICH, Bruno. O Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal. Ano VI, nº 33, p. 23, Ago/Set Kofi Annan In MOREIRA, Felipe Kern. A inserção brasileira no Tribunal Penal Internacional. Revista Múltipla. Brasília. Vol. 8, nº 12, Ano VII, p. 45, Jun/2002. Tradução própria: The ICC promisses, at last, to suply what has for long been the missing link in the international legal system, a permanent court to judge the crimes of gravest concern to the international community as a whole genocide, crimes against humanity and war crimes.

67 65 Mauro Politi (Itália); Akua Kuenyhia (Gana); Philippe Kirsch (Canadá); René Blattmann (Bolívia); Erkki Kourula (Finlândia) e Anita Usacka (Latvia). 171 Apesar de não ter polícia própria, o Tribunal Penal Internacional contará com a ajuda da polícia do local onde se encontre o suspeito para prendê-lo provisoriamente. 172 De acordo com os artigos 114, 115 e 116 do Estatuto de Roma, as despesas do Tribunal e da Assembléia dos Estados Partes, serão pagas pelos fundos próprios do Tribunal. Tais fundos são provenientes de quotas dos Estados Partes; fundos da Organização das Nações Unidas; contribuições voluntárias dos Governos, das organizações internacionais, de particulares, de empresas e outras entidades. Os órgãos que compõem o Tribunal Penal Internacional são: a Presidência; as Câmaras de Questões Preliminares, de Julgamento e de Recursos; a Procuradoria e a Secretaria. O Estatuto de Roma, em seu artigo 112, refere-se à Assembléia dos Estados-partes do Tribunal Penal Internacional. 5.1 Presidência A Presidência é formada pelo Presidente e 2 (dois) Vice-Presidentes, que são juízes do Tribunal. São eleitos por maioria absoluta dos juízes para, em regra, um mandato de 3 (três) anos. A presidência é o órgão responsável pela administração dos demais órgãos, com exceção da Promotoria. Porém, se existir um assunto que é do interesse tanto da Presidência quanto da Promotoria, aquela deverá consultar esta antes de tomar qualquer decisão KRIEGER, César Amorim. Direito Internacional Humanitário: o precedente do comitê internacional da Cruz Vermelha e o Tribunal Penal Internacional. 2ª edição. Curitiba: Juruá, 2005, p CALETTI, Cristina. Os precedentes do Tribunal Penal Internacional, seu Estatuto e sua relação com a legislação brasileira. Disponível em Acesso 30 de março de FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 211.

68 66 A Presidência pode determinar que os juízes que fazem partem dos outros órgãos trabalhem meio período e não em tempo integral, dependendo do volume de trabalho do Tribunal Câmaras As Câmaras, também chamadas de Seções, são responsáveis pela condução dos procedimentos. São divididas em: Câmara de Questões Preliminares, Câmara de Julgamento e Câmara de Recurso. São órgãos jurisdicionais Câmara de Questões Preliminares ou Câmara de Pré-Julgamento Tratada pelos artigos 56 e 57 do Estatuto de Roma, a Câmara de Questões Preliminares ou Câmara de Pré-Julgamento é um órgão formado por 6 (seis) juízes, sendo que somente um ou três desses juízes levarão adiante as suas funções na Câmara de Questões Preliminares. 175 O mandato dos juízes nesta Câmara é de três anos ou durará o tempo necessário para a conclusão de qualquer causa que tenham iniciado dentro do mandato. 176 Esta Câmara é responsável pela fase compreendida entre a permissão de realização da investigação e o recebimento da denúncia. Exerce um controle preventivo interno ao Tribunal, 177 segundo o artigo 15.3 do Estatuto de Roma, ao analisar os documentos probatórios apresentados pelo Ministério Público, autorizando que este inicie suas investigações. De certa forma esse controle é um modo de se evitar a politização dos trabalhos do Ministério Público. 174 AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), JARASCH, Frank. Tribunal Penal Internacional. Estabelecimento, organização e financiamento do CIC e as cláusulas finais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p BRINA, Marina Martins da Costa; LIMA, Renata Mantovani de. O Tribunal Penal Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p.96.

69 67 Sua função geral é especificar quais diligências deverão ser tomadas para os fins da investigação, como por exemplo, assegurar a proteção das vítimas e testemunhas, autorizar o Procurador a reunir provas, interrogar pessoas e investigar um Estado-parte e expedir mandados necessários à investigação. 178 Tal Câmara pode também nomear peritos e designar um de seus juízes para acompanhar o procedimento criminal. É de sua responsabilidade informar ao indivíduo detido seus direitos e quais são as acusações contra ele. Contudo, pode liberar o indivíduo se as condições que fundamentaram o mandado deixaram de existir, demonstrando a desnecessidade da prisão Câmara de Julgamento ou Câmara de Primeira Instância Cada Câmara é composta por 3 (três) juízes, e é responsável pelo julgamento da causa e dos incidentes processuais que ainda não sofreram preclusão. No Tribunal Penal Internacional há duas Câmaras de Julgamento. Assim como na Câmara de Questões Preliminares, os juízes desempenharão suas funções por um período de três anos ou até a conclusão de qualquer causa que tenham iniciado dentro do mandato. Esta Câmara poderá rejeitar o pedido de arquivamento do Ministério Público, configurando aí seu juízo de admissibilidade. Acompanhará a fase de investigação e celebrará a audiência de confirmação da acusação quando for o caso. Deverá assegurar um julgamento justo e imparcial, onde sejam atendidas as garantias processuais e defesas do acusado. 178 FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), BEHRENS, Hans-Jörg. Tribunal Penal Internacional. Investigação, Julgamento e Recurso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 69 e 70.

70 Câmara de Recursos ou Câmara de Apelações É composta por 5 (cinco) juízes, responsáveis pelo julgamento dos recursos de apelação e resolver as revisões de resoluções da Câmara de Questões Preliminares, sendo um dos juízes, o presidente do Tribunal Penal Internacional. Para que não haja nenhum tipo de interferência nos julgamentos, ou seja, para garantia a imparcialidade dos juízes que julgam os recursos, os mesmos devem desempenhar suas funções exclusivamente nessa Câmara durante todo o período do mandato, ou seja, durante os 9 (nove) anos. A Câmara de Recurso pode modificar a sentença caso entenda que a pena aplicada foi desproporcional. Poderá também solicitar novo julgamento ou completar ou modificar a sentença se entender que o julgamento foi injusto ou houve erro de fato ou de direito na mesma Assembléia dos Estados-partes A Assembléia dos Estados-partes é composta por um representante de cada Estado que tenha ratificado o Estatuto de Roma. É o orgão deliberativo, administrativo, responsável pela fixação de diretrizes e estabelecimento de normas para manter a atualização do sistema penal internacional à realidade internacional. 181 sobre a possível alteração do número de juízes. Decide sobre o orçamento do Tribunal e Outras funções são: examina questões referentes à falta de cooperação dos Estados, estabelece um fundo penitenciário em favor das vítimas, aprova o regulamento do Tribunal. 180 AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), BEHRENS, Hans-Jörg. Tribunal Penal Internacional. Investigação, Julgamento e Recurso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p SOUSA, Fernanda Nepomuceno de. Tribunais de guerra. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p As funções da Assembléia dos Estados-partes estão presentes no artigo 112 do Estatuto de Roma.

71 69 Reúne-se, em regra, uma vez por ano, podendo reunir-se em sessões extraordinárias, quando for necessário. 5.4 Secretaria A Secretaria é o principal órgão responsável pelas questões administrativas do Tribunal. É dirigida pelo secretário que é eleito por voto da maioria absoluta dos juízes para um mandato de 5 (cinco) anos, em regime de dedicação exclusiva, sendo permitida uma reeleição. Se for necessário, por recomendação do próprio secretário, serão eleitos um ou mais secretários-adjuntos. Por não ser um órgão autônomo, o pessoal que exerce as funções na Secretaria é eleito direitamente pelos Estados-partes e não pela Assembléia dos Estados-partes. 184 Compete à Secretaria tratar dos assuntos não judiciais da administração e funcionamento do Tribunal. É responsável também pela criação da Unidade de Apoio às Vítimas e Testemunhas, de acordo com o artigo 43 e parágrafos. Esta unidade visa aconselhar e proteger as vítimas e testemunhas de crimes da competência do Tribunal Penal Internacional. 5.5 Promotoria ou Ministério Público O Ministério Público é denominado no Estatuto de Roma como Gabinete do Procurador, órgão chefiado pelo Procurador (Procurador-Geral). É um órgão de persecução penal que funciona junto ao Tribunal Penal Internacional, mas não no referido tribunal. O Procurador é auxiliado por um ou mais procuradores-adjuntos que poderão desempenhar qualquer função da competência do Procurador, de acordo com o que foi estabelecido no Estatuto de Roma. 184 BRINA, Marina Martins da Costa; LIMA, Renata Mantovani de. O Tribunal Penal Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 62.

72 70 Sendo necessário, o Procurador poderá nomear assessores jurídicos especializados em determinadas áreas para auxiliá-lo, como, por exemplo, especialistas em crimes sexuais. 185 Atualmente o Procurador-Geral do Tribunal Penal Internacional é o argentino Luiz Moreno Ocampo, que tomou posse em 16 de junho de O Procurador tem autoridade para dirigir e administrar o Gabinete do Procurador, tanto no que se refere ao pessoal, como às instalações e outros recursos FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p General Organizations. Disponível em Acesso 22 de abril de 2007.

73 71 6. COOPERAÇÃO E OPINIÃO PÚBLICA INTERNACIONAL 6.1 Disposições Gerais sobre a Cooperação Internacional Os Estados Partes devem cooperar plenamente com o Tribunal Penal Internacional nos inquéritos e nos procedimentos criminais da competência deste. É um dever oriundo da ratificação do Estatuto de Roma. E é uma forma dupla de cooperação, pois os Estados devem prevenir e reprimir a ocorrências dos crimes internacionais que recaem sob a jurisdição do Tribunal Penal Internacional. O instituto da cooperação internacional prevê a proibição de se conceder asilo político ao acusado de cometer crimes contra a humanidade e proíbe que tais crimes sejam caracterizados como crimes políticos para a obtenção de extradição. 187 Para Paul Hernández Balmaceda, o dever de cooperação dos Estados caracterizado pelo Direito Internacional Público constitui uma obrigação de prevenção e repressão dos crimes internacionais da jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Por serem extremamente graves, tais crimes exigem a responsabilização penal individual dos criminosos. 188 Essa obrigação é relativa, pois, nas palavras de Marina Brina e Renata Lima, (...) se um Estado tiver conhecimento de que informações ou documentos seus serão, ou poderão ser, divulgados em qualquer fase do processo, e considerar que essa divulgação afetaria os seus interesses de segurança nacional, tal Estado terá o direito de intervir, a fim de ver resolvida essa questão. Entretanto, tal Estado deve tentar resolver o problema cooperando com o TPI mediante os meios cabíveis para resolver a questão AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), RAMOS, André de Carvalho. Tribunal Penal Internacional. O Estatuto do Tribunal Penal Internacional e a Constituição Brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 250 e BALMACEDA, Paul Hernández. Aplicação direta dos tipos penais do Estatuto do Tribunal Penal Internacional no direito interno. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 15, nº 65, p. 150, Mar/Abr BRINA, Marina Martins da Costa; LIMA, Renata Mantovani de. O Tribunal Penal Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 67 e 68.

74 72 O Tribunal pode dirigir pedidos de cooperação aos Estados Partes, que serão transmitidos por vias diplomáticas ou outra apropriada, de maneira confidencial. 190 Pode também, solicitar cooperação de Estados que não são partes do Estatuto de Roma através de acordos internacionais. 191 Quanto à reunião de provas, muitas vezes a Defesa e o Ministério Público precisam da cooperação dos Estados a fim de que permitam a entrada daqueles no território desses para fins de investigação. À Defesa é incomum essa permissão por isso depende da revelação das informações pelo Ministério Público para preparar devidamente sua defesa. 192 A respeito do tema, Celso Mello assegura que: A cooperação envolve, ilustrativamente, a adoção de procedimentos internos de implementação do Estatuto, a entrega de pessoas ao Tribunal, a realização de prisões preventivas a produção de provas, a execução de buscas e apreensões e a proteção de testemunhas. 193 O Estado não precisa ser Estado-parte para que lhe seja permitido levar a noticia criminis ao Ministério Público para posterior investigação. Segundo Raquel Tiveron, o espírito de cooperação entre os Estados demonstra que a tendência das nações na política internacional não é mais o individualismo estatal, mas o sentimento de cooperação entre os povos. 194 Diante dessa cooperação internacional, observa-se a existência de interesses comuns entre os Estados na luta pela defesa dos direitos humanos no âmbito internacional. 190 ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p SABÓIA, Gilberto Verne. A criação do Tribunal Penal Internacional. Revista CEJ. Brasília, nº 11, p. 13, Mai/Ago AMBOS, Kai. Es el procedimiento penal internacional adversarial, inquisitivo o mixto? Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 13, nº 57. Nov/Dez 2005, p MELLO, Celso de Albuquerque. Anuário Direito e Globalização: A soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p TIVERON, Raquel. Aspectos históricos, jurídicos, filosóficos e políticos do Tribunal Penal Internacional e seu impacto no ordenamento jurídico brasileiro f. Dissertação (Mestrado) Centro de Ensino Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós- Graduação em Direito.

75 Opinião Pública Internacional Conceito A expressão opinião pública surgiu na segunda metade do século XVIII. Desenvolveu-se juntamente com as Revoluções Francesa e Americana, mas somente consolidou-se nos governos liberais do século XIX. O conceito de opinião pública internacional é complexo, porque é difícil saber como o público pensa, como reage as informações fornecidas pela imprensa global e quais conclusões chegam sobre determinado assunto. A opinião pública internacional diz respeito a um conjunto de opiniões, juízos, pontos de vistas, aceitos pela maioria da sociedade internacional e está sempre em transformação, sendo a impressa a maior responsável por essa transformação. 195 Não se deve esconder as atrocidades cometidas no mundo da opinião pública internacional. As manifestações decorrentes das informações recebidas acerca de um fato pela imprensa provocam o interesse da sociedade internacional e esta luta pela paz buscando a cooperação entre os Estados Importância da opinião pública internacional no Tribunal Penal Internacional A respeito do tema, Samuel Buzaglo, afirma que a opinião pública está atenta e o consenso internacional reclama processo e julgamento para àqueles que violem as leis que preservem os direitos e garantias fundamentais do homem CAMPOS, Gustavo Barreto de; FRANCO, Bruno da Silva; MALERBA, João Paulo; PACHECO, Gabriela de Resende Nora; RETTICH, Juliana Silva. Opinião Pública Internacional: conceituação teórica, investigação sobre o tema e estudos de caso. Edição 1. Ano 2. Laguinho. Agosto de Disponível em internacinal.pdf. Acesso: 21 de abril de BUZAGLO, Samuel Auday. Considerações sobre a criação do Tribunal Penal Internacional. Rio de Janeiro. Revista: Carta Mensal. Volume 45, nº 540, p.72, Março de 2000.

76 74 As atrocidades cometidas na Ruanda e na antiga Iugoslávia comoveram a opinião pública internacional. Esta exigiu uma atitude imediata da Justiça internacional. Desse modo, foram criados os Tribunais Penais Internacionais ad hoc para a antiga Iugoslávia e para Ruanda, pelo Conselho de Segurança. 197 Os direitos humanos passam a ser interesse da sociedade internacional. A opinião pública difunde as atrocidades e passa a exigir uma resposta dos Estados quanto a elas. As convenções mundiais já existentes para a proteção dos direitos humanos não são suficientes para atender à sensibilidade da opinião pública mundial. Mais uma vez, mostrou-se necessária a criação do Tribunal Penal Internacional. 197 GIL GIL, Alicia. Derecho Penal Internacional. Madrid: Tecnos, 1999, p. 62.

77 75 7. MINISTÉRIO PÚBLICO Como foi mencionado anteriormente, o Ministério Público é o órgão chefiado pelo Procurador, que é responsável pela persecução penal, podendo ser auxiliado por um ou mais procuradores-adjunto. Atualmente o Procurador-Geral do Tribunal Penal Internacional é o argentino Luiz Moreno Ocampo, que tomou posse em 16 de junho de Competências O exercício da ação penal é confiado ao Ministério Público. É função do Ministério Público instaurar o inquérito. Para tanto, ele participa da primeira fase do processo que é a fase investigatória 198, realizada pelo levantamento de fatos e provas. Deste modo, o Procurador, representante do Ministério Público, através de seu poder discricionário, decide se inicia/prossegue ou não o procedimento, dependendo da existência suficiente de indícios criminais. É competência do Ministério Público reunir-se com os Estados para decidir sobre a divulgação de documentos e/ou informações quando da segurança nacional desses Estados. Deve também discutir sobre a cooperação judiciária dos Estados Partes com o Tribunal Penal Internacional. Neste sentido leciona João Manuel: (...) o Estatuto atribui competência ao procurador pra concertar-se com os Estados, quanto à forma de solucionar o diferendo suscitado pela necessidade de divulgar informações ou documentos do Estado no âmbito de um processo, quando esteja em causa a proteção dos interesses de segurança nacional desse Estado (art. 72, n.5). No contexto da cooperação judiciária, permite-lhe negociar com um Estado a forma de cumprimento de qualquer acto judiciário, vinculando-se ao acordado (n.5 do art. 93), bem como lhe atribui competência para, sem recorrer a medidas coercitivas, dar cumprimento a um pedido de cooperação judiciária directamente no território de um Estado parte, 198 A segunda fase do processo é a jurisdicional.

78 76 depois de ter levado a cabo consultas tão amplas quanto possível com o Estado requerido (art. 99, n.4). 199 Entende-se, então, que cabe ao Ministério Público desenvolver investigações, decidir sobre o exercício da ação, apresentar em juízo as provas e sustentar a acusação. Cabe também ao Ministério Público, propor emendas aos elementos do crime e a trabalhar em coordenação com a Unidade de Apoio às Vítimas criada pela Assembléia dos Estados Partes. 200 Contudo, aos juízes são atribuídos poderes de controle e de intervenção durante todo o curso do procedimento. Trata-se de sistema misto no qual, sobre uma base substancialmente acusatória, são enxertados institutos que derivam das experiências inquisitórias, que deriva das soluções adotadas pelos tribunais ad hoc Princípios Os princípios obedecidos pelo Gabinete do Procurador encontram-se dispostos no artigo 42 do Estatuto de Roma Princípio da independência do Gabinete do Procurador A independência do Gabinete do Procurador decorre do próprio texto do Estatuto de Roma que em seu artigo 42.1, diz que O Gabinete do Procurador atuará de forma independente, enquanto órgão autônomo do Tribunal MIGUEL, João Manuel da Silva. O Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Volume 10, nº 37, p. 21, Jan/Mar FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p NALLI, Livia. La figura del procuratore nello statuto della Corte Penale Internazionale. Disponível em: view_news_html?news_id=procuratore. Acesso em 21 de abril de 2007.

79 77 Então, segundo o referido estatuto, o Ministério Público atua de forma independente, pois é um órgão autônomo do Tribunal Penal Internacional e não deve agir subordinado a um Estado ou outro órgão do Tribunal ou a uma organização internacional, por exemplo. 202 O Procurador possui autonomia administrativa por ser responsável pela direção e administração do Gabinete do Procurador em todos os aspectos Princípio da oficialidade Segundo este princípio o Ministério Público pode instaurar o inquérito, ou seja iniciar a investigação criminal de forma oficiosa (ex officio), sem receber comunicação alguma de qualquer Estado Parte ou do Conselho de Segurança a respeito de situações em que, possivelmente, estejam ocorrendo crimes da jurisdição do Tribunal Penal Internacional. 7.3 Candidatura, eleição, mandato e remuneração Os candidatos ao cargo de Procurador e procuradores-adjuntos devem possuir elevada idoneidade moral, excelente conhecimento e experiência prática em processo penal e ser fluente em pelo menos uma das língua de trabalho do Tribunal. O Procurador é eleito pelo voto secreto da maioria absoluta dos votos da Assembléia dos Estados Partes do Tribunal Penal Internacional. Do mesmo modo é a eleição para os procuradores-adjuntos, feita com base em uma lista tríplice de candidatos apresentada pelo Procurador. 204 O mandato deles é, em regra, de General Organizations. Disponível em Acesso 22 de abril de CALABRICH, Bruno. O Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal. Ano VI, nº 33, p. 26, Ago/Set Diferentemente da eleição dos Procuradores, a eleição dos juízes é feita pelo voto da maioria qualificada de 2/3 (dois terços) da Assembléia dos Estados-Partes.

80 78 (nove) anos, podendo ser fixado período inferior quando da eleição, sendo-lhes vedada a reeleição. O Procurador e os procuradores-adjuntos deverão possuir diferentes nacionalidades. Possuem regime de dedicação exclusiva sendo proibidos de realizar qualquer atividade que possa interferir no exercício de suas funções perante o Tribunal Penal Internacional. O Procurador cessará suas funções quando do término do mandato ou por decisão da maioria absoluta da Assembléia dos Estados Partes, por ter cometido falta grave, por conduta negligente no cumprimeto de suas obrigações ou por estar impossibilitado de desempenhar suas funções. Os procuradores-adjuntos também cessarão suas funções quando do término do mandato ou por decisão da maioria absoluta da Assembléia dos Estados Partes pelos mesmos motivos que o Procurador, mas de acordo com a recomendação deste. Há um estatuto remuneratório fixado pela Assembléia dos Estados Partes, no qual há disposições sobre o vencimento, subsídios e outras despesas do órgão do Ministério Público. Conforme o artigo 49 do Estatuto de Roma, é assegurado ao Procurador e aos procuradores-adjuntos equiparação salarial à remuneração dos juízes, assim como a irredutibilidade de vencimentos durante o mandato. 7.4 Deveres e poderes Os deveres e poderes processuais atribuídos ao Procurador, encontram-se dispostos no artigo 54 do Estatuto de Roma. O principal poder e, ao mesmo tempo dever, do Ministério Público é a propositura da ação penal. Quanto aos poderes, é poder exclusivo do Ministério Público conduzir o inquérito e sustentar a acusação perante o Tribunal. 205 Poderá dar início às investigações, sendo que durante a condução do inquérito, poderá realizar 205 MIGUEL, João Manuel da Silva. O Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Volume 10, nº 37, p. 32, Jan/Mar 2002.

81 79 investigações no território de um Estado mediante autorização do Juízo de Instrução ou através de pedido de cooperação aos Estados. O Procurador poderá obter a cooperação de um Estado ou organização intergovernamental ou instrumento intergovernamental, celebrando acordos compatíveis com o Estatuto de Roma, para facilitar essa cooperação. Poderá concordar em não divulgar documentos ou informação que tiver obtido, mantendo-os em caráter confidencial para conseguir novas provas. Poderá também reunir e examinar provas, convocar e interrogar suspeitos, tomar o depoimento de vítimas e testemunhas, entre outras diligências. O Ministério Público pode solicitar a detenção de um indivíduo para que este se apresente perante o Tribunal quando entender necessária tal medida. O Procurador deverá estabelecer a verdade, analisando com seriedade as informações que receber e pedir autorização à Câmara de Questões Preliminares para instaurar inquérito. Deverá fazer constar no inquérito todos os fatos e provas correlacionadas ao crime para buscar a justiça baseada na verdade dos fatos. Para que se tenha um inquérito eficaz, o Procurador deverá dar a devida importância aos interesses e à situação pessoal das vítimas e testemunhas. Deverá também respeitar os direitos atribuídos às pessoas pelo próprio Estatuto. Também é dever do Procurador e/ou do procurador-adjunto requerer, imediatamente, sua escusa de intervir em processo que coloque sua imparcialidade em dúvida. Após a realização do inquérito, se o Procurador entender que não há elementos suficientes para a propositura da ação penal, ele não a fará, devendo comunicar esta decisão à Câmara de Questões Preliminares, ao Conselho de Segurança e ao Estado que provocou sua atuação (se for este o caso). No âmbito da gestão interna, o Ministério Público deve pronunciar-se quanto aos assuntos referentes ao funcionamento do Tribunal. Caberá ao Procurador nomear os funcionários do Ministério Público. Aos membros do Ministério Público são garantidas as imunidades materiais e formais reconhecidas aos chefes de missões diplomáticas em relação às suas palavras e atos praticados no desempenho de suas funções.

82 Incompatibilidades e impedimentos Quanto à incompatibilidade, o Procurador e os procuradores-adjuntos exercem suas funções em regime de dedicação exclusiva, não podendo desempenhar outra atividade de caráter profissional ou qualquer tarefa que possa interferir no desempenho de suas funções. Quanto ao impedimento, está impedido de participar de qualquer processo o Procurador ou procurador-adjunto que, por qualquer motivo, coloque sua imparcialidade em dúvida. Alguns casos que podem colocar a imparcialidade do Procurador ou procurador-adjunto em dúvida são: quando o procurador tem um interesse pessoal na causa, quando houver participado anteriormente de processo em que o indivíduo, objeto da investigação, tenha sido uma das partes. Havendo controvérsias em relação ao impedimento, estas serão resolvidas pela Câmara de Apelação, conforme descreve o artigo 42.8 do Estatuto de Roma. O Procurador e os procuradores-adjuntos são também impedidos de atuar em procedimentos em que envolva um indivíduo de sua própria nacionalidade. 206 Segundo Lívia Nalli, o próprio acusado pode recusar a atuação do Procurador ou de um procurador-adjunto, 207 sendo esse requerimento do acusado decidido pela Câmara de Recursos. 7.6 Responsabilidade disciplinar Ao cometer falta de menor gravidade no exercício de suas funções ou fora dele, o Procurador, assim como os Procuradores-Adjuntos, sujeitam-se à responsabilidade disciplinar. Assim dispõe a redação do artigo 47 do Estatuto de Roma: 206 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p NALLI, Livia. La figura del procuratore nello statuto della Corte Penale Internazionale. Disponível em: view_news_html?news_id=procuratore. Acesso em 21 de abril de 2007.

83 81 Artigo 47 Medidas Disciplinares Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos, o Secretário ou o Secretário-Adjunto que tiverem cometido uma falta menos grave que a prevista no parágrafo 1 o do artigo 46 incorrerão em responsabilidade disciplinar nos termos do Regulamento Processual. Entende-se por falta de menor gravidade cometida no exercício de suas funções, aquela que prejudique ou que seja passível de prejudicar a boa administração da justiça ou o seu bom funcionamento, e o não cumprimento dos pedidos formulados pela Presidência do Tribunal Penal Internacional quando do desempenho de suas atribuições. Por falta de menor gravidade cometida fora do exercício de suas funções, entende-se aquela que prejudique ou possa prejudicar o prestígio do Tribunal Penal Internacional. 208 Caso cometa falta grave ou descumpra uma de suas funções, o Procurador e os Procuradores-Adjuntos poderão ser afastados de seus cargos. Cabe à Assembléia dos Estados-Partes, em votação secreta, por sua maioria absoluta, decidir sobre o afastamento dos Procuradores. No caso de afastamento de Procurador-Adjunto, o Procurador-Geral deverá previamente recomendar à Assembléia para posterior decisão desta. O afastamento não exclui a aplicação de medidas disciplinares Atuação Novamente, afirma-se que, de acordo com o Estatuto de Roma, a atuação do Ministério Público dá-se de forma autônoma e independente. Ele não é obrigado a agir conforme instruções de organizações internacionais, Estados ou mesmo de indivíduos. 208 MIGUEL, João Manuel da Silva. O Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Volume 10, nº 37, p.29, Jan/Mar AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), CHOUKR, Fauzi Hassan. Tribunal Penal Internacional. O Ministério Público e o Tribunal Penal Internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 312.

84 82 Desde outubro de 2002, um grupo de especialistas em assuntos criminais, de diferentes nacionalidades, tem se reunido para analisar formas de tornar o Ministério Público mais eficiente e tornar a duração dos procedimentos judiciais mais célere. Para isso. O Tribunal Penal Internacional deve observar as experiências dos tribunais de exceção para a antiga Iugoslávia e para Ruanda. 210 O Ministério Público poderá selecionar secretários, de acordo com as necessidades apresentadas, para ajudá-lo na execução de suas funções e para participar de projetos em busca de resultados mais eficientes em seus procedimentos. Tais secretários, especialistas altamente qualificados, apresentam nacionalidades diversas propiciando ao próprio Tribunal uma variedade de culturas. 211 Algumas seções no Ministério Público em que os secretários atuam são: Divisão de Inquérito, Divisão de Jurisdição, Cooperação, Seção de Recursos Humanos e Serviços Administrativos Investigação e propositura da ação penal Segundo o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, a Procuradoria é um órgão independente do Tribunal. O exercício da ação penal é confiado ao Procurador. Em regra, ele decide se inicia ou se prossegue um procedimento criminal. O sistema processual penal adotado pelo Estatuto de Roma é predominantemente acusatório, com poucas características inquisitoriais. Portanto, o órgão de acusação é completamente separado do órgão julgador. 212 A investigação criminal pode ser iniciada pelo Ministério Público de três maneiras: 210 CEDIN. Portal de Direito Internacional: Tribunal Penal Internacional: uma visão geral sobre o Gabinete da Procuradoria. Disponível em: Gabinete%20da%20Procuradoria.pdf. Acesso 22 de maio de CEDIN. Portal de Direito Internacional: Tribunal Penal Internacional: uma visão geral sobre o Gabinete da Procuradoria. Disponível em: Gabinete%20da%20Procuradoria.pdf. Acesso 22 de maio de AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), STEINER, Sylvia Helena F. Tribunal Penal Internacional. O perfil do Juiz no Tribunal Penal Internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 294.

85 83 a) ao receber comunicação de qualquer Estado Parte a respeito de situações em que, possivelmente, ocorrem crimes da jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Essas informações devem estar corrobadas por fatos e indícios que dêem suporte a uma possível investigação. b) Ex officio baseando-se em informações de diferentes fontes a respeito também de situações em que, possivelmente, ocorrem crimes da jurisdição do Tribunal Penal Internacional, tendo para tanto, obtido aprovação da Câmara de Questões preliminares do Tribunal a fim de que não haja uma sobrecarga de infundadas denúncias. c) o Conselho de Segurança pode comunicar uma situação ao Ministério Público, baseando-se no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. Nos ensinamentos de Lívia Nalli, O sistema que se delineou no Estatuto reconhece ao Procurador um papel central e determinante na avaliação da oportunidade de iniciar um procedimento, também se iniciado pelos Estados ou pelo Conselho de Segurança, e na decisão de se exercer ou não a ação penal; ainda se reconhece que a Corte e a Organização das Nações Unidas buscam diferentes finalidades e têm diferentes responsabilidades; a primeira, através o Procurador, deve realizar objetivos de justiça, a segunda, através do Conselho de Segurança, deve salvaguardar a paz e a segurança internacional. 213 A provocação da jurisdição do Tribunal Penal Internacional pode ser feita pelo Procurador, pelo Conselho de Segurança ou pelo Estado-parte. O Ministério Público analisa as notícias que receber para então decidir, de acordo com a existência dos requisitos necessários se instaura ou não o inquérito. Segundo Gilberto Sabóia, para o Ministério Público iniciar uma investigação por provocação de uma comunicação trazida por um Estado ou mesmo ex officio, é necessário que um ou mais dos seguintes Estados sejam partes do Estatuto, ou não o sendo, hajam voluntariamente aceito o exercício da 213 NALLI, Livia. La figura del procuratore nello statuto della Corte Penale Internazionale. Disponível em: view_news_html?news_id=procuratore. Acesso em 21 de abril de Tradução própria: Il sistema che è stato delineato dallo Statuto riconosce al Procuratore un ruolo centrale e determinante nel valutare l'opportunità di avviare il procedimento, anche se innescato dagli Stati o dal Consiglio di Sicurezza, e nel decidere se esercitare o meno l'azione penale; inoltre si riconosce che la Corte e l'onu assolvono a finalità diverse ed hanno diverse responsabilità: la prima, attraverso il Procuratore, deve realizzare obiettivi di giustizia, la seconda, attraverso il Consiglio di Sicurezza, deve salvaguardare la pace e la sicurezza internazionali.

86 84 jurisdição num caso concreto: a) o Estado em cujo território o crime houver sido cometido; b) o Estado de nacionalidade do acusado. 214 Nos dizeres do mesmo autor, na hipótese da provocação ser feita pelo Conselho de Segurança, a jurisdição não se encontra sujeita às mesmas precondições das demais hipóteses, podendo o Conselho de Segurança adotar decisões mandatórias. 215 O Ministério Público pode recolher informações junto aos Estados, Organizações Não Governamentais, órgãos da Organização das Nações Unidas, etc. O procedimento é dividido em 2 fases: A primeira fase é a fase investigatória, realizada pela Procuradoria, através do inquérito, ao levantar os fatos e as provas. Há o exame das provas obtidas, interrogatório das testemunhas, vítimas e supostos agentes. Entendendo haver indícios criminais da competência do Tribunal Penal Internacional, o Procurador pede uma autorização (petição documentada) à Câmara de Questões Preliminares para iniciar as investigações ou propor a ação penal. Se esta negar, mas houver novos fatos e/ou novas provas, o Procurador pode formular novo pedido. 216 Quando a provocação da atuação do Ministério Público se dá em virtude de ato do Conselho de Segurança, aquele não precisa da autorização da Câmara de Questões Preliminares para iniciar as investigações. Quando houver lastro probatório suficiente da autoria, o Procurador pode requerer a expedição de um mandado de prisão à Câmara de Questões Preliminares quando o suposto autor do crime possa dificultar a realização do inquérito ou possa continuar a cometer o crime. Contudo, se o Procurador entender que não há indícios suficientes para propor a ação, deve comunicar ao Conselho de Segurança ou ao Estado-parte, as 214 SABÓIA, Gilberto Verne. A criação do Tribunal Penal Internacional. Revista CEJ. Brasília, nº 11, p. 12, Mai/Ago SABÓIA, Gilberto Verne. A criação do Tribunal Penal Internacional. Revista CEJ. Brasília, nº 11, p. 12, Mai/Ago COSTA, Érica Adriana. O Tribunal Penal Internacional em face da Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 63.

87 85 razões que o levaram a esta decisão. 217 Este é o único momento em que encontrase discricionariedade na decisão do Procurador, pois além de analisar os indícios criminais, ele também deve levar em consideração o interesse das vítimas. Este é o entendimento de João Miguel: A gravidade do crime e o interesse das vítimas são duas vertentes que o procurador deve considerar para avaliar sobre a não concretização do interesse da justiça e, concluído que este não se verifica abster-se de abrir inquérito. Estamos no único domínio em que o procurador pode gozar de alguma discricionariedade, no desencadear do procedimento criminal. 218 Outra situação é quando, após o recebimento da denúncia, o Procurador julga inconveniente e inoportuno o prosseguimento da ação penal. Neste caso ele deve fundamentar e comunicar sua decisão à Câmara de Questões Preliminares. A Câmara de Questões Preliminares pode solicitar ao Procurador que reconsidere sua decisão de não iniciar o inquérito ou de não exercer a ação penal, ficando o Procurador sujeito à autorização desta Câmara para não iniciá-lo ou para desistir da ação penal. A Câmara de Questões Preliminares decide sobre o prosseguimento do feito e toma as primeiras providências para processar o acusado. A fase do inquérito ocorrida nesta Câmara termina com uma audiência onde se declara a procedência ou não da acusação. Nesta audiência o indivíduo deve estar presente proveniente de sua detenção ou apresentação voluntária ao Tribunal. Ao acusado é dada ciência sobre os fatos que lhe estão sendo imputados em idioma que ele entenda e que fale de forma fluente. O acusado pode não desejar estar presente a esta audiência, neste caso seu advogado deve estar presente. 219 Baseando-se no inquérito, passa-se à segunda fase: Esta é a fase jurisdicional que ocorre na Câmara de Julgamento. O acusado é indagado sobre sua inocência perante os fatos descritos na denúncia. É informado de seus direitos e garantias fundamentais, como por 217 BARRAL, Welber (Organizador), DELGADO, José Manoel A. de Pina; TIUJO, Liriam Kiyomi. Tribunais Internacionais: mecanismos contemporâneos de solução de controvérsias. Tribunais Penais Internacionais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p MIGUEL, João Manuel da Silva. O Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Volume 10, nº 37, p. 33, Jan/Mar Ocorrerá revelia quando o acusado estiver em local incerto ou quando renunciar seu direito de estar presente.

88 86 exemplo, a presunção de inocência, o direito a uma audiência justa, direito a um defensor de sua própria escolha para lhe assistir, entre outros Julgamento Nesta fase, o acusado deve estar presente. Mas se ele perturbar a sessão de julgamento, a Câmara de Primeira Instância poderá retirá-lo da sala onde esteja ocorrendo o julgamento. Neste caso, o acusado acompanhará todo o procedimento e dará instruções ao seu advogado do exterior da Câmara. 220 O acusado não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Ele tem o direito de permanecer calado. É nesse momento que fica evidente que o direito ao silêncio entra na esfera dos Direitos Humanos. 221 O acusado pode também contestar as provas presentes nos autos e produzir outras. Se o acusado admitir a culpa (réu confesso), há um procedimento especial prevista no artigo 65, prática comum nos países que adotam a Commom Law. Não havendo confissão, o procedimento segue obedecendo aos princípios gerais do processo, como a presunção de inocência e a ampla defesa, não limitando a produção de provas. 222 O acusado deve estar presente em seu julgamento, pois não se admite a revelia no julgamento realizado pelo Tribunal Penal Internacional. Após a avaliação das provas e findando os procedimentos, há a prolação da sentença. A intervenção do Procurador na fase de julgamento se dá no sentido de que o ônus de provar a culpa do réu incube a quem a alega, ou seja, ao Procurador. Para sustentar à acusação, o Procurador tem papel importante na produção das provas AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), BEHRENS, Hans-Jörg. Tribunal Penal Internacional. Investigação, Julgamento e Recurso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p Segundo o art. 69.2, o Estatuto admite a produção de provas através da tecnologia. 223 MIGUEL, João Manuel da Silva. O Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: revista dos Tribunais. Volume 10, nº 37, p.37, Jan/Mar 2002.

89 87 Contudo, pode o Procurador retirar a acusação, caso se determine de acordo com sua improcedência. Deve também revelar à Defesa as informações que obter ao adentrar no território de um Estado Parte para investigar. Aí está a imparcialidade do Procurador, ele deve estabelecer a verdade, apresentando tanto as provas acusatórias quanto às absolutórias. 224 O Procurador deve comunicar à defesa todo o material probatório adquirido, seja o material contra, a favor ou aquele que possa atenuar a responsabilidade do indiciado ou desvalorizar a credibilidade das provas da acusação. Esta previsão encontra-se na ótica da tutela dos direitos do acusado previsto no artigo 67 do Estatuto de Roma, o qual estabelece também o direito do acusado de ser informado sobre os pontos da acusação para poder organizar uma defesa adequada. O Estatuto prevê também exceções a esta regra de comunicação das provas à defesa, que se justifica pela exigência da tutela de proteção das testemunhas, uma vez que a comunicação da identidade das mesmas pode causar um grave prejuízo à segurança delas ou dos seus familiares. 225 O andamento processual deve atender aos direitos de defesa, assim como a proteção das vítimas e das testemunhas. 226 A sentença é dada por escrito e fundamentada de acordo com as provas constantes nos autos e quando não unânime, conterá o pronunciamento de todos os julgadores. 227 Sendo condenatória, há 3 espécies de pena: prisão até 30 anos ou prisão perpétua, dependendo da gravidade do fato ou condições pessoais do condenado; multa; perda de produtos, bens e haveres provenientes do crime. A multa e o confisco de bens e haveres podem ser acrescidos à pena de reclusão. 224 AMBOS, Kai. Es el procedimiento penal internacional adversarial, inquisitivo o mixto? Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 13, nº 57. Nov/Dez 2005, p NALLI, Livia. La figura del procuratore nello statuto della Corte Penale Internazionale. Disponível em: view_news_html?news_id=procuratore. Acesso em 21 de abril de PELLET Alain; DIHN, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick. Direito Internacional Público. Tradução: COELHO, Vítor Marques. 2ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p COSTA, Érica Adriana. O Tribunal Penal Internacional em face da Constituição Brasileira f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 64.

90 Legitimidade para recorrer Têm legitimidade para recorrer da decisão do Tribunal Penal Internacional o Procurador e a Defesa. A sentença, seja ela condenatória ou absolutória é passível de apelação à Câmara de Recurso do Tribunal, quando houver vícios processuais, erro de fato, erro de direito ou outro motivo que afete a equidade ou a regularidade do processo ou da sentença. Também são passíveis de apelação a sentença em que houver desproporção entre o crime e a pena aplicada e a decisão que autoriza ou não o livramento do indivíduo. 228 A Câmara de Recurso ou Juízo de Recurso da Seção de Recurso do Tribunal poderá reformar a decisão do Juízo de Primeira Instância ou a este reenviá-la quando se tratar de questões de fato para depois julgá-la. É também de sua competência revisar a sentença condenatória quando houver fato novo e revisar a pena aplicada quando do cumprimento de 2/3 (dois terços) da pena ou de 25 (vinte e cinco) anos quando se tratar de prisão perpétua. A Câmara de Recursos é responsável pelo julgamento das apelações, que poderá reformar a decisão objeto da apelação ou determinar que a Câmara de Primeira Instância profira nova decisão. 229 O Procurador ou o próprio condenado (ou seus familiares) podem recorrer quando da existência de novas provas que não se encontravam disponíveis quando ocorreu o julgamento e que se conhecidas à época teriam levado a uma decisão diferente. Ou também quando se constata que uma prova utilizada no julgamento e que serviu de base para a condenação era falsa. 230 O condenado, os representantes da vítima ou terceiros interessados podem recorrer quando o objeto do recurso for o direito de reparação das vítimas. 231 Enquanto o recurso estiver em trâmite, o acusado deve permanecer na prisão a não ser que a Câmara de Julgamento decida o contrário. 228 BARRAL, Welber (Organizador), DELGADO, José Manoel A. de Pina; TIUJO, Liriam Kiyomi. Tribunais Internacionais: mecanismos contemporâneos de solução de controvérsias. Tribunais Penais Internacionais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p STEINER, Sylvia Helena F. O Tribunal Penal Internacional. Disponível em Acesso: 22 de abril de STEINER, Sylvia Helena F. O Tribunal Penal Internacional. Disponível em Acesso: 22 de abril de AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), BEHRENS, Hans-Jörg. Tribunal Penal Internacional. Investigação, Julgamento e Recurso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 77.

91 Da coisa julgada Outro ponto importante a ser tratado é quanto à coisa julgada. Coisa julgada é a decisão ou sentença contra a qual não cabe mais recurso. Diz Alexandre Freitas Câmara que ocorre coisa julgada quando o conteúdo da sentença não pode mais ser alterado, nem mesmo por ação rescisória. 232 A regra geral é a de que a decisão do Estado faça coisa julgada. Uma decisão transitada em julgado em um Estado somente poderá ser reavaliada pelo Tribunal Penal Internacional quando ficar comprovado que a absolvição ou condenação do réu foi uma decisão viciada. O vício pode decorrer do propósito não submeter o acusado à jurisdição do Tribunal por sua responsabilidade penal individual ou da forma equivocada em que se desenvolveram os procedimentos no Estado, não atendendo ao devido processo legal e à imparcialidade. 233 Nestes casos, poderá o Tribunal oferecer nova acusação contra o réu, desconsiderando a sentença dada pelo Estado, uma vez que não existe coisa julgada para o Direito Internacional. 234 Por fim, a decisão do Tribunal Penal Internacional faz coisa julgada. Caso exista conflito positivo entre a jurisdição do Tribunal Penal Internacional e a jurisdição de um Estado, o próprio Tribunal julgará o conflito, sendo ouvidos o Estado interessado e o Ministério Público. Se prevalecer a jurisdição do Tribunal, o Estado deve entregá-lo ao Tribunal ainda que já o tenha julgado CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. II. 7ª edição. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004, p BAHIA, Saulo José Casali. O Tribunal Penal Internacional e a Constituição Brasileira. Disponível em: Acesso em 24 de fevereiro de CALETTI, Cristina. Os precedentes do Tribunal Penal Internacional, seu Estatuto e sua relação com a legislação brasileira. Disponível em Acesso 30 de março de AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), RAMOS, André de Carvalho. Tribunal Penal Internacional. O Estatuto do Tribunal Penal Internacional e a Constituição Brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000p. 275.

92 Execução da pena Segundo o artigo 103 do Estatuto de Roma, o Tribunal Penal Internacional indicará a localidade onde as penas serão cumpridas através de uma lista onde esteja expresso que aqueles Estados aceitam os prisioneiros. A indicação feita pelo Tribunal obedecerá aos requisitos do artigo do Estatuto. O Estado Parte indicado poderá aceitar ou recusar tal indicação. A aplicação da pena e seu cumprimento serão fiscalizadas pelo Tribunal. De acordo com o artigo 104 do referido estatuto, o Tribunal poderá, a qualquer momento, transferir um condenado para a prisão de um outro Estado Parte, assim como o próprio condenado poderá solicitar sua transferência. Segundo João Manuel da Silva Miguel, também é permitido ao Procurador pedir a transferência do acusado para outro Estado Parte para que seja feita a execução da pena aplicada pelo Tribunal Penal Internacional MIGUEL, João Manuel da Silva. O Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Volume 10, nº 37. Jan/Mar- 2002, p. 39.

93 91 8. O CONSELHO DE SEGURANÇA E A LEGITIMIDADE DE AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO O Conselho de Segurança é composto por 15 (quinze) membros, sendo 5 (cinco) permanentes: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China. O Conselho de Segurança pode denunciar uma situação de que possivelmente esteja ocorrendo um ou mais crimes previstos no Estatuto de Roma ao Ministério Público, baseando-se no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. Dessa forma, o próprio Estatuto reconhece o papel do Conselho de Segurança em manter a segurança e a paz internacionais, como descrito no artigo 24 da Carta da Organização das Naçoes Unidas. Inicialmente, procurou-se desvincular a iniciativa da Ação Penal dos critérios políticos do Conselho de Segurança. Feita tal denúncia, a jurisdição do Tribunal Penal Internacional torna-se obrigatória, auxiliando o Conselho de Segurança na manutenção da segurança e da paz internacional através do inquérito e do processo. Segundo o artigo 16 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, o Conselho de Segurança, através de uma resolução, pode impedir ou interromper qualquer investigação ou processo por um período de 12 meses, renovável por períodos iguais, ficando o Tribunal obrigado a obedecer o pedido do Conselho de Segurança. Essa medida poderá ser tomada desde que haja anuência de todos os membros permanentes do Conselho e seja fundamentada na defesa da paz e da segurança internacionais. Esta é uma questão polêmica desde a formulação do Estatuto de Roma. Como afirma Raquel Tiveron, um outro grupo de delegações de Estados, conhecidos como os like-minded states, temia a criação de uma relação de dependência entre o Tribunal e o Conselho de Segurança e a politização desta organização internacional. 237 TIVERON, Raquel. Aspectos históricos, jurídicos, filosóficos e políticos do Tribunal Penal Internacional e seu impacto no ordenamento jurídico brasileiro f. Dissertação (Mestrado) Centro de Ensino Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós- Graduação em Direito, p Alguns desses Estados são: África do Sul, Dinamarca, Canadá, Suécia, Suíça, Alemanha, Irlanda, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Itália, Portugal, Uruguai, Venezuela, Chile, etc.

94 92 O grupo like-minded states era formado por 42 Estados, liderado pelo Canadá e Alemanha, queria um Ministério Público mais poderoso, independente do Conselho de Segurança, pois para esse grupo, assim o Tribunal funcionaria. 239 Os membros permanentes do Conselho de Segurança, Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra, têm um poder diferente daquele que os Estados Partes possuem. Eles têm poder de veto perante o Tribunal Penal Internacional. Então, fica evidente que o Conselho de Segurança é ainda o responsável pelo início das atividades judiciais de direito penal internacional. 240 É importante ressaltar que a Rússia, a China e os Estados Unidos, que têm assento permanente no Conselho de Segurança, possuem três dos cinco votos permanentes do Conselho. Contudo, esses Estados não ratificaram o Estatuto de Roma, mas, ainda assim, exercem forte influência sobre o Tribunal Penal Internacional. Os Estados Unidos assinaram o Estatuto de Roma no último dia do mandato de Bill Clinton, mas não o ratificaram. Tal assinatura foi retirada em 06 de maio de Segundo as afirmações de Cristina Caletti, George W. Bush tirou essa assinatura e até mesmo lida com a possibilidade de abandonar todas as missões de paz se não obtiver imunidade. 241 Os Estados Unidos fizeram muita pressão para que outros países não se aderissem ao Estatuto de Roma. Ameaçaram, inclusive de retirar a ajuda militar e econômica que ofereciam. 242 Eles não queriam, e ainda não querem, um Tribunal que funcionem contra seus interesses. 243 A China foi contra a criação do Tribunal Penal Internacional devido aos conflitos armados existentes no Tibet, pois tinha receio de que seu governo pudesse ser responsabilizado por esta Corte, apesar de, nos dizeres de David 239 ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi Hassan (Org.), BEHRENS, Morten. Tribunal Penal Internacional. O regime jurisdicional da Corte Internacional Criminal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p CALETTI, Cristina. Os precedentes do Tribunal Penal Internacional, seu Estatuto e sua relação com a legislação brasileira. Disponível em Acesso 30 de março de SACCHI, Eny. OCampo assume TPI. Disponível em Acesso: 21 de abril de ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p Para esse autor, a França e a China também querem um Tribunal que funcione dependentemente do Conselho de Segurança.

95 93 Fernandes, no caso de conflito armado não intencional, não afeta a responsabilidade do governo de manter e restabelecer a lei e a ordem pública do Estado e de defender sua unidade por qualquer meio legítimo 244. Diante disso, como se procede as investigações pelo Ministério Público sobre um crime da competência do Tribunal Penal lnternacional cometido por um nacional de um dos cinco Estados-membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas? Por uma razão política, a paralisação das investigações pode vir a desmoralizar a atuação funcional do Ministério Público? Não se pode olvidar que o Procurador é eleito pelo voto secreto da maioria absoluta dos votos da Assembléia dos Estados-partes do Tribunal Penal Internacional, e não pela Assembléia da Organização das Nações Unidas. Apesar da intervenção do Conselho de Segurança, o Ministério Público é um órgão autônomo e independente efetivamente? Como critica, Marcelo Biato, há um risco da seletividade e de politização nas denúncias, visto o poder de veto que detêm os cinco membros permanentes. 245 São questões de cunho político que podem comprometer o eficaz funcionamento do Tribunal Penal lnternacional. A guisa destas pontuações, observa-se que o Conselho de Segurança poderá não julgar nacionais dos Estados-Membros que têm assento permanente no Conselho que cometerem atrocidades contra os direitos humanos e/ou humanitários, da competência do Tribunal Penal Internacional devido à conjugação de interesses desses Estados-Membros. Tais Estados poderiam impedir um procedimento criminal contra um de seus nacionais, uma vez que as forças armadas desses Estados estão sempre participando de missões de paz pela Organização das Nações Unidas. 246 Nesse sentido é o entendimento de João Clemente Baena a situação dos nacionais dos Estados-Membros permanentes do Conselho de Segurança eles 244 FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: A concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p BIATO, Marcelo. O Tribunal Penal Internacional e a segurança coletiva. Revista Política Externa. São Paulo. Volume 10, nº 3, p. 137, Dez/Jan/Fev 2001/ SOMENZARI, Isteissi Aires Garcia. O papel do Conselho de Segurança da ONU no Tribunal Penal Internacional. Revista Brasileira de Direito Internacional. Curitiba. Volume 1. Nº 1, Jan/Jun 2005.

96 94 podem beneficiar-se politicamente do art.16 e gozar de alguma imunidade, de fato, política, se quiserem. 247 No mesmo sentido, afirma Juan Colomer: Mas tampouco é descartável que se pense em aceitar esta possibilidade como medida de proteção específica contra alguma pessoa ou grupo de pessoas (...), sobretudo por parte dos países que têm direito de veto, ou como conseqüência de uma negociação política de altíssimo nível que terá conseqüências no processo perante o TPI. 248 A jurisdição exercida pelo Tribunal Penal Internacional poderia se tornar ima jurisdição para os Estados pobres, subdesenvolvidos, uma justiça seletiva. 249 Em sentido contrário, Celso Mello alega que a exigência do consenso dos cinco membros permanentes dificulta ao máximo a suspensão do procedimento pelo Conselho de Segurança. 250 É também utilizado o argumento de que as restrições à atuação do Ministério Público procuram evitar julgamento políticos. Daí, indaga-se: como ser mais político que o próprio Conselho de Segurança? 251 Segundo a valiosa lição de Francisco Rezek, esse poder de freio dado ao Conselho de Segurança poderá ser utilizado de forma benéfica ou maléfica, podendo consagrar ou desmoralizar o Tribunal. 252 Isto pode, sem dúvida, comprometer a credibilidade do próprio Tribunal. 247 SOARES, João Clemente Baena. Tribunal Penal Internacional. Revista CEJ. Brasília. nº 11, p. 37 a 40, Mai/Ago COLOMER, Juan Luis Gómez. Sobre la instrucción del proceso penal ante el Tribunal Penal Internacional. Disponível em: derechopenal/articulos/pdf/gomezcolomer25pdf. Acesso: 05 de maio de Tradução própria: Pero tampoco es descartable que se piense em acudir a esta posibilidad como medida de protección específica contra alguna persona o grupo de personas (...), sobre todo por parte de los países que tienen derecho de veto, o incluso como consecuencia de una negociación política de altísimo nivel que tendría indefectiblemete consecuencias en el proceso ante el TPI. 249 SOMENZARI, Isteissi Aires Garcia. O papel do Conselho de Segurança da ONU no Tribunal Penal Internacional. Revista Brasileira de Direito Internacional. Curitiba. Volume 1. Nº 1, Jan/Jun MELLO, Celso de Albuquerque. Anuário Direito e Globalização: A soberania. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p CASSESE, Antonio. In TIVERON, Raquel. Aspectos históricos, jurídicos, filosóficos e políticos do Tribunal Penal Internacional e seu impacto no ordenamento jurídico brasileiro f. Dissertação (Mestrado) Centro de Ensino Universitário de Brasília UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p REZEK, Francisco. Tribunal Penal Internacional. Revista CEJ. Brasília. nº 11. Disponível em: VI. Acesso: 30 de março de 2007.

97 Autonomia versus Independência É importante fazer uma diferenciação entre os atributos da independência e da autonomia. De acordo com o Direito Administrativo, órgão é uma unidade de atuação que se compõe de um conjunto de pessoas e meios materiais para a realização de atividades predeterminadas visando cumprir os objetivos para os quais foi criado. 253 Fazendo analogia com a citada ciência jurídica, verifica-se que o Tribunal Penal Internacional é composto por órgãos que em conjunto desempenham suas atividades. Como já foi mencionado anteriormente, o Tribunal Penal Internacional é composto pela Presidência, Câmaras de Questões Preliminares, Câmara de Julgamento e de Recursos, Procuradoria, Secretaria e a Assembléia dos Estadospartes. Segundo a valiosa lição de Hely Lopes Meirelles 254, um órgão é independente quando não tem qualquer subordinação hierárquica ou funcional. Já um órgão autônomo, é aquele que possui ampla autonomia administrativa, financeira e técnica. Desempenha suas funções de acordo com as diretrizes de um outro órgão, sendo a este subordinado. Na verdade, o Ministério Público do Tribunal Penal Internacional é um órgão autônomo e não independente. Encontra-se subordinado ao Conselho de Segurança quando este órgão decide impedir ou interromper uma investigação ou processo, cujo pedido deve ser obedecido pelo Procurador. Pela conjugação de interesses políticos dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas o funcionamento do Tribunal pode ficar comprometido. 253 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7ª edição. São Paulo: revista dos Tribunais, 2003, p MEIRELLES, HELY Lopes. Curso de direito Administrativo Brasileiro. 26ª edição. São Paulo: Malheiros, 2001, p.65.

98 96 9. CASOS INVESTIGADOS PELO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL O Ministério Público do Tribunal Penal Internacional recebe inúmeras noticias criminis remetidas por Organizações Não Governamentais e indivíduos de diversas nacionalidades. O critério utilizado para selecionar os casos que serão investigados é a gravidade do crime cometido. Todavia, a maioria não é investigada por não estar na competência do Tribunal. 255 Hoje existem quatro casos que estão sendo investigados pelo Ministério Público do Tribunal Pena Internacional, são eles: Uganda, Sudão, República Democrática do Congo e África Central, conforme demonstra o mapa abaixo: Mapa 1: Mapa dos locais onde estão ocorrendo os crimes de competência do Tribunal Penal Internacional e que estão sendo investigados pelo Ministério Público do referido Tribunal. Fonte: SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 199.

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