O ECOTURISMO SOB O OLHAR DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DO NÚCLEO PICINGUABA, UBATUBA-SP
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- Henrique Barateiro Domingues
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1 EIXO TEMÁTICO: Ciências Sociais O ECOTURISMO SOB O OLHAR DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DO NÚCLEO PICINGUABA, UBATUBA-SP Gisele Carine de Paiva Abrantes 1 Bruno Alberto Severian 2 Marcela Moretti 3 Vinícius Maragno 4 Juliano Costa Gonçalves 5 RESUMO: Diversos conflitos socioambientais em Unidades de Conservação são originados a partir do estabelecimento de áreas de proteção em locais já habitados por comunidades tradicionais. Como uma possível solução para estes conflitos que envolvem a conservação da natureza versus desenvolvimento social e humano, surge o ecoturismo nessas unidades. O objetivo do trabalho foi abordar alguns dos conflitos socioambientais existentes no Núcleo Picinguaba, um dos Núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar, e analisar a percepção das comunidades tradicionais quilombolas e caiçaras em relação ao desenvolvimento do turismo e ecoturismo na região. A pesquisa se deu por meio da análise de cadastro de monitores e entrevistas com as comunidades tradicionais do Núcleo. Com base no levantamento bibliográfico e nos depoimentos obtidos, observa-se que há uma relação conflituosa entre a administração do parque e as comunidades tradicionais, que tem suas atividades de turismo e ecoturismo prejudicadas. Com isso, infere-se que é preciso uma maior aproximação dos gestores das unidades de conservação, bem como de outras organizações com as comunidades, dando às mesmas maior automia na realização de suas atividades, contribuindo para fortalecer a cultura local e estimulando que seja realizado o ecoturismo como forma de renda. Palavras-chave: Unidades de Conservação. Populações Tradicionais. Ecoturismo. 1. INTRODUÇÃO A concepção de áreas naturais protegidas tem origem no século passado, sendo que as primeiras foram criadas nos Estados Unidos com a intenção de proteger a natureza da intervenção humana, deixando-a em um estado puro. No entanto, segundo essa visão, tornava incompatível a relação dos grupos humanos e a conservação da natureza. (DIEGUES, 1996a, p. 283). Essa concepção estadunidense foi conduzida aos países em desenvolvimento, com destaque para o Brasil, que abriga modos de vida, valores, concepções de natureza e utilização de seus recursos diversificados (BESPALEC, 2011). Como exemplo desses diferentes modos de vida, temos as populações consideradas tradicionais. Uma das ações pioneiras do quesito de Unidades de Conservação no âmbito governamental foi a criação do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), em 1977, com diversos núcleos gestores. 1 Graduanda em Gestão e Análise Ambiental, UFSCar - São Carlos. <gcpabrantes@gmail.com>; 2 Graduando em Gestão e Análise Ambiental, UFSCar - São Carlos; 3 Graduanda em Gestão e Análise Ambiental, UFSCar - São Carlos; 4 Graduando em Gestão e Análise Ambiental, UFSCar - São Carlos; 5 Professor do Departamento de Ciências Ambientais, UFSCar - São Carlos. <juliano@ufscar.br>.
2 Em um desses núcleos, o Núcleo Picinguaba, localizado em Ubatuba, SP, houve a implantação do parque em uma área com a maior concentração de populações tradicionais do município (SÃO PAULO, 2014). Ressalta-se que esse Núcleo impôs inúmeras condições de restrição às populações tradicionais residentes no parque como a da proibição da caça e das plantações em sistema de rodízio que se não cumpridas culminariam na expulsão dos infratores da área sob o pagamento de indenização (VIANNA, 1996, p. 96). Recentemente, para reverter tal situação de marginalização e descaracterização das populações tradicionais, foi criada a Zona Histórico-Cultural Antropológica, objetivando a coexistência da preservação ambiental e o modo de vida tradicional. As comunidades tradicionais e quilombolas de Ubatuba foram por fim, inseridas nessa nova categoria (SÃO PAULO, 2005/2006). Como uma das soluções para a essa problemática de desenvolvimento versus conservação, tem-se o ecoturismo. Segundo o documento "Áreas Prioritárias de Manejo" (2011), do Instituto Florestal, há o um grande interesse das comunidades em desenvolver atividades sustentáveis ligadas ao parque, sendo que o ecoturismo está entre as principais atividades demandadas pelos mesmos. Visto isso, foi desenvolvido o projeto Capacitação e treinamento para gestão de atividades de campo em Unidades de Conservação, uma parceria entre a administração do Núcleo Picinguaba do PESM e a Universidade Federal de São Carlos. No entanto, observou-se que no decorrer deste projeto houve uma crescente desmobilização da população tradicional, foco do projeto, em relação ao mesmo, evidenciado pelas ausências frequentes dos membros das comunidades nas reuniões de capacitação. Estas questões deram corpo ao presente artigo, que se justifica devido à importância econômica e cultural do ecoturismo em comunidades tradicionais inseridas em unidades de proteção (EVANS, 2007) e pelo contraditório desinteresse das comunidades pelas atividades do projeto acima citado. O objetivo dessa pesquisa foi compreender a relação entre as comunidades tradicionais do Núcleo Picinguaba e o turismo, descrever alguns conflitos socioambientais existentes e analisar a percepção das mesmas em relação ao desenvolvimento do ecoturismo na região. 2. METODOLOGIA
3 Todas as comunidades tradicionais que habitam o Núcleo Picinguaba foram contempladas pela presente pesquisa, a saber: os quilombolas, representados pelo Quilombo da Fazenda e Quilombo do Cambury e os caiçaras, que habitam o Sertão do Ubatumirim, a Vila Picinguaba, e a Vila do Cambury. três etapas: A metodologia utilizada no projeto se baseou em uma pesquisa qualitativa estruturada em 1. Compilação e análise das informações contidas no cadastro de monitores ambientais. 2. Entrevista presencial com os líderes comunitários do Quilombo da Fazenda. 3. Entrevista por telefone com os demais líderes comunitários do Núcleo Picinguaba. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Resultados da Primeira Etapa A partir da análise dos cadastros de monitores, percebe-se que apesar do potencial eco turístico da região e do interesse das comunidades tradicionais em atuarem como guias turísticos, houve pouca adesão dos membros das comunidades tradicionais em participar das reuniões de capacitação, assim como uma crescente desmobilização daqueles que chegaram a participar. Isso pode ser explicado em partes pelos seguintes fatores: Ausência de um processo de inserção profissional dos participantes em atividades de ecoturismo e a comunicação ineficaz com o parque, que era responsável pela divulgação dos encontros para as comunidades tradicionais. Resultados da Segunda e Terceira Etapas A fim de aprofundar ainda mais sobre a temática do não comparecimento e dos possíveis entraves e conflitos que permeiam o ecoturismo de base comunitária, na segunda e terceira etapas realizaram-se entrevistas com os líderes comunitários de todas as comunidades residentes no Núcleo Picinguaba. Estas entrevistas buscaram abordar os seguintes tópicos: situação socioeconômica, percepção sobre o turismo convencional e o ecoturismo, participação em projetos de capacitação ou fomento, existência de conflitos e visão sobre o futuro. Em relação ao aspecto socioeconômico das comunidades, no geral, as mesmas são compostas por jovens/adultos que concluíram o ensino médio e que exercem atividades de pesca, tráfico de drogas, construção civil, turismo e artesanato. Além disso, não há o recebimento nenhum tipo de assistência social pelas comunidades e observa-se uma notável descaracterização de algumas comunidades tradicionais em relação à
4 forma de utilização da terra, visto que as mesmas tiram o seu sustento de atividades predominantemente urbanas. Com isso, nota-se que projetos externos são muito importantes para o desenvolvimento da comunidade e manutenção do seu aspecto tradicional, que recebem fomento desses projetos para o desenvolvimento de atividades econômicas e resgate da cultura tradicional. Quanto ao turismo convencional, a partir dos relatos observa-se que as comunidades como um todo participam de atividades ligadas ao turismo e dependem das mesmas para a geração de renda. Nota-se também que as diferentes comunidades apresentam estágios de desenvolvimento do turismo bem diversificados, sendo que alguns relatam que o turismo está bem consolidado, enquanto outros apontam uma ausência de infraestrutura para realizá-lo. Devido à situação de vulnerabilidade econômica e social evidenciada nas respostas, observa-se que o ecoturismo seria uma possível alternativa de trabalho e renda para essa população predominantemente jovem, que se manteria no território aplicando e divulgando o seu conhecimento sobre as características e particularidades do Parque. Em relação à implantação do ecoturismo nas trilhas do Núcleo e o envolvimento das comunidades tradicionais com essa atividade, os líderes veem com bons olhos a ideia de desenvolver esse "turismo de base comunitária" e reconhecem que o Parque apresenta um potencial para o desenvolvimento do mesmo devido à existência de inúmeras trilhas. Entretanto, exceto em uma comunidade onde esse tipo de ecoturismo está bem desenvolvido, há diversos entraves que dificultam o desenvolvimento dessa atividade, como o despreparo da comunidade na sua realização, ou seu insipiente desenvolvimento na comunidade. Foi citado por alguns a necessidade de apoio e aproximação da administração do parque, já que as trilhas estão localizadas dentro do mesmo, bem como de projetos relacionados à temática para a consolidação do ecoturismo dentro dos territórios dos povos tradicionais e sua realização por membros das comunidades. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O PESM Núcleo Picinguaba apresenta um grande potencial eco turístico, o que é comprovado pelos inúmeros atrativos de beleza natural, como trilhas, praias e cachoeiras que recebem todos os anos um grande número de turistas. Dentro desse contexto, se inserem diversas comunidades tradicionais compostas por quilombolas e caiçaras. A partir dessas premissas, foi elaborado o presente projeto, que teve como conclusões gerais:
5 A evidente descaracterização das comunidades, que se justifica tanto devido ao desenvolvimento de atividades econômicas urbanas pelas mesmas; A vulnerabilidade social e econômica das comunidades, visto que seus membros apresentam média escolaridade, não possuem renda fixa e não recebem nenhum tipo auxílio social/financeiro; A importância dos projetos do ponto de vista cultural e econômico para as comunidades; A dependência econômica das comunidades pelo turismo convencional, mesmo que não apresentem uma infraestrutura adequada para tal; Apesar das belezas naturais e diversidade de trilhas, os membros das comunidades sentem uma certa insegurança e despreparo na realização do ecoturismo em "seus territórios", o que poderia ser facilmente sanado pelo fomento, apoio e divulgação de instituições que realizam projetos do tipo. REFERÊNCIAS BESPALEC, P. S. A territorialidade caiçara e os conflitos na Vila de Picinguaba (Parque Estadual da Serra do Mar SP) p. Dissertação (Mestre em Geografia) Instituto de Geociências. Universidade Estadual de Campinas, Campinas/SP DIEGUES, A. C. O mito do paraíso desabitado: as áreas naturais protegidas. In: FERREIRA, L. C-VIOLA, E. (Org.). Incertezas de sustentabilidade na globalização. Campinas: Ed. Unicamp, 1996 a. 331p. EVANS, Y. Participação Comunitária em Gestão Ambiental: o caso do Parque Estadual da Serra do Mar. Departamento de Geografia. Universidade de Londres, Inglaterra/Reino Unido. 49p LOPEZ-RICHARD, V. Capacitação e treinamento para gestão de atividades de campo em Unidades de Conservação. Projeto de Extensão. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar. São Paulo: Instituto Florestal, 2005/2006. Disponível em: < Acesso em: 20 set VIANNA. L. P. Considerações críticas sobre a construção da idéia de população tradicional no contexto das unidades de conservação Dissertação (Mestrado em Antropologia) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
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