Uma das histórias mais curiosas a respeito da origem

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1 A invasão chinesa no setor ferroviário Uma das histórias mais curiosas a respeito da origem de uma palavra vem da China. Neste país, por dois ideogramas: um quer dizer perigo; o outro, oportunidade. De acordo com a sabedoria oriental, crise pode ser perdição, mas também glória; não só a morte, como também renascimento. Tudo depende de como ela será administrada por governos, empresas e cidadãos. Essa peculiaridade do mandarim parece ser levada ao pé da letra pelos chineses no mundo dos negócios. Prova disso é o tamanho do apetite de empresas daquele país em terras tupiniquins. A recessão econômica que reduziu o Produto Interno Bruto brasileiro, paralisou projetos, deixou milhões de desempregados e fez diminuir o número de investidores nacionais e estrangeiros não assusta os chineses. Pelo contrário, para eles, o Brasil continua sendo um negócio da China. Setores como energia elétrica e infraestrutura estão na mira dos chineses, além de atividades como mineração, siderurgia, telecomunicações, automotiva e agronegócio. No que diz respeito à infraestrutura, os expressivos volumes de recursos dos chineses já aparecem nas estatísticas do total de investimentos diretos no país em 2016, e acumulou 0,5% neste ano até julho. Os Estados Unidos continuam na liderança com 12,2% em 2016, percentual que saltou para 26,7% neste ano. Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, o Brasil em crise virou a grande oportunidade para os chineses ampliarem os negócios para o risco e coragem para investir no atual momento do Brasil, reforça. Segundo Tang, dois fatores contribuíram para a estratégia de médio e longo prazos chinesa. Um deles foi o avanço da Operação Lava-Jato, que abriu caminho para empresas estrangeiras entrarem no segmento de construção civil mercado que até então era muito fechado e restrito a empreiteiras brasileiras, que hoje enfrentam - 50

2 sua casa, vai atrair uma grande quantidade de pessoas, não?", compara Tang. Projetos em vista Apesar de a maioria das transações fechadas pelos orientais se concentrar em energia 97% do volume aportado no primeiro semestre de 2017, o setor de infraestrutura vem ganhando espaço. Já há bons exemplos do apetite dos chineses na área portuária: a aquisição de 90% do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), anunciada em setembro pela estatal China Merchants Port Holding (CMPorts), por R$ 2,9 bilhões. Outra empresa, a China Communications Construction Company (CCCC) a maior estatal de infraestrutura da China assinou memorando de entendimento com um fundo de investimentos para a construção conjunta do Terminal Graneleiro Babitonga, um projeto privado em São Francisco do Sul (SC), ao custo de R$ 1,6 bilhão. Com relação aos empreendimentos ferroviários, Tang é taxativo: A China tem interesse em todos os projetos de ferrovias viáveis atualmente no Brasil. Nessa lista, estão Ferrovia Norte-Sul, cuja licitação está prevista para fevereiro de O governo espera leiloar um trecho de quilômetros que já está quase pronto entre Porto Nacional (GO) e Estrela d Oeste (SP) faltam cerca de 10% das obras entre Ouro Verde, em Goiás, e a cidade paulista. No modelo de concessão, a empresa privada terá direito de passagem em outras ferrovias, uma vez que o pedaço a ser leiloado não tem acesso direto a portos. Nas renovações dos contratos de concessão com as operadoras, o governo está exigindo as condições de passagem da carga originada nesse trecho da Norte-Sul. Entre os interessados no leilão estão a construtora CCCC e a russa RZD. Os chineses também querem dar prosseguimento à construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que foi concebida para ir de Ilhéus, na Bahia, a Figueirópolis, em Tocantins, mas atualmente apenas o trecho entre Ilhéus e Caetité (BA) com 537 quilômetros e 70,03% Parcerias de Investimentos (PPI) anunciado este ano pelo governo. A previsão é que o leilão ocorra durante o segundo semestre de A Fiol ganhou importância entre os chineses porque seu traçado pode integrar a Ferrovia Bioceânica, orçada em US$ 70 bilhões, que pretende ligar dos Andes. Existe um enorme interesse dos orientais também pela Ferrogrão, de 933 quilômetros entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), que deve consumir mais de R$ 12,6 bilhões (a licitação está prevista para o ano que vem) e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), também em Mato Grosso. Fotos: Divulgação/CRRC Vista área da fábrica da Sifang, na cidade litorânea de Qingdao, na China 51

3 A Malha Sul, da Rumo, é outra ferrovia que está sendo analisada de perto pelos chineses. A CCCC estuda se o aporte necessário de R$ 2 bilhões, para a adequação da via, poderia ser feito envolvendo ou não o controle da ferrovia. O aporte estaria condicionado, entretanto, à extensão do contrato da concessão da Malha Sul junto ao governo (cujo vencimento é 2027). A Rumo está Setor de passageiros Enquanto alguns projetos de carga aguardam licitações para sair do papel, o setor de passageiros já conta com a presença dos chineses. O consórcio formado pela Temoinsa e a China Railway Rolling Stock Corporation (CRRC), por meio da subsidiária Sifang, venceu este ano a licitação para a entrega de oito trens destinados à Linha 13-Jade, da CPTM, desbancando a espanhola CAF e a coreana Rotem, que têm um histórico de encomendas de trens para a operadora. O consórcio apresentou uma proposta no valor de R$ 316,7 milhões o orçamento limite era de R$ 319, 2 prorrogação da Malha Paulista e informou que, somente após sua conclusão, iniciará discussões sobre a extensão da Malha Sul. terão oito carros cada Fusão chinesa 52

4 milhões. A aquisição da frota está Banco Europeu de Investimento (BEI), que disponibilizou 85 milhões para o governo do estado. As composições, produzidas na cidade litorânea de Qingdao, na China, serão as primeiras de origem chinesa usadas nos trilhos da capital paulista. O contrato com a CPTM deu fôlego à CRRC no Brasil. Com escritório no país desde 2014, a empresa chegou quando a econo- Wang. Chegamos em um momento difícil para o Brasil e com isso, participamos de poucas licitações. Mesmo assim, a CRRC não tem planos de sair do Brasil, acreditamos na retomada do crescimento e no potencial do mercado ferroviário brasileiro. Nosso objetivo aqui é de longo prazo e temos o intuito de implantar uma fábrica quem esse investimento. Características Os novos trens da Linha 13-Jade terão oito carros cada, totalizando 170 metros de comprimento. A parte externa terá design arrojado e a interna oferecerá layout moderno -

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7 e funcional, com salão contínuo de passageiros (passagem livre entre os carros), como nos últimos trens já adquiridos pela CPTM, e o diferencial do bagageiro. As composições terão também monitoramento com câmeras no interior e parte externa frontal. As composições terão sinalização de bordo (CBTC, ATC e ATO), bagageiros, ar condicionado, iluminação interna com tecnologia de led s, sinalização de abertura e fechamento de portas. Sistemas de detecção e extinção de incêndio, monitores multimídia e mapa de linha eletrônico completam esta nova série. Os novos trens da Linha 13 deverão ser entregues em até 23 meses, ou seja, a data limite seria por volta de agosto de Nesta encomenda, a brasileira Temoinsa é responsável pelo gerenciamento do projeto, testes dinâmicos, operação assistida, assistência técnica dentro do prazo de garantia (24 meses) e fornecimento de peças de reposição. O primeiro trem está previsto para chegar 18 meses após a assinatura formal do contrato. Com relação à manutenção dos novos trens, é de praxe a CPTM iniciar o processo licitatório para a escolha da empresa após a entrega das primeiras composições. Edson Ghiro, gerente comercial da Temoinsa, explica que o contrato não prevê índice mínimo de 60% de nacionalização das peças e equipamentos, pois a compra dos 56 pelo BNDES (que costuma exigir essa cláusula para liberar os recursos). Não há um nível de nacionalização exigido, mas também não há restrições. Há planos de buscar fornecedores nacionais que tenham boa disponibilidade de prazo e de preço. Sistemas de freios e equipamentos de ar-condicionado podem entrar nessa lista. As obras da Linha 13-Jade começaram em 2013 e a conclusão está prevista para O trecho, de 12,2 quilômetros, ligará São Paulo ao Aeroporto Internacional de Guarulhos e contará com duas novas estações: Guarulhos Cecap e Aeroporto Guarulhos, além da Estação Engenheie funcional, com salão contínuo de passageiros

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9 totalmente reconstruída. Linha 6-Laranja Outro projeto que já tem participação fechada de chineses é a construção da Linha 6-Laranja, da CPTM. No início de outubro, a secretaria de Transporte Metropolita- São Paulo, formado hoje por três construtoras (Odebrecht, Queiróz Galvão e UTC), todas envolvidas na Lava Jato e - liada em R$ 9,6 bilhões. Um grupo formado pela Mitsui, já sócia do negócio, investidores japoneses e duas empresas chinesas do setor ferroviário, a China Railway Capital Co. Ltd. e China Railway First Group Ltd., apresentaram proposta de transferência de concessão ao governo do estado. As empresas solicitaram 90 dias para resolver as pen- - ferência da concessão, inclusive para formalizar o empréstimo do BNDES, ponto nevrálgico para que obra seja retomada. A previsão é que isso ocorra em janeiro de Segundo o governo de São Paulo, a nova sociedade assumirá a concessão de forma integral, ou seja, nenhum dos participantes atuais permanecerá, com exceção da Mitsui, porém, num novo esquema societário. O projeto prevê a construção de um trecho de 15,3 quilômetros de extensão e 15 estações, que ligará a região noroeste de São Paulo com o centro da cidade. Fundo binacional Brasil-China 58