Educação musical: o canto coral como processo de aprendizagem e desenvolvimento de múltiplas competências
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- Vasco Aveiro Canejo
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1 Educação musical: o canto coral como processo de aprendizagem e desenvolvimento de múltiplas competências Rita de Cássia Fucci Amato Faculdade de Música Carlos Gomes FMCG Resumo. O presente projeto objetiva identificar as condições em que o canto coral é praticado em diferentes comunidades e quais são as deficiências presentes nessa prática no âmbito musical, educacional e fonoaudiológico, utilizando-se de uma metodologia que combine aspectos de estudo de casos múltiplos e da pesquisa participativa. Tal método buscará gerar um debate em torno da questão e promover programas visando o aperfeiçoamento das atividades praticadas, com a criação de cursos para capacitação de agentes corais, habilitando-os ao ensino do canto coral, que se constitui em uma relevante manifestação educacional musical e em uma significativa ferramenta de integração social. Relevância e atualidade do tema A voz é uma das extensões mais vigorosas de nossa personalidade, nosso sentido de inter-relação, de comunicação interpessoal, um processo singular de tocar o outro. A voz só existe porque existe o outro: por meio de nossa voz, pelo tom e pela dinâmica fonatória que utilizamos, desvelamos nosso ser. A voz cantada é uma das manifestações mais eloqüentes da expressão humana, da identidade de um povo e do momento psicológico de um compositor, de um cantor e de sua platéia. A complexa arte de cantar é resultado de treino baseado na produção de um som musical, agradável, sustentado adequadamente e de qualidade correspondente ao estilo empregado. A voz cantada e sua produção em grupo estabelecem um processo de ensino/ aprendizagem dos procedimentos vocais com alto grau de rendimento, pois na convivência com vários modelos vocais é possível desenvolver técnicas de propriocepção e imitação altamente eficazes para uma produção de música coral de qualidade. Neste sentido, o canto coral estabelece um processo de desenvolvimento da produção sonora que pode ser percebida em três dimensões, no entendimento de Mathias (1986): Na dimensão psicológica serão percebidas a emoção, a vontade e a razão. A emoção é o resultado da captação dos fenômenos que atingiram a sensibilidade, favorecendo maior abandono do grupo ao sabor do som. A vontade, que não é voluntarismo, é a força interior que levará o grupo a vencer os obstáculos para se conseguir seus objetivos. E a razão envolve a análise e a seleção de combinações mais adequadas para se atingir a harmonia e a unidade que farão fluir a força interior. A dimensão política nascerá da necessidade de se organizar o grupo. As funções de cada elemento; a sua manutenção, o meio para aperfeiçoá-lo. (...) É a preocupação com o bem comum.
2 A dimensão mística (...) favorece também a percepção de uma outra realidade da pessoa humana. A vivência da unidade, harmonia, beleza, imanentes ao mais profundo de cada um de nós conduzirá naturalmente à vivência da Unidade, Harmonia, Beleza que transcendem o nosso espaço interior (Mathias, 1986, p. 15). Na atuação profissional da autora, como regente e preparadora vocal, foram desenvolvidos trabalhos musicais dentro de comunidades e empresas onde a prática vocal realizava a integração (entendida como uma questão de atitude, na igualdade e na transmissão de conhecimentos novos para todas as pessoas, independente da origem social, faixa etária ou grau de instrução, envolvendo-as no fazer o novo ) entre cozinheiros, padeiros, donas de casa, professores primários e universitários, operários, secretárias, analistas de sistemas, gerentes industriais etc, numa construção de conhecimento de si (da sua voz, de cada um, do seu aparelho fonador) e da realização da produção vocal em conjunto, culminando no prazer estético e na alegria de cada execução com qualidade e reconhecimento mútuos (enquanto fazedores de arte e apreciados por tal, por exemplo, em apresentações públicas). Além disso, os conhecimentos adquiridos pelos participantes do coral influenciam na apreciação artística de cada um e na motivação pessoal. A condução de um trabalho artístico pode ser desenvolvida quando estamos dispostos a romper barreiras (entre teoria e prática, obrigação e satisfação, grupos homogêneos e heterogêneos, especialidades e generalidade, reprodução e produção de conhecimento) que não são exclusivas da escola e/ ou de um curso, mas passíveis de ocorrer em todo e qualquer contexto social e/ ou currículo escolar (Bochniak, 1992, p.19). Faz-se relevante aludir que a participação em um coral pode dar um impulso exemplar à interdisciplinaridade, fazendo vibrar o belo e que (...) para alguns alunos é a partir da beleza da música, da alegria proporcionada pela beleza musical, tão freqüentemente presente em suas vidas de uma outra forma, que chegarão a sentir a beleza na literatura, o misto de beleza e verdade existente na matemática, o misto de beleza e eficácia que há nas ciências e nas técnicas (Snyders, 1992, p. 135). O coral é uma extraordinária ferramenta para estabelecer uma densa rede de configurações sócio-culturais com os elos da valorização da própria individualidade, da individualidade do outro e do respeito das relações interpessoais, num comprometimento de solidariedade e cooperação.
3 Objetivos O presente projeto de pesquisa tem por objetivo inicial mapear a produção vocal/ coral de dadas populações, buscando identificar suas deficiências musicais, educacionais e vocais (abuso vocal, desconhecimento do funcionamento do aparelho fonador e respiratório, higiene e educação vocal e outros). Além disso, busca-se identificar oportunidades de aprimoramento dessas práticas, no intuito de uma melhor qualidade da vivência musical. É intento do projeto o aumento de qualidade da música coral que já vem sendo praticada em igrejas, escolas e outros locais comunitários (sem fundamentos mais aprimorados da técnica vocal, na maioria das vezes), assim como o incremento desta prática em todos os bairros de uma dada comunidade. Ligados necessariamente a esses objetivos estão a melhoria da integração social e qualidade de vida por meio da viabilização de desejos de produção musical de valor. O projeto visa, ainda, gerar oportunidades de obtenção de novos conhecimentos ligados ao canto, que normalmente são adquiridos em escolas especializadas não acessíveis a toda população. A consciência de que é possível executar música vocal com qualidade deve ser altamente estimulada, pois o ato de cantar está ao alcance de todo ser humano, na medida em que a produção vocal não requer investimentos além de um corpo saudável e bem educado. Pressupostos teóricos Os fundamentos teóricos que permitem avaliar uma produção vocal cantada com boa qualidade e sem prejuízo para quem a produz devem nortear os profissionais que trabalham com educação musical coral em quaisquer níveis de atuação, quer em corais infantis, infanto-juvenis, adultos ou de terceira idade. Do ponto de vista funcional, cantar é essencialmente diferente de falar. As evidências indicam que seu controle central está em local diverso no cérebro e os músculos do trato vocal movimentam-se de maneira distinta. (...) Todos podemos cantar e o canto tem de ser trabalhado, exercitado e aprimorado. O dom para cantar existe mas, em grande parte dos casos, as condições anatômicas e fisiológicas podem ser auxiliares importantes (Andrada e Silva & Costa, 1998, p. 141).
4 O conceito da interdisciplinaridade é de significativa relevância para a compreensão da complexidade do ato de cantar. Os fundamentos da otorrinolaringologia, da pneumologia, da fonoaudiologia e do canto deveriam ser complementares em uma atividade sistemática e coerente no cotidiano da música vocal em grupo. A título de exemplo cabe destacar um aspecto do complexo desenvolvimento vocal para professores de canto, regentes, preparadores de coro, educadores musicais, fonoaudiólogos e até médicos, que é a classificação vocal. Os problemas advindos de uma má classificação podem condenar um cantor de coro (em qualquer faixa etária) a sérios riscos para a sua saúde vocal. Outro grave acidente é preencher vagas nos naipes dos corais sem a devida precisão de uma reclassificação após meses de ensaio. O regente de coro é, principalmente, um educador musical e serve de exemplo para seus coralistas que o percebem neste papel. Ele é o único professor de canto que a maioria destes coralistas irão ter, fato este que aumenta muito suas responsabilidades. Entretanto, com prática, com atenção e uma cabeça aberta a um certo dinamismo na sua liderança, com aceitação do fato que o coralista bem conduzido desenvolverá uma técnica vocal adequada a sua voz e pode mudar de classificação, com um trabalho que inclui cuidado, carinho e humildade no tratamento da voz, o regente pode ser bem sucedido na sua vocação de professor de canto, resultando em um som coral que é equilibrado, rico e, acima de tudo, saudável (Herr in Ferreira et al, 1998, p. 56). Metodologia A presente pesquisa tem um caráter exploratório, pois busca oferecer uma visão panorâmica da problemática apresentada. Trata-se, de fato, da tentativa de uma primeira aproximação a um objeto de pesquisa ainda pouco explorado. Neste sentido, busca-se construir um referencial básico, a partir de dados elementares, que poderão dar suporte a estudos mais aprofundados no futuro. O referencial metodológico será, inicialmente, fundamentado em uma revisão bibliográfica referente às seguintes áreas do conhecimento: fisiologia da voz, fundamentos da voz cantada, educação musical e prática coral, que deverão dar o suporte teórico para o desenvolvimento das análises dos dados obtidos na pesquisa de campo. A produção acadêmica referente à produção vocal cantada está intimamente ligada ao desenvolvimento da área de fonoaudiologia e neste sentido destaco os autores Behlau & Pontes (2001),
5 Ferreira (1998), Andrada e Silva & Costa (1998) e muitos outros que estão desenvolvendo numerosos trabalhos para intensificar o entendimento da produção vocal falada e cantada, incrementando subsídios teóricos para a área de música coral nacional. Do ponto de vista do procedimento metodológico de coleta de dados, propõe-se realizar uma pesquisa de campo, combinando aspectos de estudo de casos múltiplos e da pesquisa participativa (deseja-se uma participação ativa da população nos vários casos selecionados). O público-alvo da pesquisa empírica compõe-se de cantores de corais e grupos vocais de várias instituições, tais como: igrejas, escolas e demais centros comunitários. O instrumento de investigação mais apropriado para este tipo de pesquisa será o questionário semi-estruturado, que deverá contemplar, dentre outros, os seguintes aspectos: histórico musical e vocal do cantor; grau de conhecimento do aparelho pneumofonoarticulatório (mecanismos de controle de fluxos inspiratórios/ expiratórios e de produção da voz falada); treinamento vocal (aulas de canto, conhecimento do trabalho fonoaudilógico); produção vocal cantada (classificação vocal, abuso vocal, cuidados com a voz: higiene e saúde vocal); outros cuidados: alimentação, ingestão de líquidos, práticas esportivas e outras informações pertinentes à produção vocal cantada. Contribuições para a área de pesquisa O intento deste projeto é resultar em subsídios para a formulação de políticas educacionais e culturais, por meio do desenvolvimento de uma série de produtos e práticas, tais como: 1.) Promoção de encontros, seminários e oficinas, objetivando a difusão de conhecimentos gerados a partir desta pesquisa, a realização de intercâmbio científico incluindo o desenvolvimento de pesquisas e projetos integrados / cooperativos e o desenvolvimento de debates e investigação acerca de assuntos como a voz cantada, a educação musical e o canto coral.
6 2.) Elaboração de material didático musical, fonoaudiológico e educacional, visando a geração do conhecimento sistematizado da produção musical cantada, do canto coral e suas especificidades; 3.) Seleção e capacitação de Agentes Corais Comunitários (ACC s), que deverão promover a educação musical e vocal nas comunidades selecionadas para a realização da pesquisa empírica. Esses agentes serão selecionados segundo o grau de seus conhecimentos musicais e deverão freqüentar cursos intensivos de educação, educação musical, regência coral, técnica vocal, prática coral e outras áreas afins. 4.) Implantação e desenvolvimento das atividades dos ACC s., que envolvem um monitoramento contínuo das atividades desenvolvidas em cada bairro, por parte da instituição promotora da pesquisa, tendo em vista o aprimoramento do conhecimento e das ações musicais comunitárias. Referências bibliográficas ANDRADA e SILVA, Marta Assumpção de; COSTA, Henrique Olival. Voz cantada: evolução, avaliação e terapia fonoaudiológica. São Paulo: Lovise, p. BEHLAU, Mara; PONTES, Paulo. Higiene vocal: cuidando da voz. Rio de Janeiro: Ed. Revinter Ltda, p. BOCHNIAK, Regina. Questionar o conhecimento: interdisciplinaridade na escola... e fora dela. São Paulo: Loyola, FERREIRA, Leslie Piccolotto et al. Voz profissional: o profissional da voz. São Paulo: Pró-Fono, p. MATHIAS, Nelson. Coral: um canto apaixonante. Brasília: Musimed, p. SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? São Paulo: Cortez, 1992.
II. Atividades de Extensão
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