CULTURA JURÍDICA: Paradigmas e tipos: (Restaurativa e Terapêutica) Josélia Santana
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- Rayssa Santarém Chagas
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2 CULTURA JURÍDICA: Paradigmas e tipos: (Restaurativa e Terapêutica) Josélia Santana 2
3 Justiça Restaurativa Um processo através do qual todas as partes envolvidas em um ato que causou ofensa reúnem-se para decidir coletivamente como lidar com as circunstancias desse ato e suas implicações para o futuro. 3
4 ORIGEM Identificação com os preceitos bíblicos de Justiça. Várias sociedades primitivas adotavam procedimentos semelhantes. Reavivamento de modelos ancestrais de justiça e de práticas de justiça tribal: Círculos de Paz e Círculos de Sentença. As primeiras experiências: caso ocorrido em 1974 em Ontário no Canadá. A experiência originou o primeiro programa de mediação penal do Canadá. Surge em razão das críticas ao Sistema de Justiça Penal. Justiça Juvenil da Nova Zelândia 1º país do mundo a oficializar a JR, com a introdução das Conferências de Grupo Familiar como instrumentos do próprio processo judicial (1989). O modelo da mediação vítima-ofensor foi enriquecido pela mobilização de um grupo ampliado de participantes para os encontros (tradição dos aborígenes Maori). 4
5 Um novo olhar para a vítima Justiça Convencional Participação restrita ao depoimento, enquanto testemunha de acusação Não há preocupação com o que sentiram, o que sofreram ou o que perderam, nem em buscar soluções para os problemas da vítima. Justiça Restaurativa A participação ativa da vítima e a reparação dos danos sofridos por ela são os pilares conceituais do modelo restaurativo. Evolução do modelo civilizatório que vivemos. 5
6 A JR no Brasil No Brasil o ingresso oficial no sistema de justiça brasileiro a partir de 2005, através de três projetos apoiados pela Secretaria da Reforma de Judiciário do MJ e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUD. Projeto Justiça para o século 21. (piloto). Objetivo: implantação das práticas da JR na pacificação dos conflitos e violências envolvendo crianças e adolescentes envolvendo crianças e adolescentes. Foco prioritário: aplicar a JR nos processos por atos infracionais e no atendimento das MSE, ponto de partida para uma estratégia que atravessa, de forma transversal, toda rede de atendimento à infância e juventude. Propõe metodologias baseadas em encontro, diálogo e reparação do dano. 6
7 Justiça Restaurativa X Justiça Convencional Substituir? Proposta alternativa? Proposta complementar? E nas situações onde o ofensor nega a autoria da infração? E quando as partes não querem, de modo algum, se encontrar? Hoje: papel complementar como forma de humanizar o sistema, qualificar o atendimento e reduzir os danos da sua intervenção, buscando soluções mais satisfatórias e gratificantes para os envolvidos, mais produtivas e seguras para a sociedade e menos gravosa para o infrator. Não devem ficar restritas aos processos judiciais Práticas Restaurativas As mais diversas formas de tratar com os conflitos a partir da visão, dos valores e dos processos restaurativos, em qualquer situação em que forem aplicados. 7
8 Valores restaurativos reconhecimento da injustiça (discussão dos fatos ocorridos); compartilhamento e compreensão dos efeitos prejudiciais (sentimentos expressados); acordo sobre termos de reparação (reparação concordada); compreensão sobre o comportamento futuro (reforma implementada). 8
9 JUSTIÇA CONVENCIONAL (RETRIBUTIVA) Conceito de crime: violação do Estado, definida pelo descumprimento da lei e pela culpabilidade. A justiça determina a culpa e administra a pena mediante procedimento contencioso entre o ofensor e o Estado, dirigido por regras sistemáticas. Foco na culpa e no passado (ele/ela cometeu o crime?) Relação adversarial e processo normativo Imposição da dor para punir e dissuadir/prevenir Um prejuízo social substituído por outro Comunidade deixada à margem, sendo representada abstratamente pelo Estado O crime é definido puramente em termos legais, desprovido de aspectos morais, sociais, econômicos ou políticos JUSTIÇA RESTAURATIVA Conceito de crime: violação das pessoas e dos relacionamentos. Cria obrigações para fazer as coisas bem feitas. A Justiça envolve a vítima, o ofensor e a comunidade na busca de soluções que promovem acordo, reconciliação e segurança. Foco na resolução do problema, nas responsabilidades, nas obrigações e no futuro (o que deve ser feito?) Diálogo e negociação normativa Restituição como meio de restauração para ambas as partes; objetivo reconciliar / restaurar Foco na reparação do prejuízo social Comunidade enquanto facilitador no processo restaurador O crime é entendido com parte de um contexto moral, social, econômico e político 9
10 Refletindo... A Justiça Restaurativa introduz novas e boas ideias, como a necessidade de a justiça assumir o compromisso de restaurar o mal causado às vítimas, famílias e comunidades, em vez de se preocupar somente com a punição dos culpados. Entretanto, seu maior desafio não está na lei, mas na necessidade de superar as barreiras culturais que empobrecem sua aplicação.
11 Justiça Terapêutica: conceito Implantada a partir da década de 90. Novo paradigma para o enfoque e o enfrentamento da problemática das drogas em nosso país, particularmente no aspecto relativo ao binômio drogas crimes, ou seja, quando o cometimento de um delito está relacionado ao consumo de drogas lícitas ou ilícitas, a partir da constatação de que o uso e/ou dependência de drogas é fator predisponente para uma gama específica de práticas delituosas. Origina-se a partir das políticas de Tolerância Zero norte-americanas, que buscam reprimir ao máximo a criminalidade. 11
12 Justiça Terapêutica: conceito Justiça Terapêutica busca resolver o processo e a causa dele, isto é, o envolvimento com drogas (uso / abuso / dependência). Premissa: Princípio da Atenção Integral, ou seja, olhar para o infrator e enxergar, além do conflito com a lei, as causas desse problema e, em especial, o problema de saúde, que é a causa da conduta infracional. É a constatação, por parte do sistema de justiça, de que existe uma instância na qual a sua efetividade será maior se atuar conjuntamente com o sistema de saúde. Objetivo principal: evitar que a prisão aconteça, quando a pessoa que apresenta um comportamento (uso de drogas) ou uma enfermidade (dependência química) que a levam a delinquir, numa situação em que necessita de orientação, aconselhamento e tratamento. 12
13 Justiça Terapêutica: dilema Busca de alternativas para a seguinte pergunta: qual é a melhor resposta que o sistema de justiça pode dar a alguém que é encaminhado à Justiça por ter cometido um delito de menor potencial ofensivo e que também esteja envolvido com drogas, onde o uso/dependência dessas substâncias são fatores diretamente relacionados com a prática delituosa? 13
14 Aspectos positivos O tratamento, mesmo que não seja o ideal, é algum tratamento, em contraposição a não se ter nenhum. Há uma superpopulação carcerária no país e a implementação desse modelo viria a contribuir para o desafogamento desse sistema em colapso; Faria diminuir a chamada escola do crime nas prisões, na qual o sujeito, ao invés de preparar sua reinserção social, acaba se profissionalizando em termos de métodos criminosos, quando está encarcerado. 14
15 Outros dilemas... A eficácia de um tratamento obrigatório. Com o aumento das condições de miserabilidade das populações mundiais, houve a necessidade de que as políticas de repressão ao crime crescessem, pois a violência também cresceu. Isso está em sintonia com a culpabilização do indivíduo pela sua miséria: culpado pela miséria e pelo crime. No caso da Justiça Terapêutica, o sujeito ganha um lugar de doente, além do que já tinha como criminoso. Nesse modelo, está subjacente a concepção de sujeito como passivo, e não ativo, sujeito de direitos, capaz de planejar e executar suas ações de cidadania. Esse modelo se diz ao lado de uma prevenção, mas o questionamento que se faz é se aí não está apenas uma posição higienista do Estado em relação ao particular, resumindo a problemática das drogas ao nível individual. 15
16 Outros dilemas... Esse modelo se diz ao lado de uma prevenção, mas o questionamento que se faz é se aí não está apenas uma posição higienista do Estado em relação ao particular, resumindo a problemática das drogas ao nível individual. Na medida em que vão sendo implementadas essas políticas de culpabilização do indivíduo, em vez da problematização do consumo de drogas em outras esferas, também aparece uma tendência que é a dos lucros privados. O modelo da Justiça Terapêutica transfere para ONG s e fazendas terapêuticas a responsabilidade do Estado quanto ao oferecimento de tratamento. 16
17 Obrigada!!! Josélia Santana Site: 17
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