INCIDÊNCIA DA ANEMIA FALCIFORME NAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DE CHAPADA E SÃO JOSÉ, NO ESTADO DO TOCANTINS.

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1 26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas INCIDÊNCIA DA ANEMIA FALCIFORME NAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DE CHAPADA E SÃO JOSÉ, NO ESTADO DO TOCANTINS. Luciana da Costa da Silva 1 ; Carla Simone Seibert 2 1 Aluna do Curso de Ciências Biológicas; Campus de Porto Nacional; luluciana_costa@yahoo.com.br PIBIC/ CNPq 2 Orientadora do Curso de Ciências Biológicas; Campus de Porto Nacional; carlaseibert@yahoo.com RESUMO A anemia falciforme é a doença hereditária mais prevalente no Brasil. Foi introduzida no país com a migração de escravos africanos, por isso, ocorre predominantemente em afrodescendentes. No Tocantins a influencia negra é marcante, pois o estado possui 27 comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares. Diante disso, a finalidade deste estudo foi diagnosticar a anemia falciforme, obter os dados socioeconômicos e fazer entrevistas orais nas comunidades Chapada de Natividade e São José, ambas localizadas no município de Chapada de Natividade - TO. Foram obtidas 63 amostras de sangue em Chapada de Natividade e 25 em São José, estas amostras foram triadas utilizando eletroforese em acetato de celulose (ph 8,6) e submetidas a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) para confirmar diagnóstico. Em Chapada de Natividade 6,5% dos indivíduos amostrados eram doentes falcêmicos, 6,5% traço falciforme e 5% traço para hemoglobina C. Em São José 8% dos indivíduos eram traço falciforme, 28% traço para hemoglobinas C e 4% hemoglobina A 2 aumentada. Os dados socioeconômicos obtidos através do questionário semi-estruturado mostraram que em Chapada de Natividade as principais atividades econômicas estão relacionadas com as aposentadorias (21%), funcionalismo público (21%) e lavradores (21%) e para São José lavradores (67%) e aposentados (33%). O alto percentual de hemoglobinas variantes encontradas, sinaliza a necessidade do diagnóstico precoce, de orientação sobre a doença falciforme e de aconselhamento genético à população. Palavras-chave: Anemia Falciforme; Comunidades Quilombolas; Dados Socioeconômicos; Entrevistas Orais.

2 INTRODUÇÃO A principal função da hemoglobina (Hb) é realizar o transporte O 2 e CO 2 (BRANDAN et al., 2008). Dentre as variantes da hemoglobina A, as Hbs S e C são as mais frequentes na população brasileira. Na doença falciforme a Hb S está presente em homozigose (Hb SS) e manifesta alteração clínica variada, como obstrução vascular, dor e lesão de órgãos. Em heterozigose (Hb AS) geralmente são assintomáticos (SILVEIRA et al. 2008). A anemia falciforme foi introduzida no Brasil e em outros países devido ao processo de miscigenação dos povos (RUIZ, 2007). No Tocantins a influência negra é marcante, pois o estado possui 27 comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares. Entre elas estão as comunidade Chapada de Natividade e São José, ambas localizadas no município de Chapada de Natividade TO. A comunidade Chapada de Natividade é urbana, enquanto a comunidade São José é rural, essa diferença é a principal responsável por determinar condições socioeconômicas distintas nas comunidades. Dessa forma, o presente trabalho propõe verificar a ocorrência da anemia falciforme, as condições culturais e o perfil socioeconômico das comunidades Chapada de Natividade e São José. E assim, proporcionar informações relevantes para a implantação de políticas públicas voltadas para o diagnóstico e tratamento das doenças relacionadas às hemoglobinas variantes. MATERIAL E MÉTODOS Neste estudo realizou-se o diagnóstico da anemia falciforme, o levantamento socioeconômico e entrevista oral com as famílias dos doentes falcêmicos. Para o diagnóstico das Hbs foi coletado 3 ml de sangue com Ácido Etilenodiamino Tetracético (10%). As amostras foram triadas com eletroforese em acetato de celulose (BONINI-DOMINGOS, 2006), as com Hbs alteradas submetidas a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). O levantamento socioeconômico foi realizado através do questionário semiestruturado, buscando conhecer a renda e as oportunidades econômicas. Foram considerados Criança: 0-12 anos; Adolescente: anos; Jovem: anos; Adulto: anos e Idoso: acima de 60 anos, de acordo com o estatuto da criança e do adolescente (SABATOVSKI & FONTOURA, 2010) e o estatuto do idoso (RAMAYANA, 2004). Economicamente foi estimado se a renda era inferior, igual ou superior a um salário mínimo, e se recebiam beneficio social ou não. Além de determinar o número de moradores e seus respectivos nomes, idade, sexo (masculino e feminino) e atividade (professor, trabalhador rural, aposentado, dona de casa, dentre outros).

3 As entrevistas orais buscaram identificar as dificuldades relacionadas à qualidade de vida dos doentes e as principais problemáticas encontradas em seus tratamentos. Os trabalhos foram iniciados somente após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Nos menores de 18 anos, o sangue foi coletado depois da assinatura do responsável. Este Trabalho foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Tocantins, protocolo número 48/2009. RESULTADO E DISCURSÃO Os dados foram coletados em Agosto/2012 e Fevereiro/2013, na comunidade Chapada de Natividade e São José, respectivamente. Foram entrevistadas 23 famílias em Chapada de Natividade (63 amostras de sangue) e 8 famílias em São José (25 amostras de sangue). O percentual de hemoglobinas alteradas representou 18% das amostras em Chapada de Natividade e 40% em São José, sendo 4 indivíduos portadores de anemia falciforme, 6 com traço falciforme, 10 com hemoglobina C e 1 com hemoglobina A 2 aumentada. Na comunidade Chapada de Natividade 4 crianças eram portadoras da anemia falciforme. Estas estavam diagnosticadas, aposentadas e já realizam acompanhamento médico. O percentual de 6,3% está acima do relatado por NAOUM (1985), que em amostras encontrou 0,38% doentes falcêmicos. Acima também do relatado por BANDEIRA et al. (1999) que em amostras encontrou 0,2% e ARAUJO et al. (2004) que em amostras encontrou 0,05% de portadores da anemia falciforme. O percentual de traço falciforme encontrado na comunidade Chapada de Natividade (6,5%) e São José (8%) estão acima do relatado por NAOUM (1997), que encontrou 1,33% de traço falciforme em Pernambuco e 5,55% na Bahia. Em São José o percentual também superou o observado nas regiões norte e nordeste do Brasil (6% a 10%) (CANÇADO, 2007). A Hb C foi encontrada em 6,3% das amostras de Chapada de Natividade e 28% em São José. Depois da Hb S, a Hb C é a segunda variante mais frequente no Brasil (BONINI- DOMINGOS et al., 2003). E, além disso, a interação das Hbs S e C podem originar novos heterozigotos ou homozigotos (Hb SS, Hb CC, Hb SC) (SILVEIRA et al. 2008). A análise socioeconômica mostrou uma variação pouco significativa entre homens e mulheres nas duas comunidades. Chapada de Natividade com 53% de mulheres e 47% de homens, e São José com 49% de mulheres e 51% de homens. Ambas constituídas por uma população mais jovem, em que quase 60% dos moradores são crianças, adolescentes e jovens. Em Chapada de Natividade 48% dos moradores geram renda, destes 21% são aposentados, a mesma proporção para funcionários públicos e lavradores, os demais 37%

4 realizam outras atividades como garimpeiro, frentista, professor, dentre outros. Quanto à renda, 74% das famílias possuem mais de um salário, 21,7% um salário e 4,3% menos de um salário mínimo. O programa Bolsa Família beneficia 39% das famílias e 4,3% possuem Baixa Renda na conta de luz. Na Comunidade São José 54% dos moradores geram renda, destes 67% são lavradores e 33% aposentados. Sobre a renda, 25% das famílias possuem menos de um salário e 75% tem mais de um salário mínimo. O programa Bolsa Família beneficia 50% da comunidade. Muitas residências não possuem energia elétrica e serviços de saneamento básico. Na entrevista oral realizada em 27 de Agosto de 2012, a madrasta de uma das portadoras da anemia falciforme afirma as dificuldades encontradas no tratamento: conseguir os remédios, porque no postinho agora mesmo não tem [...] o atendimento, encaminha a gente pra Natividade, ai a medica lá fala que nem precisa mandar pra lá, que tem que encaminhar é pra Palmas [...] mais difícil é quando a médica passa algum exame pra ela fazer, porque aqui não tem. Ela conclui falando dos transtornos e gastos gerados com as viagens a capital (Palmas) em busca de atendimento especializado, que também é ausente em Chapada de Natividade: quando a gente precisa né, o pessoal da prefeitura da o carro, pra gente ir pra Palmas e voltar [...] mas lá agente gasta com alimentação e o transporte vai cheio demais. Os altos índices de portadores de anemia falciforme na comunidade Chapada, a presença de indivíduos portadores de traço falciforme e heterozigotos para hemoglobina C, em ambas as comunidades estudadas, indicam um risco eminente para o aumento da incidência de anemia falciforme no estado. Portanto, faz-se necessário a realização de pesquisas para diagnosticar a prevalência das hemoglobinas variantes na população tocantinense, além do aconselhamento genético nas comunidades, principalmente para os jovens, a fim de evitar novos portadores da anemia falciforme. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, M.C.P.E.; SERAFIM, E.S.S.; CASTRO JR., W.A.P.; MEDEIROS, T.M.D. Prevalência de hemoglobinas anormais em recém-nascidos da cidade de Natal,Rio Grande do Norte, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1): , jan-fev, BANDEIRA, F.M.G.C.; LEAL, M.C.; SOUZA, R.R.; FURTADO, V.C.; GOMES, Y.M.; MARQUES, N.M. Características de recém-nascidos portadores de hemoglobina S detectados através de triagem em sangue de cordão umbilical. Jornal de Pediatria (Rio J.) - Vol. 75, Nº3, BONINI-DOMINGOS, C. R. Metodologias laboratoriais para o diagnóstico de hemoglobinopatias e talassemias. São José do Rio Preto: HN, 2006.

5 BONINI-DOMINGOS, C. R.; BONINI-DOMINGOS, A. C.; CHINELATO, A. R.; ZAMARO, P. J. A.; CALDERAN, P. H. O. Interação entre Hb C [beta6(a3) Glu>Lys] e IVS II-654 (C>T) beta-talassemia no Brasil. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, São Paulo, v. 25, n. 2, p , BRANDAN, N.; AGUIRRE, M. V.; GIMÉNEZ, C. E. Hemoglobina. Cátedra de Bioquímica Facultad de Medicina UNNE, CANÇADO, R. D.; JESUS, J. A. A doença falciforme no Brasil. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, [s.l]: v.29, n.3, p , FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES. Comunidades quilombolas. Brasília, Disponível em: < >. Acesso em: 30 set NAOUM, P. C.; ANGULO, I. L.; BRANDAO, A. C.; GRACIANO, R. A. S.; SPIR, M.; NOMURA, E.; ANJOS, I. D. Detecção e conscientização de portadores de hemoglobinopatias nas regiões de São José do Rio Preto e Presidente Prudente, SP (Brasil). Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 19, p , NAOUM, P.C. Hemoglobinopatias e Talassemias. São Paulo:Ed. Sarvier; p. RAMAYANA. M. Estatuto do Idoso Comentado. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Roma Victor RUIZ. M.A. Anemia falciforme. Objetivos e resultados no tratamento de uma doença de saúde pública no Brasil. Ver. Bras. Hemat. Hemot., SABATOVSKI, E.; FONTOURA, I. P. Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. 5. Ed. Jurua, SILVEIRA, Z. M. L.; SILVA, E. N.; TORREÃO, N. K. A. M.; BEZERRA, I. M.; MEDEIROS, T. M. D. Variantes estruturais da hemoglobina: estudo sobre prevalência em militares. Revista Brasileira de Análises Clínicas, Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, p , AGRADESCIMENTOS A secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Tocantins pelo apoio financeiro ao projeto (Edital PPSUS/ 2008, convênio ). "O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil".