DST/Aids, Direitos Sexuais e Reprodutivos: Revisitando as Tecnologias Disponíveis. Daniela Knauth Depto Medicina Social UFRGS
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- Giuliana Quintão Viveiros
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1 DST/Aids, Direitos Sexuais e Reprodutivos: Revisitando as Tecnologias Disponíveis Daniela Knauth Depto Medicina Social UFRGS
2 Avanços? Nem tanto Avanços no manejo da epidemia: aumento da sobrevida das pessoas vivendo com HIV/Aids com as terapias anti-retrovirais (TARVs); formas mais rápidas de diagnóstico com os testes rápidos; redução da transmissão vertical. Estratégias de prevenção: avanços bem mais tímidos e recuo frente aos no controle e tratamento da doença.
3 Algumas indagações Por que este descompasso no nível das estratégias e mesmo do impacto sobre a epidemia entre a prevenção e o tratamento do HIV/Aids? Quais as implicações deste descompasso para a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos das pessoas vivendo com HIV/Aids?
4 Quais tecnologias de prevenção dispomos hoje? O próprio termo tecnologia é pouco utilizado na área comportamental, aquela que trabalha com prevenção. Na visão do senso comum tecnologia implica em algum novo objeto, máquina ou equipamento, elementos que, em geral, não são descobertos na área das ciências humanas
5 O que aprendemos sobre prevenção com a Aids? Uma série de lições em termos de prevenção: 1)terrorismo não funciona; 2) risco é um conceito limitado; 3) prevenção não se ensina; 4) aprendizado é um encontro (José Ricardo Ayres, 2002); Rupturas em relação ao modelo de prevenção biomédico dominante calcado na informação, idéia de risco e no indivíduo A prevenção é tratada dentro de um referencial de vulnerabilidade social
6 Impasses atuais para a prevenção Saturação do discurso do uso do preservativo sempre, em todas as relações sexuais; Pouco se trabalha de fato com o referencial de redução de risco em termos das relações sexuais hierarquização dos riscos (ex. lésbicas, casais sorodiscordantes, etc.); A difusão de práticas como barebacking e serosorting; Novas tecnologias de prevenção
7 Será um efeito reverso ou adverso? A promoção da autonomia, do empoderamento em relação ao uso do preservativo, escolha das parcerias afetivo-sexuais e orientação e práticas sexuais pode ter este efeito reverso? Pode colocar em xeque as conquistas dos últimos anos no que se refere aos direitos sexuais das mulheres, homossexuais, transexuais, pessoas vivendo com HIV e outros grupos que sempre foram discriminados? Onde ganhamos e onde perdemos nisto tudo? Existem outras alternativas? Quais?
8 As novas tecnologias de prevenção do HIV/Aids Circuncisão masculina; Microbicidas; Profilaxia pré e pós exposição Questões sobre o impacto social e cultural, conseqüências políticas, sustentabilidade econômica destas intervenções.
9 A nova era da prevenção Sólida base de evidências (evidencebase) para informar as políticas de saúde *. Implementação em larga escala * Privar um grupo de indivíduos deste recurso é antiético Medicalização *Editorial Newer approaches to HIV prevention, The Lancet, vol 369, feb.24, 2007.
10 A eficácia do preservativo O editorial sugere que apesar do uso do preservativo ter um nível maior de proteção (referido como de 80-90%) em relação à transmissão sexual do HIV se utilizado de forma consistente, várias mulheres não estão em posição de persuadir seus parceiros a utilizá-lo. O preservativo é tomado enquanto um método de prevenção pouco confiável na medida em que é dependente do comportamento dos indivíduos que o utilizam ou, no caso, que demandam sua utilização.
11 E onde ficam as mulheres, os homossexuais, os casais sorodiscordantes? As evidências de proteção para o HIV da circuncisão se referem apenas à população masculina e heterossexual. As novas tecnologias são vistas pelo editorial como uma forma de colocar a prevenção do HIV nas mãos das mulheres : ensaios clínicos de microbicidas vaginais que na fase III foram interrompidos, pois os resultados preliminares sugerem um aumento do risco para o HIV em função dos componentes da fórmula. A tecnologia em si não é desacreditada, como ocorre no caso do preservativo, pois novos produtos já estão sendo desenvolvidos
12 E a vacina? Visão pessimista: muito mais distante encontra-se o desenvolvimento de uma vacina efetiva que possa oferecer proteção a longo termo frente ao grande espectro de variantes do HIV existentes. Este descrédito em relação ao desenvolvimento de uma vacina é coerente com uma concepção de saúde clínica e intervencionista, que não contempla uma visão de saúde pública da qual a idéia de vacinação é signatária. A falta de uma perspectiva de saúde coletiva, onde o olhar é sobre o todo e não sobre a soma dos indivíduos, me parece ser uma outra característica desta nova era da prevenção.
13 O novo e o velho, esta combinação é possível? O editorial finaliza afirmando que apesar da circuncisão masculina oferecer uma proteção parcial contra a infecção pelo HIV, o futuro da prevenção está na combinação de novos métodos, com as abordagens já existentes, como o condom. O novo é contraposto ao antigo (já existente) e a tecnologia é diferenciada da abordagem (approaches). Ou seja, as novas tecnologias são um produto da ciência, possuem fortes evidências de sua eficácia e podem ser generalizadas para a população em geral, ao passo que as abordagens já existentes não são tidas com científicas e sua eficácia é questionada.
14 O novo contexto das tecnologias de prevenção A medicalização da prevenção se apresenta, como um caminho mais fácil e eficaz. A implementação desta política, tem importantes entraves e implicações sociais, culturais e econômicas. Perguntas como quem, onde, como, quando e para que circuncidar (Terto Jr, 2007) devem ser consideradas.
15 As novas e as velhas tecnologias de prevenção O discurso sobre o uso do preservativo sempre, em todas as relações sexuais precisa ser repensado frente ao referencial dos Direitos Sexuais e Reprodutivos. As novas tecnologias podem sim agregar, mas certamente devem ser contextualizadas no quadro da vulnerabilidade estrutural, de gênero e direitos humanos que tem marcado a velha tecnologia de educação e prevenção. A prevenção não deve ser delegada exclusivamente à medicina, mas deve ter a abordagem interdisciplinar, da sociedade civil e da comunidade que é um dos grandes ganhos desta epidemia.
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