Perdas pós-colheita: conceitos
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- Marcela Coelho Carvalho
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1 Perdas pós-colheita: conceitos econômicos que ajudam a tomada de decisão do Produtor Rural. Autores: Leonardo Silva Antolini Matheus Alberto Cônsoli Roberto Fava Scare
2 Introdução O aumento da demanda por alimentos e elevação histórica de preços que ocorre desde o ano de 2008 tornam as perdas pós-colheita um tema de grande preocupação mundial. Segundo a FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (2014), cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidos anualmente, se somadas as perdas pós-colheitas e desperdícios na mesa do consumidor. Ou seja, cerca de 30% do total de alimentos produzidos no mundo é perdido, no trajeto do campo ao prato. Focando especificamente na produção de grãos, percebemos que alguns fatores influenciam o montante perdido no pós-colheita, como por exemplo, o teor de umidade do grão, impurezas, estrutura e temperatura de armazenagem, fungos, insetos, roedores e micotoxinas, além da infraestrutura de transporte da produção ao mercado e ferramentas de comercialização que ainda podem ser desenvolvidas no nosso país. 2
3 Uma questão fundamental deriva dessa discussão: Por que o produtor ou o gerente da fazenda permitem que certo nível de perda aconteça durante e depois da colheita de grãos? Não seria interessante minimizar as perdas pós-colheita e maximizar esta produção para aumentar o volume comercializado? A resposta é depende. Depende, pois a decisão de diminuir ou não perdas pós-colheita é complexa. Infelizmente, os papéis dos tomadores de decisão da fazenda ainda são pouco estudados, assim como as perdas pós-colheita no Brasil. Abordaremos alguns motivos econômicos para tentarmos entender algumas razões para estas perdas pós-colheita acontecerem, principalmente nas áreas com oportunidade para realização de segunda safra, como por exemplo o Cerrado Brasileiro. Em primeiro lugar, precisamos entender o conceito de custo marginal de redução das perdas pós-colheita, conforme abordado por pesquisa da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (2014). 3
4 Definições
5 Algumas definições são relevantes nesse momento: O custo para reduzir a perda pós-colheita não é constante. O custo de evitar a perda de 1/2 saca de soja é diferente do custo de evitar a perda de, digamos, 3 sacas de soja. O custo para reduzir as primeiras unidades de produção perdidas é baixo. Por exemplo, o custo para ajustar o RPM do rotor da colheitadeira é baixo, mas pode reduzir em até 3% as perdas durante as passadas, segundo estudo da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (2014). Porém, para reduzir 10% das perdas, o produtor deve adquirir uma máquina mais nova, por exemplo, o que já caracteriza um custo mais alto. O custo para reduzir a última unidade perdida é infinitamente alto. Adquirir uma nova colheitadeira pode ser considerado um custo alto para o produtor. Porém, além do produtor, os custos para evitar 100% das perdas pós-colheita envolvem as empresas, governos, instituições e um sistema de organizações, que em um mundo ideal, poderiam resolver todos os problemas pós-colheita com uma quantidade exorbitante de investimento em silos, estradas, máquinas novas, caminhões, transporte ferroviário, fluvial, marítimo etc. 5
6 Redução de Perdas Pós Colheita (P) S 0 Benefício da Redução da Perda Pós Colheita Custo da Redução das Perdas Pós Colheita 0% P 0 P1 P2 100% Economia da Tomada de Decisão das Perdas pós-colheita. Adaptado de Martins, Goldsmith e Moura (2014). 6
7 O gráfico anterior exemplifica esta discussão em termos econômicos. No eixo horizontal, temos a redução das perdas pós-colheita, em porcentagem. No eixo vertical, temos o custo de determinada redução. A curva S 0 é a função utilidade da redução das perdas pós-colheita, representando a evolução do benefício conseguido por cada unidade de redução de perdas e sua relação com os custos dessa redução. Vemos que o custo de redução P até P 1 é representado pela seta número 1. Já o custo para reduzir as perdas pós-colheita de P 1 até P 2 é representado pela seta número 2, assumindo que P - P = P - P Vemos que a seta 2 é maior que a seta 1, ou seja, os custos para realizar a mesma % de redução nas perdas vão se elevando conforme chegamos próximo da última unidade de perda a ser reduzida, ou seja, quando a curva se desloca para a direita no gráfico. Virtualmente, reduzir 100% das perdas pós-colheitas teria um custo infinito. 7
8 Dito isso, é necessário entender também o conceito de custo de oportunidade de redução das perdas pós-colheita. Esses aspectos colocam o produtor ou o gerente da fazenda em um dilema ao tentar resolver os problemas de perdas pós-colheita. Falando com os produtores do cerrado brasileiro, vemos claramente que existe uma relação de custo-benefício entre o número de colheitadeiras, vagões graneleiros, caminhões e silos. Com mais máquinas, o produtor colhe mais em menor tempo, mas isto pode alterar a efetividade da colheita, elevando as perdas pós-colheita. Se o produtor optar por reduzir as perdas pós-colheita e colher a produção em ritmo mais lento, ele pode sofrer com atrasos de colheita e prejudicar o plantio de safrinha. 8
9 Sendo assim, qual é o melhor para o negócio do produtor? Tentar reduzir a perda pós-colheita e efetivamente ter mais grãos na safra, mas correr o risco de atrasar a colheita e prejudicar o plantio de safrinha? Ou aumentar a velocidade de colheita, correndo o risco de perder parte da produção na safra, mas viabilizando a janela de plantio da safrinha? Esta situação é única para o produtor brasileiro: a safrinha permite que os fazendeiros produzam dois cultivos, mas as perdas em um deles pode proporcionar maiores ganhos no cultivo subsequente. Para o produtor, o que importa é soma no final do dia, além dos benefícios agronômicos da rotação de cultivos. Resumindo, se o preço do milho safrinha estiver com perspectivas positivas os produtores irão colher o mais rápido possível e, consequentemente, tolerar aumentos nas perdas na colheita da soja para proporcionar o plantio de milho safrinha, deslocando o Gráfico 1 para direita. Outro aspecto relevante que influencia as perdas pós-colheita no Brasil é o tipo de mão de obra utilizada nas operações de colheita. 9
10 Diferentemente dos EUA e Argentina, a utilização de mão de obra contratada nas operações de colheita no Brasil é alta. Enquanto nos Estados Unidos, o próprio produtor opera sua colhedora no campo, no Brasil, grande parte das fazendas médias e grandes tem operadores de máquinas contratados. Isso gera um custo de agência. O custo de agência é usado para denominar um tipo especial de gasto que decorre de conflitos de agência existentes numa organização. Este gasto é devido ao conflito de interesse entre proprietários e colaboradores. Por exemplo, um acionista da Petrobrás (no caso, proprietário de uma parte da empresa) tem interesses diferentes do que o presidente executivo da empresa (no caso, um funcionário contratado). Mas esse é um tema para outros artigos. Voltamos às perdas pós-colheita. 10
11 A priori, podemos assumir que o comportamento de reduzir perdas póscolheita é mais agressivo no produtor do que no seu operador da colhedora. Afinal, o produtor é o dono dos grãos. Porém, no Brasil, geralmente não é o produtor que pilota a colheitadeira. Então temos outro dilema: Como podemos treinar e sensibilizar a mão de obra sobre a importância da redução de perdas pós-colheita e reduzirmos este problema de agência? Para finalizar esta série de discussões sobre a tomada de decisão e conceitos econômicos das perdas pós-colheitas, gostaríamos de destacar a importância da redução de perdas pós-colheita para a segurança alimentar mundial. O tema é complexo, pouco explorado e vai além de implantação das melhores práticas de colheita e armazenagem, sendo influenciado pelo ambiente institucional e seus agentes, caracterizados por empresas, instituições e governo. 11
12 O desafio é grande, já que tecnologias para redução de perdas pós-colheitas são específicas a um certo contexto. Técnicas que funcionam em um silo de uma fazenda de Lucas do Rio Verde MT não funcionarão nos boxes do CEAGESP de São Paulo. Além disso, as tecnologias de redução de pós-colheita são difíceis de se expandir em larga escala e são dependentes de linhas de fomento e financiamento. Dito isso, como podemos tomar decisões complexas em um ambiente com diversas restrições? Sugerimos o entendimento da situação, identificação dos principais sintomas e causas estruturais, além de ações focadas em contextos específicos, como disseminação do conhecimento por meio de agentes de extensão, empresas, associações e, por que não, de maneira digital? 12
13 Referências FAO, Martins, A. M.; Goldsmith, P. Moura, A. Managerial factors affecting post-harvest loss: the case o f Mato Grosso Brazil. International Journal of Agricultural Management, Volume 3 Issue DOI: / ijam/
14 Vamos mais longe, porque chegamos mais perto. Aumentamos o valor do seu negócio com foco na análise, planejamento e implementação de estratégias para organizações orientadas ao mercado. Projetos Pesquisa Capacitação
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