TÉCNICA DOS INCIDENTES CRÍTICOS: UMA ALTERNATIVA METODOLÓGICA PARA ANÁLISE DO TRABALHO EM ÁREAS CIRÚRGICAS
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- Augusto Abreu Neves
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1 NOGUEIRA, M.S.; MENDES,I.A.C.; TREVIZAN, M.A.; HAYSHIDA,M. Técnica dos incidentes críticos: uma alternativa metodológica para análise do trabalho em áreas cirúrgicas. Rev. Paul. Enf., v.12, n.3, set./dez TÉCNICA DOS INCIDENTES CRÍTICOS: UMA ALTERNATIVA METODOLÓGICA PARA ANÁLISE DO TRABALHO EM ÁREAS CIRÚRGICAS Maria Suely Nogueira 1, Isabel Amélia Costa Mendes 2, Maria Auxiliadora Trevizan 3, Miyeko Hayashida 4 Resumo Neste artigo as autoras apresentam alternativa metodológica que possibilita a análise do trabalho em áreas cirúrgicas. Trata-se de um método indireto de análise do trabalho, que permite o registro de comportamentos específicos relatados pelos próprios ocupantes da função. Através desta metodologia pode-se detectar situações indicativas de bom ou mau funcionamento nas referidas áreas e que podem estar interferindo na assistência de enfermagem. SUMMARY This study presents an alternative method for the analysis of work in surgical areas. It is an indirect method of analysis of work which permits the recording of specific behaviors by the actual worker. By this method it is possible to detect situations indicative of good or bad functioning in an area which may be interfering in nursing care. 1 Enfermeira. Assistente do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto- USP. 2, Enfermeira. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP. 3 Enfermeira. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP. 4 Enfermeira. Técnico Especializado Superior de Apoio ao Ensino e a Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto- USP.
2 INTRODUÇÃO Considerando a especificidade do trabalho que se desenvolve nas áreas de internação cirúrgica, centro cirúrgico e centro de recuperação, acreditamos que as mesmas devam manter uma inter-relação constante, a fim de que se possa proporcionar ao paciente assistência individualizada. Estas áreas são atingidas pela impessoalidade decorrente do excesso de normas e rotinas estabelecidas para o seu funcionamento. Acreditamos que uma grande parte do pessoal que nelas trabalha executa suas atividades seguindo estas normas e rotinas sem ao menos questioná-las. Tal fato torna o trabalho rotineiro favorecendo a desmotivação para mudanças e a insatisfação em relação ao mesmo. Uroom apud DI LASCIO 7, salienta que "os conceitos de satisfação e de atitudes na situação de trabalho têm sido usados como sinônimos e como tal, dizem respeito à orientação do trabalhador em relação ao desempenho de papéis que lhes são inerentes. Dessa maneira, atitudes positivas no trabalho podem ser consideradas equivalentes à satisfação no trabalho bem como atitudes negativas são consideradas equivalentes à insatisfação". Os hospitais modernos são empresas complexas que exigem além dos equipamentos e instalações especiais, uma constante adaptação da tecnologia administrativa para prestar assistência qualificada a seus clientes. Entretanto, acreditamos que o homem é o elemento chave na prestação dos serviços hospitalares. Daí a necessidade de se empregar métodos científicos para um melhor aproveitamento das capacidades individuais. Para atingir seu objetivo comum, que é a prestação da assistência contínua e individualizada ao cliente, o hospital depende da comunicação entre seus membros e ou entre seus serviços. Dentro desta visão podemos considerar o hospital como um sistema e os serviços que o compõem como seus subsistemas; assim, o serviço de enfermagem, foco de nossa atenção neste estudo, pode ser considerado um subsistema do sistema hospitalar. Especificamente para o serviço de enfermagem nas áreas cirúrgicas, acreditamos que deve existir uma forte inter-relação entre o serviço de enfermagem destas áreas e os demais serviços do hospital, uma vez que a organização e desempenho destes dependem de cooperação, comunicação, criatividade e solução de problemas entre os grupos de trabalho nele existentes. Sabemos que a hospitalização pode acarretar para o paciente problemas psicológicos sérios, devido ao seu afastamento do ambiente familiar e social, acarretando atitudes de inconformismo, apatia e indiferença, que podem se tornar mais evidentes no paciente cirúrgico onde tais atitudes estão mescladas com o medo, ansiedade e insegurança. Diante de tais situações, cabe ao profissional de saúde e mais especificamente o pessoal da equipe de enfermagem, dar o apoio ao paciente, procurando compreender suas atitudes afim de ajudá-lo a assumir tal situação de maneira mais positiva. Portanto, o indivíduo que trabalha nestas áreas cirúrgicas deve estar compromissado e motivado para executar suas atividades, tornando positiva sua atenção junto ao paciente e à organização hospitalar. Na literatura de enfermagem percebe-se que há uma preocupação em tornar a experiência de cirurgia o menos traumática possível para o paciente. A este respeito, FERRAZ 8 relata ser necessário
3 que "a equipe cirúrgica, tanto médica como de enfermagem, proporcione ao paciente a oportunidade de ocupar um lugar de destaque nesta equipe, pois é ele que possui dados para ajudá-la no planejamento e implementação de seu tratamento, pois somente o paciente sabe como está se sentindo quanto à sua doença e sua cirurgia, podendo assim influenciar positiva ou negativamente na sua recuperação". Para CASTELLANOS 2 uma forma que ajuda a assegurar um cuidado de enfermagem personalizado, contínuo e integrado é a utilização do processo de enfermagem no centro cirúrgico. Enfatiza que a aplicação do processo de enfermagem na unidade de centro cirúrgico é um método sistemático de prestar cuidados de enfermagem, tanto individualizado como rotineiro, no período trans-operatório. Desta forma, as atividades de enfermagem serão dirigidas de tal maneira que possibilitam a continuidade dos cuidados de enfermagem por meio da avaliação e preparação préoperatória, intervenção intra-operatória e avaliação pós-operatória. No entanto, sabemos que o pessoal de enfermagem de centro cirúrgico e centro de recuperação não poderá prestar assistência global e individualizada ao paciente, se não o conhecer antes da cirurgia e planejar sua assistência. Ao estudar estes aspectos, PANZA 16 afirma que a visita pré-operatória é um meio pelo qual o enfermeiro pode identificar as necessidades do paciente e traçar um plano de cuidado individualizado no pré, no trans e no pós-operatório com a finalidade de promover a continuidade da assistência de enfermagem. Preocupada com a importância de comunicação efetiva do pessoal das unidades de internação cirúrgica com o pessoal de centro cirúrgico e centro de recuperação pós anestésica, com a finalidade de assegurar ao paciente uma assistência contínua e individualizada, SALZANO 22 estudou a implantação de um modelo de comunicação escrita entre as equipes de enfermagem das unidades cirúrgicas e do centro cirúrgico. Tal instrumento de comunicação, elaborado por JOUCLAS; SALZANO 11 em 1981, ao ser preenchido pelo enfermeiro da unidade de internação, coloca o enfermeiro de centro cirúrgico a par das condições dos pacientes para a assistência no trans-operatório. Frente aos estudos até então referidos, percebe-se que os autores partem de um ponto comum, ou seja, a necessidade de uma comunicação efetiva e uma harmonia entre os diferentes serviços e os membros dos grupos que os compõem para prestar assistência qualificada ao indivíduo necessitado. Concordamos com KRON 13, ao afirmar que todos devem reconhecer a contribuição de cada departamento ou serviço do hospital para com o bem-estar do paciente e estarem dispostos a trabalhar cooperativamente para tornar os serviços disponíveis ao mesmo. Pelo exposto, fica evidenciado que um dos pontos a se considerar para a harmonia entre os diferentes serviços de um hospital é a comunicação adequada que se estabelece entre os mesmos. Entretanto, outros fatores podem estar interferindo no trabalho que se desenvolve nestes serviços, principalmente em se tratando de áreas tão específicas como as cirúrgicas. Enfocando a inter-relação que existe entre as áreas de internação, centro cirúrgico e centro de recuperação pós-anestésica, podemos considerá-las como subsistemas que integram o sistema hospitalar, pois o hospital como toda organização complexa, é um sistema. Para THOMPSON 23 um
4 sistema é definido como "a organização de um todo ordenado, mostrando claramente a interligação de todas as partes umas com as outras e com o todo de modo geral". Para CHINN 4, o modelo de sistemas presume a existência de organização, interdependência e integração entre suas partes; presume ainda a mudança como uma consequência derivada de maneira como as partes do sistema se integram ou do modo como o sistema se relaciona como subsistemas que o integram e que com ele interagem. No dizer de KATZ; KAHN 12, a teoria de sistemas está basicamente interessada nos problemas de relações, de estrutura e de interdependência. Afirmam que "as formulações mais antigas de esquemas de sistemas lidavam com os sistemas fechados das ciências, no quais as estruturas relativamente autocontidas podiam ser tratadas, com êxito, como se fossem independentes de forças externas. Mas os sistemas vivos, quer sejam organismos biológicos, quer sejam organizações sociais, se acham agudamente na dependência de seu meio externo e, por isso precisam ser concebidos como sistemas abertos". O ser humano pode ser analisado como um sistema aberto porque interage com o ambiente e com outros sistemas. Conforme expõe ROBERTS 18, o sistema vivo consiste de matéria e energia que são organizadas por um sistema de informação. Assim, o sistema vivo é capaz de trocar energia com o ambiente externo através do processo de comunicação. Para que um sistema humano sobreviva, ele deve ter informação adequada e habilidade para processá-la. Do mesmo modo, devemos considerar que um dos fatores indispensáveis para a sobrevivência de um grupo de indivíduos que trabalha em equipe é a informação que é trocada entre seus membros. O sistema é estruturado para atingir objetivos através da realização de funções. Segundo THOMPSON 23, "para funcionar corretamente, todo sistema precisa dispor de informações acerca de seu comportamento, além de meios para corrigir deficiências e instabilidades em seu desempenho, pois se não dispuser destas informações o sistema poderá sucumbir". Sendo o ambiente hospitalar um sistema que caracteriza-se por empregar um grande número de profissionais de várias áreas e que devem manter um trabalho integrado, é fácil perceber que a grande diferenciação e especialização de funções dentro deste sistema favorece a ocorrência de perturbações. Compreende-se então, pela própria especificidade das áreas cirúrgicas, que estes subsistemas podem apresentar disfunções, as quais emergem da ocorrência de incidentes perturbadores ao subsistema. Acreditamos que a técnica dos incidentes críticos constitui um método adequado para a análise do trabalho nestas áreas e que possibilita a detecção destas disfunções. Assim, propomo-nos com este artigo abordar o problema e, com alternativa de solução, sugerir o uso da técnica dos Incidentes Críticos para a análise do trabalho em unidades cirúrgicas, para que o enfermeiro viabilize a integração do pessoal ao trabalho e alcance uma assistência de enfermagem de melhor qualidade.
5 ANÁLISE DO TRABALHO: POSSIBILIDADES Sendo o serviço de enfermagem um subsistema do sistema hospitalar e, portanto, atuante durante as 24 horas nas áreas cirúrgicas e que para tal, conta com grande número de pessoal cujo preparo escolar, aptidões e funções são diversificados e heterogêneos, acreditamos ser necessária uma avaliação constante em relação às tarefas que lá se desenvolvem. No entanto, estas avaliações geralmente são subjetivas, chegando-se a um consenso da necessidade de treinamento de pessoal, estratégia esta largamente utilizada para o desenvolvimento de recursos humanos nos hospitais modernos. Para MARCONDES 14 o treinamento de pessoal é um processo que visa obter um bom desempenho com o mínimo de esforço e a máxima satisfação, tanto para o pessoal como para a empresa. Por outro lado, BASTOS 1 ressalta que os programas de treinamento de pessoal devem atender as necessidades de aprendizagem da clientela e que os métodos até então utilizados para o levantamento destas necessidades têm se mostrado ineficazes. Assim, faz-se necessária a realização de pesquisa sistemática para uma correta estimativa das necessidades. A estimativa destas necessidades se constitui da interação entre o trabalho e o trabalhador, que podemos chamar de Análise do Trabalho. Para RAMOS 17, a Análise do Trabalho é um instrumento de grande utilidade para o administrador, por tratar-se de um método de investigação que visa a integração do indivíduo ao trabalho, fator este, indispensável ao pleno êxito social e econômico de uma empresa. Análise do Trabalho, segundo o Instituto de Seleção e Orientação Profissional 10 "é o estudo de determinado trabalho para revelar obrigações, condições de serviço e qualificações que o trabalhador deve ter para a eficiente execução e ajustamento ao mesmo". Para DELA COLETA 5, "os programas de desenvolvimento de recursos humanos exigem como premissa, um estudo sistemático, operacional e científico do trabalho, uma análise das variáveis envolvidas nas atividades desempenhadas; uma verificação das inter-relações do trabalhador com seu posto de trabalho, com suas tarefas e com os instrumentos utilizados, visando determinar as áreas de concentração das aplicações. Os resultados destes procedimentos irão fornecer os critérios, quer sejam de produção ou satisfação, objetivos ou subjetivos, que servirão como modelos comparativos das proposições inicialmente formuladas e terão o papel de confirmá-las ou substituí-las". O mesmo autor 5 esquematiza os métodos de análise do trabalho da seguinte maneira: 1) Métodos Diretos: a) Interrogativos: entrevista com o titular do cargo, explicitação provocada, agenda das operações do cargo, entrevista com grupo de profissionais; b) Observações diretas: auto-observação descritiva; c) Observações instantâneas. 2) Métodos Indiretos: a) Estudos dos Traços; b) Análise Funcional;
6 c) Simuladores; d) Incidentes Críticos. Dentre os métodos citados, sugerimos o uso da técnica dos incidentes críticos para a análise do trabalho pelo Serviço de Enfermagem em unidades cirúrgicas, sobre o qual passaremos a relatar. TÉCNICA DOS INCIDENTES CRÍTICOS A técnica dos incidentes críticos é um método que visa formular as exigências para um eficaz desempenho no trabalho. Consiste em analisar incidentes relatados por pessoas qualificadas para julgamento sobre a eficiência de determinado trabalho e, a partir da análise destes incidentes, extrair comportamentos eficientes ou não para o objetivo do trabalho. Portanto, é um método indireto de análise do trabalho, que permite o registro de comportamentos específicos, favorecendo observações e avaliações de forma sistematizada. Foi proposta pela primeira vez pelo Dr. Jonh C. FIanagan em 1941, por ocasião de sua participação no Programa de Psicologia da Aviação da Força Aérea dos Estados Unidos, na II Guerra Mundial, com a finalidade de desenvolver procedimentos para a seleção e classificação de tripulações, bem como determinar as exigências críticas no desempenho de uma tarefa. Para FLANAGAN 9 "esta técnica consiste de um conjunto de procedimentos para a coleta de observações diretas do comportamento humano, de modo a facilitar sua utilização potencial na solução de problemas práticos e no desenvolvimento de amplos princípios psicológicos, delineando também procedimento para a coleta de incidentes observados, que apresentam significação especial e para o encontro de critérios sistematicamente definidos". Incidente é definido como "qualquer atividade humana observável que seja suficientemente completa em si mesma para permitir inferências e previsões a respeito da pessoa que executa o ato" 9. Para ser crítico, um incidente deve ocorrer em uma situação onde o propósito ou intenção do ato pareça razoavelmente claro ao observador e onde suas conseqüências sejam suficientemente definidas, para deixar poucas dúvidas no que se refere a seus efeitos. A essência da técnica consiste em solicitar do observador, ou sujeitos envolvidos numa atividade, tipos simples de julgamentos ou relatos de situações e fatos que são avaliados pelo pesquisador em função da concordância/ discordância destes julgamentos, ou relatos com o objetivo e natureza da atividade, ou situação, que se deseja estudar. Para evitar que as observações sejam feitas ao acaso, sem método e sem sistematização, muitas vezes dependentes apenas das inferências subjetivas do observador, há necessidade de um conjunto de procedimentos que, além de coletar as observações, permitem uma sistematização e análise das mesmas. Além dos trabalhos desenvolvidos por FLANAGAN 9 no Instituto Americano para Pesquisa (1947) e na Universidade de Pittsburg (1949), diversos pesquisadores têm desenvolvido estudos com o emprego de técnica do incidente crítico. Em seu artigo o autor 9 apresenta alguns estudos em que a aplicação da técnica mostrou-se satisfatória para a coleta de informações sobre as variáveis envolvidas no trabalho, bem como para a indicação objetiva das exigências críticas da função. Entre
7 os temas mais pesquisados destacam-se: medidas de desempenho, motivação e liderança, medidas de eficácia, treinamento, aconselhamento e psicoterapia. Como pode ser depreendido dos exemplos da aplicação da técnica do incidente crítico fornecido por FLANAGAN 9, entendemos que sua utilização para a análise do trabalho é imprescindível, uma vez que evidencia as variáveis envolvidas na atividade. No Brasil, a técnica foi aplicada pela primeira vez em 1970 por DELA COLETA 6, em um estudo junto a ajudantes de eletricista de uma empresa de distribuição de energia, visando definir critérios para a seleção e avaliação de pessoal. A segunda aplicação da técnica foi realizada pelo mesmo autor6 em 1972 e 1973, tendo a finalidade de determinar as exigências críticas para a função de operador de usina hidrelétrica e subestação. O referido estudo forneceu sugestões para o processo de recrutamento, seleção e treinamento, bem como para a organização de distribuição das tarefas entre diferentes ocupações, o que permitiu otimizar o desempenho dos ocupantes de cada cargo. Uma terceira aplicação da referida técnica ocorreu em 1973, onde o autor6 solicitou a veterinários que relatassem incidentes ocorridos consigo mesmos ou com colegas, constatando a aplicabilidade da técnica dos incidentes críticos a profissões de nível superior, que compreendem trabalho menos rotineiro, com ausência de supervisão. Concluiu que os relatos dos incidentes críticos fornecidos pelas pessoas que executam a função, são tão válidos quanto os fornecidos pelos supervisores. DELA COLETA 5 preconiza sete passos que devem ser empregados quando da utilização da técnica dos incidentes críticos com a finalidade de análise do trabalho: a) determinação dos objetivos da atividade que se deseja estudar; b) elaboração das questões a serem apresentadas aos sujeitos que deverão fornecer os incidentes críticos da atividade em estudo; c) delimitação da população ou amostra dos sujeitos a serem entrevistados; d) coleta dos incidentes críticos; e) análise do conteúdo dos incidentes coletados, buscando isolar os comportamentos críticos emitidos; f) agrupamento dos comportamentos críticos em categorias mais abrangentes; g) levantamento de freqüências dos comportamentos positivos e/ou negativos que vão fornecer, posteriormente, uma série de indícios para identificação de soluções para situações problemáticas. CHAGAS 3 utilizou a técnica dos incidentes críticos num estudo em escolas de primeiro grau, com a finalidade de identificar os problemas de ajustamentos dos alunos de quinta série em relação à escola, estabelecendo ainda pontos de contatos e diferenças da problemática sentida pelos alunos e percebida pelo corpo docente e equipe técnico- administrativa. Para determinar os resultados da experiência com grupos de adolescentes, RUBINI 9 também fez uso da referida técnica. Através de levantamento junto aos alunos da primeira série do segundo grau de uma escola particular, identificou situações que favoreceram ou dificultaram seu relacionamento com outras pessoas e detectou conseqüências positivas e negativas delas decorrentes. Na área de enfermagem, RAMOS 17 procurou demonstrar a aplicabilidade do incidente crítico como instrumento de investigação na interação auxiliar de enfermagem e tarefas. Esse estudo
8 buscou obter subsídios para a elaboração de programas de treinamento em serviço para os auxiliares de enfermagem de um hospital geral de ensino. NOGUEIRA 15, na tentativa de buscar subsídios para o diagnóstico das passagens de plantão que se realizam em unidades de internação de um hospital-escola utilizou a técnica dos incidentes críticos. Os resultados mostraram predominância de incidentes críticos negativos relacionados a aspectos físico-funcionais, ou seja, ao contexto da passagem de plantão, enquanto que os aspectos técnicos, abrangendo o conteúdo da atividade, receberam percentual de referências positivas superiores ao de negativas. SALVARANI 21, optou pela utilização da técnica dos incidentes críticos, ao investigar as expectativas de comunicação do paciente cirúrgico com a enfermeira, na busca de padrões de interação entre enfermeira/paciente, quando internado em uma unidade cirúrgica de hospital-escola. Foi possível identificar em que situações a enfermeira se comunica com estes pacientes, os comportamentos positivos e negativos da enfermeira durante a interação e compreender as expectativas do paciente. Com o objetivo de evidenciar como as mulheres submetidas à cesiomoldagem vivenciam essa forma de tratamento e oferecer subsídios para as enfermeiras atuarem como elementos de apoio na assistência prestada, RAVAGNANI 20 utilizou a técnica dos incidentes críticos como um método que possibilita a coleta de dados de forma sistemática. Identificou os principais problemas e dificuldades enfrentados pelas mulheres submetidas ao tratamento, contribuindo para o planejamento da assistência de enfermagem. Tomando por base os estudos aqui citados e que fizeram uso da técnica dos incidentes críticos, julgamo-la também aplicável às áreas cirúrgicas, a qual irá possibilitar a análise do trabalho do pessoal de enfermagem nas referidas áreas, permitindo desta forma detectar situações indicativas de bom ou mau funcionamento e que podem estar interferindo na assistência de enfermagem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 01 - BASTOS, N.C.B. A utilização de pessoal auxiliar nos serviços de saúde. Rev. Paul. Hosp. v. 26, n. 5, p , CASTELLANOS, B.E.P. Aplicação do processo de enfermagem ao cuidado do paciente na unidade de centro cirúrgico. Rev. Esc. Enf. USP. v. 12, n.3, p , CHAGAS, M.E.P. Estudo da dificuldade de ajustamento do aluno de 5 série em relação à escola. Belo Horizonte, p. Dissertação (Mestrado). Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica. 04 CHINN, R. The utility of system models and developmental models for practitioner. In. CONCEPTUAL models for nursing practice. Edited by Callista Roy & Joan Riche: New York, Appleton Century Crofts, 1974.
9 05 - DELA COLETA, J.A. A análise do trabalho e a determinação de critérios em psicologia aplicada. Arq. Bras. Psic. Aplic., v.24, n.3, p , DELA COLETA, J.A. A técnica dos incidentes críticos: aplicação e resultados. Arq. Bras. Psic. Aplic., v.26, n.2, p , Dl LASCIO, C.M.D.S. Satisfação no desempenho profissional da enfermeira - estudo sobre necessidades psicossociais. Recife, p. Dissertação (Mestrado). Escola Pós-graduada de Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Universidade de São Paulo FERRAZ, E.R. Focalizando o paciente no Centro Cirúrgico. Rev. Esc. Enf. USP, v.12, n.3, p.167-9, 1978.
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